O evangelho do Reino

A expressão prática do reino de Deus na vida da igreja.

Rubén Chacón

“E este evangelho do reino será pregado em todo mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim” (Mat. 24:14).

A palavra «mundo» nesta passagem não é cosmos, mas a expressão grega que indica a terra habitada. O evangelho precisa chegar às pessoas, e onde houver pessoas vivendo neste planeta, é necessário que ali seja pregado. E diz: «…para testemunho a todas as nações; e então virá o fim». Este é um interessante sinal; o fim não pode vir até que o evangelho do reino tenha sido pregado a todas as nações. Portanto devemos entender que, se o fim ainda não chegou, é porque falta pregar o evangelho do reino.

No Novo Testamento, quando se faz menção do evangelho, a maioria das vezes só é usada a expressão «o evangelho». No entanto, embora com menor frequência, há outras expressões onde esta palavra vai acompanhada de um sobrenome, como «o evangelho de Jesus Cristo», «o evangelho do seu Filho», «o evangelho de Cristo». Nestes casos, o seu conteúdo destaca aspectos particulares a respeito da pessoa de Cristo.

Assim também «o evangelho da glória de Cristo», ressalta de maneira específica a glória do Senhor. Outra expressão é «o evangelho de Deus», a boa notícia de Deus, nosso Pai; «o evangelho do Deus bendito», «o evangelho da graça de Deus», «o evangelho da paz», «o evangelho eterno», são também lindas expressões. E por último, acrescentamos «o evangelho do reino de Deus».

O testemunho da igreja

O tema do evangelho é inesgotável. E a expressão «o evangelho do reino de Deus» pode nos dar uma orientação clara a respeito do que à igreja precisa fazer diante das contingências que vivemos ao nosso redor.

Sem dúvida, Deus se move na história, pelo menos nesta dispensação, de acordo com a sua igreja. A igreja é a amada do Senhor e é ele quem está edificando a sua igreja; portanto, cremos que tudo aquilo que Deus faz e até permite nos movimentos da história é por causa da edificação da sua igreja.

Mateus 24:14 diz: «E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim». Ou seja, antes que venha o fim, Deus quer que a igreja seja o testemunho de Cristo no meio das nações.

Será que este testemunho que temos que dar é só com palavras? Não, Jesus era o testemunho de Deus Pai entre os homens, fiel representante do caráter, do poder, do amor, da misericórdia de Deus aqui na terra, ao ponto que ele disse: «Aquele que vê a mim, vê o Pai» (João 14:9). Como é o Pai? Qual é o caráter do Pai? Podemos dizer: «Tal como Cristo é, assim é o Pai».

A igreja é o testemunho de Cristo na terra, porque Cristo subiu ao céu e está assentado à mão direita do Pai, no entanto a igreja ficou aqui como o seu testemunho. Poderemos dizer com toda a certeza de que ela é o fiel reflexo do caráter de Cristo, do poder, da graça e da autoridade de Cristo? Aí está o nosso desafio.

Não só palavras

«Fazei tudo sem murmurações nem contendas» (Flp. 2:14). Aqui podemos ver como Paulo está apelando não só para as palavras, mas também para a conduta. Qual é a conduta? Façam tudo sem murmurar e sem brigar, «para que sejam irrepreensíveis e singelos, filhos de Deus sem mancha no meio de uma geração maligna e perversa, no meio da qual resplandeceis como estrelas no mundo».

O apóstolo enfatiza a conduta; não só o som de palavras. «Porque não ousaria falar além do que Cristo tem feito por meu intermédio para a obediência dos gentios, com a palavra e com as obras» (Rom. 15:18). Paulo só quer limitar-se a testemunhar o que Deus tem feito por meio dele. Mas como o tem feito? Com a palavra e com as obras. E acrescenta um terceiro elemento em Romanos 15:19: «…com poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito de Deus» – palavra, obras, sinais, milagres e curas.

«…de maneira que de Jerusalém, e pelos arredores até Ilírico, tenho enchido tudo do evangelho de Cristo». Todo esse campo de ação o apóstolo encheu do evangelho de Cristo, com a palavra, com as obras e com sinais e prodígios. Assim, quando diz em Mateus 24:14 que o evangelho tem que ser pregado em toda a terra habitada para testemunho às nações, devemos entender que é um testemunho íntegro, que não consiste só em pregar, mas com o respaldo de obras e de sinais.

«…e então virá o fim». Esta frase parece indicar que Deus não tratará com o mundo enquanto Ele não tiver levantado a igreja como Seu testemunho. Deus quer mostrar às nações o que Cristo é capaz de fazer, de tal maneira que, ao julgar às nações, ele possa lhes dizer: «por que vocês não creram, se viram através da minha igreja o que eu posso fazer?».

Para que o mundo creia

Parece que essa é a ideia: o evangelho do reino será pregado para testemunho a todas as nações e em seguida Deus tratará com os povos da terra. Desta forma, é provável que a razão pela qual o Senhor não retornou depois de dois mil anos seja porque a igreja não tem sido fiel a sua missão, porque ela não encheu a medida de Deus. Mas nos enchemos de esperança e de fé, porque apesar disso, Deus levantará a sua igreja nesta última hora, a fim de manifestar essa medida de Cristo, para que o mundo creia.

A igreja não é um pedaço do mundo, é um pedaço do céu aqui na terra, e isso tem que ser notório. As pessoas que não conhecem o Senhor não podem vê-lo, porque não tem vida espiritual, está cega, está morta; mas podem ver os crentes. E o que é que eles veem quando estão entre nós?

«Porque é tempo de que o julgamento comece pela casa de Deus; e se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?» (1 Ped. 4:17). Cremos que este texto tem relação com Mateus 24:14. Se o julgamento divino tem que começar por Sua Casa, imaginem o que virá depois, quando ele tratar com os que não são da Casa. A palavra «julgamento», aqui, não é para condenação, pois o Senhor não está condenando a sua igreja, mas ao invés disso, a está chamando para levantar-se.

O julgamento de Deus é para despertar a sua igreja. E o que nós estamos fazendo? Esperamos um novo ânimo do Espírito Santo de Deus, desejando que ele levante o seu povo e permita que nos manifestemos como a sua igreja santa e gloriosa. «E: Se o justo com dificuldade se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador?» (v. 18).

«…e então virá o fim». Deus tratará com os que não obedeceram ao evangelho, com os que foram rebeldes à autoridade do Senhor Jesus Cristo; mas só depois de ter tratado conosco e tenha levantado a sua igreja como o testemunho vivo de seu Filho entre as nações. Repito: o testemunho não consiste só em palavras, mas também em obras.

«De modo que os que padecem segundo a vontade de Deus, encomendem as suas almas ao fiel Criador, e façam o bem» (v. 19). Mesmo que a igreja seja perseguida e esteja passando por sofrimentos, deve agir como Cristo. As nossas armas não são carnais, mas espirituais. Nós vencemos o mal com o bem, e isto temos que fazê-lo com realidade.

O reino tem se aproximado

«Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galileia pregando o evangelho do reino de Deus, dizendo: O tempo se cumpriu, e o reino de Deus tem se aproximado; arrependei-vos, e creiam no evangelho» (Mar. 1:14-15).

Consideremos este texto, pois desta forma é que Jesus começou o seu ministério na terra.

Aqui queremos destacar duas frases. A primeira é: «O tempo se cumpriu». A palavra «tempo» aqui não é cronos, mas a expressão grega kairós, que quer dizer o momento oportuno, o instante justo para dar começo a algo.

Todo o Antigo Testamento tinha profetizado sobre esse momento. E agora Jesus diz: «Chegou o momento, agora é». «O tempo se cumpriu, e o reino de Deus tem se aproximado». A palavra «aproximar-se» parecesse sugerir a ideia de que algo está mais próximo, mas que não chegou ainda.

Há um texto paralelo em Mateus 12. Jesus diz: «Mas se eu pelo Espírito de Deus expulso os demônios, certamente é chegado o reino de Deus» (v. 28). Está escrito no passado ou pretérito perfeito. O reino de Deus tem se aproximado. Em espanhol, quer dizer: «Já chegou, e chegou para ficar».

Não é que a ação já ocorreu no passado, mas ignoramos o que está acontecendo no presente. O pretérito perfeito fala de uma ação que chegou, mas que continua. Não é o mesmo que dizer que Deus nos amou, e dizer que ele nos tem amado. A frase «Deus nos amou» afirma que ele nos amou no passado, mas não esclarece se no presente ele continua nos amando. Isso é o pretérito indefinido.

Mas quando a Escritura diz que Deus nos amou, quer dizer que nos amou no passado e essa ação continua hoje e no futuro. Deus nos amou, nos ama e nos amará para sempre. O reino tem se aproximado de tal maneira aos homens, que Jesus diz a Nicodemus: «Em verdade, em verdade te digo, que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus», e em seguida acrescenta: «Em verdade, em verdade te digo, que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus» (João 3:3, 5).

O reino de Deus está presente, e podemos entrar nele. E para nós que cremos, Paulo diz que Deus «nos libertou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino de seu Filho amado» (Col. 1:13). Deus nos libertou, e nós já ingressamos e permanecemos no reino de seu Filho. Jesus Cristo é o nosso Senhor, nosso Rei. Não pertencemos ao domínio das trevas, mas ao reino do Filho de Deus. Glórias ao Senhor!

A era do escatológico

O reino de Deus é uma boa notícia. O evangelho do reino de Deus são as boas novas do reino de Deus. É uma boa notícia, porque o reino chegou na pessoa do Rei. Onde está o Rei está o reino; onde o Rei é reconhecido, ali o reino está; onde Cristo é reconhecido como Senhor, ali o reino está. O reino realmente está entre nós? A igreja tem reconhecido a Jesus como o seu Rei?

Os cristãos, no primeiro século, eram perseguidos por declarar que havia outro rei. No império romano todo mundo dizia: «César é o rei». Mas aqueles «loucos» diziam: «Há outro rei, e este rei é Jesus».

Mas por que o reino de Deus o torna uma boa notícia? Porque a chegada do reino na pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo, significa que os que creem e entram em seu reino são introduzidos na era daquilo que é definitivo e eterno – o escatológico.

Os tratamentos de Deus anteriores à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo eram manifestações de vida, é obvio; mas somente temporários e parciais. Aquilo era incompleto e imperfeito; ainda não tinha se estabelecido o que é definitivo, o que é eterno, o que não passará.

Por exemplo, lembra o que acontecia com o perdão dos pecados. Cada ano, o sumo sacerdote precisava entrar no Lugar Santíssimo com sangue alheio e fazer expiação pelos pecados dele, de sua casa e de todo o povo. Em cada ocasião, haviam incertezas. «voltamos a pecar e necessitamos do perdão». E todos os anos havia um dia estabelecido; o dia do perdão, o dia da expiação.

Como essas gerações teriam almejado e desejado um perdão definitivo, um perdão que resolvesse realmente o problema dos pecados! E assim era com tudo, com as libertações, com os milagres, com as curas. Tudo era temporário. Uma e outra vez era necessária uma manifestação do Senhor.

Mas, quando Jesus diz: «O reino de Deus tem se aproximado», ele anuncia que chegou de forma definitiva, a dispensação final e perfeita. O perdão do Senhor é completo; ao morrer na cruz, ele nos lavou com o seu sangue dos nossos pecados passados, presentes e futuros. Ele não morrerá outra vez, tendo entrado no Lugar Santíssimo uma vez e para sempre com o seu próprio sangue, obtendo uma eterna redenção. Ele nos curou de todas as nossas enfermidades. A obra de Deus em Cristo Jesus é completa e definitiva.

No Antigo Testamento, o Espírito Santo vinha ocasionalmente sobre os homens e em seguida ia embora. Mas o Senhor Jesus disse: «E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que esteja convosco para sempre» (João 14:16). Bem-vindo Espírito Santo que veio para habitar na igreja, não por um ano, não por um milênio, mas pela eternidade! O Espírito de Deus nos foi dado para sempre. O que é definitivo, o que é eterno, já chegou.

«O Deus do céu levantará um reino que jamais será destruído, nem o reino será deixado para outro povo», diz Daniel 2:44. O reino de Deus é o último reino, e este já é uma bendita realidade. Não vivemos na época das sombras, mas na dispensação da realidade.

Já… mas ainda não

Dito isso, devemos definir o seguinte: o reino chegou na pessoa de Cristo, mas ainda não chegou a plenitude desse reino. Uma coisa é saber que algo já começou e outra é dizer que estamos na plenitude dele. A eternidade já chegou, o céu já chegou, a salvação já chegou, definitiva, eterna, perfeita, completa; mas ainda não temos a plenitude daquilo que iniciou com a primeira vinda do Senhor.

A Escritura é muito clara quando diz que a era escatológica, o que é definitivo e o que é eterno, começou com a primeira vinda do Senhor. No entanto, nada chegará à plenitude até que ele retorne pela segunda vez. Tudo foi iniciado pelo Senhor e tudo será consumado por ele; mas isso não nos impede de já gozar, porque a ressurreição já aconteceu.

A vitória já é nossa. Por isso, «somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou» (Rom. 8:37).

Nada pode nos arrebatar a glória e o gozo de saber que já estamos no que é definitivo e no que é eterno; mas precisamos desejar a volta do Senhor, porque só quando ele retornar é que a igreja entrará na plenitude de todas as realidades celestiais.

Os teólogos utilizam uma explicação muito clara para esta situação. «Estamos em um , e estamos em um ainda não», ambas as coisas de uma vez. «Já», porque com Cristo entramos no que é eterno, mas «ainda não» porque o Senhor ainda não retornou, e só quando ele retornar é que a igreja alcançará a plenitude. «Ainda não, mas já». Existe uma sensação entre o que Jesus começou, que é o definitivo e o eterno, e a consumação ou a plenitude daquilo, que se alcançará quando ele retornar.

Em 1 João 3:2 vemos o «já, mas ainda não». Diz: «Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser; mas sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é». É indubitável que somos filhos de Deus hoje, mas ainda não se manifestou toda a plenitude do que significa sermos filhos de Deus.

Há outros exemplos nas Escrituras. João diz: «Essas coisas vos escrevi para que creiais no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna» (1 João 5:13). E o Senhor, falando com os seus discípulos que tinham deixado tudo para seguir o seu Mestre, lhes diz: «Em verdade vos digo que não há ninguém que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs… por causa de mim e do evangelho, que não receba cem vezes mais agora neste tempo… e no século vindouro a vida eterna» (Mar. 10:29-30).

Jesus põe a vida eterna no futuro, e João a põe no presente. Por quê? Porque a vida eterna é: «Já, e ainda não». Em Lucas 21:28, diz: «Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a vossa cabeça, porque a sua redenção está próxima». Ou seja, a redenção é «já e ainda não». A redenção já chegou e nós entramos nela, e podemos afirmar com toda propriedade que somos um povo redimido.

No entanto, há um aspecto da redenção que ainda não terminou: Deus redimiu o nosso espírito e nossa alma, mas ainda falta a redenção dos nossos corpos. Isto é muito esperançoso, mas só ocorrerá na volta do Senhor, onde «os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que isto que é corruptível se revista de incorrupção, e isto que é mortal se revista de imortalidade» (1 Cor. 15:52-53).

A redenção é uma realidade passada, presente e futura. Aí está o «já» e o «ainda não». Há esperança: o Senhor nos dará um novo corpo. E em Lucas 21:31 temos outro exemplo: «Assim também vós, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus».

Quando esses textos falam a respeito da redenção e do reino no futuro, devemos ler assim: «Quando virem acontecer essas coisas, saibam que está próximo a plenitude do reino de Deus». E no versículo anterior: «Quando começarem a acontecer estas coisas, erguei-vos e levantem a sua cabeça, porque a plenitude da sua redenção está perto».

O que Deus começou, ele terminará. «…estando persuadido disto, que aquele que em vós começou a boa obra, a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo» (Flp. 1:6). Não só o teu espírito, não só a tua alma; mas também o teu corpo. «(Jesus Cristo) transformará o nosso corpo de humilhação, para que seja semelhante ao corpo da sua glória» (Flp. 3:21).

O reino na vida de igreja

Temos dito que estamos no reino do amado Filho de Deus, no que é eterno e no que é definitivo. Só esperamos, com a volta do Senhor, a consumação de todas as realidades celestiais. Mas que tipo de vida de igreja produz o reino de Deus?

Vejamos, em Atos 2:41, o resumo que Lucas faz da vida da igreja em Jerusalém. «Deste modo, os que receberam a sua palavra foram batizados; e foram acrescentados naquele dia como três mil pessoas». Eram cento e vinte e em um só dia, a congregação passou a ter 3.120 irmãos. Que tremendo!

Como viviam aqueles 3.120 irmãos? «E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão uns com outros, no partir do pão e nas orações» (v. 42). Eles perseveravam em quatro práticas. E o que nós devemos fazer hoje? Simplesmente, perseverar nas mesmas coisas, até que o Senhor volte.

«…e sobreveio temor a todas as pessoas» (v. 43). Como nós andamos em relação a isto? Este tipo de vida da igreja é o fruto do reino de Deus. «…e muitas maravilhas e sinais eram feitas pelos apóstolos. Todos os que tinham crido estavam juntos, e tinham em comum todas as coisas; e vendiam as suas propriedades e os seus bens, e o repartiam a todos segundo a necessidade de cada um» (v. 44-45). E nós nos dedicados a comprar!

«E perseverando unânimes cada dia no templo, e partindo o pão nas casas». Que bonito! Eles desejavam estar juntos, ao ponto que todos os dias «comiam juntos com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo» (v. 46-47). Esta também é a nossa realidade? Como nós estamos vivendo? Estamos levando o evangelho aos homossexuais, aos drogados? Estamos atendendo às mães solteiras, aos doentes de SIDA? Estamos caindo na graça de todo o povo?

E a consequência deste tipo de vida é esta: «E o Senhor acrescentava cada dia à igreja os que haviam de ser salvos» (V. 47). Aqui temos uma radiografia daquela igreja. Pode haver um melhor evangelismo que uma igreja com essas características? Não há melhor evangelismo do que sermos a igreja que o Senhor quer que sejamos.

Depois desse resumo, o que aconteceu? Os apóstolos faziam maravilhas e sinais. E no capítulo 3 há um exemplo: a cura de um coxo, e como produto da cura, as pessoas foram atraídas. Pedro se levantou, igual no dia de Pentecostes, e pregou novamente.

Um coração e uma alma

«Mas muitos dos que tinham ouvido a palavra, creram» (Atos. 4:4). E aqueles que creram eram como cinco mil. Mais 3.120, são 8.120. Mostramos esta cifra para entendermos como uma comunidade de 8.120 irmãos pode viver da maneira como eles fizeram.

«E a multidão dos que tinham crido era de um coração e uma alma» (v. 32). Só a graça do reino de Deus, pode produzir isso. Em circunstâncias normais, se houver oito mil pessoas haverá oito mil corações..., mas eles eram de um só coração. O coração de Jesus, pelo Espírito Santo se expressava nessa igreja.

«…e ninguém dizia ser seu próprio nada do que possuía, mas tinham todas as coisas em comum». Haviam propriedades privadas; eles tinham as suas casas e os seus bens, mas eles não diziam: «Isto é meu», mas: «Isto é de todos, está a serviço de todos».

«E com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e abundante graça era sobre todos eles» (v. 33), a boa notícia do reino de Deus com grande poder, com o poder do Espírito Santo.

Justiça social

«Assim não havia entre eles nenhum necessitado». Como era isto? Porque «todos os que possuíam herdades ou casas as vendiam, e traziam o preço da venda, e o punham aos pés dos apóstolos; e repartiam a cada um segundo a sua necessidade» (V. 34-35). Não vendiam a casa onde viviam. Os que tinham mais se desfaziam de algum dos seus bens e propriedades.

Que tipo de igreja produz o reino de Deus? Este é o testemunho que temos que mostrar entre as nações. Na igreja havia justiça social; fora não há, e nunca haverá, pois como pode brotar a justiça nos de corações injustos? Mas é verdade que na igreja deve haver justiça social, porque aqueles que têm mais devem se desfazer de parte do que é seu e suprir as necessidades dos outros.

Deus está nos falando nesses dias, e isto tem que começar a acontecer. E cabe mencionar que não se tratava que cada irmão ia fazendo misericórdia por sua própria conta. Não, diz que eles traziam tudo aos pés dos apóstolos. Havia uma ordem, uma tesouraria, uma administração, e daí era repartido.

Não é maravilhoso ler que «não havia entre eles nenhum necessitado»? O que aconteceria se alguém nos perguntasse hoje a respeito de qual é a situação dos aposentados, entre nós que dizemos que Jesus Cristo é aquele que trará a justiça? Ficaríamos bem parados ou não? Lá fora, onde Cristo não reina, os anciões estão desamparados; mas na igreja de Jesus Cristo, onde se proclama que o justo juiz reina, também estão desamparados?

Se alguém pensar que nós saímos das Escrituras ao tratar isto, Paulo diz que a igreja deve ser responsável pelas viúvas que na verdade o são (1 Tim. 5:3). Há uma ordem. Por que diz «as viúvas que na verdade o são»? Ele chama de viúvas que na verdade o são, às que vivem sozinhas e dependem do Senhor; porque outras têm filhos e netos. Neste outro caso, «se algum crente ou alguma crente tem viúvas, que as mantenha, e que a igreja não seja sobrecarregada, a fim de que haja o suficiente para as que na verdade são viúvas» (v. 16).

É impactante ler esses textos. Atos 4:36 menciona a José, chamado Barnabé, como exemplo de um entre tantos irmãos que venderam uma propriedade e pôs o que vendeu aos pés dos apóstolos.

O capítulo 5 de Atos cita o caso de Ananias e Safira, e é lindo que o Espírito Santo dê esse exemplo para que entendamos que isto não é por obrigação. Isto é o reino de Deus, isto é o que a graça opera. Por isso diz: «abundante graça era sobre todos eles», de tal maneira que os que tinham mais se desfaziam para suprir os que tinham menos.

A Escritura diz: «aquele que recolheu muito, não teve sobra, e o que recolheu pouco, não teve falta» (2 Cor. 8:15). Aquele que necessita de mais recebe mais, e tem o suficiente, e o que necessita de menos recebe menos, mas também não lhe falta. De maneira que não há ninguém desamparado. Isto não é algo que se deve impor, mas esperamos que a graça de Deus opere em nós.

Conclusão

O que é o que Deus está nos dizendo no meio da presente convulsão social? Creio que a primeira coisa é que temos que nos arrepender de nós mesmos, pois não estamos alcançando cabalmente a medida que o Senhor espera da sua igreja. No entanto, queremos animar-lhes: temos que crescer, temos que avançar.

É possível que ainda haja egoísmo e avareza; que ainda estejamos correndo atrás do dinheiro, procurando ter mais e mais. E isso nunca sacia.

Por que os irmãos vendiam as suas propriedades? Lucas, em seu evangelho, anotou quando Jesus disse: «Não temais, pequeno rebanho, porque vosso Pai agradou-lhe dar-vos o reino» (12:32). E no seguinte ato, o Rei diz: «Vendei o que possuis, e dai esmola; faça para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos céus que não se esgote, onde o ladrão não chega, nem a traça destrói».

Que o Espírito Santo de Deus nos fale.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Rucacura (Chile), em janeiro de 2020.

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