ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
O Sermão do monte
Vendo as Bem-aventuranças no contexto do evangelho do Reino.
Rodrigo Abarca
"Vendo a multidão, subiu ao monte; e sentando-se, vieram a ele os seus discípulos. E abrindo a sua boca lhes ensinava, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles receberão consolação. Bem-aventurados os mansos, porque eles receberão a terra por herança. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que padecem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando por minha causa vos vituperarem e vos perseguirem, e mentindo digam toda sorte de mal contra vós. Regozijai-vos e vos alegreis, porque o vosso galardão é grande nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós" (Mat. 5:1-12).
«Vendo a multidão». Esta é a multidão que é mencionada no capítulo 4: os endemoniados, lunáticos e paralíticos, os doentes a quem Jesus curou, as pessoas que ouviram a pregação do evangelho. Dalí em diante começa o chamado Sermão do Monte.
O contexto do Sermão
O Sermão do Monte foi pouco entendido através da história, não só pelo mundo, mas também pela igreja. É importante ler primeiro o capítulo 4 do evangelho de Mateus, partindo do versículo 12, para entendermos o contexto, e depois veremos alguns pontos específicos.
A ideia geral é mostrar que este ensino do Senhor é um ensino orgânico, cujas partes estão profundamente unidas e que deve ser entendida como um todo. O contexto é o que dá sentido as suas palavras. Mateus reuniu de propósito o ensino, pondo-o em seguida da passagem do capítulo 4, para mostrar que aquilo que Jesus ensina está em clara conexão com o que aconteceu antes.
Através da história, essa foi particularmente a grande dificuldade para que fosse entendido. Se o virmos como uma coleção de instruções, de regras, de mandamentos desconexos entre si, ou como alguns dizem, uma espécie de Constituição de leis dadas à igreja, não o entenderemos de maneira correta.
O contexto do Sermão do monte é o efeito do evangelho na vida das pessoas. O evangelho sustenta tudo o que o Senhor dirá a seguir. É o que o evangelho produz na vida das pessoas que explica o contexto do seu ensino. Essas palavras foram ditas a dois mil anos atrás, e uma das tragédias do mundo atual é que os homens desprezaram a sua mensagem.
Ninguém conhece melhor a vida humana do que o Senhor, de como tratá-la e como vivê-la. Os filósofos, os intelectuais e os cientistas foram incapazes de resolver tal enigma. No entanto, essas palavras marcaram o rumo da humanidade a tal ponto que, quando foram cridas e aplicadas, mudaram o rumo de sociedades inteiras.
«O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão» (Mat. 24:35), disse o Senhor. E assim termina o sermão: «…qualquer que ouve estas palavras e não as pratica, compararei a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia» (7:26). Esta é uma advertência séria.
Se os homens ignoram essas palavras, a tragédia será imensa. Podemos ver claramente hoje em nossa própria sociedade e em geral no mundo. Então, vamos às palavras do Senhor, porque ninguém sabe responder melhor que ele os desejos e às necessidades mais profundas da vida humana.
Alguns dizem que este sermão era para os judeus, mas na realidade é para a igreja. Outros o veem como um conjunto de normas maiores que a lei, cujo propósito é mostrar a nossa incapacidade. Mas mesmo a lei é suficiente para demonstrar isso. O ponto é entender o que o Mestre está nos ensinando.
Chamados ao arrependimento
Tudo começa com o ministério do Senhor Jesus na Galileia. Primeiro, Mateus cita uma profecia de Isaías a respeito da vinda do Messias: «Terra de Zabulom e terra de Naftali, caminho do mar, do outro lado do Jordão, Galileia dos gentios; o povo assentado em trevas viu uma grande luz; e aos assentados nas região da sombra de morte, lhes resplandeceu a luz» (Mat. 4:15-16).
Mateus está citando a profecia para dizer que uma enorme luz brilhou na escuridão. Isso é a primeira coisa. E o versículo 17 nos explica de qual luz se trata. «Desde então começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque o reino dos céus é chegado». A luz da qual Jesus fala é ele mesmo.
«O reino dos céus é chegado», significa que o reino está presente e em ação agora. Por isso é necessário arrepender-se. No original grego, a palavra arrepender-se, é metanóia, que significa mudar de mentalidade. Não é uma mudança superficial; a boa nova de que o reino de Deus está aqui implica uma transformação radical da vida humana.
«Andando Jesus junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e Andrés seu irmão, que lançavam a rede no mar; porque eram pescadores» (v. 18). Em seguida, Mateus ilustra com alguns exemplos o que Jesus tinha dito: «Arrependei-vos, porque o reino dos céus é chegado».
O que significa arrepender-se? Mateus o ilustra em duas histórias. Primeiro, com Pedro e Andrés. «E lhes disse: Vinde após mim, e vos farei pescadores de homens» (v. 19).
Aqueles pescadores estavam absorvidos em seu ofício; mas o reino dos céus chega até eles em Jesus de Nazaré. E ele lhes chama para deixar tudo o que estavam fazendo, a esquecer o curso inteiro de suas vidas, para tomar outro rumo.
«Eles então, deixando imediatamente as redes, o seguiram» (v. 20). Quer dizer, deixaram tudo para seguir o Mestre, para ir atrás do reino dos céus. Isto é fundamental para entendermos o Sermão do monte.
«Passando dali, viu outros dois irmãos, Tiago filho de Zebedeu, e João seu irmão, no barco com Zebedeu seu pai, que remendavam as suas redes; e os chamou. E eles, deixando imediatamente o barco e a seu pai, o seguiram» (v. 21-22). Eles serão convertidos em apóstolos, mas aqui são apenas homens comuns.
A diferença de Pedro e Andrés, era que eles talvez fossem apenas trabalhadores, já Tiago e João eram filhos de dono dos barcos. Pedro e Andrés deixaram o seu ofício; no entanto João e Tiago, além disso, também deixaram a sua herança.
Mateus ilustra aqui o impacto do reino de Deus nas pessoas. Os discípulos abandonaram tudo para seguir a Jesus, para tomar outro rumo, outros interesses – os interesses do céu.
A multidão que vem a Jesus
«E percorreu Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando toda enfermidade e toda doença no povo. E se difundiu a sua fama por toda a Síria; e lhe trouxeram todos os que tinham doenças, afligidos por diversas enfermidades e tormentos, endemoninhados, lunáticos e paralíticos; e os curou. E muita gente da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e do outro lado do Jordão os seguia» (v. 23-25).
Na versão mais condensada de Lucas, há uma referência muito parecida ao que Mateus diz: «E desceu com eles, e parou em um lugar plano, em companhia dos seus discípulos e de uma grande multidão de pessoas de toda a Judéia, de Jerusalém e da costa de Tiro e de Sidom, que tinham vindo para ouvi-lo, e para serem curados de suas enfermidades; e os que tinham sido atormentados de espíritos imundos eram curados. E toda a multidão procurava tocá-lo, porque dele saía poder e curava a todos».
Lucas e Mateus enfatizam a mesma coisa. O Sermão é dirigido a uma multidão de pessoas que vieram ao Senhor. Alguns deles, os discípulos, deixaram tudo para segui-lo. E há outro grupo de pessoas que foram libertados do pecado e curados de suas enfermidades, e que experimentaram em suas próprias vidas o poder do reino de Deus e estavam impactados pela pessoa de Jesus, com suas palavras e suas obras.
«Vendo a multidão, subiu ao monte; e sentando-se, vieram para ele os seus discípulos» (Mat. 5:1). Os seus discípulos são aqueles que ele libertou. Quem seguia a Jesus não eram os poderosos, os ricos nem os sábios deste mundo (embora alguns destes o faziam para contender com ele), mas pessoas comuns, os pobres, os humildes, os doentes. Essas pessoas vieram para ele, para ouvir o que ele tinha para dizer.
As Bem-aventuranças
Mateus 5:1-12 contém oito bem-aventuranças. Ouvimos e temos lido estas palavras muitas vezes. De tanto repeti-las, as coisas costumam tornar-se comuns; mas não há nada comum nelas. São as palavras mais extraordinárias que jamais saíram da boca de um homem. Ninguém jamais disse coisas tão sábias e profundas como o Senhor. Por isso, necessitamos de um socorro para entender.
O que Jesus disse é como se virasse o mundo de cabeça para baixo, contradizendo tudo o que o mundo considera sábio, bom e correto para a vida humana. Lucas mostra uma versão mais condensada do Sermão, que parece ser a original. Mas Mateus quis explicar o seu sentido exato, para evitar mal-entendidos.
A primeira coisa que o Senhor diz é: «Bem-aventurados vós os pobres» (Luc. 6:20). A maioria dos ouvintes eram pobres, que não tinham nem mesmo a capacidade de sustentar a si mesmos; eram incapazes de produzir o seu próprio sustento e dependiam da compaixão dos outros para existir.
Naquele tempo as pessoas nasciam pobres, viviam e morriam pobres, sem possibilidade alguma de prosperar; estavam amarradas a uma estrutura de privilégios que se herdava e que não podia ser mudada. Era uma situação terrível. E de repente o Mestre dos mestres diz: «Bem-aventurados vós os pobres».
A palavra «bem-aventurados» requer uma explicação. Embora tenha para nós um significado religioso, o sentido que o Senhor dá a ela é extremamente felizes ou ditosos, levados ao extremo, completos, plenos. Isto é surpreendente. Por que os pobres deveriam ser extremamente felizes?
E em seguida, ele diz: «Bem-aventurados os que choram». É uma bem-aventurança chorar? Consegue notar como as palavras do Senhor parecem colocar o mundo de cabeça para baixo? Porque, obviamente, as pessoas que o ouvem são pobres e choraram a vida toda; foram maltratadas toda a vida.
«Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça». Lucas diz: «Bem-aventurados os que agora têm fome». Que bem-aventurança pode haver em ter fome e não ter o que comer? Então, lembre-se, o contexto é o evangelho; sem o evangelho, estas palavras não teriam sentido.
São bem-aventurados porque o evangelho chegou a eles, e para obtê-lo e entrar nele não necessitam de riquezas, poder ou influências; só precisam crer. São bem-aventurados, porque o reino dos céus chegou, e por pura graça eles podem ser enriquecidos, alimentados e saciados por ele.
«Bem-aventurados os pobres de espírito». Jesus não diz que a pobreza em si seja meritória ou produza algo bom como tal. É obvio, a pobreza não é algo bom. O que ele quer dizer é outra coisa.
Quando Jesus pegava e abençoava as crianças e os discípulos as afastavam, ele repreendeu os discípulos dizendo: «Deixem vir a mim as criancinhas, e não o impeçais; porque dos tais é o reino dos céus» (Luc. 18:16). E usa a mesma expressão: «…porque deles é o reino dos céus». E em seguida explica: «Em verdade vos digo, que aquele que não recebe o reino de Deus como uma criança, não entrará nele» (v. 17).
O Senhor se refere a como receber o reino dos céus. Transferindo isto para os pobres, significa que qualquer que não receber o reino de Deus como um pobre de espírito, não entrará nele.
Lembrem que um pobre é alguém que não pode sustentar a si mesmo. Então, o Senhor lhes diz que se eles não entenderem que são pobres de espírito e não receberem o reino de Deus dessa maneira, não entrarão nele.
Um contraste importante
Em Lucas 6:24-26 há um contraste. Depois das bem-aventuranças aos pobres, aos que choram e aos que são perseguidos, diz: «Mas ai de vós, ricos! Porque já têm o seu consolo. Ai de vós, os que agora estão saciados! porque terão fome. Ai de vós, os que agora riem! Porque lamentarão e chorarão. Ai de vós, quando todos os homens falarem bem de vós! Porque assim faziam os seus pais aos falsos profetas».
Preste atenção, pois isto é muito importante. Dissemos que o Senhor reverte as coisas, dizendo que aquilo que os homens consideram bem-aventurança é sua desventura. Aos olhos do mundo, uma vida bem vivida consiste em ter riquezas, em se sentir bem ou em ser admirado por todos.
O Senhor conhece o coração humano. Ele sabe qual é a vida que vale a pena viver. Nós os crentes podemos ser contaminados pelas ideias que governam o mundo, até de maneira inconsciente. Por isso o Senhor nos fala a respeito destas coisas.
Uma sociedade secular
Quando o Senhor veio ao mundo, ele veio à nação de Israel. Eles viviam em uma cultura impregnada da religião judaica. E apesar disso, aquela era uma sociedade que vivia muito longe de Deus. Nossa sociedade, em certo sentido, é radicalmente diferente daquele tempo. Mas o surpreendente é que o coração humano não mudou.
Nós vivemos em uma época diferente, em uma era secular (do latim, saeculum, século). O século é o tempo que transcorre da partida do Senhor até a sua segunda vinda. Também «o século» é sinônimo da ordem do mundo presente: «Não vos conformeis a este século» (Rom. 12:2).
Ali, século significa a ordem social e cultural que rege a vida humana. Não vivam as suas vidas segundo a sabedoria ou os valores deste século, «mas transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento». E vemos que se refere a mesma coisa que o Senhor aponta quando começa a pregar: «Arrependei-vos», que quer dizer, mudem a sua mente; não amem o que este século diz que temos que amar, porque uma vida vivida segundo a sabedoria do mundo é uma vida que vai para a ruína.
Essa é a advertência do Senhor. Ele está dizendo o que é uma vida realmente digna. A plenitude dela não está na posse de bens materiais nem em ter uma boa vida.
Tudo o que às pessoas importam hoje é a vida física e material. Isto é o que nos ensina de maneira constante a televisão, o cinema, a literatura, os jornalistas, os cientistas e os sábios do mundo. Tudo o que é transcendente, o que é eterno, tem desaparecido do horizonte da vida humana, porque o mundo se secularizou totalmente.
Cerca de uns duzentos anos atrás, as pessoas ainda acreditavam que havia neste mundo algo além da vida, e que aquilo que contava no final não era senão a vida eterna. O cristianismo tinha influenciado poderosamente a cultura e a sociedade ocidental. No entanto, isso desapareceu, e hoje vivemos em uma era secular.
O irmão Timothy Keller diz assim: «Uma era secular é aquela na qual todas as ênfases, da cultura e da sociedade estão neste século, ou no mundo, no aqui e no agora, sem nenhuma noção ou ideia do que é eterno. O sentido da vida, do seu propósito, e a felicidade, é entendida e buscada na prosperidade econômica do tempo presente, o bem-estar material e a plenitude emocional».
Hoje, a ideia é viver o melhor possível antes de ir para a sepultura. No entanto, estas coisas, sem que nós saibamos, nos afetam, pois são próprias do século no qual vivemos. Quando você ensina a seu filho colocando em sua mente que se ele não se tornar um profissional terá uma vida inferior, está-lhe transmitindo a sabedoria deste século. (Não estou dizendo que essas coisas não sejam boas até certo ponto).
Contra a corrente do mundo
As bem-aventuranças parecem ir contra a corrente da sabedoria do mundo. Segundo o Senhor Jesus, a vida plena não se encontra nos bens e recursos terrenos, mas em buscar o reino de Deus e a sua justiça.
E quem são aqueles que encontram isto, segundo o Senhor? Os pobres de espírito, os que não confiam nem dependem de seus próprios recursos materiais e até espirituais para salvar as suas vidas, mas encontram a sua salvação no reino dos céus e em sua justiça.
«Bem-aventurados os que choram, porque eles receberão consolação» (Mat. 5:4). O evangelho muda a equação da vida humana, porque Jesus Cristo veio. Neste mundo, chorar não é uma bem-aventurança; mas se o reino dos céus chegou para consolar os que pranteiam, então são felizes todos os que choram. Se você chorou em sua vida, mas foi consolado pelo Senhor, não é melhor ter chorado e ter conhecido o Senhor que consola? Que maravilhoso é o Senhor!
«Bem-aventurados os mansos, porque eles receberão a terra por herança» (v. 5). Jesus desenvolve todos esses temas no Sermão, e aqui está colocando os alicerces. Segundo a sabedoria do mundo, quem são os que herdam a terra: os mansos, os que se deixam ser pisados sem lutar por seus direitos? Há algo aqui que não enquadra, não é verdade? Não são os que levantam a espada que herdam a terra?
Mas o reino dos céus chegou, e a terra não será herdada pelos violentos, mas pelos mansos; porque o Rei de reis, que herdou todas as coisas, é manso e humilde como um cordeiro, e ele ganhou essa herança não com a força, mas com a mansidão. E os que creem nele, herdarão com ele todas as coisas.
Buscando o reino de Deus
«Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça» (v. 6). Lembrem que o paralelo de Lucas é «os que têm fome». Mas a fome serve para representar uma condição humana; é mais do que a necessidade de comer: é o poder que move quase a totalidade da vida humana.
Você se levanta muito cedo cada dia, durante décadas de rotina exaustiva, e se esforça nisso para alimentar e sustentar a sua família. Mas o Senhor chama de felizes, não aos que procuram saciar a sua fome física dessa maneira, mas aos que com igual intensidade procuram a justiça do reino de Deus.
Se entendermos que a nossa maior necessidade não é o alimento físico, mas a plenitude que vem do reino de Deus, e buscarmos esse reino com ardor, então seremos bem-aventurados, porque ele se revelará em plenitude e saciará as nossas vidas.
Na verdade, o Senhor está descrevendo a si mesmo. As bem-aventuranças apoiam-se nele. Tudo o que diz aqui, em primeiro lugar, é ele. Ele é aquele servo manso e humilde, que persegue o reino de Deus com esta fome insaciável; ele é o que chora e recebe a consolação de Deus.
«Bem-aventurados os misericordiosos» (v. 7). Estes são os que têm compaixão, os que são como o Pai celestial, que se compadece dos maus, dos injustos, que estende as suas mãos de compaixão aos que não merecem, que ama aos que se opõem a ele e são rebeldes. Esse é o coração de Cristo.
«…porque eles alcançarão misericórdia». Isto quer dizer que, quando você se entrega ao rio da misericórdia de Deus, você receberá mais e mais misericórdia. Mas aqueles que são duros, que não se compadecem, nunca experimentarão esta misericórdia.
Vendo Deus hoje
«Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus» (v. 8). Aqui não se refere a pessoas irrepreensíveis ou moralmente irrepreensíveis, mas a um coração não dividido, centrado em um só interesse, uma só paixão. Os limpos de coração são aqueles cujo interesse supremo na vida é o próprio Deus, e nada mais. Eles verão a Deus. Que prêmio pode ser maior que este?
Mas o Senhor não está falando aqui de uma vida futura, mas presente, esta vida que começa com a vinda do reino dos céus ao coração por meio do evangelho. São bem-aventurados os que põem o seu foco em conhecer a Deus e em buscar o seu reino.
«Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus» (v. 9).
Entre parêntesis, se você quer entender as bem-aventuranças, pegue primeiro a segunda frase, que se refere ao evangelho, e a primeira constitui o resultado do evangelho. Então, você pega a segunda parte, e diz «filhos de Deus». Como nos tornamos filhos de Deus? Por meio do evangelho.
O que o evangelho faz conosco? Nos faz estar em paz, nos reconcilia com Deus. E quando há paz com Deus no coração, então a paz deve ser um elemento essencial de nossa vida, somos capazes de estar em paz com outros e nos convertemos em pacificadores.
«Bem-aventurados os que padecem perseguição por causa da justiça…» (v. 10). Os seres humanos procuram sempre a aceitação dos outros, em especial de quem são mais próximos. É natural querermos ser reconhecidos e admirados; no entanto, muitas pessoas não são capazes de fazer o que é certo, por temor de perder a sua influência diante dos outros.
Mas o Senhor chama bem-aventurados aqueles que, como ele, seguem a justiça do reino de Deus mesmo que o custo seja perder a sua própria honra. No mundo, feliz é aquele que é admirado por todos; mas aos que são crentes é suficiente a aceitação do nosso Deus.
Jesus foi desprezado pelos homens, porque ele se manteve fiel à justiça do reino dos céus. Feliz é aquele que é condenado por fazer o que é justo diante de Deus. «Bem-aventurados os que padecem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus». Deles é a compaixão e o amor de Deus. «Bem-aventurados sois quando por minha causa vos vituperarem e vos perseguirem, e mentindo digam toda sorte de mal contra vós» (v. 11).
Os que são desventurados
Em contraste com isto, quem não são os bem-aventurados? O que diremos agora é um resumo do que o Senhor dirá a partir dos versículos 5 até o 8.
São desventurados aqueles que não têm uma vida digna de ser vivida, mas uma vida que finalmente se transformará em tragédia; os vingativos, os que ferem o outro, seja justa ou injustamente, os que acumulam riquezas na terra.
São desventurados os que seguem os seus próprios desejos e paixões, e por isso rompem os seus compromissos mais sagrados, caindo no adultério e no divórcio, pretendendo ser felizes. São desventurados os que obtêm fama ou reconhecimento procurando com hipocrisia a aprovação dos outros; aqueles que fingem pertencer a certa classe de pessoas procurando serem aceitos.
São miseráveis e desventurados os que se sentem moralmente superiores e se levantam como juízes, julgando e condenando a outros. (Até os cristãos são propensos a esta atitude. O Senhor nos socorra!).
São desventurados os que usam a linguagem para manipular e obter vantagem da parte de outros, e aqueles que usam a religião para obter poder, dinheiro, influência ou reconhecimento de outros.
Todas essas pessoas edificam sobre a areia; mas o Senhor nos ensina a edificar sobre a Rocha que não pode ser movida. Nestes dias tem soprado ventos, mesmo que ainda não sejam fortes, como está movendo os corações, como está transtornando a vida humana! «…e vieram rios, e sopraram ventos, e deram com ímpeto contra aquela casa; e caiu, e foi grande a sua ruína» (Mat. 7:27). Assim caem nações e sociedades inteiras.
«Qualquer, pois, que ouve estas minhas palavras, e as praticam, compararei a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha» (v. 24). Aqueles que edificaram sobre a Rocha não cairão, porque nada nem ninguém pode movê-la. Onde estamos edificando a nossa casa? É a pergunta que tentaremos responder mais adiante, considerando com mais profundidade o Sermão do monte. Amém.
Síntese de uma mensagem oral ministrada em Rucacura (Chile), em janeiro de 2020.