A igreja em Éfeso

Refletindo sobre os aspectos mais significativos da igreja no princípio da sua história.

Christian Chen

Antes do seu martírio, Paulo escreveu a segunda carta a Timóteo. No final dela, ele menciona vários dos seus colaboradores mais próximos, entre os quais está Trófimo, um irmão da igreja em Éfeso. Ao estudar a igreja em Éfeso, devemos nos familiarizar com ele. Seu nome não é tão familiar, mas está no coração do apóstolo. “Erasto ficou em Corinto e deixei Trófimo doente em Mileto” (2 Tim. 4:20).

Mileto é o porto onde Paulo se despediu dos anciões. Ali, todos choraram ao vê-lo partir. Paulo saiu com pressa e esqueceu algumas coisas. Por isso pede a Timóteo que venha no inverno e lhe traga a sua capa e os livros. Paulo era já maduro, mas ainda precisava buscar o Senhor, ainda continuava correndo a carreira.

O início

A história da igreja em Éfeso teve um ponto de inflexão. Antes daquilo, Éfeso parecia ter alcançado o topo. Paulo lhes instruiu sobre todo o conselho de Deus. Parecia impossível chegar mais alto; mas algo ocorreu, e está relacionado com Trófimo. Se ignorarmos isto, não entenderemos o todo da carta aos Efésios. Ele é a chave para vermos mais claramente como era a igreja no princípio.

A história da igreja em Éfeso começa no livro de Atos. Ouvimos a respeito de Apolo. No princípio, enquanto Paulo estava em Antioquia, Apolo veio a Éfeso e foi usado pelo Senhor. Entretanto, algo faltava a ele. Isso é algo maravilhoso do corpo de Cristo. Priscila e Áquila eram simples membros do corpo, que foram instruídos por Paulo e se deslocaram para Éfeso. De acordo ao propósito de Deus, eles foram a Éfeso porque um dia Apolo estaria ali e Deus o usaria; mas ele necessitava de ajuda.

Normalmente, quando alguém serve a Deus, poderá ajudar a outros; mas as vezes ele mesmo não quer receber ajuda. É tão bem-sucedido, está tão cheio. Mas, não importa quão eloquente ou quão útil seja, sempre te falta algo e outros podem te ajudar. Paulo disse: “Eu sou o menor entre os santos”. Você pode dizer o mesmo? Cada membro do corpo poderia ajudar a Paulo. Tal é o espírito por trás dessa declaração.

Apolo mesmo, sendo um obreiro, estava disposto a ser corrigido ou ser confirmado. Ele conhecia a vontade de Deus, mas também conhecia as suas limitações. Então Deus moveu a Priscila e Áquila. Apolo foi animado a visitar Corinto, e ali serviu à igreja. Apolo e Paulo são espirituais; mas os santos ali são crentes novos. Por isso, alguns deles disseram: “Eu sou de Apolo”.

Paulo em Éfeso

Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo veio a Éfeso, como em uma mudança de guarda. O Espírito está por trás disso. Em Éfeso, o apóstolo encontrou discípulos. Assim começou tudo. Ali, os santos eram conhecidos como os do Caminho, e os crentes em Antioquia eram chamados cristãos. O Caminho é um termo usado pelo próprio Paulo quando perseguia à igreja.

No começo, Paulo esteve três meses na sinagoga de Éfeso, tentando convencê-los. “Mas, como alguns se tornavam desobedientes, falando mal do caminho diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, discutindo todos os dias na escola de um homem chamado Tirano.Isso continuou por espaço de dois anos, de maneira que todos os que habitavam na Ásia, judeus e gregos, ouviram a palavra do Senhor Jesus” (Atos. 19:9-10).

Este é um aspecto importante da igreja em Éfeso. Na despedida dos anciões, Paulo descreve o que tinha estado compartilhando com eles. “Quando se apresentaram a ele, disse-lhes: Sabeis bem como me comportei entre vós todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia,servindo ao Senhor com toda humildade e com muitas lágrimas e provas que me vieram pelas trapaças dos judeus;como não deixei de vos anunciar nada que fosse útil e de vos ensinar publicamente e pelas casas” (Atos. 20:18-20).

Éfeso é uma igreja madura, aquela que recebeu a mais alta revelação; mas não foi edificada da noite para o dia. Paulo pregou com intrepidez, porque não deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus... Portanto, vigiai, lembrando que, por três anos, de noite e de dia não cessei de admoestar com lágrimas a cada um (Atos. 20:27, 31). Apesar dessa imaturidade, Paulo não só plantou a igreja; também esperou que crescesse. Em três anos, a igreja foi instruída. Paulo colocou ali um fundamento sólido.

Depois de dois anos, Paulo alugou o local da escola de um filósofo chamado Tirano. Ali pregava umas cinco horas cada dia por dois anos, de forma que todos ouviram o evangelho, judeus e gentios, os que viviam em Éfeso, Colossos, Filadélfia, Sardes e Hierápolis. Ali, ele derramou o seu ser e tudo o que sabia sobre o eterno conselho de Deus. O Espírito Santo nos deixou tudo o que julgou apropriado, em Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios.

Em Romanos vemos a salvação: a justificação pela fé, a santificação pela fé e a glorificação pela fé. Romanos parte da condição do homem diante de Deus. Estas cartas levam os santos à escola de Cristo. Sua ideia central é a palavra da cruz; não só a redenção, mas também a comunhão da cruz.

Um ponto de quebra

Mas, então, algo ocorreu, e por causa disso, Paulo foi elevado de seu nível original e pôde ver algo muito maior. Na prisão romana, os céus se abriram para ele. Sua carta aos Efésios é o próprio evangelho, mas visto dos lugares celestiais. E não só nos mostra os céus, mas também nos leva a eternidade passada, antes da fundação do mundo.

A visão de Paulo foi ampliada. Ele escreve Romanos aos santos que vivem na capital do império. Como judeu, ele sabia que um dia o reino de Deus viria por meio do Messias; então, seu ponto de vista era global. Mas, ao escrever Efésios, é diferente; agora a sua visão é celestial.

Quando o irmão Austin-Sparks era jovem, visitou o F. B. Meyer, um pregador já maduro. Sparks entrou em seu escritório e viu uma placa em que se lia: “Olha para baixo”. Sparks, intrigado, disse: “Mas os cristãos têm que olhar para cima, não para baixo”. Meyer explicou: “Tudo depende de onde você está, se estiver na terra, olha para cima; mas se estiver nos lugares celestiais com Cristo, sem dúvida, deve olhar para baixo”. Tudo é iniciado nos céus. Essa é a carta aos Efésios.

Um drama em Jerusalém

Depois de sua despedida de Éfeso, Paulo chegou a Jerusalém, onde reportou tudo o que tinha ocorrido com os Efésios. “Ouvindo-o eles, glorificaram a Deus e lhe disseram: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que têm crido; e todos são zelosos pela lei” (Atos. 21:20). A última frase é crucial: “E todos são zelosos da lei”. Isso é a igreja ou é um ramo do judaísmo?

“Faze, pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que têm obrigação de cumprir um voto.Toma-os contigo, purifica-te com eles, e pague seus gastos para que raspem a cabeça; e todos compreenderão que não há nada daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que tu também andas retamente, guardando a lei” (vs. 23-24).

Paulo era homem de princípios; ele pregava a verdade do evangelho. Mas, por causa da pressão dos santos em Jerusalém, Paulo submeteu-se. E neste ponto, Deus não esperou mais. Um pouco mais, e já não haveria mais o Caminho. Se Paulo seguisse a tradição, todos seriam cristãos vivendo à sombra do seu passado.

Paulo conhecia bem a verdade evangélica e deveria afirmar essa verdade, mas fracassou. Mas, embora seus servos pudessem falhar, Deus jamais falha. Se aquilo continuasse, a igreja cairia sob o domínio judaizante, e já não seria o Caminho. Então, o Senhor teve que agir.

“…alguns judeus vindos da Ásia, vendo-o no Templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele,gritando: Homens israelitas, ajudai-nos! Este é o homem que por todas as partes ensina a todos contra o povo, a Lei e este lugar; e, além disso, introduziu gregos no Templo e profanou este santo lugar.Porque antes tinham visto com ele na cidade a Trófimo, de Éfeso, a quem pensavam que Paulo o introduzira no Templo.Portanto, toda a cidade se alvoroçou, e se amontoou o povo; e apoderando-se de Paulo, arrastaram-no para fora do Templo, e imediatamente fecharam as portas” (Atos 21:27-30).

Dali em diante, Paulo esteve na prisão, e assim chegou a Roma. Por isso, em Colossenses diz: “Lembrai-vos das minhas prisões”, e em Efésios se identifica como o “prisioneiro do Senhor”.

Uma parede de separação

O que ocorreu aqui? Paulo e Trófimo viajaram de Éfeso a Jerusalém. Como judeu, sem dúvida, Paulo conhecia bem a cidade e o templo. Mas tudo aquilo era novo para Trófimo, que vivia na Ásia Menor. Este gentio nunca sonhou que um dia viria ao templo. Seu primeiro dia em Jerusalém deve ter sido surpreendente, mas no templo também havia algo singular.

No grego do Novo Testamento, há duas palavras para templo. Um se refere ao templo mesmo, o pátio exterior, o lugar santo e o Santíssimo. A outra expressão se refere a todo o conjunto do templo. Aquele templo tinha sido construído por Herodes o Grande, que o ampliou até duas vezes da área original. Hoje, tudo está destruído, mas era a maior praça religiosa do mundo em sua época.

Paulo e Trófimo chegam à área chamada de pátio dos gentios. Aquele era o lugar onde os não judeus podiam entrar e orar. No centro de tudo estava o templo propriamente dito.

Durante as festas, os judeus, que pertenciam à casa de Deus, entravam pela porta Formosa até o próprio templo. Mas antes dele, havia uma parede de separação, não muito elevada, que o rodeava.

Agora, como sabiam se estavam perto ou longe de Deus? Depende de quão próximo estiver do templo. Só pertenciam à casa de Deus aqueles que podiam cruzar essa parede. Então diziam: “Nós estamos muito próximos de Deus”. A presença de Deus estava só a vinte metros de distância, mas eles esqueceram que, de fato, estavam a milhões de quilômetros de distância de Deus, pois eram pecadores.

Trófimo era um gentio, e entendeu: “Nós gentios estamos fora do pacto, não temos Deus, nem esperança”. Pela primeira vez, ele se sentiu estrangeiro, não porque vinha de Éfeso, mas pensou de si mesmo como alguém que vinha dos confins da terra.

Por que Paulo foi acusado de introduzir um grego no templo, contaminando-o? Porque viram a Trófimo na cidade; suspeitaram aquilo, e por isso prenderam a Paulo. Trófimo viu isso. Imaginemos os seus sentimentos ao saber que Paulo tinha sido preso por causa dele. No princípio, Trófimo estava tão feliz, mas agora não veria mais o rosto do apóstolo.

Trófimo voltou para Éfeso. Como testemunha ocular, pôde descrever o ocorrido, os edifícios que viu, e aquela parede de separação. “Nós estamos longe de Deus, eles estão próximos; essa parede nos divide”. Aquele muro de separação é a maior barreira que existe debaixo dos céus.

Em Éfeso, estavam todos aflitos, sabendo que Paulo estava preso por causa de Trófimo. Por essa razão, esperavam uma carta de Paulo. E graças ao Senhor, um dia apareceu Tíquico. “E, para que saibais também de meus assuntos e o que faço, de tudo vos fará saber Tíquico, o irmão amado e fiel ministro do Senhor,o qual vos enviei para o mesmo fim, para que saibais no tocante a nós, e ele console vossos corações” (Ef. 6:21-22).

A realidade em Cristo

Ao lermos o capítulo 2, podemos valorizar tudo. “Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão, pela chamada circuncisão feita pela mão dos homens.Naquele tempo, estáveis sem Cristo, excluídos da cidadania de Israel e estranhos quanto aos pactos da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo.Mas, agora, em Cristo Jesus, vós que, em outro tempo estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.Porque Ele é nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio” (Ef. 2:11-14).

Trófimo imediatamente se lembrou daquela parede de divisão. Toda a igreja sabia dessa parede que provocou tantas dores. Mas agora ouçamos o que Paulo diz:

“…aboliu em Sua carne a inimizade, a lei dos mandamentos em forma de ordenanças, para criar em Si mesmo dos dois um só e novo homem fazendo a paz,e, mediante a cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.E, vindo, evangelizou a paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto;porque, por meio Dele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.Assim, já não sois estrangeiros nem peregrinos, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef. 2:15-19).

Ao entrar por esta Porta Formosa, então somos: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Jesus Cristo, a principal pedra angular,em quem todo o edifício, bem ajustado, vai crescendo para ser um santuário sagrado no Senhor” (Ef. 2:20-22).

Agora toda a mensagem se torna viva aos olhos dos santos. Em Efésios, Paulo fala da esperança de Seu chamamento, e essa chamada já não é individual, mas corporativa. Antes de Efésios, críamos conhecer todo o conselho de Deus; mas agora nos mostra quando Cristo subiu aos céus sendo feito cabeça de todas as coisas. Todas as coisas estão debaixo dos seus pés. E entre a cabeça e os pés está o corpo de Cristo, a igreja, a plenitude Daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef. 1:23).

A igreja redimida está agora na posição de Adão antes da sua queda, na ideia original de Deus. Ele criou o homem um pouco menor que os anjos. Adão podia tomar da árvore da vida, se permanecesse ao lado de Deus, e Deus colocaria o inimigo em vergonha. Mas, por desgraça, o homem caiu.

Segundo a vontade de Deus, Adão seria o rei da terra. Quando ele estivesse sob o Senhor como cabeça, Deus seria o tudo em todos. O homem traria todas as coisas de volta ao próprio Deus. Em Efésios 1 vemos o propósito eterno de Deus: todo o universo, céus e terra, reunidos sob o senhorio de Cristo. Quando a igreja está realmente sujeita a Cristo como cabeça, ela prega o evangelho, ganha as almas para Cristo e põe todas as coisas debaixo dos Seus pés. Dessa maneira, Deus recuperará tudo aquilo que foi perdido.

Nos lugares celestiais

Esta é a visão celestial. Paulo passou pela disciplina, os seus olhos se abriram, e agora ele nos mostra que a igreja é o corpo de Cristo. Mas não apenas isso. Em seu discurso de despedida, ele falou a respeito da palavra da graça. Esta palavra implicava receber uma herança. Que maravilhoso! A palavra de graça foi confiada para que possamos desfrutar de Cristo como nossa herança e essa frase também se repete no capítulo 1 de Efésios: “obtivemos uma herança”.

Quando tudo aquilo ocorreu, Paulo foi preso e a igreja em Éfeso sofreu muito; mas agora chegam notícias alentadoras. Paulo esteve com Cristo nos céus e viu também que nós estamos assentados com Cristo nos lugares celestiais. No princípio, ele não entendia por que perdeu a sua liberdade. Mas um dia, a palavra veio a Paulo e gradualmente viu o significado da prisão.

Antes que uma mariposa possa voar, só é uma larva, um verme que só se move em um terreno de duas dimensões. Não consegue ver aquela dimensão chamada céu, como Jacó. Deus lhe disse: “Verme  de Jacó”, e lhe mostrou a escada celestial. Inclusive hoje, os olhos do povo judeu só veem esta terra. Para eles, um dia o reino messiânico encherá a terra física. Eles não conhecem a dimensão chamada céu.

Se você tiver a realidade de uma mariposa, a vida estará ali, e ela se manifestará. Por isso, Paulo fala sobre o poder sem o qual nada pode ser realizado: o poder da ressurreição e o poder da ascensão. Ele estava com Cristo nos céus, embora em sua experiência estivesse na prisão. Mas, pela vida de ascensão, ao viver o céu na terra, ele pôde escrever as cartas aos Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemon.

É possível experimentar a vida de ressurreição sobre a terra, mas quando está no meio do conflito, só o poder de ascensão te levantará e te porá em um ponto em que verá tudo dos céus.

Quando os missionários no interior da China foram perseguidos, em 1900, a nora de Hudson Taylor, escreveu: “Nos dias mais terríveis, é obvio, havia temor; entretanto, tínhamos uma maravilhosa comunhão com o Senhor. Ao olharmos para trás, não sabemos se aqueles dias eram na terra ou no céu”.

A herança de Deus

A vida de ascensão nos permite olhar tudo de cima, e assim entender qual é “a sobre-excelente grandeza do seu poder para conosco os que cremos”. Mas antes desta frase, há outra que é surpreendente: “…quais as riquezas da glória da sua herança nos santos”.

Em Efésios 1:11, “feito herança”. Isso entendemos sem problema. Mas, como entender a herança de Deus nos santos? Sim, nós desfrutamos de Cristo como nossa herança, mas há outro lado: Deus deverá receber sua herança nos santos. Você diz: “Paulo aqui possivelmente se equivocou. Entendemos como Cristo pode ser nossa herança, mas tem dito que Deus terá uma herança em nós?”.

A palavra herança permeia toda a Bíblia. Na primeira parte do Antigo Testamento, quando se fala de herança, sempre se refere à terra prometida. Essa era a sua esperança. Mas a terra é só um meio para alcançar um fim. Entrar nela é desfrutar de Cristo como sua herança. Mas na parte final do Antigo Testamento, a herança diz respeito ao povo de Deus. Quando o povo amadurece e obedece a vontade de Deus, essa é a herança de Deus. É a mesma ideia da linguagem do Novo Testamento.

Não só Cristo é a nossa herança, mas também nós seremos a Sua herança. Humanamente, isso é impossível. Por isso Paulo fala do poder da ressurreição e do poder da ascensão. Em Efésios 3, esse é o poder com que Deus opera em nós. Hoje conhecemos a Cristo como nossa herança, mas um dia nós nos tornaremos a Sua herança, e isso ocorrerá quando ele apresentar a si mesmo a igreja gloriosa.

Em Efésios, como em Colossenses, Paulo usa frequentemente a palavra plenitude. Depois dela sempre há um vaso em mente. A plenitude de Cristo é tão grande, e Deus sabe que só o corpo de Cristo pode contê-la.

Amor e plenitude

Efésios 1:15 diz: “Por esta causa também eu, tendo ouvido de vossa fé no Senhor Jesus, e do vosso amor para com todos os santos…”. Por três anos, Paulo não tinha apenas ouvido; ele tinha visto. Depois que Paulo deixa Éfeso, a igreja cresceu sem a presença dele. “Tendo ouvido de vossa fé … e do vosso amor para com todos os santos”. Assim era a igreja no princípio, uma igreja cheia de amor.

“Por esta causa dobro meus joelhos diante do Pai ... para que, segundo as riquezas de Sua Glória, conceda-vos que sejais fortalecidos com Poder, mediante Seu Espírito no homem interior;para que Cristo habite por meio da fé em vossos corações, a fim de que, arraigados e alicerçados em amor...” (Ef. 3:14, 16-17).

O primeiro amor não é algo emocional; é um amor elevado, com uma base firme. “…sejais plenamente capazes de compreender, com todos os santos, a largura, o comprimento, a profundidade e a altura…” (Ef. 3:18). Os eruditos dizem que Paulo ficou sem palavras para descrever o amor de Cristo. É como um oceano. Só pode citar a largura, o comprimento, a profundidade e a altura.

Você, sozinho, nunca experimentará a dimensão do amor, mas quando a igreja se reúne, sim poderá conhecê-lo. Muitos místicos amaram o Senhor, mas foram apenas indivíduos. Madame Guyon falava do amor como um oceano, mas quanto que ela podia apreciá-lo? Por isso, precisamos nos congregar. Só quando todos os santos se reúnem é possível entender e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento.

O mistério de Deus e de Cristo

Graças ao Senhor, em Efésios 1 vemos que o mistério de Deus é Cristo; no capítulo 3, o mistério de Cristo é a igreja. Esse é o propósito eterno de Deus: no capítulo 1, o propósito eterno de Deus em si mesmo, e no capítulo 3, o propósito eterno de Deus na igreja.

Colossenses nos ensina a nos comportar como pai, mãe, marido e mulher. Em Éfeso, eles amavam a Deus ao máximo, e não viviam a sua própria vida. Os maridos amavam as suas esposas de acordo ao ensino de Paulo. O homem, por um lado era o marido e por outro lado, representava a Cristo. De igual maneira, as esposas tinham temor de representar mal a igreja, pois elas deviam obedecer a Cristo.

Falando de matrimônio, você não deve só amar a sua esposa, mas amá-la como ama o seu corpo. Isto nos leva ao princípio, em Gênesis. Quando Adão dormiu, algo de seu lado foi tomado e dali saiu Eva. Deus trouxe a mulher diante de Adão, e quando ele a viu, nasceu o primeiro poema na história: “Isto é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne”, quer dizer, “isto é meu corpo; saiu de mim, e retorna para mim”.

Efésios 4 fala de crescimento e maturidade. A igreja é o corpo de Cristo. Quando Eva foi criada, já era madura. “Osso dos meus ossos e carne da minha carne” é a apresentação. Finalmente, ambos são uma só carne. “Grande é este mistério; mas eu digo isto com respeito a Cristo e a igreja” (Ef. 5:32).

No capítulo 1, o mistério de Deus é Cristo; no capítulo 3, o mistério de Cristo é a igreja. Quão felizes são os santos em Éfeso! Podemos imaginar como viviam aquele tipo de vida. Tudo é plenitude. Isto é alcançar o padrão de Deus. Essa é uma igreja madura aos olhos de Deus.

O caminho celestial

Ao olharmos para a história, é triste como aquele vinho novo é colocado em odres velhos. No princípio eles partiam o pão; mas um dia pensaram que só uma pessoa podia partir o pão e oferecer o cálice. Então a mesa do Senhor se transformou em um altar, e o altar e todo o edifício se converteram em um templo.

Como pôde ocorrer aquilo? O Senhor já tinha visto isso; por isso ele disse: “Vós sois todos irmãos”. Não faça da igreja algo ligado ao judaísmo. Isso é uma tragédia. Graças às cadeias de Paulo, fomos libertos das tradições e podemos servir ao Senhor com liberdade. Todos e cada um dos membros do corpo de Cristo devem estar funcionando. Graças a Deus por este novo vaso celestial cheio da plenitude de Cristo e do amor de Deus. Este é o primeiro amor, o qual nunca devemos abandonar.

A palavra amor em Efésios é maravilhosa, mas eles pagaram um preço. “Por esta causa eu Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus por vós os gentios…” (Ef. 3:1). Paulo está nos lembrando o que ocorreu. Versículo 13: “Portanto, peço-vos que não desfaleçais em minhas tribulações por vós, as quais são vossa glória”.

Tudo isto se refere a aquele fato em Jerusalém. Por causa da prisão, os olhos de Paulo foram abertos. Agora a igreja tem um caminho; não o caminho dos gregos nem dos judeus, mas o caminho celestial. A igreja é o corpo de Cristo e por meio dela, até os anjos devem aprender uma lição. Eles devem saber o segredo da multiforme sabedoria de Deus. Assim era a igreja de Éfeso no princípio.

O Senhor fale com os nossos corações. Amém.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Temuco (Chile), em setembro de 2012.

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