O evangelho eterno

O anúncio do mistério de Deus manifestado em Jesus Cristo.

Roberto Sáez

“E vi outro anjo voando pelo meio do céu, e tinha um evangelho eterno para proclamar aos que habitam sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apoc. 14:6-7).

O evangelho é eterno, e é precisamente por esta condição que o evangelho é grande. É eterno, porque aquele que nos deu esta boa nova é o Deus eterno, que sempre teve o intuito de fazer o homem a sua imagem e semelhança, porque o próprio Deus se assentaria no Trono do universo como Homem. Pensou eternamente conforme nos diz Paulo em Efésios, “conforme o propósito eterno que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” (Ef. 3:11).

O homem no propósito divino

Esse propósito eterno que Deus fez em Cristo Jesus era ter um homem assentado no Trono do universo. Isto é algo extraordinário. De todas as criaturas que Deus fez, não há ninguém que tenha para ele a qualidade que o ser humano tem.

A adoração humana é mais importante para Deus do que a adoração que toda a criação possa lhe dar. Toda a criação foi feita para que adorasse a Deus. “Tudo o que respira louve ao Senhor” (Sal. 150:6). Tudo o que foi criado é chamado a inclinar-se diante da grandeza do Criador. Deus, em uma ordem de coisas, criou o universo, os astros, a lua, o sol e a terra. Tudo fez para a sua glória e para o seu louvor.

Entretanto, de quem Deus mais espera ser reconhecido em sua grandeza, é do homem. Porque Deus quer compartilhar com o homem a sua vida, seu reino, sua glória, sua autoridade. De tal maneira que tudo nos fala do amor de Deus, tudo nos fala da sabedoria e da bondade de Deus.

Quando aparece este anjo no final dos tempos, ele nos faz pensar no princípio. Em Gênesis, Deus aparece dando ao homem uma instrução em relação a árvore da vida e da árvore da ciência do bem e do mal, lhe advertindo que se comesse da árvore da vida, seria como ele; mas se comesse da árvore da ciência do bem e do mal, no dia que comesse dessa árvore morreria.

O evangelho, então, tem estas duas conotações: é uma boa nova para quem obedece ao seu anúncio; mas também pode ser uma notícia terrível para aquele que não se sujeita à ordem estabelecido por Deus, à mensagem e à advertência que Deus dá. Deus quer que sejamos como ele é, ele quer que vivamos eternamente; quer nos incluir no que ele é, no que ele tem e no que ele faz.

Deus é amor. Ele é inclusivo; ele quer dar-se por nós. Então, temos que recebê-lo, com a sua mensagem, com a intenção que ele tem de nos dar vida. Aquele que crê e o recebe, une-se a ele, tem parte com ele e é aceito por ele. Aquele que não o faz, que não crê, perde-se, e virá o juízo de Deus.

Justiça e julgamento

O que é o julgamento de Deus? É o desajuste que o ser humano produz quando não se sujeita à justiça de Deus. A justiça de Deus é tudo o que ele quer para nós; é uma estrutura extraordinária, de atributos, de características de Deus, determinada em leis, preceitos e regulamentos.

Os atributos de Deus (ao redor de 700 nas Escrituras), são os títulos de Cristo. Quem encarna toda a justiça, a lei e a palavra de Deus é o Senhor Jesus Cristo.

As palavras de Apocalipse que o anjo proclama, podem ser comparadas com Romanos 1 e 2. “Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apoc. 14:7). Há uma demanda: temer a Deus. Por que temer a Deus? Porque quem se aparta da justiça divina se separa do caráter de Deus, cai e fica destituído.

“E adorai aquele que fez o céu e a terra”. Quem encarna de maneira especial o ajuste divino é precisamente o nosso Senhor Jesus Cristo. Ao concluir a sua missão, ele disse: “(Pai), eu te glorifiquei na terra; acabei a obra que me deste que fizesse” (João 17:4). Ele veio para glorificar a Deus.

O evangelho foi pregado de muitas maneiras, desde o começo. É o evangelho eterno, que no início Deus comunicou ao primeiro homem, lhe dando a boa nova de comer da árvore da vida. Mas o homem desobedeceu e ficou na condição de um ser caído. Deus espera que nós creiamos, que o recebamos e lhe demos glória.

“(Deus) retribuirá a cada um segundo as suas obras;a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em favor o bem, procuram glória, e honra e incorrupção” (Rom. 2:6-7). Aí está a árvore da vida. Deus é eterno e quer compartilhar a eternidade conosco.

Há uma conexão com o Deus do evangelho eterno para aqueles que perseveram em fazer o bem. O bem de Deus é tudo o que ele quer para nós, a boa nova, aquilo que Deus nos dá em Cristo.

Portanto, os que se atem a sua justiça, os que procuram a glória e a satisfação de Deus, procuram sentir-se tão satisfeitos como Deus se sente, contentes de ser o que são. Há uma profunda satisfação, um gozo de saber que somos o que somos, pela graça de Deus.

Assim, se alguém se sente frustrado, é que não conhece a justiça de Deus. Agora, nunca poderemos conseguir ser justos por nós mesmos. A primeira condição para sentir-se contente de saber que estou bem comigo mesmo, de acordo com quem sou, é me sentir justificado. Nossas obras nunca nos darão essa paz; só pela fé em Jesus Cristo temos a justificação e o perdão.

A justiça de Deus nos é imputada por graça, pela obra de Jesus Cristo. Isto é parte do evangelho. O evangelho é grande, porque nos dá aquilo que nunca pudemos obter por nossos méritos. Não podemos pensar que podemos conseguir algo de Deus por nossos méritos.

A justiça e a paz

Você encontrou a paz de Deus, a paz de Cristo? Romanos 2:10 diz: “…glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem”. Satisfação, alegria, bem-aventurança, gozo, são sinônimos da palavra glória. Tudo isto para os que perseveram em fazer o bem, e junto com isso, honra e paz. Tudo isto está relacionado com a justiça e a paz.

A justiça é o conjunto de todos os atributos de Deus, que tem como fruto a paz. A paz é também uma estrutura. Para que haja paz, tem que haver amor, verdade, compreensão, fidelidade, lealdade, honestidade, transparência, pureza. Todos os atributos de Deus que conformam à sua justiça, constituem, como efeito, a paz. A paz é fruto de um caráter.

Quando transgredimos a justiça, rompe-se a paz. “Não há paz, disse o meu Deus, para os ímpios” (Is. 57:21). A impiedade consiste em ter um comportamento afastado da justiça divina. Desde Adão até hoje, esse foi o problema, o desajuste, até que Cristo veio, como diz o Salmo 85:10, “a justiça e a paz se beijaram”.

Que quantidade de coisas se requerem para que haja paz! Como nós conseguiríamos a paz? Teríamos que ajustar todos os atributos de Deus, para podermos ter paz. Mas hoje temos paz para com Deus por meio da fé em Jesus Cristo.

O mistério da piedade

“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória” (1 Tim. 3:16). Aqui termina toda discussão. Há Um que viveu conforme à piedade. A piedade reflete o que Deus é; é o comportamento de um ser humano que é semelhante a Deus.

No que consiste o mistério da piedade? É que nunca tínhamos realmente conhecido alguém que se parecesse com Deus. Que precioso! Por fim, manifestou-se um Homem que mostrou a Deus. Deus se mostrou em um ser humano. Por fim, Deus apareceu; ninguém o tinha visto antes; mas agora o vemos.

“O que temos visto e ouvido, isso vos anunciamos” (1 João 1:3). O anúncio do evangelho consiste em ter visto um homem semelhante a Deus, e que viveu como tal. Que precioso é o que Deus mostrou em Jesus Cristo! Ele, sendo Deus, viveu na terra como homem. Jesus curou doentes e ressuscitou mortos, não porque era Deus, mas estando na condição de homem, dependendo do Pai.

Jesus caminhou sobre as águas. Os gregos diziam que um ser humano não pode caminhar sobre as águas. Então apareceu a heresia chamada docetismo, que nega a humanidade de Jesus. Essa é uma mentira do diabo. Jesus é homem, é Deus encarnado; é Deus e homem verdadeiro. É incompreensível para a mente. “Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mat. 8:27).

O Verbo eterno de Deus

O Verbo de Deus esteve eternamente face a face com Deus. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). O texto original diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava voltado para Deus, e o Verbo era Deus”. Que maravilhoso! Deus, eternamente, olhando-se face a face. A Trindade: o Pai vivendo no Espírito, o Filho no Pai, o Espírito vivendo no Pai e no Filho, em uma dança eterna, cheios de alegria, olhando um para o outro.

Por isso, quando Deus cria o homem, lemos: “Homem e mulher os criou” (Gên. 1:27). Isso significa que são dois que estão se olhando face a face. A imagem de Deus, o que Deus é, assim ele nos fez, para que o homem e a mulher se olhem um para o outro, e vivam em comunhão uma vida compartilhada. Assim é Deus. Deus é um, mas em conjunto, e Deus espera que no matrimônio sejamos um, uma só carne, em conjunto.

Em tudo isto vemos como é a manifestação de Deus, primeiro pré-encarnado. Em seguida, este que esteve desde o princípio, e que era desde o princípio, que é a origem de todas as coisas, o Alfa e a Ômega, o princípio e o fim, encarnou-se.

Vimos a heresia de alguns cristãos gregos, intelectuais, negando a humanidade de Cristo. Mas alguns cristãos judeus de Antioquia negavam a divindade do Senhor. E estas são a fonte de todas as heresias surgidas no cristianismo.

Mas o Espírito Santo, através de Paulo, coloca um lembrete no final, para deter estas heresias, dizendo: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória” (1 Tim. 3:16).

Deus é um mistério, mas Paulo declara que esse mistério que esteve oculto pelos séculos e gerações lhe foi revelado. Foi-lhe dada a graça de receber a revelação do mistério de Deus, que é Cristo. Isto deixou de ser um mistério quando Deus se manifestou em carne, em Jesus Cristo. O texto de 1 Timóteo 3:16 foi um dos primeiros cânticos da cristandade. Os primeiros crentes foram judeus, tinham o Saltério e cantavam hinos e muitos cânticos. Cada frase desta Escritura pode ser uma mensagem.

Justificado no Espírito

Uma vez que o Senhor esteve aqui como o Enviado de Deus, o Messias manifestado em carne e sangue, foi “justificado no Espírito”. Foi gerado pelo Espírito, cresceu guardado e vindicado pelo Espírito Santo. A vida que ele viveu como homem, viveu-a cheio do Espírito Santo.

Quando Jesus foi batizado, o Pai o ungiu com o Espírito Santo, cumprindo as palavras do salmista. “O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino.Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros” (Sal. 45:6-7).

A justiça e a maldade são duas coisas que estão sempre em antagonismo. O óleo da alegria é o óleo da glória, da satisfação, da bem-aventurança, o estar contente sendo o que sou. O Senhor Jesus Cristo é o mais feliz de todos os homens, porque foi ungido com o óleo da alegria. Ninguém é maior que ele, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o Príncipe dos pastores. Ele supera a todos.

Nosso Senhor Jesus Cristo deve fazer uma obra representativa. É o vicário de Deus diante dos homens, e vicário dos homens diante de Deus. Ele fica no ponto intermediário, e é o ponto de encontro entre Deus e os homens. O propiciatório era o lugar do templo onde se depositava o sangue. E o sangue fazia a propiciação, tornava possível que o Deus santo e justo se encontrasse com o pecador.

Cristo é a nossa propiciação. Esta é a tremenda obra que tornou possível que tenhamos esta glória, esta satisfação de ser o que somos, porque por nossos méritos nunca o teríamos obtido. O Senhor é o vicário, nosso representante diante de Deus, e por sua justiça nós fomos declarados justos.

O anúncio do evangelho

Agora, há uma aplicação de tudo isto. A palavra de Deus nos manda anunciar tudo isto. O evangelho é anúncio, é boa nova. “Quão formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is. 52:7).  “Irá andando e chorando o que leva a preciosa semente; mas regressará com regozijo, trazendo seus feixes” (Sal. 126:6). Assim são descritos os mensageiros, os pregadores.

Você gostaria de ser um mensageiro do Senhor, aceitando a comissão divina de ser portador desta mensagem? Pregamos não só com as palavras. Martyn Lloyd-Jones, em seu livro Depressão Espiritual, critica o rosto abatido de muitos crentes, que não refletem a glória do Senhor, e os descreve como ‘cristãos miseráveis’, porque não compreenderam as riquezas de Deus em Cristo, e seus rostos não refletem a alegria do Senhor. Portanto, ainda que falem, não transmitem a vida, porque os seus rostos dizem outra coisa.

É obvio, não se trata de aparentar uma alegria externa. Há uma obra interna e profunda do Senhor, onde a paz de Deus e a fé que não é algo intelectual, mas a própria fé de Cristo opera em nós. Isso é algo espiritual. Se não tivermos isso, não seremos efetivos em nossa pregação.

Requer-se um ato de consagração. Se você não está impressionado com a grandeza do evangelho, se o evangelho não o impactou, não poderá cumprir a demanda de Deus através do anjo, no final dos tempos: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque a hora de Seu juízo chegou...”.

O grande conflito dos séculos é a luta entre o bem e o mal, entre o poder das trevas e o reino da luz, entre a justiça e a injustiça. Este debate terá um fim quando Deus dispor o juízo final. “Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque a hora de Seu juízo chegou; e adorai Aquele que fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas”. Esta ordem de adorar a Deus é de adorá-lo por sua grandeza, por suas virtudes, por seus atributos.

Ide e pregai

“Daí graças ao Senhor, invocai Seu Nome; fazei conhecer as Suas obras nos povos” (Sal. 105:1). O Senhor Jesus Cristo disse: “Todo poder me foi dado no céu e na terra. Portanto –com esta autoridade–, ide, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-lhes a guardar todas as coisas que vos tenho mandado” (Mat. 28:19-20). Esta é a ordem. E a promessa: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (v. 20).

Isto é o que se chama ‘a grande comissão’. Há experiências extraordinárias a respeito. Numerosos missionários e missionárias deram a sua vida pela grandeza do evangelho. Se o evangelho não fosse grande, todos os apóstolos teriam morrido como morreram?

Jesus lhes havia dito: “Podeis vós beber o cálice do qual eu vou beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Eles responderam: Podemos” (Mat. 20:22). Ele estava lhes falando do cálice amargo da cruz. Eles lhe disseram que sim, embora naquele momento não sabiam o que estavam dizendo; mas quando chegou a hora, cada um deles morreu por Cristo.

Se Cristo não fosse realmente o que eles testificavam, teriam morrido por ele? Alguém seria capaz de morrer por uma falsidade? Se eles morreram por Sua causa, é porque estavam absolutamente convencidos de saber quem Cristo era, do valor que Cristo tinha.

O poder transformador do evangelho

Em 1951, chegaram ao Equador dois casais de missionários americanos para evangelizar os nativos. Os dois homens foram mortos pelos canibais, que os comeram. Você crê que as suas esposas fizeram as malas e retornaram para os Estados Unidos chorando? Não. Elas ficaram para viver com os seus filhos entre os indígenas. E eles, ao verem o testemunho destas mulheres, nunca mais mataram seres humanos, e desapareceu para sempre o canibalismo naqueles lugares.

A grandeza do evangelho tem o poder de transformar ao mais vil pecador. Assim diz o famoso hino “Sublime Graça”. “Quem ia pensar que Deus ia salvar a um homem tão vil como eu”. O autor deste hino era um traficante de escravos. Deus pode perdoar; o evangelho pode restaurar um pecador dessa índole! Paulo diz: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro” (1 Tim. 1:15). Você pode dizer o mesmo?

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Rucacura (Chile), em janeiro de 2018.

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