Iluminando em lugar escuro

O desafio de pregar o evangelho em uma sociedade secularizada.

Rodrigo Abarca

Em seguida, olhei e vi uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estava de pé diante do Trono e na presença do Cordeiro, coberta de roupas brancas e com palmas nas mãos; e clamava em grande voz, dizendo: A salvação pertence a nosso Deus que está sentado no Trono e ao Cordeiro. Todos os anjos estavam de pé ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro seres viventes; e se prostraram sobre seus rostos diante do trono, e adoraram a Deus, dizendo: Amém. A bênção, a glória, a sabedoria, as ações de graças, a honra, o poder e a fortaleza sejam a nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém” (7:9-12).

Esta cena mostra o final da história humana. Deus obteve para si uma grande colheita, um único povo. E agora eles estão todos reunidos diante do trono de Deus e do Cordeiro. Esta multidão é o fruto do evangelho de Jesus Cristo, no final de todos os tempos. Nós somos parte desse número de redimidos pelo sangue do Cordeiro, mediante o anúncio do evangelho.

Só Deus salva

Todos os anjos estavam de pé ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro seres viventes; e se prostraram sobre seus rostos diante do trono, e adoraram a Deus”. Ser adorado constitui um direito exclusivo e absoluto de Deus. Ninguém mais merece adoração, porque ninguém mais, a não ser ele, pode salvar.

Em Apocalipse 14:7, quando o anjo voa pelo céu anunciando o evangelho eterno, diz: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque a hora de Seu juízo chegou; e adorai Aquele que fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas”.

O grande conflito entre a mulher e o dragão, entre o propósito eterno de Deus com respeito ao homem, à igreja, e a Satanás o adversário, é resolvido no capítulo 13 na batalha final, quando aparecem as duas bestas que perseguem os santos para aniquilá-los. Ambas as bestas respondem aos dois primeiros mandamentos da lei, e são uma negação desses dois mandamentos.

A primeira besta nega o mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim”. Esta tem sobre si um nome blasfemo; quer dizer, se coloca a si mesmo no lugar de Deus, e se faz adorar pelos moradores da terra. O segundo mandamento diz: “Não farás para ti imagens, não te prostrarás diante delas nem as honrarás”. A segunda besta mandou que os homens fizessem uma imagem para a primeira besta e a adorassem.

Que relação há entre isto e o que estamos falando com respeito ao evangelho? O evangelho confronta o pecado fundamental do homem. Todos nós somos pecadores; para sermos salvos, temos de reconhecer que somos pecadores, e que não podemos salvar a nós mesmos.

Todos pecaram

Deste ponto parte o evangelho. Sem esse reconhecimento da condição pecaminosa do homem, não há salvação. Por isso Romanos 1, 2 e 3 estabelece de maneira irrefutável a completa pecaminosidade do homem. “Não há diferença, porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”.

O pecado tem uma raiz básica, descrita em Romanos. Essa raiz é o pecado mais abominável aos olhos de Deus, o qual dá origem a todos os outros pecados. “Porque a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens” (Rom. 1:18). Toda a humanidade está debaixo da ira de Deus.

Todos os homens são culpados, porque, tendo tido no principio acesso ao conhecimento de Deus, o rejeitaram, e fizeram outra coisa. “Pois tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus nem lhe deram graças”. Ao contrário, “dizendo-se sábios se fizeram néscios, e trocaram a glória do Deus incorruptível em semelhança de imagem de homem corruptível”. Quer dizer, entregaram-se à idolatria.

A idolatria, raiz do pecado

A idolatria é a raiz do pecado; é trocar o Deus verdadeiro, pondo no lugar de Deus aquilo que não é Deus. Nisso consistiu o primeiro ato de rebelião do ser humano, em Gênesis. A idolatria é o pecado supremo, e os ídolos são chamados de abominações. Por isso, o anticristo, se coloca a si mesmo no lugar de Deus, e é chamado “a abominação desoladora”.

“Por isso Deus os entregou a paixões vergonhosas, abandonou-os a uma mente reprovada”. Essa é a ira de Deus. Deus simplesmente os abandona às consequências do pecado, colhendo os frutos amargos da rebelião. Se servirem aos falsos deuses, eles os escravizarão e, de maneira inevitável, os destruirão.

O evangelho entra sempre em conflito com os ídolos. Lutero disse: “O coração humano é uma fábrica de ídolos”. O mundo ocidental se considera muito sofisticado para crer nos ídolos legendários. Mas a cultura secular moderna tem os seus próprios ídolos, iguais ou piores que aqueles.

O escritor cristão G.K. Chesterton dizia: “Quando os homens deixam de crer em Deus, não é que não criam em nada, mas começam a crer em qualquer coisa”. O homem está propenso a adorar ídolos.

Em Isaías 44 lemos a história de como um homem fabrica um ídolo, em uma metáfora da história e a cultura humana. Versículo 13 a 15: O carpinteiro estende a régua, assinala o ídolo com lápis, trabalha-o com o cepilho, dá-lhe figura com o compasso, faz-no em forma de varão, à semelhança do homem charmoso, para tê-lo em casa.Corta cedros, e toma o cipreste e a azinheira, que crescem entre as árvores do bosque; planta pinheiro, que se cria com a chuva.Dessas árvores, logo o homem se serve para fazer fogo, e toma delas para esquentar-se”.

Isto é uma ironia do profeta. “E faz do restante um deus, um ídolo dele, prostra-se diante dele, e o adora”. Esta é a chave do que estamos dizendo. O que quer dizer quando o adora? “E lhe roga, dizendo: Livra-me”. A tradução mais correta é: “Salva-me”. Agora entendemos por que os redimidos dizem: “A salvação pertence ao nosso Deus e ao Cordeiro”. O único que pode salvar é Deus.

Ídolos na cultura moderna

Toda cultura tem seus próprios ídolos. A cultura moderna só acredita no mundo material, mas, mesmo assim, é idólatra. Ao pregarmos o evangelho, devemos aprender a detectar esses falsos deuses, porque o evangelho sempre entra em confrontação com eles.

Quando Paulo chegou a Atenas, o seu coração se inflamava vendo a cidade entregue à idolatria. E então começou a discutir, dizendo: “Estes deuses que vocês adoram não são verdadeiros; não podem salvar. O Deus que vocês não conhecem, esse é o Deus que vos anúncio. Este é o verdadeiro Deus que fez o céu e a terra. Só ele pode salvar”.

Um ídolo da cultura atual é a meritocracia. Segundo ela, o valor da vida é medido por nossos lucros. Se não tivermos êxito, não valemos nada. As pessoas desejam salvar-se a si mesmo por seus méritos. Aqueles que não obtêm méritos suficientes são os perdedores.

Como o evangelho faz este ídolo cair? Todos nós somos perdedores aos olhos de Deus. Diante dele não há ganhadores. Você está inserido nessa cultura; em sua empresa, em seu trabalho, tudo o pressiona. E frequentemente nós mesmos ensinamos os nossos filhos que, para sermos amados, temos que obter méritos.

Quantas pessoas vivem escravizadas por este ídolo! Então trabalham em excesso, investem a sua vida, procurando ser bem-sucedidos. Mas nunca conseguem, nunca é suficiente. E no final de sua vida notam que perderam a sua família, os seus amigos, os seus entes queridos; não têm nada, e seu ídolo roubou-lhes tudo.

A resposta do evangelho

Quem tem o evangelho, pode dizer ao mundo: “Há só Um que te ama, que te aceita, que te liberta sem necessidade de ter mérito algum: Jesus Cristo”. Só o poder do evangelho pode responder à cultura deste mundo. Todas elas estão dominadas por deuses falsos, que os defraudam, destroem-nos, escravizam-nos. Só Jesus Cristo pode nos tornar livres. Bendito seja o Senhor!

A religião também tem cultivado seus próprios ídolos ao longo da história. Quando Jesus veio ao mundo, não veio a uma cultura secular ateia, mas a uma sociedade extremamente religiosa, dominada por ídolos. Os ídolos da religião podem ser piores que aqueles do mundo: a justiça própria, o fazer as coisas de certa maneira. Nos agarramos a aquilo que Deus nos revelou no passado, aos dons que ele nos deu, e o convertemos em ídolos. Isso aconteceu ao judaísmo.

Quão fácil é que a igreja escorregue para a idolatria! Na história de toda corrente cristã houve um avivamento, houve coisas que o Senhor entregou e revelou ao seu povo. Mas todos terminaram agarrando-se ao que ele lhes deu, esquecendo-se do Doador dessas coisas.

O Senhor não nos ama pela forma em que fazemos as coisas ou porque as fazemos bem ou mal. Claro, se o conhecermos, faremos a sua vontade; mas isso não é o que nos justifica diante dele. Não é o que fazemos, nem nosso conhecimento bíblico, mas o evangelho de Jesus Cristo.

Um novo cenário

Na atualidade, enfrentamos uma cultura que se seculariza a passos largos. As pesquisas a respeito das tendências religiosas dos chilenos mostram resultados impressionantes, e deveríamos nos preocupar, ou pelo menos fazer-nos prestar atenção ao que está ocorrendo em nosso país.

A secularização é o processo pelo qual a fé e o conhecimento de Deus são excluídos de maneira sistemática da cultura e da vida humana. As pessoas negam que exista uma vida além da morte, que explica a vida aqui na terra, e fixam os seus olhos só na vida material, e nada mais.

Diante deste fenômeno, os filhos de Deus tem que estar alertas, porque o Senhor nos chamou para pregar para a nossa sociedade. Uma nação que vai se secularizando já não tem conhecimento de Deus, e isso muda totalmente a estratégia para pregarmos o evangelho.

Hoje vivemos em uma sociedade que já não se pode chamar cristã. O mundo ocidental, nos últimos 1.500 anos, esteve sob o domínio de uma cultura cristã. Inclusive as pessoas não cristãs ou ateias compartilhavam os valores fundamentais do cristianismo, até recentemente. A cultura dominante era guiada pelos valores fundamentais do cristianismo. Mas isso já não é mais assim. Então, como podemos pregar o evangelho no mundo atual?

Uma cultura pós-cristã

Este processo de secularização já foi vivida na Europa. Quão difícil é pregar ali onde todos já vivem em uma cultura pós-cristã. Para eles, ouvir o evangelho não tem sentido, e nem sequer permitem que lhes fale. Na América Latina estamos assistindo o fim do cristianismo cultural, aquele que se aceita porque simplesmente nasceu em uma sociedade majoritariamente cristã.

Se você tivesse nascido na Índia, talvez fosse hindu, porque nasceu em uma cultura hindu, e se tivesse nascido na Arábia Saudita, o mais provável é que não seria budista, mas muçulmano. Assim também, era no Ocidente; mas esse consenso cultural caiu. Alguém dirá: “Que terrível, estamos com problemas!”. Talvez seja para o bem, porque isso significa também o fim do cristianismo nominal; quer dizer, de agora em diante, para ser cristão, deverá sê-lo de verdade.

Já não é suficiente ser um cristão cultural, porque isto já não dá prestígio. Quando a cultura dominante era cristã, era importante ser cristão. Mas hoje, se você disser que vai a uma igreja, ui! “Ah, você é desses intolerantes”. Devemos pagar um preço. Já não é socialmente atrativo declarar-se cristão.

A defesa da fé

Esta mudança social, por outro lado, implica o fim do cristianismo ingênuo, aquele que toma as verdades da fé como verdades auto evidentes, que não precisam ser explicadas, porque, se todos compartilharem os mesmos princípios morais ou as mesmas verdades a respeito de Deus, é desnecessário explicá-los.

Mas, quando isso já não é assim, é obrigado a entender profundamente a sua fé, porque deve defendê-la. Já não poderá ser ingênuo com respeito a sua fé. Agora, isso é bom, porque os primeiros crentes, quando entraram no mundo greco-romano, enfrentaram um mundo parecido ao atual, cujas crenças eram radicalmente opostos à fé.

Por que você crê nisto? Por que faz isto e não este outro? Para poder falar com autoridade, hoje precisamos saber por que cremos, precisamos conhecer o evangelho.

Um evangelho inteligível

O anúncio do evangelho tem três características básicas. Primeiro, a pregação do evangelho tem que ser inteligível, fácil de entender. Leiamos um texto que pode nos ajudar.

“Pelo qual, sendo livre de todos, tenho-me feito servo de todos para ganhar um maior número” (1 Cor. 9:19). O que importa a Paulo é ganhar todo aquele que possa ser ganho. Para isto, ele tem uma estratégia. “Tenho-me feito como judeu para os judeus, para ganhar os judeus…”. Em outras palavras, falou a linguagem dos judeus, falando da cultura judia; entendeu-os.

“…aos que estão debaixo da lei (ainda que eu não esteja debaixo da lei), como se estivesse debaixo da lei para ganhar os que estão debaixo da lei;aos que estão sem lei, como se eu estivesse sem lei (não estando eu sem lei de Deus, mas dentro da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.Fiz-me como fraco para com os fracos, para ganhar os fracos; fiz-me tudo a todos para, de todas as maneiras, salvar alguns.Faço isso por causa do evangelho, para me fazer coparticipante dele” (1 Cor. 9:20-23).

Por causa do evangelho, precisamos entender a cultura daqueles aos quais pregamos. Alguém disse: “Para pregar o evangelho aos homens do mundo, os crentes têm que entendê-los melhor até do que eles se entendem a si mesmos”. Jesus conhecia o coração dos homens, e não tinha necessidade de que ninguém ensinasse a respeito deles. Também nós necessitamos dessa graça.

Paulo entendia muito bem os gregos; por isso lhes pregou com tanta eficácia. “Os gregos buscam sabedoria”. Eles esperavam ser redimidos por meio da sabedoria e do conhecimento. A pregação de Paulo aos gregos procurava impactar e derrubar os ídolos. Assim também nós devemos falar uma linguagem que os homens entendam, a fim de ganhá-los para Cristo. O evangelho deve ser inteligível.

O ‘jargão’ cristão

Nós temos uma linguagem especial. Por exemplo, quando éramos jovens, em Santiago do Chile, pregávamos na rua. E uma irmã começava a falar dizendo: “Alma que me escuta…”. Na atualidade, se você disser algo assim, todos olharão com estranheza, perguntando-se: “O que é isso? Está pregando aos fantasmas?” Precisamos adequar a nossa linguagem para que as pessoas nos entendam.

As pessoas de fora ouvem isso e não entendem. Se realmente queremos ganhar outros para Cristo, devemos fazer um esforço, por amor a aqueles que ouvem o evangelho. Paulo, ao pregar aos gregos, lhes fala do atleta, algo que eles entendem bem (já os judeus não), e compara a carreira cristã com a de um atleta, para ganhar uma coroa que se murcha. Isto é um evangelho inteligível.

Um evangelho crível

O evangelho deve ser crível. No coração humano há muitas ideias contrárias à fé, que Paulo chama fortalezas, e que é necessário derrubar para que a mensagem seja crida. Quer dizer, precisamos voltar para a pregação apostólica, como está registrada nas Escrituras.

Lucas registra várias pregações para mostrar como se anuncia o evangelho em diferentes contextos. O conteúdo da mensagem de Paulo na sinagoga, em Beréia e em Atenas, é o mesmo, mas a forma é diferente, pois ele adequa a sua mensagem aos ouvintes. Aos judeus demonstra com as evidências das Escrituras que Jesus é o Cristo. Mas aos gregos, para quem a Escritura carece de significado, cita-lhes os poetas, e adequa o seu discurso para a mente grega.

A pregação antiga era essencialmente apologética. A palavra apologética o apóstolo Pedro a usa quando diz: “Estejai sempre preparados para dar a razão da esperança que há em vós”. A expressão dar a razão, literalmente, é fazer uma apologia. Uma apologia é uma defesa, como aquela que se faz diante de um tribunal. Quando pregamos a Cristo, temos que estar tão preparados como aquele advogado diante de um tribunal, para defender a fé.

O que nos qualifica para pregar o evangelho é o testemunho de Jesus Cristo. É verdade. Mas necessitamos, além disso, estarmos preparados para responder às dúvidas ou objeções que surjam.

Por exemplo, para os gregos, o que consideravam relevante para ouvirem uma história? Certificar-se da sua origem. Não acreditavam em qualquer coisa que lhes diziam, tinham que verificar, indo à fonte. Lucas, escrevendo aos gregos, diz: “Posto que muitos empreenderam realizar um relato ordenado das coisas que entre nós foram cumpridas, tal como nos transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares …”.

Em seguida, Lucas assume a atitude do historiador grego: “…pareceu bem a mim, depois de investigar tudo com esmero desde sua origem”. Ele não se conformou com o que outra pessoa lhe contou, mas foi à origem, falou com as testemunhas, e isso é o que escreve, para derrubar uma fortaleza na mente grega.

Necessitamos disso. Por isso, Paulo diz que “as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus para a destruição de fortalezas, derrubando argumentos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus e de Cristo, e trazendo cativo todo pensamento à obediência a Cristo”.

Um evangelho plausível

Em terceiro lugar, não é suficiente com que o evangelho seja inteligível e seja crível. Isso é fundamental; mas ainda é necessário que a pregação seja plausível.

Deixe-me explicar isto. Suponhamos que você esteja no metrô de Santiago, e vai atrasado para o trabalho, como todo mundo. E de repente um senhor de cabeça raspada se aproxima, vestido de uma túnica amarela e laranja. E com um olhar como perdido lhe entrega uma flor, lhe dizendo: “Que o universo te abençoe”.

Para você a ação dessa pessoa não significa nada; é absurda, é ridícula. Sabe por quê? Porque não é plausível no contexto em que você vive: tudo nele é uma figura estranha, alheia. Mesmo que ele dissesse uma verdade, não seria plausível para você, porque o contexto nega ou não avaliza o que ele diz.

Mas se você estiver vivendo na Índia, e essa mesma pessoa se aproxima no metrô de Nova Deli e diz o mesmo, é plausível ou não? Sim, porque é parte do mundo no qual você vive.

Recentemente, um irmão me disse: “Estive pregando o evangelho a uma companheira de curso. Ela expôs um montão de objeções, mas respondi a todas. Finalmente, ela me disse: Na realidade não há maneira de que isto não seja verdade; mas não posso crer”. “Mas, como? Se você vir que é a verdade”. “Sim, mas não posso crer, porque é ridículo para mim que a morte de um homem na cruz tenha mudado a história”. Não era plausível para ela; faltava-lhe o contexto que torna plausível o evangelho.

Na igreja primitiva

O irmão Michael Green escreveu um livro extraordinário, A Evangelização na Igreja Primitiva, no qual trata de explicar o êxito extraordinário que a igreja antiga teve em pregar o evangelho. Como foi possível que, partindo de uma região remota, pessoas que não eram sociais, políticas ou culturalmente influentes, puderam colocar de joelhos o império romano e ganhá-los para Cristo em apenas dois séculos?

Green diz que houve três coisas: primeiro, a grandeza do evangelho, que era único e diferente a tudo o que os homens tinham ouvido até ali, cativando os corações; segundo, o poder dos milagres, e terceiro, a igreja. Esta foi o maior sinal da verdade do evangelho, o contexto que o tornou plausível.

Quem olhava para a igreja via como os crentes se amavam uns aos outros. Eram uma comunidade onde os escravos conviviam com os seus amos, as mulheres tinham a mesma dignidade que os homens, e cada um era amado porque era criado a imagem de Deus e tinha sido salvo por Cristo. Isso impactou o mundo. Todos os olhavam e diziam: “Neles há algo que nós não temos”.

O mundo antigo era cruel; para eles, a compaixão era uma fraqueza de caráter. Na literatura grega, quando um herói enfrentava a um adversário que pedia misericórdia, o matava. Mas a igreja ensinou ao mundo o significado da compaixão.

Quando a igreja chegou a Roma, havia na cidade uma construção chamada de Coluna Lactaria. Se nascesse um filho disforme, ou nascia mulher, aquela criatura era levada e abandonada ali. Quando os cristãos chegaram a Roma, adotaram essas crianças como sendo deles. Eles não fizeram uma marcha pelas ruas, nem encararam o governador; fizeram algo muito melhor: acolheram os necessitados. Isto impactou o mundo antigo. “Isto não pode ser senão a verdade”. Era algo plausível.

Se o caráter dos filhos de Deus não se conforma ao evangelho; se anunciarmos um evangelho de compaixão e não vivermos vidas compassivas estaremos negando aquilo que pregamos, e o mundo não vai crer. Que o Senhor nos ajude!

A missão da igreja

O evangelho tem que ser inteligível, tem que ser crível e tem que ser plausível. E o que torna plausível o evangelho? A igreja! “Vós sois a luz do mundo” (Mat. 5:14). Glórias ao Senhor! Os crentes, com a sua vida, com as suas obras, com a sua conduta, são a luz do mundo.

Alguns homens manifestam um caráter excepcional na história. Pensemos em Gandhi, Mandela e outros. Mas há algo que o mundo não pode produzir: uma nação de caráter singular. Quando a igreja surgiu no mundo, já não era um homem que era visto, mas uma única nação de homens e mulheres extraordinários. Para crer, o mundo precisa ver o evangelho encarnado em nossas vidas.

“Porque a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos os homens” (Tito 2:11). Isso é o evangelho: Deus quer que todos os homens sejam salvos, Porque a graça de Deus se há manifestado para oferecer salvação a todos os homens;ensinando-nos que, ao renunciarmos à impiedade e aos desejos mundanos, viveremos neste presente século, sóbria, justa e piamente. Aguardando a bem-aventurada esperança e a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (12-13).

Versículo 14: que Se deu a Si mesmo por nós, para nos redimir de toda a iniquidade...”. Qual é o efeito ou a demonstração do evangelho? “…e purificar para Si um povo de Sua propriedade, zeloso de boas obras”. Essas são as boas obras que mostram a verdade do evangelho na vida da igreja e dos crentes.

E no capítulo 3, um resumo do evangelho: “Salvou-nos, não por obras de justiça” (v. 5), regenerou-nos, deu-nos o Espírito Santo. “...para que justificados por sua graça, viéssemos a ser herdeiros conforme à esperança da vida eterna” (v. 7).

E o resultado: “Palavra fiel é esta, e nestas coisas quero que insista com firmeza”, em anunciar as verdades do evangelho, “para que os que creram em Deus procurem ocupar-se com boas obras” (V. 8). Quando o evangelho realmente está vivo no coração da igreja, necessariamente produzirá essa mesma compaixão que Cristo teve quando andou nesta terra. Se isto não está ocorrendo, é porque o evangelho não está sendo pregado nem mesmo sendo crido como deve ser na igreja.

O evangelho não é só para o mundo; na verdade é para o mundo, para os que não creem e estão perdidos, mas também deve ser constantemente pregado à igreja, caso contrário, o nosso coração se desviará para os ídolos.

Sendo luz do mundo

Por último, quem Deus chamou para pregar o evangelho? Quem tem a comissão de ir pelo mundo anunciando a toda criatura este evangelho glorioso? Quem é responsável por pregá-lo de maneira inteligível, crível e plausível? Só os apóstolos? Claro, Deus chama em particular a alguns homens para deixar tudo, envolvendo a sua vida inteira na pregação do evangelho: os apóstolos e os evangelistas. Mas também todos nós somos chamados para anunciar a Cristo.

Em seu trabalho, em seu bairro, em sua família, em seus estudos, você é uma luz que o Senhor pôs para o mundo; é responsável por orar por essas pessoas, se compadecer delas, ajudá-las em suas angústias, lhes mostrar o caráter compassivo de Cristo. Deus necessita de crentes que estejam dispostos a gastar as suas vidas por este glorioso evangelho.

Aquilo que você tem, o Senhor não deu apenas para ti. Nestes anos, ele nos prosperou, mas, para que? Para servi-lo, para abrir as nossas casas, para acolher os outros; para gastar o nosso tempo e nossos recursos servindo ao evangelho. Oh! Que o Senhor levante uma geração de jovens que estejam dispostos a irem a outros lugares onde as pessoas necessitam do evangelho.

Somos chamados a sermos testemunhas de Jesus Cristo. O irmão Michael Green diz: “Ao estudarmos a história da igreja primitiva e o êxito que teve ao pregar o evangelho no império, vemos algo assombroso: a maior parte da tarefa não foram os apóstolos que fizeram nem os evangelistas, mas homens e mulheres anônimos, como você e como eu, simples, comuns, mas que levaram o evangelho e encheram o mundo da glória de Cristo”.

Isso pode voltar a acontecer. Podemos fazê-lo outra vez, porque também nós fomos ungidos pelo mesmo Espírito Santo de Deus, que nos capacita para sermos testemunhas de Cristo.

O Senhor Jesus, vendo as multidões famintas, disse aos seus discípulos: “Deem-lhes vós de comer”. E quando revisaram o que tinham, só houve um moço com uns pães e uns poucos peixes. Mas o que era isto para tantos? Talvez você olhe a necessidade do mundo, e pense: O que é isto, para tantos? Mas, se puser os seus recursos nas mãos do Senhor, ele os multiplicará, e poderá alimentar a muitos. Que o Senhor nos ajude. Amém.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Rucacura (Chile), em janeiro de 2018.

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