Siló

Deus aproxima o pecador ao seu lado e lhe convida para ler o relato de sua misericórdia.

Henry Law

“…até que venha Siló” (Gên. 49:10).

Os lábios de um moribundo foram os primeiros a pronunciar esta palavra. Aquele que facilmente fecha os olhos nesta vida e tornam a abrir na expansão da eternidade! Nessa hora deve-se ter a esperança de que Siló, que é Cristo, seja o apoio firme e a presença que com a sua luz iluminará esse vale escuro.

A cena que introduz esta palavra é muito solene, pois a morte e a alegria aparecem juntas. O ancião patriarca estava no final de sua infeliz e difícil viagem pela vida. Não obstante, diante dele se abria o tão esperado repouso.

Também nos vemos acossados por grandes tempestades, mas lutemos com confiança, porque essas águas turbulentas levam o crente, da rápida corrente, à calma do descanso eterno.

Um legado de bênçãos

Siló foi quase a última palavra daquele pai que morria. Que lindo é deixar um legado de bênçãos reconfortantes aos que nos rodeiam! Que precioso é dirigir os pensamentos dos entristecidos para Aquele que aboliu a morte e reunirá a todos os seus filhos em um lar de perfeita união!

Siló. Este nome é doce, e também potente. Doce porque é alguém cujo nome é como unguento derramado. Potente porque é daquele cujo nome é sobre todo nome. É como uma mensagem com que Deus ilumina a mente humana.

O Senhor se deleita em revelar a seu povo as riquezas de sua bondade e glória. Por isso, embora os mais altos anjos devam cobrir o seu rosto para adorar diante do seu trono, Deus aproxima o pecador a seu lado e lhe convida a ler o relato de sua misericórdia. Por meio de seus nomes e títulos, Deus nos dá novos conhecimentos e aumenta as nossa emoção. Cada nome parece revelar um atributo, mas Siló é um verdadeiro jorro de luz. Que o Espírito Santo faça com que recebamos o seu significado!

O dom inefável de Deus

Siló significa Enviado. “Vai, lava-te no tanque de Siloé (que traduzido é, Enviado)” (João 9:7). É como se Jesus nos apresentasse as suas credenciais. O que ele quer fazer notar é que não vem sem autoridade, mas, pelo contrário, vem como representante de uma corte real. Sim, verdadeiramente Cristo vem para trazer uma mensagem de um reino longínquo; para declarar a vontade do grande Soberano.

Quem, pois, enviou-lhe? Escutemos uma das muitas respostas que as Escrituras dão em suas páginas: Nisso, mostrou-se o amor de Deus para conosco, quando Deus enviou Seu Filho unigênito ao mundo para que vivamos por meio Dele.Nisso, consiste o amor: Não em que tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou Seu Filho como propiciação por nossos pecados” (1 João 4:9-10). Assim, o Pai eterno envia ao Filho eterno. Adoremos a Jesus pelo amor que o fez vir a esta terra. Adoremos ao Espírito por seu amor ao nos fazer ver a sua obra, e ouvir a sua voz. Adoremos, com todo o nosso coração, ao Pai que enviou o seu amado Filho.

O manancial da redenção está nas profundezas do coração do Pai. O primeiro elo da corrente dourada da salvação está nas mãos de Deus. Foi Deus quem decidiu enviar um Salvador. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito...”. “Mas Deus mostra o seu amor para, conosco, em que sendo ainda pecadores, Cristo morreu por nós”. Esforcemo-nos em medir a grandeza desse amor pela grandeza do Enviado.

Um Enviado incomparável

As Escrituras dizem: “Mas quando veio o cumprimento do tempo, Deus enviou a seu Filho”. Se Deus tivesse ordenado que os exércitos celestiais descessem com grande glória, a embaixada teria sido, certamente, muito brilhante. Mas comparada com Jesus teria parecido pouca coisa. Cristo é tão superior às multidões de anjos, como o Criador o é à coisa criada. Quando aqueles não existiam, Ele vivia na eternidade. Quanto mais precioso é ele que os anjos!

Mas, não poderia ser enviado outro para cumprir a missão? Impossível, porque a obra a ser realizada era a redenção do pecador. Uma justiça infinita tinha que cobrir o injusto. Por isso necessitamos de Jesus. Por isso Jesus é enviado ao mundo. Nossos pecados, infinitos em número e em gravidade, tinham que ser expiados, e, por causa disso é que Jesus veio ao mundo. Só Jesus pode expiar e propiciar.

Crente, em Siló podes ver a ternura e misericórdia do Pai. O enviado tem tanto para te salvar, que não podia enviar mais ninguém. Leia nas Escrituras sobre o valor imenso de sua alma. Só os méritos de Siló podem comprá-la. Leia do sofrimento indescritível dos que se perdem. Só Siló foi capaz de suportar em teu lugar. Leia as glórias inconcebíveis que esperam aos redimidos. O céu tem que ser maravilhoso porque foi adquirido com o sangue divino do Enviado.

Siló. Esta palavra também significa “aquele que tem tudo reservado… aquele que é possuidor do reino… o herdeiro de todas as coisas”. Portanto Jesus se revela como assentado no trono glorioso da redenção. Esta verdade ressona com poder nas Escrituras: “E lhe foi dado domínio, glória e reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; seu domínio é domínio eterno, que nunca passará, e seu reino um que não será destruído”. Este é o propósito, e a promessa, que proporcionam tão grande confiança a nossa fé.

Do que servirá a louca rebelião do mundo contra Siló? Do que servirá que uns pés ímpios pisoteiem as verdades de Jesus? Do que servirá que o pecado pareça assenhorar-se do mundo? Siló zomba, rindo, dos seus inimigos. Em seu estandarte triunfal está escrito: Meu é o reino, o cetro e o poder.

“Mas eu tenho posto o meu rei sobre Sião, o meu santo monte”. “Sente-se a minha mão direita, até que ponha a seus inimigos por estrado de seus pés”. Um pouco mais, e Jesus virá para tomar o seu reino e seu domínio, e os iníquos guardarão silêncio nas trevas.

Crente, não estejas triste porque não vês ainda todas as coisas sob o seu domínio. Siló vencerá. Recordes quantas maravilhas aconteceram com a pregação de seu Nome. Olhe e alegre-se com a vista dos campos preparados para a ceifa. Aquele que segue a Cristo vai por detrás de um Conquistador que avança de triunfo em triunfo. Muito em breve todos os seus inimigos, Satanás, a morte e o inferno, se debaterão presos nas correntes da prisão.

Este reino está reservado para Siló. Certamente muitas vezes tens orado: “Venha o teu reino”. Pois bem, já está muito próximo. Em que estado te encontrarás? A fé te diz que tens que herdar esse reino? Ou faz tremer a tua consciência porque, talvez, a glória de Cristo será a tua vergonha eterna? Prepara-te para ir ao seu encontro. O reino de Siló está às portas.

O Filho de Deus

Siló ainda contém outra mensagem; significa: “Seu Filho”. Mas, filho de quem, perguntamos? A fé, tomando a visão mais ampla, responde que é o Filho de Deus, visto que os pensamentos de Jacó estavam fixos em Deus; e também Filho do Homem, porque Jacó estava falando de Judá. Portanto este nome anuncia a deidade e a humanidade de Cristo.

Jesus é o Filho de Deus, e isto constitui a chave da arca da salvação. Cristo é um com o Pai. Um em natureza, um em essência, um em atributos. É, em todos os sentidos, coeterno com o Pai, e de sua própria essência. É, de eternidade a eternidade, o Deus Todo-poderoso. Antes que os mundos existissem, ele era Deus, e seguirá sendo pelos séculos. Os que não conhecem a Deus em Cristo não têm esperança de salvação. Teria sido uma brincadeira dizer: “Olhai para mim, e sede salvos”, se aquele que falava não tivesse sido divino. A iniquidade de uma alma manchada pelo pecado não se pode apagar com algo menor.

Não nos cansamos de repetir que cada pecado é um mal infinito, e, portanto, requer uma expiação de mérito infinito. O maravilhoso é que, em Siló, encontra-se toda a infinitude. Cristo tem todo o poder para tirar os inumeráveis pecados da grande multidão dos redimidos. Ele pode cobri-los com a justiça requerida para entrar no céu, e ele os apresentará gloriosos diante do trono de Deus e os rodeará de glória para sempre. Tudo isto ele pode fazer porque é Siló, o Filho de Deus.

Filho de Judá

Por outro lado, Siló também pode significar Filho de Judá. Sendo assim, encontramo-nos aqui com outro sinal da profetizada “semente da mulher”. Cristo será o Leão da tribo de Judá, quer dizer, que através de uma das filhas de Judá se revestirá de nossa pobre carne e nascerá em uma cidade de Judá. Esta é a grande maravilha dos céus, terra e inferno por todas as eras. Isto deve nos encher de adoração e louvor, porque aqui vemos a mais preciosa prova de seu amor, e a demonstração de seu poder para redimir.

Este fato tem que ser bem ponderado. Se Cristo não fosse verdadeiramente homem, então a sua morte não teria propiciado a ira de Deus, nem o seu sangue teria expiado o pecado, nem seríamos justificados por sua justiça, nem haveria um caminho para irmos a Deus. Ele está infinitamente afastado do homem, e estaria muito abaixo de Deus. Mas Siló veio para fazer, dos dois, um.

Nossa paz

Siló também significa Pacificador. Que nome mais doce para o pecador! Ele bem sabe que o pecado cria uma terrível inimizade. O coração de Deus se enche de ira e suas mãos se levantam para destruir. Mas ao Siló vir para a terra, a ira se aparta e o amor e a paz tornam a reinar, porque faz desaparecer a causa da ruptura. O pecado fica nas profundezas do oceano de seu sangue. Quando Deus vê o pecador unido a Cristo, ama-lhe, abençoa-lhe, honra-lhe e o glorifica, porque Siló é a nossa paz com Deus.

E, por último, Siló faz que as águas tranquilas de uma paz perfeita escorram sobre o turbado fundo de uma alma despertada. Quando o Espírito faz que a consciência se dê conta do que na realidade somos e merecemos, quanta angústia nos invade! Não poderá haver felicidade nem esperança até que Siló nos leve para a sua cruz; mas quando vemos que todo o castigo caiu sobre Ele, então sentimos que nossos temores se acalmam.

Todo o problema da vida, com as suas ameaças de pobreza, sofrimento e inquietação, deixa de nos atormentar. Aquele que tem a Cristo em seu coração não tem espaço para nada mais que a paz; a única voz que ouve é a do Príncipe de Paz que lhe diz: “A paz vos deixo, a minha paz vos dou”. Portanto, este é Siló –o Enviado– que o patriarca moribundo prometeu. E, com efeito, em seu dia veio e cumpriu a sua missão.

Leitor, não se aparte deste frágil testemunho até que possas dizer que conheces a Cristo, que o ama e que gozas da união com ele.

Do Evangelho em Gênesis

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