A igreja em Corinto (2)

Refletindo sobre os aspectos mais significativos da igreja no princípio da sua história.

Christian Chen

“Porém, ao vos dar as instruções que seguem, não vos louvo; porque vos congregais não para o melhor, mas para o pior. Pois, em primeiro lugar, quando vos reunis na igreja, ouço que há divisões entre vós e, em parte, o creio. Porque é preciso que haja entre vós diferentes facções para que os que são aprovados entre vós sejam manifestos. Quando, pois, vós vos reunis, não é para comer a Ceia do Senhor” (1 Cor. 11:17-20).

A igreja em Corinto era uma igreja jovem, enriquecida em Cristo em toda palavra e em toda ciência. Entretanto, havia divisões entre eles. Este problema era tão sério, que o apóstolo Paulo ocupou quatro capítulos de sua primeira epístola aos Coríntios para tratar deste assunto.

Uma situação crítica

No primeiro capítulo lemos a respeito das divisões. Paulo usa uma palavra muito forte, dando a entender que a situação devia ser muito séria. A palavra é facções ou seitas. A descrição que Paulo faz do que ocorre na igreja vai muito além: são divisões no corpo. Isto significa que alguns ossos foram quebrados, as articulações foram deslocadas, e agora terá que restaurar tudo.

Se lermos Ezequiel, embora algumas profecias se apliquem a Israel, de maneira simbólica apontam ao que ocorre hoje. Há ossos secos em todas as partes.

Segundo as estatísticas, há 38.000 divisões na cristandade atual. É uma tragédia. No princípio havia um corpo; logo tudo se desmembrou. Assim, a partir da igreja em Corinto podemos interpretar o que está ocorrendo hoje. Para que um corpo se torne apenas ossos secos, há um processo natural. Se andarmos segundo a carne, essa será a consequência. Mas, graças ao Senhor, antes de sua volta, confiamos que ele reunirá todos os ossos secos, e finalmente ajustará tudo de uma maneira maravilhosa.

Essa tragédia ocorreu em Corinto, mas Paulo acrescenta algo mais: «Porque é preciso que haja entre vós diferentes facções para que os que são aprovados entre vós sejam manifestos». A palavra aprovados significa que devemos passar pelo fogo da provação. Nas divisões, passaremos pela dor, mas graças ao fogo purificador do Senhor, seremos passados diante dos seus olhos. Estes são os vencedores na igreja.

No livro de Apocalipse, quando a igreja está decaindo, o Senhor chama os vencedores. O Espírito Santo nos dá um espelho agora, no século 21. Nós deveríamos conhecer o caminho. Esta é a obra da cruz. O caminho da cruz nos conduzirá através deste fogo. Seremos provados, e finalmente seremos aprovados pelo Senhor.

Sabemos de maneira aproximada o que ocorreu naquele tempo, e também que tipo de lição podemos aprender disso. Nos primeiros onze capítulos de 1 Coríntios, no princípio vemos as divisões, e no final daqueles capítulos vemos a manifestação de tais divisões.

O amigo dos pecadores

Paulo menciona especialmente: «Quando vos reunis como igreja», para a mesa do Senhor. Nesta ocasião, primeiro, eles tinham uma festa de amor; tinham comunhão e comiam juntos. No mundo oriental, nos tempos bíblicos, muitas vezes se fala a respeito de comer juntos.

Para aqueles que não criam no Senhor, isso representava uma posição social. Por isso os fariseus estavam surpresos. Como era possível que Jesus se sentasse na mesma mesa com publicanos e pecadores? Se pertenciam a classes diferentes, não era possível que estivessem juntos em uma mesma mesa.

Graças a Deus, antes que o Senhor morresse por nós na cruz como nosso Salvador, ele se fez amigo dos pecadores. Por esta razão se sentava com os publicanos e os pecadores. Ele falava com eles, conhecia sua condição, suas tristezas; porque o propósito de sua missão era morrer por essas pessoas.

O Senhor falava com qualquer pessoa, não importava quem fosse. Era porque ele queria ser sociável? Não. Ele procurava os perdidos. Sim, nosso Senhor está por sobre todos, sendo o próprio Deus que veio para a terra. Exteriormente ele era um homem; mas interiormente era Deus.

Quando o Senhor estava do outro lado do Jordão, muitas pessoas foram a ele. Jesus foi convidado para comer na casa de um fariseu. Então ele falou de um grande banquete no reino de Deus, onde foram convidados os pobres e os cegos. Era o grande banquete do evangelho, ao qual pode ir todo aquele que quiser.

Depois disso, em Lucas capítulo 15, vemos o Senhor sentado com publicanos e pecadores, então ele fez exatamente o que tinha ensinado: preparou o seu próprio banquete e convidou os publicanos e pecadores. Ele quis ser amigo deles. Um dia, ele ia morrer por essas pessoas como seu Salvador.

Depois de serem salvos, todos participam da vida de Cristo. Em seguida são chamados à comunhão. Para os incrédulos, é uma reunião social; mas, para os cristãos, é uma ocasião de reunir-se para compartilhar a sua experiência em Cristo. De alguma forma, ali tocamos algo dessa comunhão celestial. Você pode se esquecer da mensagem que ouviu, mas jamais se esquecerá do amor dos santos. Às vezes estamos fracos, deprimidos, e aquela comunhão nos refresca de maneira maravilhosa.

Uma festa de amor

Na época de Paulo, em Corinto, antes da ceia do Senhor, eles tinham primeiro uma festa de amor. E ao final, tinham a mesa do Senhor. Aquela noite em que Jesus foi traído, ele instituiu a ceia do Senhor. Ele comeu a Páscoa com os seus discípulos. Para os judeus, aquilo era muito significativo. Em tal ocasião, o pai de família contava aos mais jovens a história da libertação.

No Novo Pacto é uma festa de amor, um momento para compartilhar a Cristo nossa Páscoa. Essa era a reunião da igreja na época de Paulo. Mas, por desgraça, nesta festa de amor, que deveria ser a ocasião para recordar o que o Senhor fez por eles, havia dissensões e também divisões entre eles. Por isso, Paulo diz: «Quando vos reunis, não comeis a ceia do Senhor».

Quando nos reunimos juntos, deve haver apenas um propósito. Todos nós pertencemos a uma comunhão exclusiva. Cristo é teu, e também é meu. Temos e compartilhamos algo em comum. Comer é realmente compartilhar. Isso significa que por meio dessa comunhão deveríamos conhecer mais ao Senhor.

Quando Paulo estava ali, a igreja se reunia primeiro com o propósito de ter uma festa de companheirismo. E no final, no ponto culminante de tal comunhão, celebravam a ceia do Senhor. Este é a ceia do Senhor, não nossa ceia.

A mesa do Senhor

Em 1 Coríntios 10, a mesa do Senhor nos fala de nossa comunhão. Ali há só um pão e um cálice. É um testemunho maravilhoso. Embora sejamos muitos, há apenas um pão; isto nos fala de que somos um em Cristo. Temos o pão e o cálice; o corpo e o sangue estão separados. Isso significa morte. Recordamos uma história de amor. Sem a cruz, sem redenção, nem você nem eu estaríamos aqui.

Antes de mencionar o partir do pão, Paulo fala do cobrir a cabeça, e nos apresenta um princípio muito importante: Cristo é cabeça de todos, ele é o Senhor. A ceia é a ceia do Senhor. Todos nós somos serviçais. Ele preside, ele nos convidou para a sua mesa. Devemos saber como proceder, recordando qual é a nossa posição. Paulo reprova os Coríntios de sua maneira imprópria de comportar-se. Eles tinham retornado ao padrão social.

Qual é o significado de uma festa de amor? É uma coisa social no nome de Cristo? Paulo lhes diz: «Se alguém tem fome, coma em sua casa, para que não vos reunais para juízo» (11:34). Antes éramos como os cachorrinhos debaixo da mesa. Mas, graças ao Senhor, ele nos levantou, e podemos nos sentar com ele na sua mesa. Esta é a ceia do Senhor, a festa do Rei.

Na última ceia do Senhor, quando Judas saiu, «era já de noite» (João 13:30). O que significa isso? Por dois mil anos, a igreja experimenta uma longa noite. Mas, nosso Senhor é o Sol de justiça. «Porque, todas as vezes em que comerdes este pão e beberdes este cálice, proclamai a morte do Senhor, até que Ele venha» (11:26). Nós estamos aguardando esse amanhecer.

Ao celebrarmos a ceia do Senhor, os irmãos consolam uns aos outros. O Senhor não está presente; não sabemos quando aquele dia amanhecerá, mas uma coisa nos consola: esta ceia do Senhor está mais próxima da vinda do Senhor que a ceia anterior.

Você está aguardando o retorno do Senhor? Se ele não estiver aqui, nada mais nos atrai. Cada vez, quando a igreja se reúne, por um lado, eles têm comunhão, e por outro lado, esperam que a manhã chegue. A ceia do Senhor é algo muito real, e isso decidirá em que tipo de condição espiritual nos encontramos. Se conhecermos o significado da mesa do Senhor, saberemos como nos comportar diante dela.

Depois de um ano e meio, Paulo saiu de Corinto. Embora ele fosse um grande organizador, naquele tempo não lhes tinha dado todas as instruções a respeito de como reunir-se. É claro que ele poderia tê-lo feito. Como alguém que conhece a vontade de Deus, saberia lhes ensinar. Então não haveria problemas, e após quatro anos de ausência, tudo estaria em ordem. Mas como fiel servo de Deus, ele não ousou usurpar o lugar do Espírito Santo. Paulo teve que escrever muito para tratar com o problema dos crentes em Corinto.

O corpo de Cristo

Não importa quanto conhecimento tenha ou quão exitosa seja a sua obra, nós não somos indispensáveis. Hoje, se não houver um obreiro, não há igreja. Quando a recém-nascida igreja em Tessalônica mais necessitava de uma ama-de-leite, o Senhor removeu a Paulo. Ele deveria lhes ensinar a pregar o evangelho; mas, sem a presença de Paulo, a igreja ainda é o corpo de Cristo, e eles foram guiados pela Cabeça. Graças ao Senhor, antes que Paulo lhes ensinasse, eles já estavam espalhando o evangelho por todas as partes.

Isso é o corpo de Cristo. Se fosse uma organização, Paulo seria indispensável. Paulo sabia isso muito bem. E então descobrimos que eles foram enriquecidos em Cristo, em toda palavra e em todo conhecimento. Não há nenhuma declaração de que eles tenham sido enriquecidos dessa maneira por Paulo.

Não se preocupe sobre o corpo de Cristo. Deveria se preocupar se fosse apenas uma organização. Mas se for o corpo de Cristo, o Espírito Santo é responsável por ele. Em todo o livro de Coríntios isso é explicado.

Isso era o que o Espírito Santo estava fazendo; como um vento que sopra, ele opera como lhe agrada. Dessa maneira fez em Corinto. Mas se chegar a Troas, ou a Tessalônica, ali você não verá a mesma coisa. Essa é a beleza do corpo de Cristo. Em cada localidade, o Espírito Santo cria um novo homem, através do qual há uma personalidade. Por isso, não existem duas pessoas que sejam exatamente iguais, nem achará duas igrejas locais exatamente iguais. Se vir algo que está unificado, seguramente que a mão do homem está por trás daquilo.

Poder e sabedoria de Deus

Com respeito à situação em Corinto, sabemos que a solução para as divisões na igreja é a palavra da cruz e o caminho da cruz. «Pois resolvi não saber entre vós coisa alguma senão a Jesus Cristo e este crucificado» (1 Cor. 2:2). Por quê? Porque a cruz de Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus.

Neste mundo, se você quiser resolver um problema difícil, os judeus te mostrarão o poder e os gregos lhe mostrarão a sabedoria. Mas a sabedoria sem poder ou o poder sem a sabedoria são ineficazes. Então, nesta carta à igreja em Corinto, como resolver tantos problemas?

Quando há vida, há problemas. É por isso que o sofrimento dos pais não começa com as dores de parto da mãe. Durante o crescimento do menino, toda mãe experimentada te dirá que ela sofreu muito mais que as dores de parto. Se tiveres um filho, terás problemas. Mas o importante é onde achar a solução. O mesmo ocorria em Corinto.

Graças a Deus, a cruz de Cristo é poder e sabedoria de Deus ao mesmo tempo. Quando o Senhor morreu na cruz, para os gregos aquilo era necedade e para os judeus era fraqueza. Para vergonha deste mundo, «Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens» (1 Cor. 1:25). Assim fomos salvos, e de igual modo fomos libertos do pecado, da carne e das divisões.

O caminho da cruz

A palavra da cruz fala do nosso evangelho. Jesus morreu por nós na cruz; isso é um fato. O Espírito Santo quer nos explicar tudo em relação à cruz. Precisamos conhecer a palavra da cruz e apoiados nela devemos nos apropriar de tudo o que foi feito na cruz.

Por um lado recebemos a redenção, e por outro lado recebemos a comunhão da cruz. Quando a obra da cruz opera em nós em tal comunhão, exteriormente é como se fossemos fraco, como se fossemos néscios. Esse é aquele trabalho da cruz. Por essa razão, nos diz que ninguém se engane a si mesmo ou se glorie nos homens.

Paulo diz à igreja: «Sede meus imitadores, assim como eu de Cristo» (1 Cor. 11:1). Por quê? Porque antes disso ele escreve: «Por isso mesmo, enviei-vos a Timóteo, que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará meu proceder em Cristo, da maneira que ensino em todas as partes e em todas as igrejas» (1 Cor. 4:17). «Meu proceder em Cristo» se traduz também como «Meus caminhos em Cristo».

Quais são os «caminhos em Cristo» de Paulo? Paulo tinha um caminho: o caminho da cruz. Os coríntios diziam: «Eu sou de Apolo», «Eu sou de Paulo». A igreja queria pôr estes dois servos nos primeiros lugares. Sem Paulo não podiam viver, sem Apolo já não viriam às reuniões. Que espírito era esse?

Mas, graças ao Senhor por aquele trabalhar da cruz. «Pois penso que Deus nos designou a nós, apóstolos, os últimos lugares, como condenados à morte; pois chegamos a ser espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens» (1 Cor. 4:9). Ele não só fala de si mesmo, mas também de Apolo.

Quando alguém diz ser de Apolo ou de Paulo, este diz: «Eu plantei, Apolo regou; porém, Deus deu o crescimento» (1 Cor. 3:6). Paulo e Apolo receberam aquele trabalhar da cruz; por isso o Senhor pôde usá-los. No final de 1 Coríntios, Paulo escreve: «Acerca do irmão Apolo, muito lhe roguei que fosse a vós com os irmãos, mas de maneira alguma teve vontade de ir agora; mas irá quando tiver oportunidade» (1 Cor. 16:12).

Agora, quando a igreja está passando por uma tragédia, é importante conhecer o espírito dos obreiros. Esta é a grande prova deles serem obreiros verdadeiros. Quando é recebido pela igreja em Corinto, especialmente se alguém diz: «Eu sou de Apolo», há uma porta aberta para você. De fato, será bem recebido. Mas Apolo «de maneira nenhuma teve vontade de ir». Apolo não respondeu ao pedido de Paulo, mas «iria quando tivesse oportunidade». Aquela oportunidade nunca chegou.

Apolo estava disposto. Como obreiro você quer uma porta aberta? Em qualquer lugar que as pessoas lhe convidem, você vai? É esse o caminho? Quem te envia? Você é um servo de Deus, ou é guiado por sua popularidade, pela conveniência ou pelas necessidades? É claro que existia uma grande necessidade em Corinto, mas Apolo não foi. Ele não queria acrescentar mais dor ao sofrimento da igreja.

Paulo e Apolo estavam a favor do testemunho de Cristo. Cada um tinha seus «seguidores». Você deseja ir? Quer que sua obra seja bem-sucedida, mas crê que essa é a maneira que deveria agir?

Repassando a história

Se revisarmos as divisões na história da igreja, é provável que 95% delas sejam ocasionadas por líderes. Quando um pai e uma mãe se divorciam, como os filhos se sentem? Por essa razão, todos os líderes têm que aprender a lição da obra da cruz e do caminho da cruz. Se realmente quer ajudar, diga à igreja: «Sejam meus imitadores». Você se atreve a dizer isso?

Se nós quisermos a restauração do Senhor, não há tentação maior que o êxito. Se o Senhor estiver conosco, ele preparará o seu povo. Mas quando temos algo que compartilhar como se fora uma coisa nova, parece-nos que outros cristãos são tradicionais. «Eles não são a igreja; nós o somos». Mas o Espírito que temos provará se conhece ou não conhece a igreja. Por essa razão, devemos aprender uma lição. Não só Paulo e Apolo: todos temos que imitar a eles. Quando realmente segues o Senhor, comprovarás a obra maravilhosa do Espírito Santo.

Os dons espirituais

O capítulo 12 começa com a unidade do corpo. Às vezes as divisões nos preocupam; mas em 1 Coríntios, se lermos corretamente, é claro: o que precisamos é «a Jesus Cristo, e a este crucificado». Isto significa, por um lado, a cruz, e por outro lado, o Espírito Santo, que nos leva do Calvário ao Pentecostes, e dali nos conduz de volta ao Calvário. Assim será alcançada a unidade no corpo.

O capítulo 13 é um hino de amor escrito por Paulo. As pessoas o tomam fora do contexto, e gostam muito deste cântico. É um bom hino para cantar em um casamento. Um dia, em Taiwan, ao ligarmos a televisão, vi que estavam cantando 1 Coríntios 13. E era um programa budista! Aqueles monges cantavam 1 Coríntios 13, tirando a passagem fora de seu contexto.

Em 1 Coríntios 12, 13 e 14, claro, o amor está no meio. Mas, que tipo de amor é esse? Nunca devemos tomar algo fora de contexto. O capítulo 13 é muito belo, mas falhamos em entendê-lo. Mas, ao colocar os três capítulos juntos, leia a sua Bíblia uma vez mais, e verás que é completamente diferente.

O que diz o capítulo 12? Mencionamo-lo muitas vezes. No dia do Pentecostes, todos fomos batizados em um corpo, e somos muitos membros. É a igreja em Corinto. No capítulo 12 temos o corpo. «Vós, pois, sois o corpo de Cristo» (12:27), um corpo vivo, não um corpo paralisado.

O capítulo 14 se refere aos dons espirituais. Ao falar sobre os dons, imediatamente pensamos nas línguas. São dons tão reconhecidos. Se alguém falar em línguas deve ser muito espiritual. E a respeito das palavras de sabedoria? Isso não é tão comum. Ali aparecem nove dons, mas são apenas ilustrações. Antes de entrar em detalhes, você deve conhecer a ideia que há por trás disso.

Por que há nove dons? Até a ordem em que Paulo os enumera é muito interessante. Não temos tempo de ver os detalhes. O importante é obter uma ideia geral. Aqui temos um corpo, mas para que o corpo possa funcionar e estar em movimento, é necessário algumas coisas.

A atividade do corpo

Quando temos reuniões ou conferências, estamos tão ocupados. Mas, como nos reunimos? Como esse corpo está em movimento? Lembre, não é só você que está ocupado; o Deus trino está em ação. Deus o Pai, o Espírito Santo e o Senhor, juntos, estão ocupados.

Agora vemos quão séria é a nossa reunião. Devemos nos regozijar na presença de Deus, é verdade; mas o importante de uma reunião, se o corpo está funcionando bem, não é porque você a conduziu de maneira bem-sucedida. Se tivermos o conceito correto, o nosso congregar será totalmente diferente.

Agora, por que o corpo de Cristo? Em Hebreus 10:5, lemos: «Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta, não quiseste; mas me preparaste um corpo». Por meio da Maria, Deus preparou um corpo para Jesus, e com aquele corpo ele viveu e morreu por nós na cruz. E o versículo 7 diz: «Então, disse: Eis aqui venho, ó Deus, para fazer a tua vontade».

Você cuida do seu corpo todos os dias. Sabe por que existe o seu corpo? «Um corpo me preparaste… para fazer a tua vontade». Com aquele corpo, em qualquer lugar que Jesus ia, estava fazendo a vontade de Deus. Ele era amigo dos pecadores, comia com eles, curava os doentes, consolava os de coração quebrantado, secava as suas lágrimas. O propósito de ter um corpo era servir à vontade de Deus.

Com aquele corpo, o Senhor subiu aos céus, e a igreja nasceu como Seu corpo místico. Com aquele corpo, ele seguiu falando e seguiu operando. Estamos aqui e nos reunimos juntos porque, por meio deste corpo, supõe-se que devemos servir à vontade de Deus.

Se o nosso corpo está dormido ou cai em coma, não tem expressão; é meramente um organismo. Quando uma pessoa acorda, vemos uma personalidade diferente. Quando sorri, vários ossos e músculos do seu rosto se ativam; ele pode manifestar uma personalidade que parecia invisível.

Em Efésios 1, a igreja é o corpo de Cristo; em Efésios 2, é um novo homem em Cristo. Isso significa que, por meio daquele corpo se manifestará a personalidade de Cristo.

Permitam-me uma ilustração. Por exemplo, há um pianista que é muito tranquilo. Como sabemos que ele tem um dom? Porque ele tem um corpo. Quando ele começa a tocar, primeiro move os seus olhos para ler a música; ele pode ler mil notas musicais por minuto. Em seguida passa a informação a sua mente, e quando o cérebro recebe a informação, dá a ordem às mãos, e então começa a tocar.

Essa é a história descrita a partir do capítulo 12. Mas a interpretamos mal. Estamos ocupados com as línguas, mas perdemos a ideia geral. Deus não deseja um corpo inerte; se este funcionar, é como quando o pianista toca; então vê o talento e a capacidade do artista.

Durante um concerto, Einstein ouviu um menino tocar o violino. Depois da apresentação, aproximou-se do pequeno artista e lhe disse: «Filho, uma vez mais, eu creio que existe um Deus no universo». Ao tocar, por meio dos movimentos do corpo, foi manifestada aquela personalidade invisível.

Por que estamos nos reunindo? Para mostrar a outros o quão espirituais somos ou quanto sabemos da Bíblia? Há só um propósito: para fazer a vontade de Deus, para que Cristo possa ser mostrado ao mundo. Quando nos reunimos desta maneira, os céus ficam satisfeitos.

Dons, ministérios e operações

«Ora, há diversidade de dons, porém o Espírito é o mesmo.E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.E há diversidade de atividades, mas Deus, que efetua todas as coisas em todos, é o mesmo» (1 Cor. 12:4-6).

É o Espírito Santo quem distribui os dons ao corpo. Por isso, ele trabalha muito cada vez que nos reunimos. Se este corpo for servir à vontade de Deus, quais são os dons, as capacidades para servir à vontade de Deus, para que a glória e a formosura de Cristo possam ser manifestadas através da igreja? Esse é o testemunho. Mas há mais que isso; não há somente dons. Se quiser que todo o corpo se mova, há diversidade de ministérios. Os ministérios são oportunidades para servir.

Quando o Senhor quer fazer algo, nos dá ocasião para servir. Deus fez seus olhos e seus ouvidos, suas mãos. É uma oportunidade de ouro. Por isso, Mardoqueu disse a Ester: «Quem sabe se para esta hora chegaste ao reino?» (Ester 4:14). «A razão pela qual está em um lugar elevado não é só para que você aprecie como reina. Não perca a oportunidade que Deus te deu para servir o seu propósito».

Agora, no corpo, se você descobrir que é uma orelha, pode ouvir a voz suave de Deus para os santos. Ou se for um olho, poderá vigiar e avisar onde estão os perigos.

Mas não te orgulhes, a razão porque é um ouvido é uma oportunidade para que sirva ao propósito de Deus, para que a glória e formosura de Cristo sejam manifestadas. Nosso Senhor está ocupado nisto. Quando nos reunimos, quando o corpo está em movimento, este é aquele resultado do trabalho diligente do Deus trino.

«E há diversidade de operações, mas Deus, que faz todas as coisas em todos, é o mesmo». Este é o poder para servir. Algumas pessoas creem que ter uma capacidade pessoal é suficiente. Mas deve pedir uma oportunidade, e se tiver a oportunidade, deve pedir o poder.

Em cada reunião, Deus está operando. Todos deveriam ser ativos. O Espírito Santo moverá o seu coração. Por que não ora? Por que está em silêncio? Quando o Senhor responde, ele trabalha em ti e em todos. Deus, como um diretor de orquestra, fará que as pessoas toquem distintos instrumentos de maneira coordenada. Às vezes deves calar, e outras falar. Isso é o Senhor que está fazendo, tudo isso no Espírito.

Graças a Deus, todos esses dons, todos esses ministérios e todas essas operações são uma diversidade. Por tal razão, não podemos ser passivos, mas ativos e positivos.

Edificando em amor

Se realmente nos reunirmos segundo o querer de Deus, se já recebemos os dons, a oportunidade e o poder, dirás: «Agora é o tempo». Mas ainda há outro fator de regulação. Como exercita os seus dons? Em todas essas coisas há um princípio que as governa: o amor.

O amor é o princípio para aprender a exercitar os nossos dons. No capítulo 14, Paulo diz que há muitos dons, mas ele comenta apenas dois: falar em línguas e profetizar, e enfatiza a edificação do corpo. Jesus disse: «Eu edificarei a minha igreja» e Paulo fala de edificar o corpo de Cristo. É a mesma ideia.

Somos chamados à igreja. Como você irá agir no corpo? Tens que desejar esses dons. Há dons que edificam a si mesmo, mas o dom mais importante na reunião é aquele que edifica a igreja.

Ao chegarmos à reunião, aprenda a tomar a sua cruz, negue a si mesmo, e embora o dom seja dado pelo Senhor, é para outros. Paulo diz: «Porque, se bendisseres só em espírito, como o que ocupa lugar de simples ouvinte, dirá amém à tua ação de graças? Pois não sabe o que dizes» (1 Cor. 14:16).  Quando nos reunimos, sabemos que somos um, por meio do Amém. Por que posso dizer Amém? Porque alguém disse exatamente aquilo que eu queria dizer.

Para mostrar a unidade na reunião, devemos aprender a negarmos a nós mesmo e a seguirmos o Senhor. Então você usará esse dom e servirá aos irmãos. Mais ainda, quando um incrédulo entra e a igreja está reunida, se tiver um dom deves poder dizer umas poucas palavras para que todos entendam. Aquelas palavras vão convencê-lo, e fará que um dia ele se prostre e veja que Deus está no meio da reunião. Esse é o nosso testemunho, o qual deve produzir um impacto nesta sociedade.

O importante é exercitar os nossos dons, usando as nossas oportunidades e nosso poder. Recorde, Paulo tinha muita autoridade, mas nunca abusou dela. É possível que seja poderoso, mas por amor dos santos, faça como se não tivesse poder. Então sim estará edificando a igreja.

«Quando vos reunis, cada um de vós tem salmo, conhecimento, língua, revelação e interpretação. Faça-se tudo para edificação» (1 Cor. 14:26). Como podemos ter estas coisas? Porque o Espírito Santo te dará o dom, o Senhor te dará a oportunidade e Deus estará operando em ti. E se for tocado pelo Espírito Santo, descobrirá como a reunião é governada pelo Espírito.

Depois da Reforma, todos se perguntavam como se reuniriam; inclusive um erudito como João Calvino. Antes tinham uma liturgia, mas agora procuravam algo mais bíblico. Então ele criou um programa. Suas reuniões eram regidas por aquele esquema. Por isso, eles nunca aprenderam como orar. Se quisessem orar, deveriam orar de acordo ao «Livro de Orações». Ali estava tudo.

Então, como podiam adorar em espírito e em verdade? Tudo girava em torno de um programa humano. Essa era uma reunião segundo a Bíblia? Aquele era o movimento do corpo? Crês que dessa maneira Cristo seria manifestado? Alguns diriam: «Que igreja maravilhosa! Que ordem! Que belo sermão!». E isso seria tudo. Mas, onde está Cristo? Para que serve o corpo de Cristo?  Para que necessitas dos dons?

Sofrendo por amor de Cristo

Na história da igreja, um grupo de irmãos foi mal interpretado: chamando-os de cuáqueros. Eles tentaram retornar a João capítulo 4 e adorar a Deus em Espírito. Os primeiros irmãos, até cem anos depois de George Fox, em suas reuniões, eram movidos a falar, e suas palavras ficaram escritas. E ao lê-las, são tão espirituais, tão celestiais, tão vivas.

Ao reunir-se, eles seguiam 1 Coríntios 14. Por desgraça, cem anos depois, também adotaram um programa. Na maior parte da reunião, agora permanecem em silêncio; ninguém fala. Isso não foi assim no começo. Eles sofreram por causa da Palavra, e foram perseguidos e martirizados.

Segundo um estudioso da história da igreja, nunca se viu um grupo de pessoas tão parecidos com Cristo como os cuáqueros. Segunda a história, eles viviam o Sermão do monte. Nos Estados Unidos, quando visitavam os índios, não levavam armas. Eles sabiam que corriam perigo, mas recusaram protegerem-se a si mesmos, porque sabia que se obedecessem a palavra de Deus, Deus iria protegê-los.

William Penn foi um líder dos cuáqueros. O rei da Inglaterra lhe tinha dado o território da Pensilvânia, mas ele comprou as terras dos nativos. Quando ele se reunia com eles, ia desarmado. Estes irmãos foram levantados pelo Senhor para uma maravilhosa restauração.

Antes disso, eles estavam presos naqueles grandes edifícios da igreja, mas, onde estava a presença de Deus? E quando eram perseguidos, George Fox lhes consolava: «Não se preocupem se formos como ovelhas para o matadouro; esperemos um tempo e a lã crescerá outra vez». Ele esteve seis anos na prisão. Se hoje podemos ver algo, é porque eles eram gigantes, e nós estamos sobre os seus ombros, como meninos vendo um desfile.

George Fox é nosso, John Wesley é nosso, Martín Lutero é nosso. Eles são parte da riqueza depositada no corpo de Cristo. Não importa onde nos reunimos, Deus o Pai, o Espírito Santo e o Filho estão muito ocupados, trabalhando para que possamos servir à vontade de Deus, com a capacidade, com as oportunidades e com o poder que nos foi dado.

Graças ao Senhor, esta é a unidade no corpo.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Temuco (Chile), em setembro de 2012.

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