ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
A palavra fiel do Evangelho
Deus se comprometeu a salvar os homens por meio de Jesus Cristo, e isto é para sempre.
Rodrigo Abarca
“Deus enviou mensagem aos filhos de Israel, anunciando o evangelho da paz por meio de Jesus Cristo; este é Senhor de todos… Palavra fiel e digna de ser recebida por todos: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. Mas por isso recebi a misericórdia, para que Jesus Cristo mostrasse em mim o primeiro toda a sua misericórdia, para exemplo dos que haveriam de crer nele para a vida eterna. Portanto, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único e sábio Deus, seja honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém” (Atos. 10:36; 1 Tim. 1:15-17).
Durante estes últimos tempos, o Senhor veio colocando em nossos corações uma carga fundamental quanto ao anúncio do evangelho. Cremos que é um assunto sobre o qual devemos seguir insistindo.
Não é suficiente ouvir falar a respeito da importância da evangelização, se isso não se traduzir em uma mudança em nossa própria conduta diante do Senhor. Que as palavras cheguem ao nosso coração e nos convertamos em arautos de Jesus Cristo! Isto é algo que o próprio Senhor está nos demandando nestes dias por seu Espírito Santo.
Martin Lloyd-Jones, o famoso pregador inglês do século 20 disse uma vez que todo avivamento na história da igreja começa quando a igreja redescobre o evangelho. Martín Lutero tentou ganhar a salvação por suas obras, mas quanto mais se esforçava, mais culpado se sentia. Mas um dia, um raio de luz transpassou a sua mente: «Mas o justo pela fé viverá» (Rom. 1:17). O evangelho eterno iluminou o seu coração e a história mudou. Nesse dia chegou um avivamento e começou a Reforma.
Lutero descobriu que o homem não se salva por seus próprios méritos ou esforço, mas apenas pela graça de Deus, dada a todos os que creem em Cristo. Ninguém pode salvar a si mesmo; tudo o que necessitamos para sermos salvos é apoiar nossa fé em Jesus Cristo. Nisto consiste o poder do evangelho.
O evangelho não se apoia em um método, nem é o resultado do esforço humano, mas uma vida que vem de cima e nos faz nascer de novo. Esta é a nossa história. Quão poderoso foi o evangelho, não só na história da igreja, mas na história de toda a humanidade!
O perigo de esquecer
Entretanto, é possível que conheçamos mentalmente as verdades do evangelho e inclusive podemos ensiná-las a outros, mas elas não estejam vivas em nosso ser. Porque quando o evangelho está ardendo em nosso coração, não podemos deixar de falar de Cristo.
É possível que a igreja se esqueça do evangelho. E quando isso ocorre, esquecemo-nos de Jesus Cristo. Não é que simplesmente nos esquecemos de anunciá-lo. Porque Jesus Cristo é o evangelho. Podemos crer que estamos centrados em Cristo, mas se o amor e a compaixão do evangelho não ardem em nosso coração, não estamos em comunhão com Ele. Este perigo ameaça constantemente à igreja.
Paulo diz a Timóteo: «Lembra-te de Jesus Cristo», referindo-se especificamente ao evangelho. As últimas cartas de Paulo são o seu testamento. Quando uma pessoa faz um testamento, escreve nele o mais importante, aquilo que quer legar a seus herdeiros. Estas são as últimas palavras do apóstolo, antes de partir com o Senhor, consciente de que seus dias estão terminando.
Durante o seu ministério, inspirado pelo Espírito Santo, Paulo falou de coisas tão elevadas como o propósito eterno de Deus, o mistério de sua vontade, a centralidade e supremacia de Cristo, e a igreja. Entretanto, as suas últimas cartas falam do evangelho. A Timóteo o encomenda o evangelho, porque sem este não há igreja. A igreja nasce do evangelho, e se nos esquecemos dele, todo o resto está em risco.
«Dou graças ao que me fortaleceu, a Cristo Jesus nosso Senhor, porque me teve por fiel, me pondo no ministério». Que ministério era este? «Mas recebi a misericórdia». O Senhor o alcançou com o evangelho e foi salvo. «Palavra fiel e digna de ser recebida por todos» (V. 15). Esta é uma frase de Paulo já ancião. Ele não falava assim quando era jovem, porque a fidelidade é algo que só se comprova com o passar dos anos. Podemos dizer que alguém é fiel quando vivemos muito tempo junto a ele.
Quando tinha gasto a sua vida pelo Senhor e está a ponto de partir deste mundo, Paulo pode declarar que o evangelho é uma palavra fiel, que nunca o defraudou. Sempre que ele pregou e as pessoas creram em sua mensagem, invariavelmente foram salvas por aquele poder do evangelho.
Deus é fiel ao evangelho. Às vezes ficamos preocupados como falar a outros do evangelho, mas é o próprio Deus quem respalda a sua palavra. Deus se comprometeu a salvar os homens por meio de Jesus Cristo, e isso é para sempre.
Nunca foi fácil
Vivemos em um tempo em que as palavras podem ser alteradas e manipuladas a vontade. Os sociólogos falam da pós-verdade. As palavras já não têm um significado fixo, mas que pode variar de acordo à intenção de cada um. Mas o evangelho eterno não muda; é uma palavra fiel, inalterável, «…e digna de ser recebida por todos». A dignidade não está em quem recebe o anúncio, mas no próprio evangelho, que é digno de ser ouvido por todos, pobres ou ricos, fracos ou poderosos, sábios ou ignorantes.
«Portanto, não te envergonhes de dar testemunho de nosso Senhor» (2 Tim. 1:8). Timóteo era tímido e tinha vergonha de pregar. Nunca foi fácil pregar o evangelho. Era muito mais difícil naquela época, e provavelmente o será outra vez no tempo que virá.
Qual é a palavra digna de ser recebida por todos? Olhe como Paulo resume aqui o evangelho: «Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro» (1 Tim. 1:15).
Às vezes, os crentes têm a mesma atitude dos atenienses. Lucas os descreve em Atos capítulo 17 em uma forma um pouco irônica, mas muito adequada. Diz que eles «em nenhuma outra coisa se interessavam a não ser em dizer ou em ouvir algo novo». Frequentemente nós queremos ouvir só coisas novas. Mas o evangelho não é algo novo, embora deva renovar-se constantemente no coração. É uma história antiga; não há nada que mudar. Mas é necessário repeti-la até o final dos tempos.
No livro de Apocalipse, quando chega o fim de todas as coisas, e com ele o juízo da Babilônia, da besta e do falso profeta, um anjo voa no meio do céu e tem o evangelho eterno para pregá-lo a toda a humanidade uma vez mais. Não precisamos ouvir coisas novas.
O evangelho é tão antigo e, ao mesmo tempo, tão novo como o sol que nasce cada manhã. E tem aquele poder de renovar o coração dos homens quem quer que sejam e qualquer seja a sua situação, até o final dos tempos. De fato, não só mudou a vida de incontáveis homens e mulheres, mas também mudou o curso de nações e sociedades inteiras ao longo da história.
«Palavra fiel e digna de ser recebida por todos». O evangelho não está em uma oposição à edificação da igreja. Para alguns parece que o evangelho é uma coisa diferente da edificação da igreja. Entretanto, não o é em absoluto; muito pelo contrário, é um aspecto essencial da vida da igreja.
Três palavras gregas
Vejamos o que nos diz a Bíblia sobre o evangelho. Na Escritura podemos estudar e entender o seu significado a partir de três palavras que são usadas para falar dele, e que se traduzem de várias maneiras no Novo Testamento, e inclusive na tradução do Antigo Testamento ao grego, naquelas passagens proféticas que fazem alusão ao evangelho, como por exemplo Isaías 61.
1. Evangelizar
A primeira delas, da qual vem a palavra que se refere a pregação do evangelho, corresponde ao verbo evangelizoo, que provémdo grego evangelion e se traduz como «pregar o evangelho». O termo evangelho é uma dessas palavras que não foi traduzida quando foi passada para o espanhol, mas foi transliterada, quer dizer, que se adaptou quanto a sua pronunciação, mas sem ser traduzida.
A palavra evangelho é usada mais de 250 vezes no Novo Testamento. Por que o Espírito Santo escolheu este vocábulo para nos falar do evangelho de Cristo? No mundo greco-romano, um evangelho era uma boa notícia; mas não era qualquer anúncio, mas sim a notícia de um acontecimento extraordinário, que podia afetar a vida inteira de uma nação.
Na antiguidade era usada em três contextos específicos. Um deles era o anúncio de uma grande vitória militar. Podemos associar esta palavra com a obra do Senhor Jesus. Tomou o nosso lugar e venceu a todos os nossos inimigos: o pecado, a morte e os poderes das trevas que nos escravizavam.
Também era usada a palavra evangelho para anunciar o nascimento de um rei. Quando nascia um rei, acreditava-se que viria uma era de esperança para todos. Assim, o evangelho de Lucas começa dizendo que o anjo veio anunciar: «Nasceu-lhes na cidade de Davi um Salvador». Um novo rei veio ao mundo; mas não qualquer rei. O Rei dos reis e o Senhor dos senhores! Isto é um evangelho.
Hoje quase não existem reis como antigamente, assim não é tão fácil entender o que significava para o mundo antigo o nascimento de um novo rei. Quão importante era aquilo! Hoje escolhemos governantes cada quatro anos, mas um rei podia reger uma nação durante muitíssimos anos.
Ainda mais, esse rei ascenderia um dia ao trono. E este é o terceiro uso da palavra evangelho: o momento quando um novo rei era coroado. Aquele anúncio era um evangelho; novos tempos começavam para a história de uma nação. As pessoas esperavam que este novo rei corrigisse os males ou os enganos que o seu antecessor tivesse cometido. Era uma nova esperança no coração dos homens.
Por isso, os primeiros crentes usaram esta palavra, e não outra: o evangelho, uma notícia extraordinária: Um Rei nasceu! Um Rei foi entronizado!
Um "jubileu" universal
A palavra evangelho tem um sentido adicional no Antigo Testamento, que também é necessário entendermos. Quando Jesus entrou na sinagoga de Nazaré, no início do seu ministério, leu o rolo de Isaías 61:1. E o aplicou a si mesmo, dizendo: «Hoje se cumpriu esta Escritura diante de vós» (Luc. 4:21).
«O Espírito de Jehová o Senhor está sobre mim, porque me ungiu Jehová; enviou-me a pregar boas novas…». Esta última expressão, está em hebreu no texto original. Mas quando foi traduzido para o grego, os tradutores escreveram ali «o evangelho». Foi a primeira vez que a palavra evangelho apareceu na tradução ao grego do Antigo Testamento: «Enviou-me a pregar o evangelho».
«…a pregar boas novas aos abatidos, a restaurar os quebrantados de coração, a publicar liberdade aos cativos, e aos presos abertura da prisão; a proclamar o ano da boa vontade de Jehová, e o dia de vingança do nosso Deus; a consolar a todos os tristes; a ordenar que aos afligidos de Sião se lhes dê glória em lugar de cinza, óleo de gozo em lugar de luto, manto de alegria em lugar do espírito angustiado; e serão chamados árvores de justiça, plantio de Jehová, para a sua glória» (Is. 61:1-3).
É necessário entender o contexto em que o profeta fala aqui. É um anúncio messiânico, em clara alusão à vinda do Messias, mas o seu contexto é o que em Israel se conhecia como «o ano do jubileu».
Havia dois tipos de jubileu em Israel: um a cada sete anos, e um a cada cinquenta anos. Cada sete anos, os arautos percorriam Israel anunciando a chegada do jubileu. Isto significava que, automaticamente, todos os escravos ficavam livres. Para aqueles que tinham dívidas, estas eram canceladas. Abriam-se as portas das prisões, e muitos saíam em liberdade. Se alguém se vendeu como escravo, porque era pobre e não podia sustentar-se, então, no sétimo ano, saia livre.
O ano do jubileu era o ano da libertação. Mas, além disso, cada cinquenta anos, se alguém tivesse perdido a sua terra, a recuperava. A terra era fundamental em Israel, uma economia agrária, porque era parte da terra prometida. Ser proprietário ali significava ser parte do povo de Deus.
Se alguém perdia o seu direito a terra, ou a vendia por dívidas, não tinha como produzir o seu sustento; estava arruinado e tinha que vender-se, ele e sua família, como escravos. Era algo terrível. Mas cada cinquenta anos se proclamava o jubileu e a terra voltava para os seus donos originais. Recuperava-se tudo o que se havia perdido, e se um proprietário tivesse morrido, seus filhos recuperavam a sua parte.
Este era o jubileu em Israel. Mas aqui o profeta está olhando para o futuro, quando viesse o Messias, o Cristo. A boa nova não é simplesmente a recuperação da terra ou a liberdade, mas se refere a um jubileu imensamente maior. É «o ano da boa vontade de Jehová», o ano que traz boas novas aos abatidos, aos angustiados, aos desesperados, aos que perderam os seus familiares.
«…a publicar liberdade aos cativos». Imagine alguém que está na prisão, sem esperança de liberdade, e lhe anunciam que ele foi indultado e pode sair imediatamente. Como saltaria de felicidade! Isto é um evangelho. Quando lermos a palavra evangelho, recordemos que é algo extraordinário.
«…a proclamar o ano da boa vontade de Jehová, a ordenar que os afligidos de Sião se lhes dê glória em lugar de cinza, óleo de gozo em lugar de luto, manto de alegria em lugar do espírito angustiado; e sereis chamadas árvores de justiça, plantio de Jehová, para a sua glória». Esta é a palavra do evangelho, uma palavra de salvação, de jubileu universal. O tempo da angústia terminou. Este é o primeiro sentido da palavra evangelho: uma boa notícia.
Suponhamos que um médico cientista descobrisse uma cura para o câncer. Essa notícia seria guardada? Seria bom que se guardar-se essa notícia? Não seria uma pessoa terrivelmente irresponsável e imoral se ocultasse uma notícia semelhante, se não a publicasse e a entregasse a todos?
Pois, bem, este evangelho é muito maior que aquilo. Porque aqui nos diz que há uma cura para aquele pecado e contra a morte. Nos diz que pode consolar os tristes. Que coisa terrível é a morte, mas o evangelho nos diz que inclusive a morte foi vencida por Jesus Cristo. Ele «trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho» (2 Tim. 1:10).
O evangelho pode dar vida aos mortos, resgatar a aqueles que estão submetidos ao poder do pecado e transformar os homens mais corruptos deste mundo.
Alguém teria vergonha de anunciar ao mundo inteiro que tem uma cura contra o câncer? Não, não é verdade? E nós temos a maior notícia de todas: que o próprio Deus enviou o seu Filho para que todos os homens deste mundo possam ser salvos. Isto é um evangelho.
2. Anunciar como um arauto
A segunda palavra que é usada para falar do evangelho é kerigma. Embora nesta forma substantiva é mencionada só três vezes na Escritura, aparece muitas vezes em sua forma verbal, kerisein, e se traduz como pregar ou anunciar como um arauto.
Um arauto era alguém enviado com autoridade para dar a conhecer uma notícia oficial. Por exemplo, se um rei queria proclamar um decreto ou um decreto a todo o seu reino, enviava um arauto. Este não ia em seu próprio nome, mas no nome e com a autoridade do rei.
Esta é a segunda palavra usada para falar do anúncio do evangelho. Quando nós anunciamos o evangelho, não o fazemos em nossa própria autoridade, mas estamos investidos da autoridade do Rei dos reis e Senhor dos senhores. Falamos em seu nome, sob sua autoridade, e ele nos respalda. Quando pregamos o evangelho, estamos respaldados pela autoridade do Rei do céu. Somos seus arautos.
3. Dar testemunho
A terceira expressão usada para falar do evangelho no Novo Testamento é dar testemunho, que vem do vocábulo grego mártir. Um mártir era, em essência, uma testemunha. Curiosamente, esta é a única palavra que o apóstolo João usa. Ele não usa a expressão evangelizar, mas dar testemunho. Isto é muito importante para entender o que é o evangelho.
O evangelho é um testemunho, a confissão de uma testemunha sob juramento. Quando alguém vai a um tribunal e testemunha sobre um fato real, o juiz lhe pergunta: «Você jura dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade?». A pessoa que jura não pode inventar nada, porque se for descoberta que mentiu, cairá sobre ele todo o peso da lei.
Esta é a terceira palavra que é usada na Escritura. Dar testemunho como em um tribunal. A palavra mártir, no Novo Testamento, indica alguém que está disposto a confirmar e a defender o que está dizendo, inclusive com a sua própria vida.
Assim se entendia no tempo antigo, porque quando uma pessoa mentia em um tribunal, pagava com a sua vida. E esta é a terceira palavra que é usada no Novo Testamento. Mas, o que significa? Vejamos 1 João 1:1. Como dissemos, ele usa de maneira preferencial esta expressão para referir-se a pregação do evangelho. Com efeito, João aqui se refere ao evangelho.
O que vimos e ouvimos
«O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, e apalparam as nossas mãos no tocante ao Verbo da vida».
Do que João está nos falando aqui? De Jesus Cristo. O que ele tem a dizer é um testemunho, algo que viu com os seus próprios olhos, como testemunha de primeira mão. Não é algo que ouviu de outros, nem a ideia de um filósofo ou a experiência de um místico. Não. É um testemunho: O que vimos, o que ouvimos, o que contemplamos, o que apalpamos.
Em Atos capítulo 4, quando Pedro e João são levados diante do concílio, eles são ameaçados para que de nenhuma maneira falem mais do nome de Jesus. Mas eles dizem: «Não podemos deixar de dizer o que temos visto e ouvido». Não se pode apagar do coração de um homem aquilo que viu e ouviu.
Pedro diz em Atos 10:40-41: «A este levantou Deus ao terceiro dia, e fez que se manifestasse; não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus tinha ordenado de antemão», isto é, pessoas que estão dispostas a defender com a sua vida aquilo que dizem. Nós entendemos esta dimensão do evangelho, como um testemunho que alguém está disposto a defender inclusive com a sua vida?
Isso significavava ser testemunha de Cristo para os primeiros cristãos. Por isso, no último versículo de Apocalipse capítulo 12 nos diz que, quando o dragão é lançado do céu pelo anjo Miguel, persegue a mulher. E, visto que a mulher é levada ao deserto para ser guardada por Deus por 1260 dias, o dragão se encheu de fúria contra a mulher (a igreja) «e foi fazer guerra contra o resto da descendência dela, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo».
A frase «o testemunho de Jesus Cristo» é a expressão com que João se refere ao evangelho. O testemunho de Jesus Cristo é o evangelho. Ele usa esta frase porque significa que eles estão dispostos até a dar sua vida por seu testemunho. Tal como diz antes: «Eles o venceram por meio do sangue do Cordeiro e a palavra do testemunho deles, e desprezaram as suas vidas até a morte».
Às vezes, temos temor de pregar o evangelho porque podemos ser desprezados ou rejeitados por nossos colegas, amigos ou companheiros. Mas o significado de «dar testemunho de Jesus Cristo» é estar dispostos até a dar a vida, porque «não podemos deixar de dizer o que temos visto e ouvido».
Notem o que diz Atos 10:40: «A este levantou Deus ao terceiro dia». Este é um testemunho; não é uma lenda ou um conto. Eles o viram ressuscitado, com os seus próprios olhos. Por isso, Pedro, João e os outros apóstolos, selaram literalmente com o seu sangue o seu testemunho sobre Jesus Cristo. E mesmo quando morriam por causa do seu testemunho, sustentaram até o final que Jesus tinha ressuscitado dentre os mortos.
C.S. Lewis disse uma vez que qualquer homem pode morrer por aquilo que crê ser honestamente verdadeiro, mas que ninguém está disposto a morrer pelo que sabe que é uma mentira. Você daria a vida por algo que sabe que é falso? Certamente que não.
Por isso a Bíblia diz que Jesus apareceu «não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus tinha ordenado de antemão, a nós que comemos e bebemos com ele depois que ressuscitou dos mortos» Que coisa pode ser mais potente que isto! Não era um fantasma, nenhuma alucinação! «E nos mandou que pregássemos (anunciar como um arauto) ao povo, e testificássemos (dar testemunho) que ele é o que Deus pôs por Juiz de vivos e mortos».
«…porque a vida foi manifestada, e a temos visto» (1 João 1:2). É poderoso o testemunho de alguém que diz: «Eu o vi, estive ali; é verdade». Claro, que aquele que ouve um testemunho é livre em aceitar ou rejeitar o que lhe está dizendo porque só tem a palavra da testemunha e não tem como confirmá-la por si mesmo. Por isso, João nos diz algo mais a respeito: «…o que temos visto e ouvido, isso vos anunciamos para que também vós tenhais comunhão conosco».
O testemunho do Espírito
A interrogação que surge é: «É obvio, os apóstolos viram a Jesus, estiveram com ele e foram testemunhas de primeira mão; mas já se passaram dois mil anos, e nós, é evidente, não o vimos com os nossos olhos». Então, como podemos ser suas testemunhas hoje? Porque anunciamos a sua vida, a sua morte na cruz e a sua ressurreição, isto é, damos testemunho de fatos históricos.
Com efeito, João nos diz que quando pregamos o evangelho, não só nós damos testemunho, mas alguém maior que nós também dá testemunho. Junto conosco e em nós, em nossas próprias palavras, outro está também dando testemunho: o Espírito da verdade. «Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo» (João 16:8).
O próprio Deus dá testemunho de Cristo por seu Espírito. Por isso, o evangelho é uma palavra fiel. «E o Espírito é o que dá testemunho; porque o Espírito é a verdade» (1 João 5:6). Por isso, o seu testemunho é verdadeiro. «Se recebermos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque este é o testemunho com que Deus tem testificado acerca de seu Filho. (Esta testemunha divina é maior que qualquer testemunha humana). Aquele que crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho» (V. 9-10).
Em seguida, é importante entender o seguinte: O evangelho não nos diz que temos que ver primeiro, e em seguida crer, mas ao contrário; primeiro temos que crer no testemunho de quem viu com os seus olhos, e em seguida veremos! Se para ouvir o evangelho (ao receber o testemunho), cremos nele, também nós veremos e tocaremos a Jesus Cristo pelo poder do Espírito Santo.
Por que podemos ser testemunhas de Jesus Cristo? Porque quando cremos nele, nós mesmos comprovamos a verdade do evangelho por experiência. Já não somos testemunhas de segunda mão. Temos visto e sabemos. «E este é o testemunho: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Aquele que tem o Filho, tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida» (v. 11-12).
Como você sabe que o evangelho é real e que Cristo é verdadeiro? Sabe porque ele te salvou, porque ele te deu a sua vida, e isso ninguém o pode refutar. Um servo de Deus disse: «Deus não nos deu um argumento irrefutável para os incrédulos; deu-nos algo muito melhor: uma Pessoa irrefutável – Jesus Cristo».
Necessitamos de muita preparação para sermos testemunha de Jesus Cristo? Não, no princípio a única coisa que precisamos é ter conhecido e ter sido salvo por ele. Nesse mesmo instante nos convertemos em testemunha dele. Como aquele homem cego de João capítulo 9: «Se é pecador, não sei; uma coisa sei, que havendo eu sido cego, agora vejo» (9:25). Você sabe algo que ninguém pode refutar; embora lhe digam que não é verdade, seguirá sendo uma verdade irrefutável para sempre em sua vida.
Diz um famoso hino, «Eu estava cego, mas agora vejo; estava perdido, mas fui achado». Somos tão pecadores, que não podemos nos salvar a nós mesmos. Nada nos salvará: nem a lei moral, nem o esforço, nem a religião. Mas um dia o Senhor chegou até nós e nos salvou. Este é o evangelho: o Deus eterno nos amou e nos acolheu incondicional e eternamente, por meio da fé em seu Filho Jesus Cristo.
Notícia extraordinária
Sabe o que nos diz o evangelho? Que existe um Deus eterno e pessoal, que nos ama e que não deixará nossa vida na tumba; e que um dia nos levantará da morte, para que estejamos eternamente com ele. Você e eu viveremos para sempre, porque um dia o Filho de Deus veio ao mundo e morreu na cruz para saldar a nossa dívida e nos resgatar para Deus.
Não há nada como o evangelho neste mundo cansado. O evangelho de Cristo é a única esperança para todos, porque só ele salva os homens. Se estes rejeitarem o evangelho, perdem toda esperança; se a igreja se esquecer do evangelho, ela também tem hipotecado a sua esperança. O Deus do céu nos encomendou a notícia mais extraordinária da história. «Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura, como arautos, cheios de confiança, cheios de autoridade. E o que crer, será salvo».
Você quer ir? Não precisa cruzar continentes. Basta que vá ao seu vizinho ou ao seu colega em seu trabalho, a qualquer que esteja próximo. O que temos que dizer é muito importante para calá-lo. É o evangelho, que liberta, que cura, que redime, que salva, que perdoa, que justifica, que reconcilia o homem com Deus, e aos homens uns com outros e com a criação de Deus. O que pode ser mais importante que isto?
Síntese de uma mensagem oral ministrada em Trebol (Chile), em janeiro de 2018.