Os celeiros abertos

José representa a abundante provisão em tempos de fome; Jesus é a fonte inesgotável, disponível para todos, hoje.

Henry Law

“Então abriu José todo celeiro...” (Gên. 41:56).

É impossível ler a história de José sem sentir um deleite imenso. A variedade de incidentes, a rapidez da ação e seus fortes caracteres humanos, fazem a leitura predileta de grandes e pequenos, sábios e iletrados.

José, da cisterna ao trono

A escrita sagrada, dirigida do céu, faz-nos viver todos os sentimentos do coração humano. Choramos com aquele pai desconsolado; sentimos a sua profunda dor; revivemos quando torna a ver, contente, o seu filho. O tremor daquele moço na cisterna vazia chega a invadir-nos; e sua tristeza no exílio nos faz suspirar. Mas quando o vemos triunfar na tentação nos sentimos cheios de valor. Na prisão participamos do seu desconsolo. Finalmente, quando a sua causa é reivindicada e ele se torna o senhor de um grande país, triunfamos juntamente com ele.

Não obstante, o imenso valor desta história não se encontra em seu estilo nem em seus intensos sentimentos, nem nos extraordinários sucessos, nem em seu acerto providencial ou seu final feliz. Se isto fosse tudo, seu proveito seria fugaz. O verdadeiro proveito é a bênção da alma, porque a alma é o homem real. Todo o resto é terrenal e transitório. Qualquer livro, passatempo ou amigo que não contribua para encher o celeiro espiritual é, na realidade, um inimigo, um veneno ou uma venda que nos cega.

Tipo de Jesus

Este relato bíblico é precioso porque cada vez que vemos José pensamos em Jesus. Quem, se não ele, é aquele invejado, odiado e rejeitado por seus irmãos? Quem foi vendido por umas moedas de prata; levado para o Egito; contado com os pecadores; culpado, na aparência, entre dois malfeitores, dos quais um se salva e o outro perece? Quem sai da prisão para ser elevado à mão direita da majestade? Estes indícios não nos falam de Jesus?

Todo aquele poder está em suas mãos. É ele quem liberta a sua família de uma morte certa. Quando ainda não o conheciam, ele lhes amava. Os famintos iam para ele. As chaves dos armazéns estão em seu poder. Seu nome é José, mas a verdadeira pessoa é Jesus.

Celeiros cheios

Entretanto, a citação bíblica deste capítulo faz que limitemos a apenas um aspecto deste amplíssimo tema. Aproximemo-nos, pois, para examinar de perto este grande tesouro, e que o Espírito Santo nos abra os olhos e as mãos para vê-lo e tomá-lo.

O relato nos revela uma situação de miséria total. Aquele mundo prostrado se achava em uma terrível aflição. Fala que a fome está invadindo tudo. Pálidas bochechas e vozes frágeis anunciavam uma morte próxima. Mas dentro daquela tragédia havia uma esperança: os celeiros estavam cheios de trigo, e José tinha sido renomado ministro para distribuir os socorros.

Logo se estendeu a notícia pelo país, e diante daquelas portas salvadoras se apinhavam, um dia após o outro, uma grande multidão. Seus rostos refletiam a ânsia que a necessidade tinha gerado. Era inútil permanecer em casa ou continuar trabalhando, porque só havia um que podia dar o alívio. Atrasar-se significava morrer, mas ir a José era tornar a desfrutar da abundância.

Pão abundante

Isto é um exemplo de um pecador que vai refugiar-se em Jesus. O homem, durante muitos anos da sua vida, vive sem se dar conta de sua necessidade, e contentando-se com a sua própria miséria. Mas quando a luz do alto lhe revela o seu pobre estado, um verdadeiro terremoto derruba as suas falsas ilusões.

Então descobre que o pecado é como uma praga de fome que vai absorvendo a vida. Mas quando, soa a hora da misericórdia pode ouvir uma voz que lhe diz: «Podes seguir vivendo; há pão abundante em Jesus». O que poderá te deter agora? É impossível fazer esperar a um pecador que tem os olhos abertos e que anseia umas migalhas de misericórdia da mesa de Jesus.

Despertar antes

Se porventura estivesse falando com alguém que ainda não tem recebido auxílio, devo lhe pedir que desperte antes que se encontre dormindo o sono da morte. Não sabe que a tua terra está atormentada pela fome? Sim, o pecado, como uma praga devastadora, arruinou os campos que davam pastos para a alma, e ricos frutos de vida. Agora só existe um deserto de cardos e espinhos. Tens que obter o maná celestial, ou a morte é certa. Só as mãos de Jesus podem distribui-lo. Levanta-te e busque ao Senhor!

Há outros que se dão conta do perigo e se esforçam por escapar, mas se cansam e desfalecem. Saem em busca de alimento, mas as falsas direções de Satanás lhes fazem errar o caminho e vão aos celeiros que elevam a mentira. Ali se alimentam das borbulhas vazias de ritos e fórmulas que talvez satisfaçam os sentidos e a imaginação, mas não a alma.

Há quem avançam mais, mas sem chegar aos cofres onde se encontra o tesouro. Param, e examinam a palavra de Deus que, na verdade, é um guia divino. Cada versículo é uma voz do céu. Entretanto, conhecer o caminho não é achar a salvação, porque o conhecimento do remédio não alimenta a alma. Que terrível seria cair no inferno com as Escrituras nos lábios!

Muitos creem que a igreja é uma suficiente ajuda. Realmente Deus a levantou. É coluna e baluarte da verdade. Avisa e ensina, mas não pode dar a vida eterna. Que terrível seria cair no inferno do próprio umbral da salvação!

Outros pretendem alimentar-se com os símbolos ou sacramentos. Deus os instituiu como signos e selos da graça. Mas um sinal não é a substância, nem o selo se deve confundir com a ata. Que terrível seria entrar no inferno com esses símbolos nas mãos! Outros se contentam com a distração que os fiéis ministros de Cristo lhes proporcionam; e embora estes sejam arautos da Sua graça e pastores do Seu rebanho, não tem em seu poder o verdadeiro alimento da alma.

Também há quem se deleite trabalhando no nome de Cristo. As obras são a evidência da fé, mas a evidência não é o motivo; os brotos não são a raiz. Que terrível seria ir para o inferno tendo passado pela escola do céu, e jazer ali envolto em uma aparente bondade!

Direto para Jesus

Creia-me, leitor, para obter ajuda, e graça e vida, devemos ir diretamente para Jesus. Só as suas mãos podem distribuir o remédio.

Poderia ser que alguém se perguntasse, com tremor, se o receberia bem. A sua resposta está nos milhares que buscam a Cristo e o encontram. Ele jamais tem despedido os suplicantes. Este é o decreto: «Aquele que vem a mim não o lançarei fora». O seu caráter não muda: «Aos famintos encheu de bens». E uma vez mais ouvimos a sua chamada amorosa nestas palavras: «Comam, amigos; bebam em abundância, Oh amados».

Quais são as provisões destes celeiros? Seria mais fácil contar as areias dos oceanos que descrever a abundância que ali há. «Escutai, céus, e falarei; e ouça a terra os ditos da minha boca». O Senhor dá o seu próprio corpo e o seu próprio sangue como alimento. «Porque a minha carne é verdadeira comida, e meu sangue é verdadeira bebida».

Por meio da fé todos podem participar deste banquete. Mas, como? Não se pode fazer materialmente com a boca. Isto é uma heresia. A razão o ridiculariza. A Escritura o nega. A experiência o rejeita como uma fantasia lastimosa e inútil. Não. A fé participa deste festim com o santo gozo do coração. O maná oculto é a maravilhosa verdade de que o corpo e o sangue de Cristo foram entregues para a remissão dos pecados.

Alimento completo

Quando se recebe esta verdade espiritualmente, então se acha uma nova fortaleza, mas não para o corpo, mas para a alma eterna e nascida de novo. Com este alimento, o homem interior luta, com a força de um gigante, na batalha da fé.

Nesses celeiros também encontramos o alimento completo das grandes promessas e verdades bíblicas. Quando a mão do Senhor as administra, cada palavra aparece cheia de espírito e vida.

O pobre, o triste, o cansado, vem com a carga de suas aflições e tentações para obterem ajuda, e a descobre nessas promessas e provas de amor eterno. Como Jônatas ao comer o mel, os seus olhos se iluminam e recobram um novo ânimo.

Todo o sustento que a vida cristã precisa está em Cristo. As palavras que citamos a seguir são grandiosas: «...porquanto agradou ao Pai que nele habitasse toda a plenitude», e essa plenitude não é para Si mesmo, porque possui a própria glória de Deus, mas para encher ao fatigado peregrino. Do mesmo modo que o sol é a luz e dá luz, assim também Jesus é graça e difunde a graça.

A experiência comum de todos os que a ele recorre é esta: «Porque da sua plenitude todos recebemos, e graça sobre graça». Os que vêm vazios retornam cheios; os pobres, com grandes riquezas; os fracos, com novas forças.

Corrente incessante

Houve muitos que fizeram uma longa viajem para chegar a aqueles celeiros egípcios. Mas o voo rápido da fé nos transporta em um momento para o centro da graça. Possivelmente José só distribuía o trigo a certas horas, mas as portas da salvação estão abertas dia e noite. Jesus sempre está disposto a escutar.

Os celeiros do Egito, embora estivessem repletos, podiam esgotar-se. Entretanto, nossa provisão não está em sacos, mas é uma corrente incessante de infinita profundidade e largura, como Deus é. Por outro lado, os egípcios tinham que comprar a mercadoria, mas nós o recebemos tudo sem dinheiro e sem preço. O comércio do Evangelho tem este lema: «Pedi, e vos será dado».

Você está perecendo por falta do pão da vida? Se estiveres com falta de alimento e morrendo de fome é porque não quer tomar e se alimentar. É como uma planta raquítica e com pouco fruto? Isto é porque procuras pouco no José do Evangelho. Pense nisto outra vez: «Mas ele dá maior graça». Cristo veio para que tenham vida, e para que a tenham em abundância.

Filho de Deus: um dia te aproximaste e, ao teu clamor, as portas se abriram imediatamente. O perdão que desejavas foi dado, e o gozo e a paz que procuravas inundaram o teu coração. Quando confessaste a tua necessidade de luz e direção, recebeste um raio que iluminou o teu caminho. Ansiavas ver alguma amostra do amor do Salvador, e ele te mostrou o seu coração sangrento, com o teu nome gravado nele.

Pois bem, agora veja e mostre a tua gratidão recorrendo continuamente à porta do nosso celeiro. Jesus sempre está ali para te abrir. Não desejas ir e chamar? Cristo vive para dar. Tu deves viver para tomar e tornar a dar.

Do Evangelho em Gênesis

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