A igreja em Corinto

Refletindo sobre os aspectos mais significativos da igreja no princípio da sua história.

Christian Chen

“Paulo ... à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos  ...Graças dou ao meu Deus sempre por vós, pela graça de Deus que foi dada em Cristo Jesus; porque em todas as coisas foram enriquecidos nele, em toda palavra e em toda ciência; assim como o testemunho a respeito de Cristo foi confirmado em vós ...Rogo-vos, pois, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós divisões, mas estejam perfeitamente unidos em uma mesma mente e em um mesmo parecer” (1 Cor. 1:1-13).

Ao lermos os versículos iniciais da primeira carta aos Coríntios, sabemos que na igreja em Corinto havia muita bênção. Eles foram enriquecidos em Cristo, «em toda palavra e em toda ciência». Haverá outra igreja tão abençoada como esta? O testemunho de Cristo tinha sido confirmado neles.

Quando pensamos na igreja como era no princípio, procuramos uma igreja perfeita. A igreja em Corinto era abençoada. Nestas palavras, nada é exagero, mas era a condição real daquela igreja. Entretanto, ao seguirmos lendo, saberemos que esta igreja não é perfeita. E não só não era perfeita, mas estava cheia de conflitos. Ao lermos as duas cartas aos Coríntios, descobrimos um problema atrás do outro, e é obvio, nunca chamaremos Corinto a igreja perfeita.

Quando procuramos a igreja perfeita, esquecemos que nós somos imperfeitos. Estamos ainda na carne, sonhando ver aquela igreja. Se olharmos para Corinto, sem dúvida, ali há um candeeiro, um testemunho do Senhor. É uma das igrejas do princípio, que nos dá uma grande lição de como podemos andar hoje.

Corinto é uma cidade portuária. Priscila e Áquila vieram de Roma para Corinto; mais tarde foram para Éfeso. Nesse intervalo, Paulo foi pela primeira vez a Corinto, e passou um tempo com Priscila e Áquila. No começo, ele foi à sinagoga e tentou levar os judeus para Cristo, mas foi rejeitado; então Paulo saiu dali.

O apóstolo ficou com um irmão que vivia próximo da sinagoga. Um homem de Deus nem sempre precisa pregar o evangelho com palavras. Todo mundo lerá a sua vida. «Este vizinho é uma pessoa diferente». Embora Paulo não fosse mais à sinagoga, ele não vivia longe dali, e o líder da sinagoga foi salvo, e toda a sua casa foi batizada. E dizem que muitos Coríntios foram salvos.

Luz na escuridão

Corinto era o recanto mais escuro do império romano; precisamente, por essa razão, necessitava de um candeeiro. Por isso, Paulo estava ali, e muitas pessoas foram salvas; não adoraram mais a ídolos, foram transportados para o reino do amor de Deus. De fato, o inimigo se opôs contra aquela obra tão frutífera.

«Então o Senhor disse a Paulo em visão de noite: Não temas, mas fala, e não te cales… porque eu tenho muito povo nesta cidade» (Atos. 18:9-10). Deus faria algo: a igreja em Corinto ia ser edificada. Não importava se havia problemas, Paulo devia centrar-se apenas na vontade divina.

Que o Senhor abra os nossos olhos para ver que ele tem muito povo em nossa cidade. Seus olhos não devem só ver aqueles irmãos que já conhecem. Você está aí pela mesma razão pela qual Paulo estava em Corinto. Não deve se calar, deve pregar a palavra, apesar das dificuldades. Às vezes desejará renunciar, mas o Senhor diz: «Não desista».

Quando o irmão Watchman Nee ajudava às pessoas, sempre lhes dizia: «Ao visitar uma nova cidade, a primeira coisa não é estabelecer uma assembleia como a que você já conhece, ou como foi no passado. A primeira coisa é procurar os irmãos. Você não pode ser tão espiritual para pensar que é o primeiro ou o único». O Senhor tem interesses na cidade onde você vive; por isso, ele te pôs ali. Isso é o mais importante.

Não importa que tipo de oposição nem que problemas Paulo enfrentaria, uma coisa sabemos: o Senhor tinha um povo nesse lugar, e Paulo tinha a responsabilidade de lhes falar da parte de Deus.

Uma vez visitei a cidade de Frankfurt. Alguns irmãos dali me disseram: «Não queremos viver aqui; iremos para Stuttgart. Frankfurt é um lugar tenebroso. Se continuarmos aqui, não ganharemos muitas pessoas». Eu disse: «Se Frankfurt for escuro, é evidente que necessita luz. Vocês são o candeeiro. Devem permanecer aqui, não importa quão grandes sejam as dificuldades. Essa era uma tragédia.

A divisão no corpo

Nós não somos responsáveis pelas divisões, mas, como podemos avançar? «Eu tenho muito povo nesta cidade». Esse foi o começo da igreja em Corinto, embora ali houvesse problemas. Uma razão pela qual Paulo escreveu a sua carta é porque foi informado a respeito de um assunto muito sério.

«Rogo-vos, pois, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós divisões, mas estejam perfeitamente unidos em uma mesma mente e em um mesmo parecer» (1 Cor. 1:10).

A palavra «rogo», no original, é «exorto», e significa colocar-se ao lado para ajudar. Paulo não escreveu para julgar ou para criticar. Ele diz: «Vos exorto», quer dizer: «Estou ao seu lado para ajudá-los; não é somente um problema de vocês, mas também um problema meu, e resolveremos juntos». Esse é o espírito com o qual lhes escreve.

A palavra «divisão», no original, significa estar à parte. E Paulo acrescenta: «…que estejam perfeitamente unidos em uma mesma mente e em um mesmo parecer». A expressão «perfeitamente unidos», no grego, se refere a reparar ossos quebrados ou recompor articulações deslocadas. Aquela divisão ocorreu no corpo, os ossos se quebraram e as juntas se deslocaram, e agora tinha que restaurar tudo.

«…para que não haja desavença no corpo» (1 Cor. 12:25). Aqui é a mesma palavra, divisão, segundo o Espírito Santo. O problema é extremamente sério, pois não se trata de uma divisão em um clube, em uma escola, em uma organização; mas uma divisão no corpo.

Como Paulo trata aquela igreja? «…à igreja de Deus que está em Corinto» (1:2). Mais adiante, o apóstolo diz: «Vós, pois, sois o corpo de Cristo». A igreja em Corinto é a expressão local do corpo de Cristo. Paulo usa quatro capítulos para tratar o problema. Como um corpo pode ser separado? Como pode haver nele juntas deslocadas?

Depois da Reforma, o mundo escreveu a respeito daquele sucesso. Um historiador comentou: «A Reforma é um grande evento na história. Martinho Lutero fez um grande trabalho, porque desde então o mundo não é o mesmo». Na história universal, o século XVI é uma marca: há um antes e um depois da Reforma.

Outro historiador diz: «antes de Lutero, havia uma Europa unida; o mundo era um, porque o Império Romano era um». Isto sucedeu, em especial, quando a igreja se enlaçou com o mundo. Quando vemos que quase a metade das terras da Europa pertencia à igreja institucionalizada, podemos entender como a Europa era uma. Mas, depois da Reforma, a Europa foi dividida.

A ameaça do sectarismo

Mas, isso era divisão? Era essa a unidade que estava na mente de Deus? A Palavra nos mostra que o conceito se refere a uma divisão no corpo. Isso é algo muito sério. Em Corinto, uns diziam: «Eu sou de Paulo; e eu de Apolo; e eu de Cefas; e eu de Cristo» (1:12). Há apenas uma igreja, um corpo; mas estão divididos. Por isso Paulo se esforça tanto para tratar a situação.

Lembremos-nos de Apolo; ele era tão eloquente, era um erudito, e ele realmente ajudou aos santos em Corinto. Isso atraiu às pessoas, e alguém disse: «Eu sou de Apolo».

E quanto a Pedro, lembrem que havia alguns judeus em Corinto. Pedro visitou Corinto, ele era um dos Doze e vinha de Jerusalém. E foi por causa disso que alguns disseram: «Fomos muito ajudados por Cefas».

Não há nada errado com Paulo, com Apolo ou com Pedro. Eles foram servos do Senhor utilizados para aperfeiçoar a igreja, mas infelizmente o nosso vaso é tão pequeno. A igreja de Cristo é tão grande, mas aqui vemos quão meninos eram os irmãos em Corinto.

«Vocês são uma denominação, nós não somos; vocês são tradicionais, nós somos a igreja». Tal é o espírito de sectarismo. Você fala algo correto, mas seu espírito está errado. Quando diz: «Você não é de Cristo; eu sou de Cristo», lembre: aqueles que são de Cristo, os que proclamam ser dele e também aqueles que não dizem nada, realmente são dele.

Um pecado corporativo

Há uma possibilidade de que estejamos fazendo algo divisível no nome da unidade. Dividir o corpo é um pecado corporativo.

Quando vemos uma pessoa bêbada, dizemos: «Pobre homem, como está destruindo o seu corpo!». Mas quando há divisões no corpo, não sabemos o que isso significa até que um dia realmente sente uma junta tua deslocada.
A igreja é o corpo de Cristo. Quando ela está dividida, quem sente a dor? Agora entendemos por que isto era tão sério em Corinto, não só pelas divisões, mas por causa do espírito de divisão.

«Porque fui informado a respeito de vós, meus irmãos, pelos de Cloé, que há entre vós contendas» (V. 11). Não é um problema termos interpretações diferentes, como ocorria com Os Irmãos na Inglaterra: Darby cria que a igreja seria arrebatada antes da tribulação, enquanto George Müller afirmava que ela passaria pela tribulação, e Robert Chapman sustentava que apenas os vencedores seriam tirados da tribulação.

Podemos ter opiniões diferentes, mas devemos esperar. Quem sabe se um dia o Senhor abrirá os meus olhos e verei então algo que não via antes. Esperemos um pouco. Podemos diferir em alguns temas, mas no que é fundamental, compartilhamos a mesma fé. As interpretações diferentes não deveriam nos separar.

Mas aqui, «contendas», significa que você insiste em fazer algo, querendo unificar as opiniões. Nós cremos no batismo por imersão; mas, ao unificar isso, dizemos: «Nós estamos dentro, e essas outras pessoas estão fora».
Cremos que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Isso sim é fundamental. Se você crê, é de Cristo, e se Cristo já te aceitou, eu não tenho por que te rejeitar.

Errando o caminho

As lutas se dão quando alguém quer unificar, crendo que só a sua interpretação é válida. Sabemos que a palavra de Deus é infalível, que não contém enganos; mas a sua interpretação ou a minha podem falhar.

Todos podem cometer enganos, porque a verdade que cremos ver está apoiada nos dados que tiramos da Bíblia, mas, quem pode dizer que você tem todos os dados da Bíblia?

Os pioneiros da Reforma tiveram uma grande contribuição com a palavra de Deus, mas ao converter-se em um sistema fechado, eles disseram: «Nossa interpretação é igual à palavra de Deus». Em seguida vieram os dispensacionalistas; eles viram coisas que outros não tinham visto antes. E outra vez, eles formaram um sistema fechado e disseram: «Nossa interpretação é igual à palavra de Deus».

Quando se tenta construir um conceito unificado, surge a divisão. Nós somos um por causa da Vida, não por causa da luz que temos na Palavra. Se seguirmos este último, haverá contendas. Em Gálatas capítulo 5, Paulo apresenta uma lista das obras da carne, e uma delas são as contendas.

Paulo diz: «De maneira que eu, irmãos, não pude vos falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo» (1 Cor. 3:1). Isso foi quando ele visitou Corinto pela primeira vez. Ele esperava que tivessem crescido; mas depois de quatro anos, o que ocorreu? «Leite vos dei a beber, e não alimento sólido; porque ainda não sois capazes, nem são capazes ainda» (v. 2). Eles eram ainda bebês em Cristo, e não cresciam.

Agora, como você sabe se é um bebê em Cristo ou já é amadurecido? «…porque ainda sois carnais; pois havendo entre vós ciúmes, contendas e dissensões, não sois carnais, e andais como homens? Porque dizendo alguns: Eu certamente sou de Paulo; e o outro: Eu sou de Apolo, não sois carnais?» (vs. 3-4). Aqui está a raiz da enfermidade. Então, qual é a solução? Vejamos a palavra de Deus.

A palavra da cruz

A primeira carta aos Coríntios se divide em duas partes. A primeira, até o capítulo 11, trata o problema das divisões e outras coisas negativas, as carnalidades. E no primeiro versículo do capítulo 12 lemos: «os dons espirituais». Entretanto, no grego não aparece a palavra dons. Na realidade, do capítulo 12 até o final da carta, Paulo fala das coisas espirituais.

Vendo o problema do ângulo negativo, nossa carne deve ser tratada; a cruz deve fazer a sua obra. E qual é o lado positivo? Sendo carnais, é necessário que a cruz opere profundamente em nossa vida; em seguida, as juntas deslocadas serão reparadas. É uma experiência dolorosa, mas necessária.

Se você não vê a unidade da igreja, se vê divisão após divisão no corpo, então, a cruz torna possível o «não mais eu», e em seguida o Espírito Santo nos mostra que Cristo habita em nós. A solução positiva, que nos conduz à unidade do corpo, começa no capítulo 12.

Os irmãos em Corinto tiveram que aprender algumas lições. Eles estavam no período da adolescência. Não lhes faltavam dons; estavam na escola de Cristo, enriquecidos em tudo. Agora o Senhor quer ajudá-los a crescer. De outra maneira, seguirão sendo carnais. Esse é o veredito do céu.

Como tratar com as divisões? Você não é responsável por toda a situação, mas é responsável por sua própria vida. Tem de ir ao Senhor, permitindo que a cruz opere em você. Lembre: a divisão é o sinal da carne, e a unidade é o sinal do Espírito Santo. Por isso temos a cruz e a obra do Espírito. Quando experimentamos a ambos, então, pela misericórdia do Senhor, voltaremos ao princípio.

Na primeira carta aos Coríntios, isso é exatamente o que ocorreu. Só vinte e quatro anos depois da primeira visita de Paulo, a igreja já estava dividida em quatro facções. Uma divisão no corpo é uma tragédia; se você realmente vir isso, seu coração sentirá dor.

Um fato abominável

Muito mais tarde, perto do ano 96 depois de Cristo, um líder da igreja em Roma chamado Clemente, em uma carta aos crentes em Corinto relata outro grande conflito nesta igreja. No princípio, tudo era correto; depois de quatro anos estavam divididos, e quarenta e quatro anos depois do nascimento da igreja, Clemente descreve «uma divisão abominável e não santa».

Clemente usou uma palavra muito forte, «abominável», associada biblicamente com o culto aos ídolos. Essa crise foi tão séria, que Clemente disse: «O nome do Senhor foi blasfemado». Podemos imaginar a magnitude dessa dissensão, cujo efeito ocasionou no afastamento de muitos, outros desapareceram, outros duvidaram e isso provocou uma absoluta decepção. Tal tragédia ocorreu no final do primeiro século.

Ao lermos a Clemente, pode-se sentir o peso de suas palavras. Ele diz: «Peguem a carta do bendito apóstolo Paulo. O que foi a primeira coisa que ele falou quando começou a pregar o evangelho? Com certeza, debaixo da direção do Espírito, ele escreveu a respeito de si mesmo, de Cefas e de Apolo, porque já naquele tempo haviam criado facções».

Uma enfermidade crônica

Aquilo ocorreu no primeiro século, e é uma lição importante para nós. A divisão no corpo não é uma enfermidade comum, mas uma enfermidade crônica. E depois de dois mil anos, vemos hoje 38.000 divisões. Ao olharmos para a história da igreja, parece um caso sem solução. Poderíamos pensar que é melhor concentrar-se na vida espiritual individual, pois a vida corporativa é uma experiência dolorosa.

Mas, graças a Deus, há uma saída. A resposta está na palavra da cruz, enfatizada na primeira carta aos Coríntios. É muito claro, o modo em que fomos salvos é o modo no qual seremos livres das divisões: o caminho da cruz.

«Porque a palavra da cruz é loucura para os que se perdem; mas para os que se salvam, isto é, a nós, é poder de Deus» (1 Cor. 1:18). Ao enfrentar um problema difícil, você necessita de uma resposta. O mundo te dará alguma solução. Se perguntarmos aos judeus, a sua solução é o poder; para os gregos, a sabedoria.

Entretanto, ao enfrentarmos a divisão no corpo, aquelas soluções não funcionam. «Porque os judeus pedem sinais, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, para os judeus certamente tropeço, e para os gentios loucura; mas para os chamados, tanto judeus como gregos, Cristo poder de Deus, e sabedoria de Deus» (vs. 23-24).

O néscio e o fraco

A cruz é o lugar onde encontramos o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Onde acharemos a forma de reconciliar a justiça e o amor, o poder supremo e a sabedoria no seu ponto mais elevado, a não ser na cruz? «Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens» (v. 25). Esta é a palavra da cruz.

A cruz foi um fato histórico. A Bíblia chama isso a palavra da cruz; mas qual é a sua aplicação? Há dois aspectos: um, a respeito da salvação. Só quando é néscio, quando é fraco, podes crer no Senhor Jesus Cristo e ser salvo. Se creres que é sábio, não vais necessitar de salvação. Se reconhecer tua falta de sabedoria, então o Espírito Santo toca o teu coração. «Deus escolheu as coisas loucas do mundo, para envergonhar os sábios, e Deus escolheu as coisas fracas do mundo, para envergonhar ao forte» (v. 27). Essa é a palavra da cruz.

Uma frase chave: «Mas por ele estais vós em Cristo Jesus, o qual nos foi feito por Deus sabedoria, justificação, santificação e redenção; para que, como está escrito: aquele que se gloria, glorie-se no Senhor» (vs. 30-31). Só vindo para a cruz é que teremos sabedoria, justiça, santificação e redenção. Assim fomos salvos.

Para resolver o problema das divisões, Deus faz exatamente o mesmo: a forma em que foi salvo é a mesma em que será libertado das divisões. «Ninguém se engane a si mesmo; se alguém entre vós se crê sábio neste século, faça-se ignorante, para que chegue a ser sábio» (1 Cor. 3:18). Se crermos que somos sábios, o Espírito Santo operará para que vejamos nossa necedade, e ao receber a comunhão da cruz, então teremos a sabedoria de Deus.

«Porque a sabedoria deste mundo é insensatez para com Deus; pois escrito está: Ele prende os sábios na astúcia deles. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos. Assim que, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o porvir, tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus» (vs. 19-23).

A sabedoria deste mundo diz: «Eu sou de Paulo; e eu de Apolo; e eu de Cefas; e eu de Cristo», mas a obra da cruz fará o contrário. Não diga que pertence a Paulo; Paulo te pertence, Cefas te pertence, Apolo te pertence. Você pertence ao corpo de Cristo. Obrigado por Paulo, mas ele é só um membro do corpo; a sua sabedoria é apenas de um dos membros do corpo de Cristo.

Por que você apequena a igreja? Se Paulo nos pertencer, Apolo e Cefas nos pertencem, a verdade da justificação pela fé, o batismo por imersão e a verdade da santificação pela fé, também nos pertencem. Todas essas verdades, todas essas pessoas, são para enriquecer o corpo de Cristo.

O jovem rico que disse Sim

Vejamos uma história real. Na história da igreja houve grandes avivamentos. Quando o fogo se acendeu, houve um despertar na Alemanha, com o pietismo; na Inglaterra, com John Wesley; nos Estados Unidos, com John Whitefield, e muitos outros.

Entretanto, não há um avivamento maior que o da igreja morávia. Na fronteira da Alemanha com a república tcheca, no ano 1727, o Senhor usou um vaso chamado Nicolas Von Zinzendorf, um dos personagens mais cristocêntricos da história da fé. Quando tinha apenas seis anos de idade, escrevia cada dia uma carta para o Senhor, jogava-a da janela do castelo, e orava: «Amado Senhor, envia um anjo para pegar esta carta de amor para ti».

Ao terminar a universidade, segundo o costume dessa época, Zinzendorf fez uma viagem pela Europa. Um dia chegou a Dusseldorf (Alemanha), entrou em um museu de arte, e viu um retrato do sofrimento de Cristo chamado Ecce Homo, com uma inscrição em latim na sua borda inferior: «Isto eu sofri por ti. O que você fará por mim?».
Zinzendorf era um conde, um nobre, como aquele jovem rico na Bíblia, mas a diferença daquele que disse Não ao Senhor, naquela galeria, este jovem disse Sim. Esquecendo-se de todo o resto, ele se consagrou ao Senhor. Só quando alguém tocou o seu ombro, pode notar que já anoitecia.

Dissensões em Herrnhut

Nessa época havia muitos refugiados provenientes da Moravia, Bohemia e outros lugares. O coração de Zinzendorf se abriu; ele tinha grandes posses, e dispôs para eles um lugar que chamou Herrnhut. Um irmão chamado Christian David, viajava entre a Moravia e Herrnhut, trazendo refugiados para ali.

Os irmãos morávios tinham visto a luz um século antes de Lutero. Eles seguiam fielmente a palavra, e tinham sido perseguidos e expulsos de sua pátria. Eles tinham a visão da igreja, mas na Alemanha, sendo refugiados, não tinham outra opção a não ser reunir-se com os luteranos, que era a religião oficial.

No partir do pão, eles não podiam suportar que os luteranos usassem um tipo de hóstia, e resistiam estas e outras coisas; mas eram estrangeiros ali, então prosseguiam, e se adicionavam a outros.

Em Herrnhut não só havia luteranos, mas também crentes nominais; outros eram pietistas, que estudavam a Bíblia todos os dias, oravam e se reuniam pelas casas. E havia deste modo calvinistas, que criam na dupla predestinação e seguiam a Calvino quase de maneira absoluta.

Um momento crucial

Ao chegarem a Herrnhut, cada um trazia a sua própria ideia. Por isso, este avivamento é único. Em Herrnhut, foi plantada uma árvore, diante do qual puseram um versículo do Salmo 84: «Até o pardal acha casa, e a andorinha ninho para si». Que lindo! Finalmente, não eram mais vagabundos, não havia mais perseguição. Aquilo era como o céu na terra. Mas cinco anos mais tarde, Christian David dizia: «Este lugar é como Sodoma e Gomorra. Quero sair daqui!».

O que havia acontecido? Por acaso Herrnhut não era um Corinto em pequena escala? Mas graças ao Senhor por Zinzendorf. Uma tarde de maio de 1727, ele falou com todos durante quatro horas. O Espírito Santo estava operando. Ele lhes exortou assim como Paulo rogava aos Coríntios. As consciências foram despertadas; todos admitiram que tivessem errado o caminho e confessaram os seus pecados uns aos outros, chorando.

Desde esse dia, a obra prosseguiu, e mais tarde Zinzendorf escreveu em seu Diário: «Este era o momento crucial. Herrnhut podia converter-se em outra denominação ou tornar-se a verdadeira igreja de Deus. Ninguém senão Ele pôde fazer esta obra».

Em 13 de agosto de 1727, estando todos reunidos para partir o pão, algo ocorreu em Herrnhut. A maioria deles era alemães, que não são muito emotivos; mas aquele dia ao cantarem os hinos, podiam-se ouvir soluços. O local era pequeno, mas fora, no pátio, havia mil irmãos. O Espírito Santo fez uma obra prodigiosa. Christian David escreveu: «É um milagre do Senhor; há tantos tipos de seitas: católicos, luteranos, reformados, separatistas e laicos, mas nos reunimos juntos, sendo apenas um».

Outro líder disse: «Fomos batizados pelo próprio Espírito Santo em seu amor. A partir daquele tempo, Herrnhut se transformou em uma congregação viva de Cristo». Foi um dia de derramamento do Espírito Santo, o seu Pentecostes. O Senhor produziu um avivamento, onde envolveu emoções, lágrimas e arrependimento. Sendo nós humanos, em todo avivamento haverá emoções.

Um testemunho de John Wesley

Depois de onze meses, tudo pôde ser concluído; mas onze anos mais tarde, depois de visitar Herrnhut, John Wesley, escrevia ao seu irmão Samuel: «Deus concedeu o desejo do meu coração; estou em uma igreja cujo falar é celestial, onde está a mente de Cristo, e que caminha como Cristo». Em seu Diário ele escreveu: «Passaria toda a minha vida feliz aqui, mas meu Mestre me chama para trabalhar em outros lugares de sua vinha. Oh, quando este tipo de fé cobrirá a terra como as águas cobrem o mar?».

«Toda comunhão que se apoia apenas em concordância de opiniões e formas, sem mudança de coração, é uma seita perigosa» (Zinzendorf).

A igreja, uma nova criação

Sem dúvida, eles foram ajudados por Lutero, mas não são luteranos; receberam apoio dos pietistas, mas não são pietistas; receberam contribuição dos reformados, que conheciam muito bem as Escrituras, mas sempre perseveraram na unidade do testemunho de Cristo. Lutero e Wesley são deles, e deste modo as verdades do sacerdócio universal de todos os crentes, a justificação pela fé, e tantas outras coisas.

A obra do Espírito Santo pode reverter tudo de maneira preciosa. A igreja é sempre uma nova criação. Não pode importar a igreja do lugar de onde você vem. Pode ajudar, mas ninguém deve dizer: "Eu sou wesleyano", ou "Eu sou luterano".

Este avivamento durou pelo menos onze anos. Mais ainda, no verão do mesmo ano, eles iniciaram uma vigília de oração, com 48 irmãos e irmãs. Cada um orava meia hora. Sempre havia alguém orando, não para si mesmo, mas para a obra de Deus, até que Deus realmente estabelecesse o seu testemunho. O fogo do avivamento se espalhou pela Europa e os Estados Unidos. Quanto durou essa oração? Cem anos, desde 1727 até 1828! Aquilo era uma obra do Senhor. O Senhor levantou um glorioso testemunho na Inglaterra através de John Darby, George Müller e Robert Chapman, e duzentos anos depois, em 1928, o Senhor levantou alguns jovens na China e também na Índia.

Graças a Deus, a cruz é o único método para reparar as divisões no corpo de Cristo. O exemplo da igreja em Corinto em relação a esta enfermidade crônica nos dá hoje muita ajuda e ensino. Que o Senhor fale com os nossos corações.

Síntese de uma mensagem ministrada em Temuco (Chile), em setembro de 2012.

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