Anunciando o Evangelho

Como transmitir ao mundo a mensagem divina da salvação eterna.

Rodrigo Abarca

Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis que envio ante a tua face o meu mensageiro, que há de preparar o teu caminho;voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas;... Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galileia pregando o evangelho de Deuse dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho” (Mar. 1:1-3, 14-15).

O evangelho de Marcos começa com uma declaração imediata do seu propósito: Seu tema é o evangelho de Jesus Cristo. Os gregos usavam a palavra evangelho para referir-se a uma notícia extraordinária. E o que se anuncia aqui, a grande noticia, é Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Deus vem até os homens

Como estava profetizado, Deus vem até os homens. Diante de tal anúncio, a reação de pecadores como nós, seria normalmente de temor. Mas a boa notícia é que ele não veio condenar, mas para salvar os perdidos. Por isso diz: «Preparai o caminho do Senhor».

Na história de Israel, Deus sempre interveio para libertar o seu povo quando ele estava em dificuldades. Quando se anunciava que o Senhor vinha, significava sempre salvação. Depois que João o Batista foi preso, Jesus veio a Galileia apregoando a boa notícia: «O tempo se cumpriu, e é chegado o reino de Deus; arrependei-vos, e crede no evangelho». O reino de Deus significa a Presença Divina no mundo, atuando a favor de nós. Isto é maravilhoso.

«Quão formosos sobre os montes são os pés do que anuncia as boas-novas, que proclama a paz, que anuncia coisas boas, que proclama a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!» (Is. 52:7). Não é uma mera declaração teológica. Significa que Deus tem poder e autoridade para salvar realmente ao seu povo.

«O deserto e a terra sedenta se regozijarão; e o ermo exultará e florescerá;como o narciso florescerá abundantemente, e também exultará de júbilo e romperá em cânticos; dar-se-lhe-á a glória do Líbano, a excelência do Carmelo e Saron; eles verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus.Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes.» (Is. 35:1-3), porque vem o Senhor.

«Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais; eis o vosso Deus! com vingança virá, sim com a recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará.» (v. 4). Esta recompensa se refere aos que nos oprimem e nos causam dor. Ele deve destruir os nossos inimigos: a morte, o pecado, os poderes das trevas.

«Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se desimpedirão.Então o coxo saltará como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo.» (V. 5-6). Esta é uma notícia para saltar de alegria, desprezando a angústia e o temor.

«O tempo se cumpriu, e é chegado o reino de Deus». Agora, o reino dos céus está aqui entre nós, porque o próprio Senhor veio. Jesus é Emanuel, Deus conosco.

Jesus, a boa nova

«O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos» (Is. 61:1). Estas são as palavras que o próprio Jesus citou na sinagoga de Nazaré, no começo do seu ministério.

Pensa em alguém cujo coração está quebrantado pela dor; mas agora lhe oferece consolo. Ou um cativo, que não tem como ser livre, mas vem alguém que rompe as suas cadeias. Não é isso uma boa notícia? «…e a abertura de prisão aos presos». Alguém está na prisão e espera uma sentença de morte; mas chega o indulto. Que alegria! Isso é o evangelho: Liberdade aos cativos.

«…a proclamar o ano da boa vontade do Senhor» (V. 2), ou o ano do jubileu. Em Israel, aquele era o ano em que se perdoavam todas as dívidas. Imagine que você está cheio de dívidas, angustiado, porque não tem como pagar. Então, alguém cancela todas as suas dívidas. E não só isso, mas também tudo o que foi perdido volta para ti. Isso é o evangelho.

«…o dia da vingança do nosso Deus». Este é o dia em que Deus tomará vingança dos nossos inimigos, nos libertando do jugo de opressão. «…a consolar a todos os tristes». A perda de alguém que amamos é terrível. Mas Ele veio dar vida aos mortos e nos outorgar uma esperança eterna: a morte não é o final, é apenas o princípio da vida eterna com ele.

«…a ordenar acerca dos que choram em Sião que se lhes dê uma grinalda em vez de cinzas, óleo de gozo em vez de pranto, vestidos de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que ele seja glorificado» (v. 3). Tudo isto se encarnou em Jesus Cristo. Ele é a boa nova.

Aprendendo do Mestre

Em Marcos 3:13-15 lemos que Jesus chamou a outros homens para fazê-los participantes da sua missão. «Depois subiu ao monte, e chamou a si os que ele mesmo queria; e vieram a ele.Então designou doze para que estivessem com ele, e os mandasse a pregar;e para que tivessem autoridade de expulsar os demônios».

O Senhor lhes encarregou a irem e anunciar o evangelho. Mas, o primeiro requisito para serem enviados era que tinham que estar com ele, porque a mensagem que foram divulgar era Ele mesmo. Eles aprenderam a anunciar o evangelho olhando para o Senhor. Ele é o evangelho.

Como podemos compartilhar a boa nova com outros? De quem podemos aprender? De Jesus, o Mestre dos mestres. Olhando para ele, saberemos como comunicar as boas novas, e também podemos aprender com os seus discípulos, daqueles que estiveram com ele. Esta é uma preciosa lição: Jesus é o evangelho. Ele é o mensageiro e é também a mensagem que é anunciada.

Pois bem, há um aspecto vital que devemos ressaltar: Jesus não nasceu em um ambiente social relevante. Quando o Verbo se fez carne, escolheu uma família humilde e foi contado entre os pobres de Israel. Por que ele escolheu esse caminho para anunciar dali o evangelho?

O poder do alto

Deus deixa claro que aquele poder do evangelho para salvar não tem nada a ver com os poderes do mundo. Deus é suficiente para salvar, porque ele é Todo-poderoso. Quando Maria, a mãe de Jesus, recebeu a notícia de que O Salvador do mundo ia nascer dela, pareceu entender muito bem esta dimensão do evangelho: «Então Maria disse: A minha alma engrandece ao Senhor; e o meu espírito se regozija em Deus meu Salvador. Porque olhou a humildade da sua serva» (Luc. 1:46-48).

O Senhor escolheu uma mulher humilde, sem nenhuma influência ou poder, que tinha um olhar de desprezo pelo resto da sociedade. Maria constata um fato fundamental: o evangelho não é associado com os poderes terrenos. Quando Jesus veio ao mundo, entrou sustentado apenas por aquele poder do reino dos céus. Por isso, para aprofundar neste e em outros aspectos mais, consideremos uma história do Antigo Testamento, que ilustra muito bem alguns princípios fundamentais do evangelho.

As ideias do paganismo

As nações antigas pensavam que o êxito era sinal que uma pessoa era favorecida pelos deuses. Por isso, os reis acabavam sendo divinizados. Por isso, se alguém requeria ajuda dos deuses, ia aos poderosos. Todos pensavam assim, salvo Israel. Porque o Deus de Israel não era o Deus dos poderosos, mas dos humildes, das viúvas, dos órfãos e dos estrangeiros.Deus resgatou um povo de escravos, identificando-se assim com os desapossados. Certamente,

também encontramos que Deus atuou através de alguns reis, como no caso de Davi ou Salomão. Em Israel, o rei estava submetido à lei de Deus, e teria êxito apenas se fosse obediente. Entretanto, não existia uma identificação direta entre Deus e os poderosos. Todo Israel sabia isto; mas, obviamente, os pagãos não sabiam. À luz deste fato, revisemos agora a história de Naamã.

Naamã o leproso

«E Naamã, capitão do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor, e de muito respeito; porque por ele o Senhor dera livramento aos sírios; e era este homem herói valoroso, porém leproso» (2 R. 5:1).

Naamã era chefe dos exércitos do rei. Segundo as ideias dos pagãos, era um homem direcionado pelos deuses. «Por meio dele tinha dado o Senhor salvação a Síria». Era um herói extremamente valente, «mas leproso». Esta é a situação real de todo ser humano.Há uma falha fundamental na natureza humana: cada um de nós é mais corrupto do

que jamais imaginou ser. Na Bíblia, a lepra é figura do pecado. Este é o diagnóstico da raça humana. Por isso, todas as coisas que os ídolos possam dar: riqueza, poder político, fama, etc., serão incapazes de nos salvar do nosso problema fundamental.

Este homem tinha tudo, mas nada disso podia curar a sua lepra. Não havia poder neste mundo capaz de curá-lo. A lepra é uma enfermidade terrível que corrói lentamente de dentro para fora, até que a carne se desfaça. Assim é o efeito do pecado quando corrompe a vida humana.

Uma boa notícia

«E saíram tropas da Síria, da terra de Israel, e levaram presa uma menina que ficou ao serviço da mulher de Naamã.E disse esta à sua senhora: Antes o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra» (vs. 2-3). Assim veio a salvação a Naamã. Essa moça israelita havia perdido tudo, e o causador final de sua tragédia era Naamã, o general sírio.Com toda justiça, ela devia pensar que Naamã merecia o

pior dos castigos. Mas, esta jovem representa o evangelho: «Há um Deus verdadeiro que tem o poder para curar». Ela se sacrificou a si mesma e encarnou o amor de Cristo para quem não merecia, dando a boa notícia.

Naamã chegou feliz diante do rei da Síria. E em sua mentalidade pagã, pensou: «Se for a Israel e tiver entendimentos com o seu Deus, seguramente terei que falar com o homem mais poderoso de Israel». Mas, ele ignorava que em Israel reinava um homem ímpio.«Então disse o rei da Síria: Vai, anda, e enviarei uma carta ao rei

de Israel. E foi, e tomou na sua mão dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupas» (v. 5). A carta do rei da Síria seguia a lógica do pensamento pagão: «E levou a carta ao rei de Israel, dizendo: Logo, em chegando a ti esta carta, saibas que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o cures da sua lepra» (v. 6).

Entretanto, «E sucedeu que, lendo o rei de Israel a carta, rasgou as suas vestes, e disse: Sou eu Deus, para matar e para vivificar, para que este envie a mim um homem, para que eu o cure da sua lepra? Pelo que deveras notai, peço-vos, e vede que busca ocasião contra mim» (v. 7). Apesar de sua impiedade, este rei sabia que não tinha privilégios especiais com respeito ao Deus de Israel, e imaginou que esta carta era um pretexto para a guerra.

«Sucedeu, porém, que, ouvindo Eliseu, homem de Deus, que o rei de Israel rasgara as suas vestes, mandou dizer ao rei: Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel» (v. 8). Assim que o rei, rapidamente se desfez do problema, enviando Naamã para falar com Eliseu.

A assombrosa obra de Deus

«Veio, pois, Naamã com os seus cavalos, e com o seu carro, e parou à porta da casa de Eliseu» (v. 9). Entretanto, para a sua surpresa, Eliseu lhe enviou um servo e nem sequer saiu para recebê-lo pessoalmente. O Deus de Israel operou tudo através dos mais humildes, e não dos poderosos. Certamente, Naamã se sentiu ofendido. Mas Deus estava levando Naamã pelo caminho do evangelho, para assim curá-lo.

A palavra de Deus foi: «Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será curada e ficarás purificado» (v. 10). Era algo tão simples. Assim é a dádiva do evangelho, mas para Naamã, isto não lhe pareceu digno de um herói como ele, e disse: «Porém, Naamã muito se indignou , e se foi, dizendo (em seu coração orgulhoso): Eis que eu dizia comigo: Certamente ele sairá, pôr-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o leproso» (V. 11). Naamã tinha uma ideia pomposa de sua própria importância e de como teriam que ocorrer as coisas. Aquilo o decepcionava.

Por que lavar-se sete vezes? Porque Deus trabalhou seis dias, e no sétimo repousou de toda a sua obra. O 7 é o número do descanso, da obra consumada de Deus em Cristo. Entrar nesse número significa descansar das nossas obras e repousar totalmente na obra de salvação. Deus estava dizendo a Naamã que devia confiar no que Deus podia fazer por ele.

Um presente imerecido

«Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles, e ficar purificado? E voltou-se, e se foi com indignação» (v. 12). Como é o coração humano! Quão difícil é ao homem entender a graça de Deus, que ele nos dá não porque nos deva algo, mas simplesmente porque nos ama. Sua salvação é simplesmente um presente imerecido.

Em seguida, pela terceira vez, Deus age por meio dos humildes. «Então chegaram-se a ele os seus servos, e lhe falaram, e disseram: Meu pai, se o profeta te dissesse alguma grande coisa, porventura não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te, e ficarás purificado» (v. 13). Isto é um presente, nada do que faças te salvarás. Mas se você crê e aceitar o que te é dado, como uma dádiva imerecida, seguirá o melhor caminho.

«O reino de Deus é chegado; arrependei-vos», significa: Deixa de lado o teu orgulho, teus intentos inúteis e apenas creia, confie, porque Deus te ama. Não precisa ganhar o seu favor; ele te ama e ele quer te salvar. «Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado» (v. 14).

Não é maravilhoso o evangelho? Recebemos o que não merecíamos; ele nos dá o que nunca pudemos obter por nós mesmos. É um presente, de pura graça.

Uma conversão real

«Então voltou ao homem de Deus, ele e toda a sua comitiva, e chegando, pôs-se diante dele, e disse: Eis que agora sei que em toda a terra não há Deus senão em Israel» (v. 15). Este homem se converteu dos ídolos ao Deus vivo e verdadeiro. «Rogo-te que recebas algum presente do teu servo». Mas o profeta não aceitou. A salvação não se pode comprar. Segue sendo graça até o final.

«E disse Naamã: Se não queres, dê-se a este teu servo uma carga de terra que baste para carregar duas mulas; porque nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao SENHOR.Nisto perdoe o SENHOR a teu servo; quando meu senhor entrar na casa de Rimom para ali adorar, e ele se encostar na minha mão, e eu também tenha de me encurvar na casa de Rimom; quando assim me encurvar na casa de Rimom, nisto perdoe o SENHOR a teu servo.E ele lhe disse: Vai em paz. E foi dele a uma pequena distância» (17-19).

Como mudou o coração deste homem! Conheceu o verdadeiro Deus, e agora, em lugar de ser Naamã o poderoso, diante do qual outros deviam inclinar-se, inclina-se diante do verdadeiro Deus. Isto é o evangelho, que nos liberta dos ídolos do mundo, para adorar ao único e verdadeiro Deus.

O evangelho tradicional

O Senhor tinha chamado doze discípulos para a pregação do evangelho. Eles não só aprenderam o conteúdo da mensagem, mas também como anunciar o evangelho a outras pessoas. Vejamos, pois, como Jesus pregava o evangelho.

Quando eu era jovem, havia na igreja uma forte ênfase na evangelização. O evangelismo era um tipo de metodologia que era necessário aprender para pregar. A ideia de evangelizar ia associada com uma metodologia que consistia basicamente em identificar os «quatro passos para ser salvo», ou as quatro leis espirituais. Quer dizer, uma apresentação sistemática da teologia do evangelho.

Eu tinha quinze anos quando me converti, e isto era para mim um problema. Por exemplo, quando ia ao colégio, no micro-ônibus, ia pensando se tinha que falar com quem ia ao meu lado daqueles quatro passos para a salvação. Eu era tímido, e apenas um par de vezes me atrevi a abordar alguém.

Outra estratégia era a campanha, onde havia um pregador, música e gente que ia para ouvir. Os métodos do evangelismo tradicional podem servir ou não, de acordo à situação, o contexto histórico ou cultural, etc., porque se supõe que as pessoas a quem pregamos têm algum conhecimento prévio de Deus.

Problemática do mundo atual

Se dissermos a alguém que é um pecador, eu suponho que ele entenda o que é ser um pecador. O problema é que hoje o mundo não entende o que é ser um pecador, porque nem sequer sabe quem é Deus, nem o que significa pecar contra ele. Se hoje partirmos com esta estratégia, é provável que os resultados sejam pobres.

Tempos atrás, ao anunciar o evangelho, bastava às vezes falar com as pessoas por 15 ou 20 minutos, e elas faziam uma decisão e se entregavam ao Senhor. Mas os jovens de hoje sabem que isso já não ocorre tão facilmente, porque quando dizemos a alguém que é um pecador, ele pode se ofender, ou nos acusar de sermos desrespeitosos e intolerantes.

O mundo mudou. A visão cristã do mundo, antes compartilhada pela maioria das pessoas, já não é mais a mesma. Muitos possuíam um contexto religioso, e tinham uma ideia de quem era Deus, o pecado, o inferno e a salvação. Existia ainda uma cosmovisão cristã culturalmente dominante. Mas hoje já não é assim. É provável que as pessoas menores de trinta anos não tenham a menor ideia destas coisas, ou só as saibam como uma espécie de história antiga, mas sem valor para a sua vida.

Então, pregar o evangelho não é necessariamente falar dos quatro passos ou alguma metodologia similar. Por esta razão, precisamos voltar para Jesus Cristo, o mestre dos evangelistas. Nele aprendemos como pregar as boas novas.

O amigo dos pecadores

Há uma passagem breve que pode nos ajudar neste caso: a história daquele homem pequeno chamado Zaqueu. Uma das coisas que irritava os religiosos do seu tempo era que Jesus se associava com as pessoas mais vis da sociedade. Claro, às vezes se sentava à mesa com os ricos, mas em geral, ele preferia estar com os mais desapossados, e não o fazia de uma posição de condescendência. A condescendência consiste em mesclar-se com pessoas a quem considera inferiores, mas no fundo do seu coração olha para eles com superioridade. Mas, Jesus não agia assim.

Watchman Nee, que foi usado por Deus para estabelecer a igreja em muitos lugares na China, diz que o Senhor lhe deu uma visão de como apresentar a Cristo ao mundo: como o amigo dos pecadores. Um amigo é alguém que fica ao seu lado e que tem empatia, que se aproxima de ti, não de maneira condescendente, mas de igual para igual. Neste contexto vejamos quem era Zaqueu.

Zaqueu era o chefe dos publicanos, uma classe de pessoas odiadas pela sociedade judaica. Em primeiro lugar, eles se aproveitavam da tragédia de sua nação; eram traidores e exploradores do seu povo. Em nossos dias, eles seriam odiados por todo mundo, incluindo a nós. Israel estava sob o domínio do império romano. E os romanos escolhiam entre os judeus homens que se ofereciam para o trabalho sujo de cobrar elevados impostos para César.

Além disso, os publicanos cobravam em excesso, e o dinheiro extra era para o seu benefício próprio. Se enriqueciam às custas da dor dos seus irmãos. Ninguém os cumprimentava na rua nem se misturava com eles; mas isso não lhes importava, pois tinham o favor dos romanos. Enquanto isso, o povo morria de fome e era oprimido. Para todo judeu, um publicano era um ser detestável e abominável.

Um chamado de amor

Mas este publicano, Zaqueu, queria conhecer a Jesus. Mas, por causa de sua baixa estatura, ele pensou que lhe seria difícil ver a Jesus no meio da multidão, pelo qual teve a ideia de subir em uma árvore de sicômoro.

Inesperadamente, Jesus, ao passar, levantou os seus olhos e os fixou em Zaqueu. O olhou, o reconheceu, e lhe disse: «Zaqueu, desce depressa, porque hoje é necessário que eu pouse em tua casa» (Luc. 19:5).

Jesus disse aquilo em voz alta, não em segredo, mas diante de toda a multidão, identificando-se com um homem desprezível para todos. Disto se trata o evangelho. Jesus não o condenou nem censurou a sua maldade. Ele sabia de tudo isso, mas também sabia que cada um de nós, incluindo homens como Zaqueu, é mais amado por Deus do que jamais nos atreveríamos esperar.

Por causa desse amor e essa compaixão divina, Jesus falou assim diante de todos, até arriscando que a rejeição social para com a sua pessoa fosse ainda maior. E em seguida foi a casa daquele homem. O assombroso é que não nos diz que Jesus essa noite explicou a Zaqueu os quatro passos da salvação de maneira explícita. Porque Ele era o evangelho. Suas obras eram o evangelho. Ao dizer: «Vou para a tua casa», Jesus estava lhe dizendo: «Deus te ama apesar de tudo».

Além disso, de uma maneira prática, mais que lhe anunciar que Deus lhe amava, Jesus lhe diz: «Vou jantar na tua casa». Este foi um ato de amor concreto e visível. E lhe foi tão impactante que, sentado à mesa, Zaqueu esteve todo o tempo olhando para Jesus e pensando como era que aquele homem tinha vindo a sua casa. Sua consciência pecadora começou a ser remexida pelo amor de Jesus, e de repente viu tudo com clareza: ele era um pecador malvado; mas havia salvação em Jesus.

«E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado» (v. 8). Então Jesus lhe disse: «Hoje veio a salvação a esta casa» (v. 9).

Nossa tarefa hoje

Às vezes, você diz: «Eu não tenho a capacidade de falar com eloquência, de apresentar com eficácia o plano de salvação». Provavelmente não; mas você também pode amar. Pode ser amistoso, pode ser compassivo, pode falar com aqueles que ninguém fala; pode se aproximar dos rejeitados, dos desprezíveis; pode estender a sua mão com amor aos que não merecem ser amados.

Você pode convidá-los para a tua casa ou visitá-los, pode se associar com os pecadores, porque disto se trata o evangelho. E não com a atitude condescendente do religioso que se justifica em si mesmo, mas com a atitude de Cristo, que se identifica com os pecadores. Pregar o evangelho não é apenas anunciar o plano de salvação. Tem que fazê-lo, sim; mas é necessário dá-lo a conhecer não só com nossas palavras, mas com nossa vida, tal como fez Jesus.

Se pensar que é difícil aproximar-se de pessoas pecadoras, olhe o que diz a Escritura com respeito a nós, em Tito 3:1: «Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam, e estejam preparados para toda a boa obra; que a ninguém infamem», mesmo que haja razão para falar mal de alguém. «Que não sejam contenciosos», que não vivam discutindo. O evangelho não se prega ganhando discussões, embora estas sejam por questões morais. Não, «senão amáveis».

Cristo era amável, e nós temos de ser amáveis como ele. «…mostrando toda mansidão para com todos os homens». E, qual é a razão de tudo isto? Esquecemo-nos de quem fomos antes que o Senhor nos alcançasse? Esquecemo-nos de onde o Senhor nos resgatou?«Porque nós também fomos em outro tempo insensatos», pessoas sem sabedoria; mas isso não impediu que o Senhor chegasse até nós. «…rebeldes», que não reconhecem nem se sujeitam a nenhuma autoridade, mas ele nos amou. «…extraviados», isto é, perdidos; mas, tão longe como estávamos, ele nos buscou e nos encontrou. Nós não fomos para ele; ele é que veio até nós.

«…escravos de concupiscências e diversos deleites». Tínhamos pecados vergonhosos que nos escravizavam. «…vivendo em malícia e inveja». Tínhamos más intenções em relação aos outros. Mas ele nos salvou e não se envergonhou de nós. Você crê que o evangelho é para as pessoas boas? Ainda sendo nós «…odiosos», difíceis de amar, Cristo nos amou. «…e nos odiando uns aos outros». Não fomos pessoas atrativas, nem fáceis de ser amadas; mas ele insistiu até ganhar o nosso coração.

E aqui está o resumo: «Mas quando se manifestou a bondade de Deus nosso Salvador, e seu amor para com os homens…» (v. 4). Deus ama a todos os homens, sem importar quem é ou como são. Como pode mudar isso? «…salvou-nos, não por obras de justiça que nós tivéssemos feito…». Tudo o que fizemos foi ofendê-lo, rejeitá-lo e até odiá-lo. Apesar disso, ele nos salvou eternamente.

Palavra fiel

Esse é o seu amor. Não pelo que tivéssemos feito, «mas por sua misericórdia, pelo lavar da regeneração e pela renovação no Espírito Santo» (v. 5). Não só nos perdoou, mas nos deu a sua própria vida, para que vivêssemos livres do poder do pecado, por meio do seu Espírito, «o qual derramou em nós abundantemente por Jesus Cristo nosso Salvador, para que justificados por sua graça, sejamos feitos herdeiros conforme à esperança da vida eterna» (vs. 6-7).

«Palavra fiel é esta, e nestas coisas quero que insista com firmeza…» (V. 8). Vivemos um tempo em que as palavras parecem não valer nada. Os homens usam a linguagem para manipular a outros, sem que a verdade lhes importe. Mas o evangelho é uma palavra fiel. «O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão» (Mat. 24:35). Se o Senhor nos disser que nos ama e que quer nos salvar, é exatamente o que ele fará, porque ele é fiel e verdadeiro. Não há outra palavra tão fiel e verdadeira no mundo como a palavra do evangelho.

Que o Senhor nos ajude. Que o evangelho renasça com poder e com glória em nossos corações. Que nos enchamos do gozo da salvação, não só para nós, mas para comunicar ao mundo a mensagem da salvação eterna: «Palavra fiel e digna de ser recebida por todos: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro» (1 Tim. 1:15).

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Temuco (Chile), em setembro de 2017.

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