Contado com os pecadores

Jesus foi contado com os pecadores para que você fosse contado com os seus santos na glória eterna.

Henry Law

“...e esteve ali no cárcere” (Gên. 39:20).

A prisão é um lugar humilhante e vergonhoso. Os que se chegam a ela são acusados de algum crime ou esperando o cumprimento da severa lei. Só seu nome nos lembra da infâmia e da morte. Os presos são malfeitores conhecidos, ou suspeitos de algum crime, a quem a sociedade rejeita. Seu nome está manchado. São como ervas daninhas que terão que ser arrancadas, ou como uma praga de que terás que fugir.

Mas, quem é o prisioneiro que achamos na cela que citamos acima? Essas paredes indignas encerram a um homem inocente. É o irreprochável José, que sem ter ofendido, é considerado como ofensor, e, sem ter transgredido, é tido por transgressor.

A voz de Jesus

Os deleites que proporcionam as Escrituras, e seu alento santificador, provêm de que a voz de Jesus se deixa ouvir em cada página, e sua imagem é recebida a cada instante. Há um exemplo bem claro nesta cena na prisão. José, acusado injustamente, prefigura a Jesus, que sendo santo foi feito pecado por nós. O próprio céu não é um trono bastante digno para Ele, e, entretanto, o vemos com os farrapos da prisão, e sofrendo a vergonha desse lugar iníquo. Por isso o Espírito diz: «Por cárcere e por juízo foi tirado».

Ao considerar esta verdade devemos nos fazer uma assombrosa pergunta: Por quem Jesus estava na prisão? A resposta é tão extraordinária que terá que meditá-la com frequência: Jesus estava na prisão pela justiça de Deus. Mas, por quê? Acaso tinha alguma mancha em sua vida? Pensar isto seria uma blasfêmia. Devemos rejeitar isto. A essência de seu ser é a santidade. Seu nascimento foi santo. Sua vida foi santa. Sua morte foi santa. Ressuscitou como um santo vencedor, e subiu na santidade do seu triunfo. O cetro do seu eterno reino é a santidade.

O substituto

Como, então, pôde a Justiça fazê-lo seu prisioneiro? A causa foi que, embora não houvesse sombra de pecado nele, teve que levar uma infinidade de pecados. Ele estava completamente afastado de ofender a Deus, não obstante teve que comparecer diante dele carregando com as transgressões de uma inumerável multidão. Esta é a divina graça de Deus: consentir em tirar a culpa do culpado e transferi-la para o inocente. Os pecados dos transgressores passam a seu Filho, que não tem pecado.

Isto é maravilhoso e certo ao mesmo tempo: «Jehová carregou nele o pecado de nós todos». Por conseguinte, Jesus é a garantia de que o nosso pecado foi perdoado.

Por causa desta substituição, Cristo aparece desfigurado pela enormidade da nossa culpa. De fato, é tratado e considerado como o autor de cada ação maligna, ou palavras e pensamentos iníquos que sujariam os redimidos. Por isso podemos compreender bem a agonia destas palavras: «As minhas maldades me tem alcançado... aumentaram-se mais que os cabelos da minha cabeça». Jesus toma sobre si mesmo esta odiosa carga, e ao encontrar com ela a Justiça, reclama-lhe como seu prisioneiro.

Tens participado, por fé, alma minha, de Cristo? Se for assim, podes descansar sem temor. Jesus quebra as cadeias que lhe atavam ao inferno; afunda-se nas águas sujas do teu pecado para que fique limpo de toda mancha, e se converte em tua iniquidade para que tu sejas justiça de Deus nele.

Se não se vir em Jesus nosso único substituto e garantia, a Bíblia será um livro fechado; a história da cruz, algo incompreensível, e a paz, uma delícia inalcançável.

Como muda tudo quando recebemos esta revelação! É então quando a justiça brilha com toda a sua glória, e a graça com todo o seu esplendor. É então quando a misericórdia mostra o seu triunfo, e a salvação a sua grande riqueza. O evangelho ressona, então, como uma clara trombeta: «Eis aqui o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo».

Dois malfeitores

Entretanto, naquela prisão egípcia não vemos só um exemplo do inocente Jesus carregado com a nossa culpa. Naquele lugar se leva a cabo um intercâmbio que nos ajuda a compreender melhor as riquezas da graça. Havia ali junto com José, dois malfeitores de bastante importância. Humanamente, não há diferença entre os dois, e tanto um como o outro esperam receber o mesmo fim. Não obstante, os seus caminhos logo se separam, e enquanto que um sobe pelo caminho da honra, o outro fica preso, esperando a morte.

Nesta história vemos exemplos que predizem as maravilhas da cruz. Quando a soberba do homem e a astúcia de Satanás parecem que vão triunfar, Jesus é levado como um cordeiro ao matadouro, e acontece algo que deve encher a taça do insulto: dois delinquentes lhe são atribuídos como companheiros em sua última hora.

Esta manobra para lhe degradar com tanta infâmia, não faz senão confirmar que ele é a Verdade. As Escrituras tinham profetizado: «Foi contado com os pecadores», e isto era o seu cumprimento. Cristo é crucificado entre dois ladrões.

Remissão de pecados

Vejamos os aspectos paralelos daqueles dois acontecimentos. Primeiro nos detemos no Calvário, e ali vemos três cruzes levantadas no alto. Jesus está no meio. Queria te suplicar, leitor, que viesse com frequência a este lugar bendito. A cruz é o preço pago pela redenção de um número incalculável de almas. É a glória de Deus nas alturas.

A remissão dos pecados é impossível de obter sem este sacrifício. A vida eterna é inalcançável sem haver-se lavado antes nesta fonte regeneradora. Esta é a única maneira de entrar no céu.

O sofrimento de Jesus tem por objeto arrebatar o cetro das mãos de Satanás, destruir o império das trevas, e fazer que cada atributo do Senhor seja uma garantia da nossa salvação. Devemos anunciar por todo o mundo que qualquer religião que não se glorie no sangue do Cordeiro não é mais que uma obscura superstição. A única esperança que pode subsistir é aquela que se fundamenta no sangue derramado.

Uma mudança radical

Os homens que sofrem o tormento em ambos os lados de Cristo parecem tão endurecidos como os pregos que lhes atravessam. Mas, repentinamente, produz-se uma mudança tão profunda em um deles, que das trevas passa à luz, do ódio ao amor e de morte a vida. Em sua profunda transformação, ele chega a aborrecer o pecado que antes acariciara. Agora confessa a sua enorme iniquidade e professa temer ao Deus que antes ridicularizava.

Mas, de onde procede esta mudança tão radical dos seus sentimentos? Não é fruto das circunstâncias externas, porque estas são iguais para ambos os malfeitores. A realidade é que só um deles recebe a luz. Isto só pode ser produzido por um poder invisível que, penetrando no fundo do teu coração, esmague todo espírito maligno.

Só o Espírito do Altíssimo pode redarguir de pecado. Sem ele, os atos externos de provas, aflição, dor, sofrimento ou avisos não poderiam abrir os olhos cegos. Quando uma consciência chega a clamar: «Senhor, sou vil, aborreço-me», é porque o Todo-poderoso tem feito que esse ser rebelde dobre seus joelhos diante dEle.

Mas ainda há mais. Um homem contempla a Jesus com confiança. Para aquela turba, Cristo parecia «verme, e não homem». E, entretanto, através daquela pobreza humana, a fé pode ver o Rei dos reis, ao vencedor de Satanás e ao divino Libertador.

A vergonhosa cruz se vê então como o trono glorioso da Deidade feito carne. Isto é outro exemplo da poderosa obra do Espírito. Só ele pode revelar a Jesus em uma alma. Quando ele fala, Aquele que antes era desprezado e descartado entre os homens, passa a ser adorado e amado, famoso entre dez mil, cobiçável e dispensador da graça da salvação.

Entretanto isto não é tudo, porque embora um homem confesse o seu pecado, pode perder-se igualmente. Tal foi o caso de Judas. Alguém pode gabar-se de conhecer a Deus intelectualmente, e apesar disso nunca chegar a obter a vida eterna. Os demônios se encontram nesta situação.

União com Cristo

Para desfrutar dos benefícios que emanam de Cristo terás que possuir uma união pessoal com ele. Quando a alma se dá conta de sua grande necessidade, e vê que só Cristo pode remediá-la, nada pode lhe impedir que vá a ele. O poder que recebe lhe faz romper cadeias, escalar obstáculos e não descansar até achar-se em seus protetores braços. Aquele ladrão moribundo passou por esta mesma experiência, e por isso clamou: «lembra-te de mim...». Sim, vou morrer, mas tu podes me salvar; as chamas do inferno já quase me rodeiam, mas tu podes me resgatar. Senhor, «lembra-te de mim».

Crês, leitor, que tua necessidade espiritual é, porventura, menor? Não. Na realidade é maior do que imaginas. As coisas infinitas não se podem comparar. Acaso pensas que a sorte que perdeste não é tão preciosa como a daquele homem? E que a tua eternidade é menos eterna que a sua? Isto é impossível. Portanto, devo te perguntar se clamastes com igual intensidade: «lembra-te de mim». Que feliz será a alma que busca ao Senhor desta forma! O céu será a sua infinita recompensa, e o gozo será seu para sempre.

Assim foi para o ladrão, e assim será sempre. Cristo lhe amou e sua palavra surgiu prontamente: «Hoje estarás comigo no paraíso». A promessa não deixa lugar a dúvidas nem demoras. Quando um pecador geme, Cristo se compadece. Quando um pecador ora, Cristo responde. A petição foi: «lembra-te», e a resposta veio rápida: «Estarás comigo». Bendita dor! Bendita fé! Bendita oração! Bendita graça! Senhor, tu és digno de se chamar Salvador, e de reinar em meu coração. É digno de ser anunciado em toda a esfera, é digno de eterno louvor.

Um chamado

Pode ser que alguém que esteja me lendo, durante muitos anos de pecado e incredulidade, cambaleou-se à beira do precipício da perdição. Mas ainda vive; e Cristo também vive; e o Espírito segue cheio da mesma ternura e poder para salvar. Portanto, ainda há esperança. A porta não se fechou de todo. Aquele ladrão se apressou e, no último momento, achou graça. Teve uma oportunidade única, soube aproveitá-la, e agora está com Cristo. O que tu vais fazer? Preferes permanecer imóvel e perecer assim?

Mas pode ocorrer que Satanás, o pai da mentira, faça a sugestão de que na hora da morte haverá tempo para arrepender-se, crer e implorar misericórdia. Não creia. Temos o exemplo do outro ladrão. Sua terrível agonia o endureceu ainda mais. O inferno estava próximo, mas não o podia ver, nem o temia, nem o podia evitar. E agora, desde o lago de fogo, nos avisa que a morte, que se aproxima com passo seguro e mão firme, não podem mudar o coração nem gerar fé.

Entretanto, prefiro pensar que já bebeste o cálice da vida, e, se assim for, é totalmente diferente do que foi antes. Com gratidão deverás reconhecer que essa diferença provém daquele Amor soberano que te olhou com amor e por sua graça te conquistou. Pelo poder do pecado foi o que foi; mas agora, pela graça de Deus, é o que é. O pecado fazia que fosse contado entre os pecadores. Mas os propósitos e o amor eterno de Deus proveram a salvação por meio de Alguém que é todo-poderoso. Jesus foi contado com os pecadores para que você fosse contado com os seus santos na glória eterna.

Do Evangelho em Gênesis

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