Redescobrindo o Evangelho

Uma nova etapa na vida da igreja começa quando ela reencontra e assume o anúncio do evangelho.

Rodrigo Abarca

“Pois se anuncio o evangelho, não tenho por que me gloriar; porque me é imposta esta necessidade; e ai de mim se não anunciar o evangelho!… A todos tenho feito de tudo, para que de todos os modos salve a alguns. E isto faço por causa do evangelho, para me fazer coparticipante dele” (1 Cor. 9:12-23).

O apóstolo Paulo recebeu um encargo fundamental em relação à edificação da igreja. A carga específica de seu ministério foi a revelação do corpo de Cristo e sua edificação. Mas, ao mesmo tempo, ninguém teve um encargo tão profundo como ele em relação à pregação do evangelho. São duas coisas que andaram juntas na vida do apóstolo, e ele procurou cumprir ambas, derramando sua vida até o final.

Na Escritura, ambas as coisas sempre andam juntas, e não devem separar-se. Isso está magistralmente exemplificado na vida do próprio Paulo. É por meio do evangelho que nasce a igreja, e é também por meio dele que ela se edifica. O evangelho está no coração da existência da igreja. Em Efésios, a carta onde Paulo nos fala da igreja de maneira tão profunda, ele introduz o evangelho, mostrando como este torna possível o nascimento da igreja.

Aquele propósito eterno que Deus teve na eternidade e que inclui à igreja, só pôde se realizar porque Cristo morreu por nós. «E ele vos deu vida a vós, quando estáveis mortos em vossos delitos e pecados» (2:1). Estávamos perdidos, sem esperança. Esta é a descrição da nossa vida. «Mas Deus, que é rico em misericórdia, por seu grande amor com que nos amou… nos deu vida» (v. 4). Este é o evangelho.

A boa notícia

«Pois se anuncio o evangelho, não tenho do que me glorificar; pois me é imposta esta necessidade; e ai de mim se não anunciar o evangelho!» (1 Cor. 9:16). Paulo diz estar sob uma obrigação pela qual terá que cumprir. Nós temos essa percepção de responsabilidade?

Isto não é algo que Paulo faça forçadamente, mas de boa vontade. Todo o seu coração está aqui; não é uma obrigação, mas sua resposta ao amor de Cristo. «A todos me tenho feito de tudo, para que de todos os modos salve a alguns. E isto faço por causa do evangelho, para me fazer coparticipante dele» (v. 23). Paulo se identifica a tal ponto com o evangelho, que se faz parte dele, para poder chegar a todos.

A palavra evangelho significa anúncio, notícia que se apregoa em voz alta. Os gregos usavam essa expressão no seguinte contexto. Imaginemos uma cidade sitiada, que envia o seu exército para defender-se, e outros moradores esperam angustiados. O invasor parece invencível. Mas, contra todo prognóstico, este é derrotado. Então, um homem corre do campo de batalha até a cidade, proclamando a boa notícia por toda a cidade. Este é o sentido da palavra evangelho.

O evangelho é uma notícia que não vem dos homens, mas do próprio céu. Por isso, quando Paulo começa Romanos, a carta do evangelho, diz: «Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, que ele tinha prometido antes por seus profetas nas santas Escrituras, a respeito de seu Filho» (vs. 1-3).

O anúncio do evangelho é a respeito de Cristo. Ele não diz que nós devemos fazer algo para ganhar o favor de Deus, mas sim o que Deus tem feito a nosso favor.

A condição do homem

Nós estávamos perdidos, mas Deus enviou o seu Filho, e ele nos salvou, morrendo na cruz e ressuscitando dentre os mortos por todos nós. Esta é a boa notícia. E esta salvação está disponível para todo aquele que crê e põe a sua confiança em Cristo. Paulo diz: «Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação» (Rom. 1:16).

Quão perdidos todos nós estávamos! Em Romanos 1:18, Paulo fala da condição do homem caído, e nos diz que não há diferença, visto que qualquer que seja o caminho que os homens tomem para tratar de sair de sua situação, este será infrutífero.

Os homens inventaram todo tipo de deuses e de religiões, mas nenhum ídolo, nem as religiões, nem a própria lei moral, puderam salvá-los. Porque, em todos esses caminhos está o esforço do homem cansado tratando de conseguir a sua salvação.

Evangelho e avivamento

Martin Lloyd-Jones, o famoso pregador britânico do século XX, em seu livro Avivamentos, diz: «Todo avivamento na história da igreja começa quando a igreja redescobre o evangelho».

No tempo de Lutero, todos se esforçavam em fazer boas obras. Lutero era um deles, tratando de agradar a aquele Deus tão exigente que parecia estar perpetuamente irado contra a raça humana.

Um dia, Lutero peregrinou para Roma. Ali havia uma enorme escadaria de mais de cem degraus. E diziam que aquele que subisse de joelhos, rezando, ao chegar ao topo, obteria o perdão dos seus pecados. Ele tentou, e quando já estava quase conseguindo, de repente, um versículo atravessou a sua mente: «Mas o justo pela fé viverá» (Rom. 1:17). Então, aquele homem redescobriu aquele poder eterno do evangelho. Todo esforço não serve, porque Deus me perdoa gratuitamente, se crermos em seu Filho Jesus Cristo.

Na Inglaterra, no século XVIII, a igreja tinha caído em um estado de frieza espiritual. O evangelho se converteu em uma doutrina sem vida. Tudo estava morto. Pode haver uma confissão correta do evangelho sem uma realidade no coração.

Nesse tempo, um grupo de estudantes de Oxford procurava a salvação mediante um rigoroso método de santidade. Ali estavam John e Charles Wesley, e George Whitefield. Por anos, lutaram em vão. Um dia, os irmãos Wesley foram pregar nos Estados Unidos; mas seu evangelho era apenas obras, e ninguém se converteu.

Na travessia de retorno pelo Atlântico, o navio foi açoitado por uma tormenta, a tal ponto que temeram por suas vidas. Mas havia a bordo um grupo de irmãos morávios que cantavam no meio da crise. E isso lhes impressionou. Aqueles irmãos tinham uma fé que John Wesley não possuía. Todos os seus esforços para serem santos não se podiam igualar a aquela fé.

Os irmãos morávios o convidaram para uma de suas reuniões em Londres. Nesse lugar, um pastor pregou utilizando o comentário de Lutero para a carta aos gálatas. Wesley diz: «Enquanto ouvia o evangelho, pela primeira vez em minha vida (pregado como deve ser), um calor ardente invadiu o meu coração, e nessa noite nasci de novo».

O avivamento metodista mudou a história da Inglaterra, e alcançou os Estados Unidos. Whitefield cruzou o Atlântico para pregar o evangelho do novo nascimento. O evangelho agora não era apenas uma doutrina, mas uma vida nova que Deus nos dá do céu e que nos transforma.

Significados do evangelho

Na Escritura há muitas maneiras de anunciar o evangelho, e todas elas têm um comum denominador, dado pela palavra «substituição».

Todos nós tínhamos que lutar uma batalha contra inimigos invencíveis. Recordemos a Golias, esse gigante temível que desafia os exércitos de Israel. Essa é a condição de todo homem. Somos espreitados por aquele poder do pecado, da morte e da condenação. Mas um jovem chamado Davi, sozinho, o enfrenta e o vence por todo o povo. Isso fez Cristo por nós! Ele derrotou as forças do pecado, de Satanás e da morte, e nos fez participantes de Sua vitória.

Há outra maneira em que a Escritura fala do evangelho. Nós tínhamos uma dívida impagável, por cuja causa terminamos sendo escravos. Mas o Senhor veio, pagou nossa dívida com o seu próprio sangue e nos tornou livres. Bendito seja o Senhor!

Outro significado do evangelho: Nós éramos réus de morte. Tínhamos pecado contra o Deus santo e só merecíamos a justa ira divina. Mas, na hora da sentença, o próprio Juiz ficou em pé, despojou-se de sua dignidade e desceu tomando o nosso lugar. Todo o peso do castigo por aquele pecado caiu sobre ele. Cristo foi castigado por mim, para que eu fosse declarado justo e sem pecado.

Um rico que se fez pobre

O conde Zinzendorf, um dos homens mais ricos da Alemanha, foi usado por Deus para iniciar o avivamento morávio. Zinzendorf se converteu ao Senhor quando tinha dez anos. Um dia, ele foi visitar um castelo onde se exibia um quadro famoso, que representava a Cristo crucificado, em cujos pés se lia esta frase: «Tudo isto fiz por ti. O que você tem feito por mim?». O menino parou e permaneceu horas ali em silenciosa contemplação, enquanto a sua família fazia outras coisas.

Depois dessa experiência, este homem mudou para sempre. Mais tarde, em suas propriedades, recebeu a todos os refugiados que estavam fugindo das perseguições religiosas na Europa, em uma vila chamada Herrnhut. Ali iniciou o avivamento morávio.

Zinzendorf gastou toda a sua fortuna por causa do evangelho de Jesus Cristo. Isto nos faz lembrar o que Paulo diz: «Porque já conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que por amor se fez pobre, sendo rico» (2 Cor. 8:9). Isso é o evangelho. Quão grande é a salvação que Deus nos deu!

A salvação de Deus

Os homens procuram outras formas de salvação. Em Romanos 1, Paulo fala de como os homens detêm com injustiça o conhecimento de Deus, fabricando ídolos que substituem ao Deus verdadeiro.

Isaías 44 nos mostra a figura de um homem que vai e corta uma árvore no bosque. Em seguida, usa parte da lenha para fazer fogo, cozinhar e esquentar-se, «e faz do restante um deus, um ídolo dele; prostra-se diante dele, adora-o, e lhe roga dizendo: Livra-me, porque tu és o meu deus» (V. 17). A condição do homem é desesperador. «Quem me salvará?».

A humanidade está ameaçada por poderes que a superam completamente. A enfermidade, a guerra, a fome, as catástrofes naturais. Mas os homens, em lugar de procurar o único que pode salvá-los, vão aos seus ídolos. Por isso, o primeiro mandamento divino é: «Não terás deuses alheios diante de mim» (Êx. 20:3). Com razão, Lutero afirmou: «O coração humano é uma fábrica de ídolos».

Você pode se tornar o seu próprio ídolo. Pode ser que tenha sido salvo há dois, cinco ou dez anos; mas em seguida começa a pôr a sua confiança em outras coisas: uma vida moralmente reta, seu estudo da Escritura, sua disciplina para buscar o Senhor. São coisas boas, necessárias, mas podem se converter em ídolos, se substituírem ao Senhor no coração. O evangelho tem que estar sendo pregado constantemente na igreja, porque os ídolos do coração nos espreitam dia após dia.

No quadro final da história humana, em Apocalipse 7, o que aquela multidão que representa à igreja procedente de todas as nações proclamam?  «A salvação pertence ao nosso Deus que está sentado no trono, e ao Cordeiro» (9-10). Não há salvação em ninguém mais.

A missão da igreja: ir

Essa é a história do evangelho. Nós não fomos para ele, mas ele veio até os perdidos. Não foi a ovelha perdida quem se aproximou do Senhor; mas ele foi, encontrou-a, resgatou-a e a pôs sobre os seus ombros. Então, devemos esperar que as pessoas procurem o Senhor, ou temos que ir por elas? Podemos nos fechar em nossa comunhão, para falar do Senhor e nos regozijar nele. Mas essas pessoas não ouvirão a palavra do evangelho. Por isso, o primeiro aspecto do evangelho é: ir.

Jesus veio para uma terra longínqua; cruzou a distância que separava o céu da terra, para chegar até nós. Por isso Paulo se faz participante do evangelho, indo até aqueles que estão perdidos. Ele vai, porque isso foi o que Cristo fez por todos nós.

Identificação com o pecador

Cristo não só veio a esta terra, mas se identificou conosco. Não veio vestido da glória de sua santidade. Ele se fez como um de nós. Paulo diz: «A todos me tenho feito de tudo». O que ele quer dizer com isso? Que, por causa do evangelho, ele se identificou com a cultura dos homens, desde que não seja pecaminosa ou ofensiva contra Deus.

No século XIX, o Senhor pôs no coração do irmão Hudson Taylor que fosse a China para pregar o evangelho. O governo chinês só permitia aos missionários pregar nas cidades costeiras, mas lhes impediam de ingressar no interior do país. Os chineses olhavam para os ocidentais como uma cultura inferior, porque a sua era uma cultura milenar. Não interessava a eles ouvir o evangelho; além disso, a opinião dos chineses, é que os missionários se vestiam de uma maneira ridícula.

Hudson Taylor chegou a China, e vendo que ninguém escutava, decidiu mudar de estratégia. Ele trocou sua roupa ocidental por uma túnica especial, própria de um professor chinês. Assim, é que as pessoas identificavam os professores, e os ouviam. Como resultado, o interior da China se abriu para o evangelho. Como rendimento disso, surgiu mais tarde a obra de Watchman Nee.

Um mundo em crise

O evangelho requer que nos identifiquemos com aqueles aos quais pregamos. Hoje, o mundo mudou. A sociedade não é a mesma de uns vinte ou trinta anos atrás. No Ocidente, durante os últimos mil anos, houve uma cultura semi-cristã dominante. Todos, cristãos e não cristãos, consideravam que as ideias e valores essenciais do cristianismo eram bons e corretos.

No princípio do século XX, era possível encontrar um ateu que compartilhava os ideais morais cristãos do matrimônio, da família, da vida honesta. Durante mil anos, a civilização ocidental se levantou sobre os pilares da cosmovisão judaico-cristã. Em muitos sentidos, a história e a conduta das nações não eram cristãs; mas compartilhavam uma cosmovisão cristã do mundo.

No entanto, na França, nos séculos XVII e XVIII surgiu o Iluminismo ou Racionalismo, que questionou radicalmente a cosmovisão cristã. Em seu início, este movimento alcançou apenas a uma elite intelectual, enquanto a grande massa do povo seguiu vivendo segundo os valores cristãos.

Quando Deus é excluído

A cosmovisão secular exclui a Deus da vida humana, relativiza os valores morais e os convertiam em assuntos de preferências, sentimentos e emoções subjetivas. Já não há verdades absolutas, salvo aquelas que a razão humana comprova através da ciência.

G.K. Chesterton diz que, quando as pessoas deixam de crer em Deus, não significa que não criam em nada, mas que estão dispostas a crer em algo. O coração humano é religioso, porque foi feito para Deus. Quando não cremos nele, procuramos um substituto que lhe dê sentido à vida.

Os intelectuais daquele tempo substituíram a Deus pela razão; esta traria prosperidade, justiça e paz à raça humana. Isto teve consequências desastrosas. No século XX, essa visão foi filtrada para a educação, as leis, a política, o governo, os meios, em todo mundo ocidental. Ela exclui a Deus da vida humana pública e converte à fé apenas em um assunto privado.

As mudanças culturais são lentas; ocorrem através de muitos anos. E hoje estamos sentindo o efeito desta mudança gigantesca na história.

Quando os apóstolos saíram para pregar aos gentios, enfrentaram um mundo que, em muitos sentidos, se parece com o atual: uma cultura governada por ideias que não tinham nada a ver com o evangelho. Era necessário pregar as pessoas que nunca tinham ouvido sequer que existisse um só Deus. Como falar com alguém que não crê, e que, muito menos entenderia algo sobre Cristo?

O mundo atual se parece com aquele, porque hoje muita gente já não compartilha a visão cristã. Há 30 anos, a maioria cria que havia um Deus, que existe o pecado, e, em consequência, teria que lhes dizer que não era por suas obras que poderiam ser salvos, mas só pela fé em Cristo.

Um novo cenário

Hoje pregamos a um mundo que não tem noção de Deus, nem da Escritura, nem compartilha a nossa cosmovisão. Como lhes falar? Nas redes sociais pode-se comprovar como muitos cristãos estão assustados, porque não viram vir a mudança. De repente, uma onda gigante de transformação cultural e moral, como um tsunami devastador, veio para cima de nós e não sabemos o que fazer.

Uma geração inteira de jovens pensa hoje com ideias totalmente diferentes, inculcadas por muitos anos em colégios, universidades, e meios de comunicação altamente secularizados. Então, o que a igreja pode fazer? Vejamos o que fez o apóstolo Paulo em um contexto similar.

Paulo em Atenas

Paulo chegou a Atenas, a um mundo que era em muitos sentidos como o nosso. Ele quis identificar-se com o evangelho e se esforçou por conectar com a cultura dos seus ouvintes.

«Enquanto Paulo os esperava em Atenas, seu espírito se comovia vendo a cidade entregue à idolatria» (Atos. 17:16). Este é um problema antigo. Quais são os deuses falsos de nossa cultura atual? As pessoas acreditam hoje, por exemplo, que viver de acordo aos seus próprios sentimentos ou  seus desejos, livres de restrições, os salvará.

«Assim que discutia na sinagoga com os judeus e piedosos, e na praça cada dia com os que se apresentavam» (v. 17). Veja aqui algo importante sobre como pregar o evangelho, porque uma das atitudes da igreja, ao longo da história, foi esconder-se diante do perigo ou da ameaça.

«Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade assentada sobre um monte» (Mat. 5:14). Então, por que nos esconder? O Senhor quer que a igreja, ilumine a todos os homens.

Paulo foi à praça pública, no centro da vida urbana. Ali se faziam os negócios, administrava-se a justiça, ouviam-se as notícias importantes. A maneira de comunicar as ideias era ir ali e divulgá-las. Paulo não teve medo. Ali estavam os intelectuais da época, e ele lhes falou do evangelho de Cristo. Porque, tanto ontem como hoje, segue sendo verdade que o único que salva é o Senhor!

Conhecendo os homens

«Paulo discutia». Aqui, discutir não é gritar para ver quem tem a razão. Não, porque desta forma se pode ganhar uma discussão e perder à pessoa com quem se discute. Paulo «raciocinava com argumentos», segundo o vocábulo grego que é usado aqui. Ele ia preparado.

Às vezes pensamos que, para pregar, a única coisa que devemos fazer é anunciar mecanicamente o evangelho: «Você é um pecador; precisa arrepender-se. O Senhor Jesus morreu por você; creia, e será salvo». Mas, isto não é suficiente para que as pessoas creiam. Paulo argumentou com razões compreensíveis para os seus ouvintes, porque primeiro se deu o trabalho de entendê-los bem.

Esta é uma tarefa fundamental, que a igreja não considerou. Este processo de secularização acelerado nos assusta, porque não o entendemos. Entretanto, os crentes deveriam entender aos não crentes até melhor do que eles se entendem a si mesmos.

O Senhor sabia o que havia no coração dos homens. Assim também Paulo; ele pregava aos judeus com as Escrituras, e quando falava com os gregos, os entendia. Conhecia suas fraquezas, mas também os desejos profundos dos seus corações.

O que é que os gregos buscavam sobre todas as coisas? Seu ídolo era a filosofia, o amor à sabedoria. Eles acreditavam que o conhecimento os salvaria. Por isso, Paulo escreve: «Os gregos buscam sabedoria» (1 Cor. 1:22). Ele entendia aqueles a quem estava falando, e anunciava a Cristo, a verdadeira sabedoria de Deus que salva os homens.

A atitude do mensageiro

Em primeiro lugar, Paulo se identificou com os gregos. Às vezes, nós pregamos o evangelho, mas de uma forma irada com os incrédulos, sem procurar entendê-los, mas rápidos em condená-los. Anunciar o evangelho requer identificar-se com aquele a quem se fala, mas sem fazer parte dos seus pecados.

Quando Paulo viu a cidade entregue à idolatria, «seu espírito se comovia». Isto não significa apenas indignar-se. Comover-se é assumir o zelo do Senhor, mas ao mesmo tempo encher-se de compaixão. Não é possível pregar o evangelho sem um coração cheio de compaixão por aqueles a quem se prega.

«Paulo, estando em pé no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo observo que sois muito religiosos» (Atos. 17:22). O primeiro que faz, é apelar para a religiosidade deles. Não reprova a sua idolatria; era verdade, mas ali teria terminado a sua mensagem. Mas Paulo vai ao que está por trás, ao desejo profundo de cada ser humano por ser salvo.

Necessidades do homem

O contexto disto tem a ver com a maneira em que Deus nos projetou. Nós precisamos ser amados. E o único que pode nos dar real aceitação é o evangelho. Por um lado, ele nos diz que somos pecadores e corruptos; mas também nos diz que somos amados.

Somos amados pelo Ser mais importante do universo. Isto não pode curar para sempre toda dúvida do coração? Isto não pode curar a solidão e o sentimento de rejeição? O evangelho pode salvar muito além do que qualquer lei moral possa fazer pelos homens.

Paulo quis lhes dizer: «Vocês buscam de maneira errada em seus ídolos, mas há algo ali. Esse Deus não conhecido que vocês procuram, e não encontram, não é um ídolo, mas o único Deus que criou tudo o que existe. E esse Deus os ama. Ele é quem traz salvação eterna em seu Filho Jesus Cristo». E esse evangelho capturou de tal maneira o coração do mundo antigo que, depois de vários séculos, converteu-se a Cristo.

Dimensões da mensagem

O que temos que dizer ao mundo? O mesmo que é dito a dois mil anos. Mas devemos cuidar de dizê-lo de maneira que as pessoas entendam exatamente o que estamos dizendo, e não outra coisa.

Por isso, ao pregar o evangelho, como fazia Paulo, em primeiro lugar, este tem que ser inteligível. As pessoas devem entender o que falamos. E como podemos fazer isto? Como Jesus, falando uma linguagem que todos compreendem. Você pode usar uma linguagem teológica, mas aqueles que estão fora não o entenderão. O evangelho deve ser pregado a sábios e a não sábios; isto é, deve ser entendido pelo mais sábio e também pelo mais ignorante, porque o evangelho é para todos.

Em segundo lugar, a mensagem tem que ser crível. Temos que pregar de maneira a remover todos os obstáculos e ideias que se opõem ao evangelho na mente e no coração dos homens. Além disso, tem que ser plausível no contexto de vida das pessoas. Não deve soar como algo estranho, mas deve conectar-se com as necessidades profundas da cultura e da alma humana.

Finalmente, o evangelho tem que ser visível em suas consequências. Não é suficiente que preguemos o evangelho e nos furtemos dos seus resultados. O mundo precisa ver as consequências do evangelho na vida da igreja: o que significa ser salvo e como o ser salvo nos transforma em algo melhor. O evangelho é a verdade que temos, mas a coluna que o levanta e o faz visível é a igreja. Que o Senhor nos ajude. Amém.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Temuco (Chile) em Agosto de 2017.

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