Luz na escuridão (1)

O mistério da iniquidade procura aniquilar os fundamentos do Criador na alma humana.

Rodrigo Abarca

Leituras: Sal. 11:3; Is. 59:14-16; 60:1-3; Mat. 5:13-16.

À medida que nos aproximamos do fim de todas as coisas nesta dispensação da história, sem dúvida, o mundo experimentará uma deterioração moral e espiritual progressiva, e a escuridão o cobrirá. O Senhor mesmo disse que, nos últimos tempos, a maldade se multiplicará. Hoje vemos ao nosso redor muitos sinais de que esta deterioração já está ocorrendo.

A corrupção da sociedade tem a ver com a operação de um mistério de maldade. O mundo está submetido a um poder inimigo de Deus; a um adversário que se opõe aos propósitos de Deus para a Sua criação.

Mistério oposto

Esse propósito maligno é revelado nas Escrituras como um mistério. Um mistério é aquilo que só se pode conhecer se Deus o revelar. Na Escritura, no centro de tudo, existe o mistério de Deus, que é Cristo, e o mistério de Cristo, que é a igreja. Este é o coração do que Deus nos revela sobre o seu propósito eterno.

O propósito divino tem a ver fundamentalmente com o homem. No plano de Deus, o homem é um ser que carrega a Sua imagem, encarnando o Seu caráter e autoridade. É o homem em Cristo, a imagem de Deus.

Entretanto, em oposição ao mistério de Deus, há um mistério de iniquidade que opera na história do mundo. Este espírito não tem aquele poder de criar nada, mas pode alterar ou destruir o que Deus tem feito.

A vontade de Satanás cresce no mundo na medida em que ele consegue corromper a criação, e em especial, ao homem, cabeça da criação. Por isso, no princípio, ele entrou no jardim para colocar o homem em oposição a Deus. Este é «o mistério da iniquidade». A palavra iniquidade, em grego, é anomia, que significa contrário à lei, ou sem lei.

Lei moral

Deus estabeleceu uma lei moral para governar a vida humana. Diante dele, todos os homens prestarão conta dos seus atos. «Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam». Mas o mistério de iniquidade procura anular o governo de Deus sobre a sua criação.

A lei moral é expressão da natureza divina. Ela traduz o caráter de Deus em preceitos, deveres e valores morais. O que Deus exige do homem está apoiado em quem Ele é, na perfeição do Seu caráter. Por isso, a lei de Moisés, ao enumerar os seus mandamentos, consigna uma espécie de assinatura que diz: «Eu Jeho-vá». Isto quer dizer que aquele fundamento de todas as demandas da lei é Deus mesmo e seu caráter – a santidade divina.

Portanto, é importante entender como este mistério de maldade no mundo opera. Na passagem de Isaías 59, o profeta descreve a condição moral e espiritual de sua nação. «E o direito se retirou, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade tropeçou na praça, e a equidade não pôde vir» (Is. 59:14).

Paulo pega uma parte desta descrição em Romanos 3, para explicar a condição da humanidade. Então, aqui o profeta não só se refere a Israel, mas também à condição geral da raça humana caída.

Corrupção moral

«E o direito se retirou, e a justiça se pôs de longe». Aqui, não se refere à justiça que é ministrada nos tribunais. No Antigo Testamento, a justiça é a expressão do caráter de Deus na vida humana. Um homem justo é aquele que atua segundo o caráter santo de Deus. «A justiça se pôs longe». Em outras palavras, não há homens capazes de fazer o que é reto aos olhos de Deus.

O que levou a corrupção a Israel, e em geral, produziu toda a depravação da vida humana? «Porque a verdade tropeçou na praça, e a equidade não pôde vir». «E a verdade foi detida» (V. 15). Em primeiro lugar, a verdade tropeçou, e segundo, a verdade foi detida. «E o que se separou do mal foi posto em prisão», quer dizer, porque a verdade tropeçou e foi detida, os que faziam o bem foram considerados como malfeitores. Isso fala de uma profunda corrupção moral.

Quando ao bem lhe chamam mal e ao mal lhe chamam bem, algo grave ocorreu na sociedade, uma profunda degradação aos olhos de Deus.

Verdade repudiada

«Aquele que se separou do mal foi posto na prisão». Aquele que se negou a fazer o mau não só foi objeto de rejeição social, mas também foi castigado por isso. Quão retorcida deve estar a alma de uma nação para que ocorra algo assim! Entretanto, isto é o que acontece quando a verdade é desprezada. «E o viu Jehová, e desagradou aos seus olhos, porque pereceu o direito». «E viu que não havia homem, e se maravilhou que não houvesse quem se interpusesse; e seu braço trouxe salvação, e sua própria justiça o susteve» (V. 16).

«A verdade tropeçou na praça». Na antiguidade, a praça era o centro da vida pública, o lugar onde se decidiam as coisas importantes para a vida da cidade. Os gregos a chamavam de ágora. Ali se faziam as transações econômicas, comunicavam-se as ideias, e se exercia a justiça. Ali se sentavam, no tempo de Israel, os anciões que julgavam e aplicavam a lei.

«A verdade tropeçou na praça», significa que a verdade foi excluída da vida pública. Que os homens a rejeitaram e não querem ouvi-la. Israel tinha um pacto com Deus de andar na verdade revelada em Sua lei. Que tragédia foi, então, para eles, desprezar a lei de Deus (sua palavra revelada) na conversação e a discussão pública das coisas que afetavam a vida inteira da nação!

Rol da igreja

Nós entendemos claramente a diferença entre a igreja e o mundo. O mundo está debaixo do Maligno, e a igreja está debaixo do Senhor Jesus Cristo. Mas devemos recordar que a igreja está no mundo, não fora dele. Ela existe «no meio de uma geração maligna e perversa no meio da qual resplandeceis como luminares no mundo» (Flp. 2:15).

Podemos pensar que não é importante para nós se o mundo se corrompe ou se entrega à depravação. Se pertencermos a Cristo, o que nos importa o mundo? Em certa medida, poderíamos concordar com essa ideia; mas em outro sentido, não, porque Deus se importa com o mundo, e porque em outro tempo nós estávamos ali, e foi ali onde o Senhor nos encontrou e nos salvou.

A igreja está no mundo e este não é um lugar neutro com respeito a ela, pois nele atua um poder hostil, cujo propósito é frustrar os planos de Deus; de maneira que o que ocorre aqui afeta também a igreja.

Iluminar as nações

Não podemos ser indiferentes com o que acontece com o mundo. Em primeiro lugar, porque nele há pessoas perdidas, às quais Deus quer salvar. Em segundo lugar, porque este sistema humano está orquestrado por um poder maligno que quer usá-lo para destruir a igreja de Cristo. Precisamos entender isto, para saber como levar ao mundo a Palavra e cumprir o nosso ministério.

«Levanta-te, resplandece; porque tem vindo a sua luz, e a glória do Jehová nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrirão a terra, e escuridão as nações; mas sobre ti resplandecerá Jehová, e sobre ti será vista a sua glória. As nações andarão na sua luz, e os reis ao resplendor do seu nascimento» (Is. 60:1-2). A luz que Deus deposita na igreja não é somente para que nos regozijemos nela, mas também para que a igreja ilumine às nações. Por esta razão, ela está no mundo.

Na passagem de Mateus lido no princípio, o Senhor diz: «Não se acende uma luz e se põe debaixo de um velador». A luz é para pô-la no castiçal e iluminar a todos os que estão na casa. «Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo», disse o Senhor Jesus (Jo. 9:5). E nós, enquanto estivermos no mundo, somos luz do mundo, porque essa é a missão que ele nos encarregou: «Vós sois a luz do mundo».

Lâmpadas acesas

Eis aqui um assunto vital: O que acontece se não tivermos luz, ou se a luz que possuímos não é verdadeira? Tornamos-nos incapazes de iluminar, de ser o testemunho de Deus no mundo. Por isso, quando o Senhor fala com as Igrejas em Apocalipse, o faz em sua função sacerdotal.

Uma função do sacerdote era manter as lâmpadas acesos. Elas não podiam se apagar no santuário; quer dizer, não podia desaparecer o testemunho de Deus na terra. Entretanto, houve um tempo na história de Israel em que isto quase ocorreu. O sacerdócio se corrompeu e a nação se apartou do Senhor. Então, «antes que o lâmpada de Deus se apagasse no templo», o Senhor chamou a Samuel.

A luz do Senhor estava morrendo, porque tinham se afastado da Palavra e tinham perdido o conhecimento de Deus. A geração que se levantou depois de Josué não conhecia o Senhor, e, por isso, a Sua lâmpada estava se apagando em Israel.

Sal que preserva

A missão da igreja é ser luz do mundo. Mas, antes de dizer isto, o Senhor nos diz: «Vós sois o sal da terra; mas se o sal se desvanecer, com o que será salgada? Não serve mais para nada, a não ser para ser lançado fora e pisado pelos homens» (Mat. 5:13).

A luz deve iluminar no meio da escuridão que cega às nações. Quando os homens se separam da lei moral de Deus, separam-se do conhecimento de Deus. Mas aqui temos algo mais em relação à função da igreja no mundo: «Vós sois o sal da terra; mas se o sal se desvanecer com o que será salgada?». Se o sal perder o seu sabor, torna-se completamente inútil.

O sal é usado para dar sabor às comidas, mas na antiguidade também tinha outra função importante: os mantimentos eram salgados para permitir que durassem muito tempo, evitando assim a sua decomposição.

O mundo, debaixo do poder do maligno, está sempre em processo de decomposição. Há poderes espirituais que atuam como bactérias para degradar à sociedade. Não é o propósito de Deus que a vida humana se corrompa e pereça, embora nós não compreendamos o Seu coração com respeito ao homem.

O desprezo pela verdade

Vejamos um pouco mais em relação à escuridão das nações. A Escritura nos diz que a verdade «tropeçou na praça». Isto é o que veio ocorrendo na sociedade moderna, de uma maneira cada vez mais profunda e mais sistemática.

A verdade tropeçou na praça, quer dizer, nos lugares que supõe-se deveria ser anunciada, crida, recebida, acatada, amada. E não foi assim. Aqui, claramente, não se refere a qualquer verdade (da ciência, das matemáticas, etc.), mas à verdade revelada por Deus a respeito de si mesmo, seu propósito e sua vontade.

Esta é a verdade que os homens desprezaram e desprezam, a verdade que veio sendo desviada sistematicamente nos últimos 100 anos da vida pública do mundo, em nossa própria nação e nas nações que nos rodeiam.

Em primeiro lugar a verdade foi reduzida, limitada. Há 150 anos, os homens disseram: «A verdade só está naquilo que a ciência afirma, a única fonte de verdade; todo o resto não é mais que invenção, mitologia e imaginação humana». E nisto incluíram a fé cristã.

Mas em seguida, a verdade não só foi reduzida, mas também relativizada. Em nossos dias, já não a consideram apenas como algo reduzido e limitado à ciência, mas também foi relativizada. Recentemente foi feita uma pesquisa entre os jovens e lhes foi perguntado se acreditavam na verdade e a grande maioria afirmou não acreditar em nenhuma verdade absoluta. Há 200 anos, o mundo rejeitou a verdade revelada por Deus na Escritura e a consequência disso, 200 anos depois, é que já não só rejeitam a verdade revelada, mas também a própria ideia da verdade. Como consequência, ao afastar os homens da verdade revelada por Deus em sua palavra, «a verdade tropeçou na praça».

Relativizar, e em seguida negar

E em seguida, não só foi relativizada. Relativizar a verdade quer dizer que ela já não pode ser considerada com um valor universal; já não existe uma verdade que seja a mesma para todos, em todo tempo e lugar, mas cada um tem, como se diz hoje, «a sua própria verdade».

Agora, a pergunta que devemos nos fazer não é se o mundo crê nestas coisas, mas se nós cremos o mesmo. A verdade é relativa ou é absoluta? É universal ou particular? É objetiva ou subjetiva? O que você crê? Porque, se a verdade for subjetiva, relativa, particular e não universal, quer dizer que o evangelho que pregamos tampouco é uma verdade universal e absoluta, mas uma mera opinião ou um ponto de vista particular e subjetivo.

E o passo final não é apenas relativizar a verdade, mas negar a sua existência. Isso já está ocorrendo hoje. Agora dizem que não existe algo que possamos chamar «a verdade»; que não tem sentido procurá-la, porque não existe tal coisa. Por isso, quando alguém diz conhecer a verdade, é pontuado de arrogante ou intolerante.

Hoje se fala a seguinte linguagem: «Estamos na era da pós-verdade». Algo difícil de entender. Pós-verdade, além da verdade. O que está além da verdade? A mentira imagino. Esta é outra maneira de falar da mentira usurpando o lugar da verdade. Estamos vivendo uma era em que se afirma que cada um define o que é a sua verdade, cada um tem direito de sustentar a sua própria verdade.

Grande perigo

Claro, você pode crer no que quiser, mas também deve assumir os riscos! Se você for ao médico e este lhe diz: «Você tem uma enfermidade séria e deve ser operado com urgência», e lhe responde: «Essa é a sua verdade; mas a minha verdade é que viverei até os cem anos», nem por isso o fato de que você está doente mudará. Só enganaria a si mesmo com consequências desastrosas. A mentira segue sendo mentira, por mais que lhe mude o nome («pós-verdade»). Este é o grande perigo.

Vivemos em um mundo criado por Deus, regido pelas leis naturais e morais que ele estabeleceu. E, embora queiram negá-las na linguagem, seguirá sendo verdade que Deus governa o universo e que, se não nos conduzirmos segundo as suas leis, colheremos todas as amargas consequências de nossos atos.

Isto acontecerá com a sociedade contemporânea. Qual é o perigo para nós? A influência que o mundo pode exercer sobre a igreja. O propósito de Deus é que ela influencie o mundo para preservação, mas muitas vezes ocorre o contrário: o mundo entra na igreja. Nas cartas de Apocalipse 2 e 3 vemos que precisamente é isto que começou a ocorrer.

Uma batalha na mente

É importante entender o que quer dizer a Escritura com o termo «o mundo». Não se refere só às coisas que consideramos tipicamente mundanas: os prazeres e pecados evidentes. É obvio, isso é o mundo; mas ele é muito mais extenso, sutil e enganoso.

A batalha contra o mundo é liberado sempre primeiro na mente, no âmbito das ideias que governam a vida humana. Isto é muito importante: A porta de entrada da alma (pois o que está em jogo aqui é a alma humana) é a mente, porque é ali onde se libera a batalha pela alma dos homens.

Vocês se lembram onde começou a batalha, lá no princípio. É o conflito retratado de uma maneira tão grandiosa no capítulo 12 de Apocalipse, entre a mulher e o dragão. Este começou lá no jardim, quando Satanás se aproximou da mulher e lhe falou, semeando um pensamento em sua mente.

A batalha começou quando a mulher acolheu aquele pensamento: uma ideia sutilmente errada, porque a mentira nem sempre é evidentemente falsa, nem sempre está categoricamente errada; pode ser apenas uma leve distorção da verdade. Uma pequena deformação é suficiente para que tenha os mesmos efeitos destrutivos de uma mentira evidente.

Satanás semeou uma mentira, uma ideia errada a respeito de Deus. Por isso é o diabo. A primeira coisa que fez foi caluniar a Deus. Assim começou a batalha. Em consequência, o mundo entra na igreja através das ideias e dos pensamentos.

Por isso Paulo, em Romanos 12, nos diz que transformemos por meio da renovação do nosso entendimento. A mente deve ser renovada por um esforço e uma cooperação consciente com o Senhor, pelo Espírito e sua palavra. Se não ocorrer esta renovação, a nossa mente seguirá regida pelas velhas ideias que são uma porta de entrada aberta para o mundo e seu príncipe no coração dos homens.

Relativização dos valores

Vamos tratar de entender o que está acontecendo hoje em relação à relativização da verdade, que produz, como efeito, a relativização dos valores e princípios morais.

Tempos atrás nos falavam do que ocorre hoje nas escolas: a propagação da chamada «ideologia de gênero», isto é, a ideia de que o gênero (masculino e feminino) e a sexualidade são coisas separadas. A sexualidade, nos diz, é um fato biológico, mas o gênero é uma construção cultural. Isto é ensinado hoje nas escolas; por isso devemos prestar atenção, já que há uma nova geração surgindo.

A Escritura declara: «A verdade tropeçou». Onde? Na praça, quer dizer, nas instituições públicas mediadoras de conhecimento: a escola, as universidades e os meios de comunicação (jornais, revistas, Internet, TV, cinema, publicidade, etc.). É aqui onde a verdade tropeça. Os nossos filhos pequenos estão expostos. Nós os entregamos ao Estado para que os eduque; mas com isso, os entregamos a aquele poder de formar as suas mentes. A mente é como um papel em branco e, creiam-me, estas são as ideias (ideologia de gênero, por ex.) que se tenta hoje inculcar em nossos filhos.

O que acontecerá, então, com as próximas gerações? Recordem o que ocorreu a Israel. Isto é muito sério, porque o que está em jogo é a alma das novas gerações. Israel, guiado por Josué, entrou na terra prometida e tomou posse dela; mas em seguida, toda aquela geração que havia visto o que o Senhor tinha feito, morreu, e se levantou uma nova geração que não conhecia ao Senhor.

O que aconteceu com essa nova geração? Quando os israelitas entraram em Canaã, receberam a missão de destruir todo vestígio das nações que tinham habitado antes na terra, porque a idolatria e a corrupção moral delas deveriam ser erradicadas. Entretanto, os israelitas as deixaram ali e aquele resultado foi que, com o tempo, corromperam a Israel.

O que deixamos entrar no coração dos nossos filhos não é irrelevante. É urgente vigiar o que entra e o que afeta o coração da igreja, porque estamos em uma batalha onde as ideias do mundo procuram corromper os crentes.

Bestas apocalípticas

Vejamos algo mais em relação com a ação deste mistério de iniquidade no mundo. Apocalipse 13  retrata a história da besta e do falso profeta que sobem do mar e da terra respectivamente. Vamos prestar atenção na segunda besta, aquela que sobe da terra.

A primeira besta é claramente um poder que tenta dominar o mundo inteiro e que destaca o anticristo em sua dimensão política. Um poder político que domina e se impõe ao mundo, e recebe a sua autoridade do próprio Satanás. Mas junto com ele, aparece um segundo poder, uma segunda besta. Estas não são bestas literais, mas simbólicas.

«Depois vi outra besta que subia da terra; e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, mas falava como dragão. E exerce toda a autoridade da primeira besta na presença dela, e faz que a terra e os moradores dela adorem à primeira besta, cuja ferida mortal foi curada. Também faz grandes sinais, de tal maneira que até faz descer fogo do céu para a terra diante dos homens. E engana aos moradores da terra com os sinais que lhe permitiu fazer na presença da besta, mandando aos moradores da terra que façam imagem à besta que tem a ferida de espada, e viveu. E lhe permitiu dar fôlego à imagem da besta, para que a imagem falasse e fizesse matar a tudo o que não a adorasse» (Apoc. 13:11-15).

Agora prestem atenção: «E fazia que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, lhes pusesse uma marca na mão direita, ou na testa; e que ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser aquele que tivesse a marca ou o nome da besta, ou o número de seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, conte o número da besta, pois é o número de homem. E seu número é seiscentos e sessenta e seis» (vv. 16-18).

Esta segunda besta tem características que a fazem muito relevante para entender o que está ocorrendo hoje. O irmão Austin-Sparks diz que o anticristo tem várias fases; em primeiro lugar, é um espírito; em seguida, uma pessoa. Mas primeiro vem como um espírito que opera na sociedade e que ataca a igreja.

A segunda besta, de alguma forma, encarna o espírito maligno do anticristo. Temos, em seguida, um anticristo em duas partes: uma parte política e visível em um império, e uma parte muito mais sutil e influente, que trabalha para estabelecer o governo do anticristo no coração das nações de todo o mundo.

A segunda besta é um falso profeta, que se serve principalmente da palavra e da linguagem, da comunicação de ideias e do pensamento. Não é um poder político, mas cultural, religioso e ideológico. Isto o faz tremendamente efetivo e terrível. Trabalha no nível do pensamento e das ideias. Quando nos diz: «E fazia que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres», mostra que é capaz de seduzir a todas as classes sociais, sem importar as suas tendências políticas.

Todos os diferentes níveis da sociedade são enganados pela capacidade de persuasão das ideias que esta besta transmite. Então, ela faz que às pessoas se marquem com uma marca que é colocada em primeiro lugar na mão direita e em seguida na testa. O que quer dizer essa marca na testa e na mão? Alguns acreditam que é um chip de computador, outros dizem que é uma marca física; mas isso não é o importante.

Um modo de pensar

A marca da besta tem a ver com uma forma de pensar e de fazer. A testa se refere ao pensamento, e a mão, às obras do homem. O pensamento rege as obras. Se Satanás cativa o pensamento, em seguida se apropria da nossa conduta. Os pensamentos geram sentimentos, e estes, por sua vez, geram condutas recorrentes. A besta se apodera da mente e dos sentimentos, quer dizer, da alma das pessoas, e em seguida se apodera de suas obras. Seu fim é produzir uma geração que se prostre e adore ao anticristo.

Quando surgir a besta, como será possível que todas as nações a adorem e a sigam? Aqui há um trabalho sutil, de engano e de sedução, criando uma maneira de pensar e sentir que predisponha a todo mundo a servir o anticristo. Por isso é uma batalha pela mente e pelo coração dos homens.

Recordam o que Paulo adverte a Timóteo? «...nos últimos dias virão tempos perigosos». Para quem? Para a igreja. Por quê? Porque haverá uma geração de homens amantes de si mesmos, que só vivem para satisfazer os seus desejos e se exaltam a si mesmos, impetuosos, soberbos, implacáveis e desleais; em suma, uma geração corrupta que terminará prostrando-se diante do anticristo.

Creia-me, se estamos chegando ao final dos tempos, essa geração já está sendo preparada. A apostasia consiste em criar uma geração inteira que tire de seus caminhos todo pensamento de Deus, erradicando a Deus e à lei moral de Deus do seu coração e de sua alma, para prostrar-se diante do anticristo.

Tal espírito procura destruir os fundamentos colocados pelo Criador, não só no discurso público, mas na alma humana. Esta é a batalha que é travada hoje. O único poder que pode enfrentar este espírito, este mistério de iniquidade, é a igreja do Senhor Jesus Cristo. Não são os governos que farão, nem os legisladores. Não nos equivoquemos; não podemos pôr nossa confiança nos poderes seculares, porque eles já estão dominados por ideias rebeldes e anticristãs.

A batalha que enfrentamos

Esta confrontação já está a caminho. É a confrontação final entre a luz e as trevas, entre a verdade e o engano, entre o mistério de Deus que é Cristo e sua igreja, e o mistério de Satanás, que é uma anti-igreja, uma humanidade corrompida. Assim como Deus tem uma igreja a imagem de seu Filho, Satanás procura criar um homem a sua semelhança, em sua ambição de usurpar o lugar de Deus. Um homem rebelde, que despreza o conhecimento de Deus e que se ama a si mesmo por sobre todas as coisas.

«Aquele que tem sabedoria conte o número da besta, porque é número de homem». Esse número representa o caráter essencial da besta: a exaltação do homem. É 666, porque 6 é o número do homem e três vezes 6 significa o homem em lugar de Deus, visto que 3 é o número de Deus. O homem, usurpando o lugar de Deus, é a suprema abominação, «a abominação desoladora».

Esta é a batalha que enfrentamos. A verdade tropeçou na praça, e aquele que faz o bem é colocado na prisão. Então virá uma inversão total dos valores, ao ponto em que ser cristão será considerada uma imoralidade. Em muitos lugares, já hoje, agir como cristãos é considerado contrário aos ‘verdadeiros valores morais’ do progresso humano. É um investimento completo do modo de pensar. A isto enfrentamos.

Finalmente, o que se requer hoje é conhecer o Senhor Jesus Cristo profundamente. Nós somos a luz do mundo, e essa luz –o testemunho de Cristo em nós– pode definir-se em três grandes aspectos. Em primeiro lugar, a igreja é depositária da verdade de Deus. Um sinal da apostasia é quando a igreja abandona a palavra de Deus e a substitui pela palavra dos homens. Isso já está ocorrendo em muitas assembleias. Em segundo lugar, o amor, a compaixão e o caráter de Cristo devem estar encarnados na igreja. Uma igreja que não tem o caráter de Cristo, perdeu o testemunho de Deus na terra. E o terceiro elemento é aquele poder, os sinais, a vida, a autoridade do Espírito Santo nela. Estes são os únicos elementos que a igreja necessita para enfrentar o mundo e vencê-lo.
Que o Senhor socorra a todos! Amém.

Síntese de uma mensagem oral ministrada no El Trebol (Chile), em janeiro de 2017.

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