Perfil de um apóstata

O engano de Balaão se converte em caminho, e termina em doutrina que corrompe.

Rubén Chacón

“Ninguém vos engane de nenhuma maneira porque não virá sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição” (2 Tes. 2:3).

O Senhor Jesus Cristo não retornará sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição. Esta profecia do apóstolo Paulo não lhes parece ser assombrosa? Ele profetizou que, antes da vinda do Senhor, ia manifestar-se a apostasia. Este será o nosso tema hoje.

Quero lhes apresentar, a modo de introdução, algo que li do irmão Austin-Sparks, onde ele, falando do anticristo distingue três aspectos do personagem. O primeiro que diz apoiado em 1 João 4:2-3, é que o anticristo é, primeiramente, um espírito. Então podemos falar do espírito do anticristo.

1 João 4:2-3 diz: «Nisto conheceis o Espírito de Deus: Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne, é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne, não é de Deus; e este é o espírito do anticristo, o qual vós ouvistes que vem, e que agora já está no mundo».

O "espírito" do anticristo

É necessário distinguir o anticristo do espírito do anticristo, porque este último já está no mundo, antes da manifestação do anticristo. Paulo diz: «Porque já está em ação o mistério da iniquidade» (2 Tes. 2:7), e ele o estava dizendo em seus dias! João diz: «...e este é o espírito do anticristo, o qual vós ouvistes que vem e que agora já está no mundo». O anticristo ainda não veio, mas o espírito do anticristo já está operando.

Em segundo lugar, diz Sparks que o anticristo é uma pluralidade. Em 1a João 2:18 o anticristo é muitos anticristos. «Filhinhos, já é o último tempo; e segundo vós ouvistes que o anticristo vem, já muitos anticristos tem surgido; por isso conhecemos que é o último tempo». Em seus dias, João estava dizendo que estamos no último tempo. E por que diz isso? Porque «segundo vós ouvistes que o anticristo vem –diz agora em profecia– já muitos anticristos tem surgido; por isso conhecemos que é o último tempo».

Assim, temos o espírito do anticristo e muitos anticristos, que já tinham surgido no tempo de João. Portanto, mesmo que o anticristo não apareça, já está operando o espírito do anticristo e, por operação desse espírito, têm surgido muitos anticristos.

E em último termo, apoiado em Apocalipse 13:1-10, sob o nome da besta, Sparks se refere à aparição do anticristo como uma pessoa –o anticristo–, que será o clímax da operação do mistério da iniquidade. Este personagem será a obra mestra de Satanás, seu melhor produto apresentado ao mundo; o triunfo do humanismo, a aparição de um super-homem ao qual o próprio Satanás delegará seu trono, seu poder e sua autoridade.

Obra paralela

Assim temos o espírito do anticristo, muitos anticristos e finalmente, em um evento futuro ainda para nós, a aparição do anticristo propriamente dito em um só personagem, coroando esta obra diabólica que, claramente, é uma obra paralela à obra de Deus.

Deus atua por um lado, e Satanás vai imitando a obra divina, tratando de anular, obstaculizar e até destruir a obra de Deus. Notemos que a obra de Deus também é primeiro um espírito –o Espírito de Deus, o Espírito Santo, o Espírito de Cristo–, o qual faz surgir também uma pluralidade: muitos cristos que formam uma corporatividade – o corpo de Cristo. Finalmente, a obra do Espírito Santo dará como resultado glorioso a volta de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual destruirá ao iníquo com o Espírito de sua boca e com o resplendor de sua vinda.

Temos estes três aspectos como modo de introdução. E o que tem a ver isto com a apostasia? Se voltarmos para 1a João, nos centraremos nos muitos anticristos. 1 João 2:18: «Filhinhos, já é o último tempo; e segundo vós ouvistes que o anticristo vem, assim agora surgiram muitos anticristos; por isso conhecemos que é o último tempo». Olhem a frase que segue, no versículo 19: «Saíram de nós». Saíram dentre nós!

Se Paulo profetizou a apostasia, como lemos, é porque o diabo não está tão interessado nos fundamentos da sociedade como em destruir os fundamentos da igreja. Seu objetivo não é destruir apenas a sociedade, mas, por meio dela, arrasar os fundamentos da igreja. E o fato de que Paulo tenha advertido que vai se manifestar a apostasia antes que o Senhor retorne, indica que o diabo terá algum grau de êxito em destruir os fundamentos, não de toda a igreja, mas de muitos crentes.

Atitude vigilante

A carta à igreja em Éfeso, em Apocalipse capítulo 2, mostra-nos como uma igreja local abandonou o seu fundamento. Cristo, como nosso primeiro amor, é aquele fundamento do serviço e da vida da igreja. Se a igreja perder a Cristo como seu primeiro amor, terá perdido o seu fundamento. Esta é a desgraça da igreja em Éfeso, e aí está o Espírito de Deus tratando de rebater essa obra do maligno.

Desta forma, se forem destruídos os fundamentos, isso tem que ser interpretado principalmente dentro da igreja. O que acontecerá se forem destruídos os fundamentos da igreja de Jesus Cristo? Estes muitos anticristos, sob a operação do espírito do anticristo, diz João, assombrosamente, «saíram de nós», estiveram entre nós, foi parte do povo de Deus. Isto nos põe em alerta, em uma atitude vigilante.

Temos que permitir que a palavra de Deus nos examine, porque o anúncio da apostasia significa que Satanás terá algum grau de êxito em sua ação destruidora, embora não sobre toda a igreja, porque «as portas do Hades não prevalecerão contra ela»; mas, talvez, em apartar, separar e destruir aquele fundamento em muitos crentes.

Não deixa de ser surpreendente que João fale de «muitos anticristos». Qual é a sua relação com a apostasia? Que estes muitos anticristos, se saíram dentre nós, não são outra coisa que pessoas que caíram vítimas da apostasia; que, sendo do povo de Deus, terminaram renegando a sua fé no Senhor que os resgatou, deixaram o caminho reto, extraviaram-se e foram por um caminho de perdição.

Exemplo concreto

Quero lhes convidar agora a um exemplo concreto de um apóstata. O Espírito Santo destacou várias figuras do Antigo Testamento como exemplos, neste caso, como maus exemplos. Que o Senhor não permita que nenhum de nós imite a sua conduta; mas a Escritura diz que muitos seguem a estes que se constituíram em apóstatas. Por exemplo, a Escritura menciona a Caim, a Coré, o da rebelião, e ao profeta Balaão.

A figura de Balaão é a melhor desenvolvida nos textos, para que vejamos o perfil destes muitos anticristos que não são outra coisa que os próprios apóstatas que saem dentre nós e que renegam o Senhor. Quero mencionar três aspectos com respeito a Balaão, mencionados em Judas 1:11. Fala-se dos apóstatas que seriam sinônimos de «muitos anticristos», dizendo: «Ai deles!, porque seguiram o caminho de Caim, e se lançaram por lucro no engano de Balaão, e pereceram na contradição de Coré».

Interessa-nos a segunda frase: «se lançaram por lucro no engano de Balaão». Há quem imite a Balaão, porque os maus exemplos também têm seguidores, e também são muitos. Estes, motivados pelo lucro, pelo desejo de ganhar dinheiro, lançam-se no engano de Balaão.

2 Pedro 2:15 diz uma segunda coisa de Balaão, outra vez falando dos apóstatas: «deixaram o caminho reto, e se extraviaram seguindo o caminho de Balaão filho de Beor, o qual amou o prêmio da maldade». Não fala aqui sobre o engano de Balaão e sim do caminho de Balaão. Diz que Balaão «amou o prêmio da maldade». Notem que esta palavra no grego é ágape. Balaão não só teve afeto para com o dinheiro, mas amou o salário da maldade.

E terceiro, na mensagem a Pérgamo, em Apocalipse 2:14, o Senhor diz a esta igreja que ele tem umas poucas coisas contra ela. A primeira, «que tem aí aos que retêm a doutrina de Balaão, que ensinava a Balaque a pôr tropeço diante dos filhos de Israel, e a comer de coisas sacrificadas aos ídolos e a cometer fornicação». Ali, alguns irmãos (não toda a igreja) retinham a doutrina de Balaão.

Já mencionamos o engano de Balaão, o caminho de Balaão e a doutrina de Balaão; mas não se diz no que consiste cada um deles. Onde podemos examiná-los, na Escritura?

A história completa é registrada no livro de Números, do capítulo 22 em diante, onde eles estão perfeitamente delineados: o engano de Balaão (Núm. 22:1-20); o caminho de Balaão (Núm. 22:21-40), e a doutrina de Balaão, todo o capítulo 25.

O engano de Balaão

Os israelitas acampam aos pés dos campos de Moabe, e o rei Balaque está aterrorizado, porque sabe que por onde eles passaram, o Senhor lhes deu vitória. E então, Balaque junto com os anciões de Midiã tomam acordo de contratar os serviços de Balaão, que não é profeta hebreu, mas midianita, mas que tem comunicação com Deus.

Balaão desconhece o que significa o povo de Israel para Deus. Então Balaque oferece lhe pagar muito bem para que amaldiçoe ao povo que está ameaçando a Moabe. «Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois mais poderoso é do que eu; talvez o poderei ferir e lançar fora da terra; porque eu sei que, a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado.» (Núm. 22:6).

«Então foram os anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos; e chegaram a Balaão, e disseram-lhe as palavras de Balaque.E ele lhes disse: Passai aqui esta noite, e vos trarei a resposta, como o SENHOR me falar; então os príncipes dos moabitas ficaram com Balaão.E veio Deus a Balaão, e disse: Quem são estes homens que estão contigo?E Balaão disse a Deus: Balaque, filho de Zipor, rei dos moabitas, os enviou, dizendo:Eis que o povo que saiu do Egito cobre a face da terra; vem agora, amaldiçoa-o; porventura poderei pelejar contra ele e expulsá-lo.Então disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás a este povo, porquanto é bendito.Então Balaão levantou-se pela manhã, e disse aos príncipes de Balaque: Ide à vossa terra, porque o SENHOR recusa deixar-me ir convosco» (v. 7-13).

«Volte para a tua terra, porque Jehová não me quer deixar ir convosco». É como se o profeta dissesse: «Jehová não me quer deixar ir com vocês, embora eu queira ir». Eles levaram a mensagem a Balaque. Este rei necessitava que Balaão amaldiçoasse a Israel; do contrário, a sobrevivência de Moabe estava em perigo. Então mandou pessoas mais importantes, e disse: «Sem dúvida te honrarei muito; vem, pois, agora, e me amaldiçoe este povo» (v. 17).

E o que Balaão fez? Recebeu-os em sua casa e lhes deu alojamento dizendo: «Rogo-vos, portanto, agora, que repousem aqui esta noite, para que eu saiba o que me torna a dizer Jehová» (v. 19). Era necessário que consultasse de novo? Se Deus disser Não um dia, no outro dia poderia dizer Sim? Então o profeta dormiu de novo, e Deus lhe falou.

«E veio Deus a Balaão de noite, e lhe disse: Se estes homens vierem a te chamar, se levante e vá com eles; mas fará o que eu te digo» (V. 20). Nós diríamos que, quando Deus diz vue não, no outro dia não diz que sim. Mas aqui está registrado que um dia disse Não e no outro dia disse Sim.

Vontade "permissiva"

«Então Balaão levantou-se pela manhã, e albardou a sua jumenta, e foi com os príncipes de Moabe.E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos com ele» (v. 21-22). No que ficamos? Se Deus lhe disse sim, por que em seguida se acendeu a sua ira? Na verdade, não é que esta segunda vez que consultou, Deus lhe disse «Sim», mas Balaão recebeu de Deus um «Tudo bem!».

Vocês que são pais, algum dos seus filhos recebeu em alguma ocasião um «Tudo bem!»? Seu filho lhe pediu algo, e você lhe disse: «Não, por algum motivo». «Mas, papai!, por que não? Você sempre diz que não!». E o filho insiste, até que o pai termina dizendo: «Tudo bem!». Mas essa expressão não é um Sim. E o filho acredita que vai com o agrado do papai e da mamãe. E como ficam eles? Igual ao Senhor, decepcionados.

Irmãos, isto nos deveria fazer tremer, se somos obstinados. Nós cremos que não podemos fazer uma quebra de braço com Deus, mas aqui há um exemplo onde Deus, ao ver a teimosia de Balaão, que não está vibrante com os interesses divinos, lhe diz: «Bom, se insistir em fazer a sua própria vontade, está bem, anda!». Não lhes parece terrível?

O amor ao dinheiro

Pergunto-me: Quando Deus me tem dito que sim, era realmente um Sim, ou era um «Tudo bem!»? Que tremendo! Então, o engano de Balaão é a insistência, a teimosia. Se Deus disse que não, é Não, e ponto; e não devia ter insistido. Mas, o que havia nele que o motivou a insistir? O amor ao dinheiro. Tal é o engano de Balaão.

Por isso, a frase de Pedro é interessante: «Amou o preço da maldade», a recompensa, o salário, da maldade. Amas o dinheiro, irmão? Resposta: «Não irmão, por nenhum motivo». Mas, quantas das nossas dívidas podem mostrar que amamos o dinheiro? Quantos dos que tem prosperado acumulam mais do que o necessário, devido ao amor ao dinheiro? Quantos são aficionados por trabalho «work-holics», mas o que se esconde no fundo é o amor ao dinheiro?

Este tema é uma coisa séria. Este era um profeta de Deus, alguém que estava no caminho reto, mas caiu neste engano. O que é que tem que nos mover? O amor a Cristo, e não o amor ao dinheiro. Mas, quando os fundamentos são destruídos e não é o amor a Cristo que nos governa, um ídolo tomará o lugar de Cristo.

O amor ao dinheiro é mencionado na primeira epístola a Timóteo, em uma passagem que se aplica a todos, não só aos apóstatas, mas a todos nós, e que confirma de maneira clara o que estamos dizendo. E se for para os crentes, para os que estão no caminho reto e não se extraviaram, então temos que atendê-la.

«Mas grande ganho é a piedade acompanhada de contentamento...» (1 Tim. 6:6-10). Os que gostam dos negócios, aqui está o grande ganho, o grande negócio: viver piedosamente e com gozo, contentes. «...porque nada temos trazido para este mundo, e sem dúvida nada poderemos levar. Assim, tendo sustento e abrigo, estejamos contentes com isto. Porque os que querem enriquecer caem em tentação e laço, e em muitas cobiças néscias e danosas, que afundam os homens em destruição e perdição».

Esta é palavra de Deus, «porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, o qual cobiçando alguns, extraviaram-se da fé, e foram transpassados de muitos dores».

Ou seja, não só Balaão caiu neste engano, mas alguns mais, seguindo este exemplo. Os apóstatas se lançam por lucro, por amor ao dinheiro, no engano de Balaão, fazendo do dinheiro a motivação de suas vidas.

E visto que estamos falando dos fundamentos, o que estamos dizendo é que nós os filhos de Deus temos que viver motivados pelo amor a Cristo. Vivemos para Cristo, vivemos por Cristo e vivemos em Cristo. Que o Senhor examine os nossos corações por meio de sua palavra e lance luz se houver alguma treva nestas coisas, porque não queremos cair no engano de Balaão.

Voltando para Números 22, um engano pode ser algo pontual. Você comete um engano e o reconhece, arrependendo-se disso. Mas, se persistir naquele engano e começar a reiterá-lo, então o engano pode se tornar o seu estilo de vida.

Então o engano se transforma em caminho, porque não é que você simplesmente tenha errado, mas que agora começa a caminhar no engano.

O caminho de Balaão

Balaão sai, crendo que Deus lhe havia dito Sim, embora não seja isso. Ele sai, crendo que Deus o aprova, e vai fazendo a sua própria vontade, cumprindo os seus desejos, seguindo o que ele ama –o dinheiro–. E Deus tem que sair para atrapalhar. Pedro diz que Deus teve que usar uma mula de carga para refrear a loucura do profeta. Que tremendo!

Este é o caminho de Balaão – acreditar que alguém vai fazendo a vontade de Deus, que vai agradando ao Senhor, e a verdade é que Deus está irado, e ele fica como adversário. Não adversário no sentido de que não te ama, mas tem que frear o seu extravio, e está disposto a tudo para te deter.

Balaão ia feliz, crendo que Deus lhe tinha dado a sua aprovação. No trajeto, lhe apareceu o anjo de Jehová com uma espada. Deus tem que parar a loucura do profeta, lhe estreitando o caminho. O profeta se enfurece e castiga o animal, mas não vê o anjo com a espada, embora a mula estivesse vendo.

Qual é a ironia aqui? Se alguém for profeta, a sua característica primitiva é que tenha visão do Senhor e das coisas do Senhor. Entretanto aqui, a mula vê, mas o profeta está cego. Aquele que teria que ver, não vê, e aquele que não tem por que ver está vendo. Finalmente, o Senhor lhe deu visão, e Balaão viu o anjo de Jehová com a espada.

Neste relato de Números 22 é mencionado oito vezes a palavra caminho. O caminho de Balaão é seguir crendo que vamos na vontade de Deus, mas melhor dizendo tendo a ele por adversário; crendo que Deus tem dito Sim, quando na verdade ele está nos permitindo levar a cabo os nossos desejos; mas em seguida sairá para resistir.

«Então o anjo do Senhor lhe disse: Por que já três vezes espancaste a tua jumenta? Eis que eu saí para ser teu adversário, porquanto o teu caminho é perverso diante de mim; porém a jumenta me viu, e já três vezes se desviou de diante de mim; se ela não se desviasse de diante de mim, na verdade que eu agora te haveria matado, e a ela deixaria com vida» (v. 32-33).

Balaão repensou imediatamente e disse: «Pequei, porque não sabia que estavas neste caminho para te opores a mim; e agora, se parece mal aos teus olhos, voltarei.E disse o anjo do SENHOR a Balaão: Vai-te com estes homens; mas somente a palavra que eu falar a ti, esta falarás. Assim Balaão se foi com os príncipes de Balaque» (v. 34-35).

Deus lhe permitiu seguir o seu caminho, porque sabia que, apesar da grande lição, no coração de Balaão governava o amor ao dinheiro. Em seguida, o profeta chegou onde Balaque estava e este o levou três vezes a um monte para que amaldiçoasse a Israel, mas Balaão, sujeito às palavras de Deus, em lugar de amaldiçoar, fez umas profecias preciosas para Israel.

Balaque entendeu que Deus estava decidido a abençoar Israel. «Então a ira de Balaque se acendeu contra Balaão, e bateu ele as suas palmas; e Balaque disse a Balaão: Para amaldiçoar os meus inimigos te tenho chamado; porém agora já três vezes os abençoaste inteiramente. 11 Agora, pois, foge para o teu lugar; eu tinha dito que te honraria grandemente; mas eis que o SENHOR te privou desta honra» (Núm. 24:10-11).

A doutrina de Balaão

Balaão voltaria para a sua terra cheio de alegria, ou com dor de ter perdido a oferta? Aqui temos o último ponto, a doutrina de Balaão. A cena não está na Bíblia, mas é provável que Balaque tenha lhe dito: «Bem, se não pudeste amaldiçoar a Israel, porque Deus lhe impediu, ao menos me diga como poderíamos fazer para destruir os israelitas».

Aqui aparece a doutrina de Balaão. Este desalmado profeta, depois daquela lição, movido pela cobiça, deu-lhe conselho de como destruir a Israel. Quando os inimigos do povo de Deus não podem matar ao povo fisicamente, tratarão de corrompê-lo espiritualmente, para que o juízo de Deus o destrua.

«E Israel deteve-se em Sitim e o povo começou a prostituir-se com as filhas dos moabitas.Elas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses.Juntando-se, pois, Israel a Baal-Peor, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel» (Núm. 25:1-3).

A mortandade, produto do juízo de Deus, foi de 24.000 israelitas. O que isto tem a ver com a doutrina de Balaão aqui no capítulo 25? A resposta está em Números 31:16. Sem este versículo não seria possível entender que a doutrina de Balaão está em Números 25, porque aqui não aparece Balaão. Entretanto, Números 31:16 diz: «Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredir contra o Senhor no caso de Peor; por isso houve aquela praga entre a congregação do Senhor».

Quando Deus toma vingança contra Midiã por ter corrompido a Israel, os israelitas mataram os midianitas e entre eles a Balaão. Este texto mostra que foi o próprio Balaão que deu o conselho a Balaque de como destruir o povo de Deus corrompendo-o espiritualmente. Sem dúvida, embora o texto não retrate, agora sim recebeu o dinheiro. E se a vez passada se livrou de que o anjo de Jehová o matasse, agora o juízo de Deus caiu sobre ele, e foi morto.

Doutrina que confunde

Em uma palavra, a doutrina de Balaão consiste em confundir. Apocalipse 2, falando de Jezabel, cuja conduta é similar a de Balaão diz: «...toleras que essa mulher Jezabel [...] seduza os meus servos para fornicar e a comer coisas sacrificadas aos ídolos» (Apoc. 2:20). Estava proibido aos filhos de Deus unir-se em jugo desigual com estrangeiras. Deus sabia que elas iriam inclinar o coração dos israelitas, que se uniu às moabitas e terminaram adorando ídolos.

A doutrina de Balaão pode nos seduzir a amar ao mundo; com o engano de que nada nos acontecerá se o fizermos. Por isso, a primeira carta de João é tão forte: «Não ameis o mundo, nem as coisas que estão no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, os desejos da carne, os desejos dos olhos, e a vangloria da vida, não provém do Pai, mas sim do mundo. E o mundo passa, e seus desejos; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre» (1 João 2:15-17).

«Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele». Este é um assunto de fundamento. O amor do Pai é o nosso fundamento, mas esse amor é ameaçado pelo amor ao mundo. Aquele que quiser se fazer amigo do mundo se constituirá em inimigo de Deus. A doutrina de Balaão é o amor ao mundo como se fosse algo inofensivo. Mas isto nos levará a abandonar a Cristo como o primeiro amor, para que outra coisa, um ídolo, tome o seu lugar.

A apostasia de Salomão

Outro exemplo dessa doutrina é a apostasia de Salomão. «E o rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da filha de Faraó: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, das nações de que o Senhor tinha falado aos filhos de Israel: Não chegareis a elas, e elas não chegarão a vós; de outra maneira perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor.E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração» (1 Reis 11:1-3).

Essas mulheres desviaram o seu coração, porque não eram do povo de Deus. «Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como o coração de Davi, seu pai, porque Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e Milcom, a abominação dos amonitas» (v. 4-5). O que o sábio rei Salomão faz, adorando ídolos? «Assim fez Salomão o que parecia mal aos olhos do Senhor; e não perseverou em seguir ao Senhor, como Davi, seu pai... E assim fez para com todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses» (v. 6, 8).

«E se zangou Jehová contra Salomão, por quanto seu coração se apartou do Jehová Deus do Israel, que lhe tinha aparecido duas vezes, e lhe tinha mandado a respeito disto, que não seguisse a deuses alheios; mas ele não guardou o que lhe mandou Jehová. E disse Jehová ao Salomão: Por quanto houve isto em ti, e não guardaste meu pacto e meus estatutos que eu te mandei, romperei de ti o reino, e o entregarei a seu servo» (v. 9-11). Esta conduta é exemplo perfeito de alguém que seguiu a doutrina de Balaão.

Necessitamos que o Senhor examine os nossos corações. O coração é enganoso e perverso mais que todas as coisas. Só a luz da palavra de Deus pode nos fazer ver a nossa verdadeira realidade.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em El Trebol (Chile) em janeiro de 2017.

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