O pacto

As bênçãos do pacto nunca deixarão de descer do céu.

Henry Law

“E estabelecerei o meu pacto entre mim e ti, e tua descendência depois de ti em suas gerações, por pacto perpétuo” (Gên. 17:7).

Queria te perguntar, leitor, se tua consciência testifica que você é um verdadeiro discípulo de Cristo; se tiveres lançado tua pobre alma em seus braços, e se tens levado toda a tua culpa e seus temores a sua cruz. Tens experimentado que, por morte ao pecado, estás crucificado com ele? Manifestas, vivendo para justiça, o poder da sua ressurreição com ele?

Se for assim, quantas razões têm para louvar ao Deus que tem infundido o fôlego de vida ao teu corpo, e o Espírito de vida a tua alma! Teus privilégios são grandes; tua parte é muito rica. Teu futuro é brilhante; tua herança é segura. Toda tua bênção pode ser resumida dizendo que o próprio Deus é um Pai que pactua contigo.

Esquadrinhe a Bíblia. Estude o contrato de tua liberdade celestial. Leia as Escrituras que lhe conferem posição tão alta. Neste mundo de miséria há quem reconta o seu ouro, suas joias e suas posses. Quanto mais deve fazê-lo aquele que é herdeiro de dois mundos, para conhecer a sua riqueza imperecível!

Tesouros que brilham

Há um conjunto de bênçãos em Jeremias 31 que se devem aplicar especialmente ao coração: santificação do espírito, adoção na família de Deus, luz divina e perdão eterno. O crente pode reclamar todas elas por causa da promessa do pacto.

«Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz Jehová: Porei a minha lei em sua mente, e a escreverei em seu coração; e eu serei para eles por Deus, e eles me serão por povo. E não ensinará mais ninguém a seu próximo, nem ninguém a seu irmão, dizendo: Conhece a Jehová; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz Jehová; porque perdoarei a maldade deles, e não me lembrarei mais de seu pecado» (33-34).

Quem não se deslumbraria ao contemplar os tesouros que brilham como campos de luz? Um pensamento inquieto pode perguntar como o Deus alto e santo, cujo ser é perfeito e cuja morada é a eternidade, pode pactuar com o homem baixo, vil e aborrecível, produto do pó.

Nenhum rei se aliaria com o abjeto rebelde que tem no calabouço. Como, então, pôde o alto céu descer até esta miséria, corrupção e sujeira?

Quando se olha essa cova onde a natureza humana se debate, parece que é impossível. Mas, apesar disto, a realidade é que Deus tem feito um pacto com cada um dos que estão debaixo da graça.

Filho, por seu pacto

Abraão é a primeira testemunha que atende a nossa chamada; era nascido no pecado, inclinado ao mal, filho da ira e carregado de iniquidade, tal como nós somos.

Mas o testemunho afirma que Deus se comunicou com ele: «Eis aqui meu pacto é contigo... E estabelecerei o meu pacto entre mim e ti, e tua descendência depois de ti» (Gên. 17:4, 7).

A seguir aparece Davi, quem, por ascendência natural, era como nós. Mas com verdadeira gratidão proclama: «Ele tem feito comigo pacto perpétuo, ordenado em todas as coisas, e será guardado...» (2 Sam. 23:5).

Até aqui tudo está claro: Deus pactua com o homem. Mas possivelmente algum crente se pergunte, duvidando, se depois de tudo, esse pacto não seria só para aqueles patriarcas do povo eleito. Mas a misericórdia de Deus nos traz uma resposta rápida nos dizendo que o pacto foi estabelecido com Abraão e com a sua descendência depois dele. «E se vós sois de Cristo, certamente sois descendência de Abraão, e herdeiros segundo a promessa» (Gál. 3:29). Esta verdade, leitor, brilha agora como o sol, e não se pode negar que, se és de Cristo, és filho de Deus por seu pacto.

Não de obras

Agora estamos em posição de analisar a natureza do pacto de Deus com as suas condições e a sua confirmação. A primeira coisa que temos que gravar bem na mente é que este não é um pacto de obras.

Certamente houve um momento em que se propôs semelhante acerto. «Faça isto e viverás», eram a condição e a recompensa. Mas, só veio a luz, quando aquele pacto já tinha morrido, porque o homem não o pôs em seu coração, mas o pisoteou, espalhou tudo aos quatro ventos, e imediatamente perdeu os seus privilégios. Aquela voz que começou com promessas concluiu com juízos de ira. A coluna da inocência foi derrubada para nunca mais levantar-se. Aquela página sublime foi despedaçada e já não tornaria a escrever-se.

Temo que haja muitos que, na noite escura do seu pecado, sonhem inutilmente que este pacto ainda é válido, e que por ele acharam a vida. Mas uma cana quebrada não é um bom apoio, nem a branda areia serve de fundamento. Um tratado violado não é um bom argumento.

Seria ridículo fazer reclamações quando não há nada o que reclamar. É como se o filho pródigo tivesse pedido que lhe recebesse apoiando-se em sua desobediência; como se um rebelde dissesse: «me perdoe, porque sou um traidor»; ou um criminoso demandasse: «me absolvam, porque sou culpado».

Estes são os vãos pensamentos dos que confiam em um pacto que desapareceu; que começou e terminou em Adão. A inocência não tinha suficiente poder para mantê-lo; e, como vão recuperá-lo aqueles que estão debilitados por aquele pecado?

Pacto eterno

Mas o pacto que protege ao crente é muito diferente. Está escrito com letras inapagáveis de amor eterno. Baseia-se na rocha de propósitos imutáveis. E isto é assim porque Deus «para sempre ordenou o seu pacto» (Sal. 111:9).

Mas, onde irá encontrar sua origem, seu vigor e seu frescor inalterável? O certo é que se existe, se é forte, e se é eterno, é porque Jesus o tem feito. É ele quem se apresenta diante de Deus como um segundo Adão; como cabeça de uma família nascida do Espírito. As promessas e condições que Deus lhe dá para nós se cumprem nele. O que Deus estipula, Cristo o leva a cabo.

Vejamos as condições: Deus requer que estejamos limpos de todo pecado, vestidos de retidão, renovados em toda faculdade de nosso espírito e alma. Cristo é o encarregado de realizar esta enorme tarefa. Deus promete que Cristo será nosso Deus; e Cristo promete que nós seremos o seu povo. Este é o novo pacto, feito e ratificado em Cristo.

Cristo é sua realidade

Por meio da fé podemos recolher frutos muito preciosos da árvore das Escrituras. Em Isaías 42:6 e 49:8, por exemplo, temos provisão abundante. Nestas passagens o Pai dialoga com seu Filho. Na câmara do conselho da eternidade, Deus, em sua majestade, diz: «Eu Jehová te chamei em justiça, e te sustentarei pela mão; te guardarei e te porei por pacto ao povo ... te guardarei, e te darei por pacto ao povo».

Aqui vemos que o próprio Jesus se constitui o pacto, porque, com efeito, o pacto não teria existência, nem continuidade, nem poder, se não fosse nele. Cristo é sua realidade, sua essência, sua plenitude, seu tudo; e sobre ele se fundamenta, se erigi e se conclui. Sem Cristo não há pacto. Mas se o recebemos, esse pacto passa a ser nosso com toda a sua verdade e sua riqueza. Aquele que o rejeita perecerá, porque carece da mais leve desculpa.

O próprio Jesus é o pacto, já que, como companheiro de Deus o Pai, o planeja, o deseja, o ordena, o compõe e o aceita. Ele é o pacto porque, sendo Deus-Homem, se encarrega dele e cumpre as suas condições.

Música que deleita

A evidência de Malaquias 3:1 é digna de se notar: «Virá subitamente ao seu templo o Senhor a quem vós buscais, e o anjo do pacto, a quem vós desejais». Cristo aparece aqui como o mensageiro deste pacto. Sua missão é vir com a grandeza do seu poder, transportado por seu amor e com a presteza que o zelo do seu coração lhe dá, para anunciar que se tem feito um pacto, e para informar do que este contém.

Por meio de sua Palavra e de seus ministros, ele nos lê linha por linha as concessões do contrato. Como um glorioso espelho, Jesus vai mostrando a Deus reconciliado, a paz estabelecida, toda a graça obtida, e as portas abertas do céu. Oh!, minha alma, as doces notas desta mensagem são a música que te deleitas?

Quando o mensageiro retorna para a mansão nas alturas, declara ao Pai celestial que aqueles pecadores ouviram do pacto de graça, humilharam-se arrependidos, passaram das trevas para a luz, do ódio ao amor, e de serem estranhos para serem filhos. Isto não nos leva a entrar no âmbito desse pacto?

Duplo fiador

Vejamos as boas novas de Hebreus 7:22. «portanto, Jesus é feito fiador de um melhor pacto». Cristo aparece aqui como fiador deste pacto. A missão do fiador é assegurar que as duas partes cumpram o contrato. No pacto de obras não havia nenhum fiador, e por isso fracassou tão rapidamente. Mas agora o Deus-Homem, Jesus, é o fiador tanto do Pai como de seu povo. Não é necessário que repita a bênção ilimitada que o Pai prometeu.

Tudo nos será dado, e nosso cálice transbordará. Assim será, porque Jesus é o fiador. As condições dos crentes se cumprirão com total segurança: se arrependerão, viverão por fé e serão frutíferas árvores de justiça. Jesus operará neles aquele querer e aquele fazer e, por último, os apresentará limpos e santificados, como uma igreja gloriosa, sem mancha nem ruga nem coisa semelhante. A verdade, o amor e o poder deste fiador conseguirão tudo isto.

Selado com sangue

Que deleites fluem, também, de Hebreus 12:24: «Jesus o Mediador do novo pacto». Cristo é o mediador entre Deus e o homem; é um com Deus e um com o homem; e põe a sua mão em ambos de forma que, nele, os dois devem ser um; a separação desaparece e se efetua a união. Por isso, as bênçãos do pacto nunca deixarão de descer do céu.

A verdade que contém Hebreus 9:15 proporciona um grande banquete: «Assim, por isso é mediador de um novo pacto, para que intervindo a morte para a remissão das transgressões que havia sob o primeiro pacto, os chamados recebam a promessa da herança eterna».

Antigamente, os pactos se tornavam válidos com o sangue de uma vítima. Quando Deus mostrou a Abraão o que era o pacto de graça, fez passar um fogo fumegante e uma tocha acesa entre os animais sacrificados. Isto era para indicar que o pacto eterno tinha que ser selado com sangue.

Ao morrer aquela vítima expiatória e reconciliadora, que não era outro senão o próprio Mediador, o Pai ficou satisfeito e exclamou: «Não esquecerei meu pacto, nem mudarei o que saiu dos meus lábios» (Sal. 89:34). A resposta do crente está cheia de louvor, porque sabe que Deus é seu Pai para sempre, por meio do pacto. A obra do Espírito faz que este pacto seja seguro e inviolável.

Pergunto-me, leitor, se teu coração fala com a mesma linguagem de gratidão. Há muitos, por desgraça, que preferem aliar-se com o mundo, adotando os seus costumes e os seus princípios. Em contrapartida, este lhes oferece um cálice transbordante de gozo imaginário, e quando as vítimas enganadas vão beber aquela taça, não acha mais que sofrimento e vergonha. Em seguida vem o fim. A condenação eterna deve confirmar a grande verdade de que a amizade com o mundo é inimizade com Deus.

Foge dessa armadilha enganosa. Sai fora, mantenha-se à parte, separa-te. Os que se perdem descobrem muito tarde que a sua aliança com o mundo os têm aprisionados ao inferno.

Do Evangelho em Gênesis

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