Consagrados à Verdade

Sob a influência do pós-modernismo, as pessoas não estão dispostas a crer naquilo que não desfrutam.

Cristian Cerda

Se forem destruídos os fundamentos, o que há de fazer o justo?” – Sal. 11:3.

Há um tempo atrás, participei de um aperfeiçoamento docente em Matemática. Me interessou, porque muitos dos expositores ali são os autores dos livros que são usados no sistema educacional.

Minha surpresa foi que, quando o professor começou a falar de Estatística, citou um livro de publicação nacional, onde se falava dos terremotos. E em referência a isto, disse: “Há pessoas que crê que os terremotos são uma forma de juízo divino porque nos portamos de maneira má”. E todos os professores assistentes riram. Como cristão aquilo me pareceu muito estranho.

Sociedade permeada

Entre os temas programados, havia um sobre Igualdade de Gênero. Também me interessava, porque era um conceito novo. A exposição versou sobre como as mulheres devem lutar no meio de uma sociedade machista, como tudo é pensado a partir dessa visão, e como a educação tem que responder a esse conceito de igualdade.

Dias atrás, em meu colégio, veio um expert para dar uma aula sobre a carreira docente. E sabem sobre o que ele falou? Explicando sobre a política pública de inclusão escolar, disse: “Não sei o que vamos fazer com a transexualidade, e já estamos discutindo”. E isso aumentou a minha inquietação.

Obviamente, o professor que falou dos terremotos validou a natureza ou, como diriam alguns, a sábia Mãe Natureza. Então, por que se fala de natureza e não de criação? Por que se fala de gênero e não de sexo? Porque a nossa sociedade está totalmente permeada por um pensamento que tem colocado o homem no centro de todas as coisas, substituindo toda realidade espiritual a respeito de Deus.

Hoje se pretende construir uma sociedade tolerante, que respeite todo tipo de pensamentos. Estamos dominados por uma linguagem que lentamente nos introduz à realidade em que querem nos modelar. Falamos de natureza e não de criação, de gênero e não de sexo, por um conceito linguístico que consiste em que a linguagem “cria a realidade” que queremos viver.

O papel da linguagem

Usualmente, a linguagem é considerada como um instrumento que permite descrever o que se percebe do mundo exterior, expressar o que se pensa e se sente no mundo interior, de um modo passivo ou descritivo. A realidade é assumida como algo já dado, e a linguagem se limita a descrevê-la.

No início do século XX, começa um ramo de estudo chamada Filosofia da Linguagem, a qual afirma que a linguagem não só permite falar das coisas, mas possibilita também que estas aconteçam. A partir do domínio da linguagem, é possível criar a realidade que esperamos que se viva.

Para os filósofos da linguagem, o ser humano é um ser que pode expressar-se por meio de símbolos. Neste sentido, a linguagem não só nos permite descrever a realidade, mas também a cria ou gera.

Em nenhum texto escolar do Ministério de Educação atual, fala-se de Criação, mas de evolução. Só se fala de Criação nas aulas de Religião. E isto é muito sutil, porque esta disciplina não é avaliada, assim que, o tema não tem importância. Hoje não se discute contra o criacionismo; simplesmente o omite, e se fala da Natureza.

O que é o homem?

Nos anos 90, publicou-se a chamada “Carta da Terra”, que marcou o pensamento desde essa década em diante. Esta carta diz: “Um dos enganos da sociedade humana é ver-se a si mesmo separada da Natureza, que a contempla como uma mera fonte de recursos. Temos que superar esta visão superficial, e colocar o homem em seu verdadeiro lugar. O que é o homem? É um componente imaturo da comunidade biótica”.

“O que é o homem, para que dele tenha memória, e o filho do homem, para que o visites? Tem-lhe feito um pouco menor que os anjos, e o coroou de glória e de honra” (Sal. 8:4-5). Notem como é citada a relação entre o homem e o que foi criado. “Fizeste-lhe assenhorear sobre as obras de tuas mãos; tudo pôs debaixo dos seus pés”. Portanto, o homem não é parte da natureza. “Tudo pôs debaixo dos seus pés”. Debaixo de quem? Do homem!

Um componente a mais?

E na relação que nos querem outorgar neste momento, o sentido com o qual nos querem fazer ver a nossa realidade, é que somos um componente a mais da natureza, um animal simbólico, em uma categoria de absoluta imaturidade. Portanto vamos insistir com esta ideia da linguagem.

Por que falamos de gênero e não de sexo? Um documento oficial da OMS, diz: “A identidade de gênero é a convicção pessoal, íntima e profunda, que pertence a um ou outro sexo, em um sentido que vai além das características cromossômicas e somáticas próprias”. O que isto quer dizer? “Em outras palavras, as naturais diferenças sexuais não determinam a identidade das pessoas como homens ou mulheres”.

O Conselho Econômico Social esclarece: “O sexo de uma pessoa é determinado pela natureza, mas seu gênero é elaborado pela sociedade, e a mesma coisa afirma a Comissão de Desenvolvimento Sustentável”. Quer dizer que eu posso nascer, por natureza, homem ou mulher; mas em seguida posso definir, com base nesta ideologia de gênero, a minha identidade. E minha identidade vai além das características cromossômicas e somáticas que me são próprias. Se dominarmos a linguagem, e fizermos que isto vá lentamente apresentando aquilo que queremos, vamos ter a sociedade que queremos viver.

A perversão da linguagem

Neste mesmo escrito, fala-se da perversão da linguagem. Por exemplo, o que se entende por família? Família e outras formas de família. O que se entende por regulação da fertilidade? Por políticas de saúde sexual e reprodutiva? Sempre estamos ouvindo estes termos. Vão sendo introduzidos certos conceitos que em seguida se transformam na realidade que esses conceitos quiseram determinar.

Tiveram que esclarecer que estes termos, direitos sexuais reprodutivos, liberdade ou autonomia reprodutiva, sempre implicava no aborto. Ou seja, quem os usava, o fazia permanentemente, com a consciência de que aquilo que estava dizendo deveria ir avançando para a ideia do aborto, a destruição do embrião nas primeiras etapas de seu desenvolvimento, por meios químicos ou mecânicos.

“Salva-nos, Senhor, que já não há pessoas fiéis; já não há pessoas sinceras neste mundo. Não fazem senão mentir uns aos outros; seus lábios lisonjeiros falam com dobres. O Senhor cortará todo lábio lisonjeiro e toda língua jactanciosa que diz: Venceremos com a língua; em nossos lábios confiamos. Quem pode nos dominar?” (Sal. 12:1-3, NVI). Quer dizer, o que eles vão dizendo, o que vão afirmando como palavras de sentido comum, é aquilo que lhes permitirá viver a realidade que eles querem.

Por que o controle da natalidade? Por que o aborto? Por que o casamento homossexual? Por que as medidas eugênicas? Por que a eutanásia? Tudo isto está emoldurado em uma linguagem que hoje se usa habitualmente. “Nós temos direitos”. Não há uma só verdade; cada um tem a sua própria verdade. Isto é o que acreditam, o afirmam, e cada qual crê ter a seu juízo o ponto de vista que deve ser respeitado por todos os outros.

Argumentos do pós-modernismo

Hoje vivemos em uma sociedade pós-modernista, que nega a existência de uma verdade objetiva. Assim como a beleza está no olho do espectador, o pós-modernismo argumenta que a verdade está apenas na mente de cada indivíduo. Isto leva o resultado da declaração: “Pode ser mau para ti, mas é bom para mim. Não há verdade absoluta”. Os absolutos são substituídos pelos sentimentos. Cremos no que nós gostamos ou no que nos atrai.

Conversávamos com uns irmãos que estiveram na Inglaterra, e comentavam como este sentido de gerar gosto nas pessoas chega inclusive às Igrejas. As pessoas vão às Igrejas porque gostam da música, porque gostam do pastor, porque lhes agrada o tipo de assistentes. Sob a influência do pós-modernismo, as pessoas não estão dispostas a crer naquilo que não desfruta.

Vocês tem ouvido a frase: “A reunião esteve entediante”? Por que, tem que ser algo divertido? No pós-modernismo o pluralismo é levado à verdade: cada ponto de vista é igualmente válido. “Essa é tua opinião; esta é a minha. Tua opinião é tão verdadeira como a minha”. Cada julgamento é simplesmente um assunto cultural. A verdade universal não existe. Este é o tipo de sociedade que está sendo construída hoje.

Fundamentos destruídos

“No Senhor acho refúgio. Como, pois, atrevem-se a me dizer: Foge para o monte, como as aves?” (Sal. 11:1, NVI). O que faremos frente a isto? Penso que no próximo ano os professores serão obrigados a ensinar as ‘políticas de gênero’. Até agora, no colégio onde trabalho, a lei nos salva. Temos um projeto educativo confessional evangélico, e a lei, até agora, nos permite. A isto nos agarramos com firmeza.

“Vejam como tencionam os malvados os seus arcos: preparam as flechas sobre a corda para disparar das sombras contra os retos de coração. Quando os fundamentos são destruídos, o que fica para o justo?” (Sal. 11:2-3, NVI). Destruiu-se o pacto matrimonial; aprovou-se a lei do divórcio. Derrubaram a virgindade pré-matrimonial. Hoje temos sexo livre.

Sobre o aborto. Ouviram os debates sobre o aborto? Um médico político dizia que, nas primeiras semanas da gravidez, aquilo não podia ser considerado como pessoa. E a outro participante que qualificava o aborto como um crime, respondeu-lhe: “O que acontece é que você nos quer tratar a todos como assassinos e pessoas cruéis; mas essa é a política do medo a Deus”. Incrível!

A família, como lugar de proteção e segurança. Não há nenhuma política pública que fortaleça a família. Tudo está se reduzindo ao trabalho social que o colégio deve fazer. Portanto, se os meninos estiverem obesos, não deve dizer aos pais que os alimentem bem; tem que criar ‘quiosques saudáveis’. Se os jovens tiverem relações pré-matrimoniais e as jovenzinhas ficarem grávidas, devem fazer educação sexual, quer dizer, informar dos riscos e ensinar o uso do preservativo. Não há lugar para a família como âmbito de amparo e de segurança.

Não há respeito à autoridade. Os filhos denunciam os seus pais diante dos tribunais, sem problemas, e frequentemente ganham os julgamentos.

O valor da vida do próximo. A vida não vale nada. Há um livro muito interessante, O Apagão Moral, de um escritor argentino. Embora o autor não seja cristão, olhem como descreve a sociedade:

“Durante o ano de 2009, três psicólogas coordenaram na procuradoria geral da cidade de Mar del Plata, grupos de reflexão com 30 pessoas entre 18 e 65 anos, que estavam processadas e sentenciadas por ter lesado de modo irreversível, ou por ter matado a outros em acidentes de trânsito. No ano seguinte (2010), apresentaram as conclusões dessa experiência no Congresso de Psicologia. O que mais surpreendeu às profissionais, e o que estremece a quem acessa o seu relatório, é que aquelas pessoas que cometeram estas irresponsabilidades não mostravam nenhum tipo de emoção diante do que tinham feito. Nada, nem culpa nem dor. Essa vítima tinha sido para estes assassinos ao volante apenas um objeto incômodo, que de repente bateu contra o seu para-brisa. Queixavam-se dos inconvenientes que lhes provocaram o processo judicial, e se consideravam vítimas de uma injustiça”.

Hostilidade à fé

A vida não vale nada. Podemos ir tranquilos pela rua, podem-nos assaltar, roubar ou matar. Não há preocupação nem mesmo pelo valor da própria vida, da dignidade humana, da dignidade da mulher, da justiça social. É um tempo dominado por um pensamento hostil à fé. O que se pretende é relegar a fé à igreja, e que só dentro de um edifício se pode falar com respeito a ela.

“Isto te escrevo, embora tenha a esperança de ir logo verte, para que se tardar, saiba como deves te conduzir na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivente, coluna e baluarte da verdade” (1 Tim. 3:14-15). Em meio de uma sociedade maligna e perversa, ela é o único lugar na terra onde está a verdade.

Nós, pela misericórdia do Senhor, aproximamo-nos da coluna e do baluarte da verdade. A verdade é absoluta, é real; não é relativa, não é uma opinião. Isto é vital nesta sociedade. Nós estamos no lugar onde há plena expressão da única verdade, excludente de todo o resto. Ela não está limitada a um conceito intelectual. A verdade é uma Pessoa, Jesus Cristo o Senhor.

O termo “verdade”, no original, significa “realidade”. A Escritura está dizendo que a igreja é coluna e baluarte da realidade. Todo o resto é irreal; em todo o resto há engano. Mas na igreja está a realidade, o fundamento ao qual podemos nos aproximar e estar seguros.

Aos jovens

Queremos passar aos jovens esta preocupação. Os únicos que podem consagrar-se à verdade são todos aqueles que creram no Senhor Jesus. Quando trabalho com os jovens, fico surpreendido com a sua habilidade e inteligência. Rogo ao Senhor que essa inteligência e essas capacidades possam ser postas aos pés de Cristo. E que, sendo assim, cada jovem consagrado possa ser uma expressão desta realidade, não confinado na igreja, mas neste mundo tão secularizado.

O Senhor quer levantá-los com a Sua verdade, para pô-los em um lugar alto, para que dali possa iluminar. Não percam tempo em outras coisas. O mundo quer apanhá-los e corrompê-los; quer pôr em seus lábios uma linguagem que não é da verdade, mas vocês têm o Espírito Santo de Deus!

Inclinem as suas vidas a Cristo. Não há outro sentido maior para as nossas vidas, mais ainda neste tempo. O Senhor deseja uma geração de jovens santos, separando-se do mal, alheios ao pecado, consagrados a Cristo e sendo uma expressão dele em todo lugar.

Um compromisso com a verdade

O encontrar-se com a verdade não é fácil. Quando a enfrento vejo a minha falsidade, a minha irrealidade. Mas a verdade me guiará ao arrependimento. Cada vez que esta realidade nos é passada pelo Espírito Santo, vemos que há algo em nós que não está de acordo com a verdade, e que deve ser modificado.

Antes de ir para a cruz, Jesus disse aos seus discípulos: “Vocês se escandalizarão de mim”. Pedro replicou: “Eu não me escandalizarei, embora todos se escandalizem. Minha vida porei por ti”. Mas Pedro estava diante da Verdade, e a Verdade lhe disse: “Sua vida porás por mim? Hoje me negarás três vezes”. Quando nos mostra quem somos realmente, tratamos de nos justificar, cheios de argumentos. Mas a verdade seguirá iluminando os nossos corações.

Temos um enorme desafio hoje. Queria, na graça do Senhor, que cada um de vocês tivesse um compromisso com a verdade de Deus em Cristo Jesus; não somente algo emocional, mas no plano da vontade, da decisão de fé.

As novas famílias, as novas ideologias, serão como as marés da costa chilena, que batem e batem até escavar tudo. Só Cristo é a rocha firme. Podem vir os ventos, os rios, a tempestade, mas a casa deve estar edificada na Rocha. Assim que os rogos, em meio desta sociedade que nos enche de opiniões e de uma linguagem maligna, que nos exponhamos à verdade de Deus que é Cristo Jesus, e nos consagremos à verdade; não a minha verdade, não a minha opinião ou ao meu ponto de vista.

Hoje o Senhor te pede uma decisão mais importante: que siga a verdade que é ele. E embora neste tempo ninguém mais ao seu redor queira dizer Sim ao Senhor, ele pede essa decisão do seu coração. Outros não o podem dizer por ti; é um Sim à vontade de Deus que só você pode dar.

Oremos. “Senhor, que tua obra avance em nós, em meio desta sociedade tão corrupta. Concede-nos uma geração que consagre as suas vidas a ti. Alcem suas vidas com a verdade que é Cristo Jesus. Pai, guarda esta preciosa geração de jovens e senhoritas. Pedimo-lo no nome de Jesus. Amém”.

Mensagem ministrada aos jovens em Santiago, em Outubro de 2016.

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