As armas da nossa milícia

Posicionemo-nos firmes sobre o terreno da fé; levantemo-nos para prevalecer.

Gonzalo Sepúlveda

“…participou (de carne e sangue) para destruir por meio da morte ao que tinha o império da morte, isto é, ao diabo … e despojando aos principados e potestades, exibiu-os publicamente, triunfando sobre eles na cruz ... E prendeu ao dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e o atou por mil anos ... E o diabo que os enganava foi lançado no lago de fogo e enxofre…” (Heb. 2:14; Col. 2:15; Apoc. 20:2, 10).

Fiel é Deus, pelo qual fomos chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo nosso Senhor. Desfrutamos da comunhão íntima com ele, tendo acesso a todos os benefícios obtidos por nosso Redentor.

Podemos e devemos nos apropriar de sua vitória. Temos que estar vigilantes, atentos a sua Palavra, pois a carreira cristã inclui a oposição de um inimigo que, embora vencido, tenta “roubar, matar e destruir” tudo que de graça recebemos como crentes.

O evangelho nos transportou das trevas para a luz; não obstante, ainda continuamos vivendo neste mundo, com uma alma em tratamento, que frequentemente se opõe à vontade divina, e com um corpo que pertence à antiga criação.

Afirmando o coração

Afirmamos o coração na obra consumada de nosso Senhor Jesus Cristo na cruz. Há uma vitória sobre as hostes malignas obtida ali, que não admite discussão (Heb. 2:14; Col. 2:15). Também temos o privilégio de conhecer o final da história, onde se confirma a derrota final e definitiva de Satanás e seus anjos (Apoc. 20:2, 10). Não há ambiguidade nesta sentença da bendita palavra de Deus.

Entretanto, há uma luta presente que não podemos ignorar, e devemos enfrentar essa batalha olhando para o passado, para o Cristo crucificado, e olhando também para o futuro, para o julgamento definitivo.

Na batalha da fé, na carreira cristã, tratamos com elementos visíveis e também invisíveis ao olho humano. Temos crido na palavra do evangelho que nos foi ministrada. Servimos a um Senhor que não vemos com olhos físicos, mas sabemos que vive e reina à mão direita da majestade nas alturas.

Temos o privilégio de viver inseridos no corpo de Cristo que é a igreja. Na casa de Deus podemos tocar os irmãos e nos sentir amparados pelo amor do Senhor e o contínuo consolo da companhia de irmãos com quem perseveramos juntos. A vivência do corpo de Cristo é a parte mais “visível” de nossa vida cristã.

Inimigos invisíveis

Mas também é muito real que batalhamos com inimigos invisíveis. “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas contra principados, contra potestades, contra os governadores das trevas deste século, contra hostes espirituais de maldade nas regiões celestes” (Ef. 6:12).

Paulo define isto como “as ciladas do diabo”, contra as quais temos de estar firmes. Tal é o mundo invisível que a palavra do Senhor nos ajuda a discernir, e é por seus ensinos que podemos descobrir e expor estas obras.

Paulo também dirá resolutamente: “…para que Satanás não ganhe vantagem sobre nós; pois não ignoramos as suas maquinações” (2 Cor. 2:11). Aqui temos dois elementos: o ganhar vantagem, e as maquinações. No contexto, fala-se de perdoar ao irmão que ofendeu. Mais tarde, Paulo falará da astúcia da serpente que conseguiu enganar a Eva e que busca desviar os crentes da sincera fidelidade a Cristo (11:2). Também dirá que Satanás e seus ministros se disfarçam “como anjos de luz”.

Temos uma série de declarações na palavra do Senhor com respeito a este tema: I Pedro 5.8 nos adverte que: “o nosso adversário o diabo, como leão rugindo, anda ao derredor procurando a quem devorar”.

O inimigo é quem tenta, amarra, divide, trai, ciranda, procura ganhar vantagem, se disfarça, esbofeteia, estorva, é autor de sinais enganosos, semeia joio e discórdia, e rouba a palavra semeada nos corações dos homens.

“O mundo inteiro está sob o maligno”, sentença I João 5:19. Ele promove o ocultismo em todas as suas formas, engana com os jogos de azar e cativa com as redes da pornografia.

Não devemos permitir que nos seduza, nem a nós nem aos nossos filhos. Não sejamos ingênuos, mas sábios em nossa maneira de pensar, pois tudo isto está muito próximo de nós. “Não deem lugar ao diabo” (Ef. 4:27). Quão ampla pode ser a aplicação destas palavras!

Primeira arma: O sangue do Cordeiro

“E eles o venceram por meio do sangue do Cordeiro e da palavra do testemunho deles e desprezaram as suas vidas até a morte” (Apoc. 12:11). Esta é uma palavra de grande consolo para todos aqueles que hoje travam batalhas. Os que durante a história lutaram no contexto de Efésios 6, são agora os vencedores que se descrevem em Apocalipse 12.

O sangue de Cristo nos lembra da vitória do Senhor na cruz; por outro lado, lembra do inimigo, da sua derrota e lhe tira todo o terreno de acusação, pois o sangue de Cristo nos limpa de todo pecado, limpa a nossa consciência das obras mortas e nos introduz até no mais íntimo do santuário celestial. Esta é a derrota do inimigo.
Neste sentido, as nossas orações devem ser uma declaração de fé, com autoridade do Senhor:

“Obrigado, Senhor Jesus Cristo, pois com teu sangue nos redimiste para Deus; estamos destinados a reinar contigo. Posicionamo-nos firmes no terreno da fé, proclamando que toda hoste espiritual de maldade foi vencida quando seu precioso sangue foi derramado na cruz. Levantamo-nos para prevalecer e esmagar todas as maquinações do diabo. Sabendo que nosso Salvador obteve, a nosso favor, uma grande e eterna salvação. Pai, oramos com a confiança de que um novo caminho foi aberto, pelo sangue de Jesus Cristo seu Filho, para entrar no Lugar Santíssimo, na sua própria presença, e aqui estamos Senhor, com nossas petições e nossas cargas, pedindo que o seu reino prevaleça contra toda oposição das trevas deste século”. (Estes elementos devem estar presentes em nossas orações; não como um modelo para memorizar).

Segunda arma: Humilhados diante do Senhor

“Submetei-vos, pois a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg. 4:6-10). O contexto tem a ver com voltar as costas ao mundo com as suas paixões e deleites, abandonando a soberba, aproximando-se de Deus, purificar os corações do ânimo duplo, desprezando a alegria mundana e quebrantando o coração. Então o diabo perde, você se enche de poder e autoridade, e ele fugirá diante da sua repreensão.

Não há como resistir ao inimigo com uma ousadia carnal. Não basta dizer: “Resisto Satanás”, e seguir vivendo levianamente, sem um compromisso de coração com Deus. Muitos cristãos falham nisto, culpando ao próprio diabo a quem lhe deram lugar de ação e acusação.

Sem consagração não há autoridade contra as trevas. E o inimigo estorvará, atará, anulará, enfraquecerá e adoecerá, pois se enfrenta a uma alma adúltera. O Senhor nos livre disto! Apressemos o coração em arrependimento. Hoje é um dia para recuperar terreno em resposta à palavra do Senhor.

Aqui devemos orar julgando nosso próprio coração:

“Senhor, por causa do seu chamado, e porque a tua luz entrou no meu coração, a minha consciência me dá testemunho do que agrada ou desagrada o teu coração. Descubro em minha alma os apetites carnais que querem retornar a ocupar a minha alma e meu corpo. Resisto a soberba da minha alma. Dou-te graças, pois teu sangue segue vigente para me limpar. Rogo-te que enchas meu coração com o teu Espírito. Procuro o governo do teu Espírito em todas as áreas da minha vida. Senhor, me mostre os teus caminhos. Renuncio ao oculto e vergonhoso e me consagro a ti. Obrigado por me deter e me atrair de retorno a ti. Que tua vida seja formada mais e mais em minha vida, até que outros possam ver a ti refletido em teu servo. Sou teu Senhor, minha vida te pertence”.

Terceira arma: a oração da viúva

“Faz-me justiça do meu adversário” (Lucas 18:1-8). É a oração de uma viúva que obtém justiça da parte de um juiz injusto, por causa de sua insistência. Assumamos a atitude dessa mulher. Nosso marido é o Senhor, “ausente temporariamente”. O adversário é o diabo. A viúva pede que lhe faça justiça, o qual implica que está sofrendo por causa da perseguição deste “adversário”.

Quanta coisa incompreensível nos entorpece no caminhar! Como se existisse uma via que nos conecta com uma entidade invisível em uma série contínua de dores, preocupações, sobressaltos, enfermidades, conflitos no interior de nossas famílias; coisas que nos consomem as energias do espírito, desgastando nossas reservas espirituais, invadindo nossa mente com ansiedades de todo tipo.

Estes são os inimigos invisíveis, que obtêm vantagem sobre o povo do Senhor e não lhe permitem avançar. Com frequência ficamos enredados e detidos por alguma causa secundária. Oremos com a insistência da viúva, sem cessar, até que nosso “Justo juiz” nos faça justiça. Neste ponto, as nossas orações devem ser persistentes:
“Senhor, tu és o Justo juiz. Nenhum detalhe escapa ao teu conhecimento. Viemos diante de ti confiados em tua justiça e misericórdia. Olha como o nosso adversário se levanta para desgastar os seus servos. Rogamos-lhe que nos faça justiça. Não permita que as coisas sigam tão enredadas que não possamos avançar. Que a carne nunca prevaleça, somente teu Espírito tenha ganho; que por nenhum motivo nosso adversário tenha ganho sobre a nossa vida. Atende a nossa súplica, e nos permita, em tua graça e tua justiça, ver a resposta das nossas orações. Abra-nos caminho, e confunda aos adversários de nossa alma”.

Quarta arma: Ligar e desligar

“…tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; e tudo o que desligardes na terra será desligado nos céus” (Mat. 16:18-19).

Esta promessa é feita no contexto da revelação de Cristo e a igreja. O inferno, as trevas, os principados e potestades de maldade, tentarão prevalecer contra a igreja. Há uma luta espiritual. Desde o começo, o Senhor nos diz que não há um caminho espaçoso para a igreja, mas haverá muitos inimigos tentando impedir o avanço da obra do Senhor (como Israel em sua peregrinação).

A ferramenta eficaz, a arma que prevalece, é a oração consertada da igreja: amarrando as obras das trevas, impedindo ao inimigo mover-se com a sua astúcia, seus enganos, tentações ou tropeços. Haverá um povo fiel que atarão as suas obras e suas maquinações, antes que as possa levar a cabo. O inimigo, “o homem forte” já foi amarrado. Podemos saquear a sua casa e obter despojos para o nosso Rei!

E não só ligamos. Não esqueçamos de desligar, no nome do Senhor, os cativos de incredulidade, aos que padecem enfermidades físicas ou espirituais; desligar a vontade do Senhor, a pregação do evangelho, a edificação da igreja. Desligar os servos que, possuindo dons da parte do Senhor, estão de alguma forma atrapalhados em sua mente. Terá que derribar argumentos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento do nosso Senhor.

Esta será uma oração corporativa. Não pode ligar e desligar sozinho. É uma promessa feita dentro de um contexto: a igreja, o corpo de Cristo, a casa de Deus, a comunhão íntima da Trindade. Unânimes, elevemos a voz ao estilo de Atos 4:24-31, e não estranhemos se obtivermos o mesmo resultado: que o lugar onde estivermos congregados estremeça, e que todos nós sejamos cheios do Espírito Santo.

Ali, os irmãos ligaram (“olhe as suas ameaças”) e desligaram (“e concede aos seus servos que com toda intrepidez falem a tua palavra”) a perfeita vontade do Senhor. Não fizeram petições pequenas. As necessidades humanas já estavam supridas; não eram estas o foco de atenção, mas sim que a palavra fosse pregada com intrepidez (zelo, ousadia, eficácia), pelos servos do Senhor e que Sua mão se estendesse para fazer sinais e prodígios exaltando o nome de seu santo Filho Jesus.

Neste ponto, nossa oração deve apontar para o avanço da obra do Senhor e à confusão dos seus inimigos:

“Pai nosso, tu és o dono de todas as coisas, visíveis e invisíveis, tu és o Deus eterno, soberano e glorioso que revelaste a nós por meio do teu Santo Espírito. Olhe, Senhor, quanto impedimento se tem levantado contra a tua obra e do teu Santo Espírito. Há inimigos que se opõem ao teu reino e glória. Hoje viemos como teus servos, plenamente convencidos que tua perfeita vontade é a salvação dos homens, o avanço de teu reino e a edificação de tua igreja. Portanto, em teu Nome, atamos as obras das trevas, destruímos as maquinações do diabo contra teu povo e de teus servos. Desatamos também a língua dos teus servos. Que se recupere a intrepidez do princípio, que as pregações tenham o fogo e a eficácia apostólica. Desatamos salvação para os homens desta cidade, salvação para os nossos familiares que não são convertidos. Desatamos os servos que não podem exercer o seu chamado porque o inimigo se levantou para entorpecer seus ministérios. Seja desatado o teu poder, e os incrédulos fiquem mudos e sem desculpa diante dos seus prodígios e milagres”.

Uma palavra de conclusão

“A noite está avançada e se aproxima o dia. Desprezemos, pois, as obras das trevas e nos vistamos das armas da luz” (Rom. 13:12-14).

É tempo de nos vestirmos do Senhor Jesus Cristo, e não prover para os desejos da carne. Certamente, há uma batalha, e muitos têm caído derrotados por não prestar atenção aos conselhos de Deus.

Atentemos para esta palavra. Há muitos conflitos esperando por nós lá fora, na família, no trabalho, na saúde, na sociedade. Há um inimigo atiçando essa caldeira infernal chamada mundo. Somos chamados para sermos contados entre os vencedores. Muitos já correram a sua carreira. Há recompensa no final desta batalha. Carreira e batalha demandam disciplina, dedicação, concentração.

Essa é a razão desta mensagem: estarmos atentos, e não nos deixar enganar. O leão ruge procurando os distraídos, aos que desprezam a comunhão, a quem critica tudo, mas que não julgam o seu próprio coração. Eles poderiam ser presas fáceis para o adversário. Vamos agora mesmo aos pés do Senhor, sem demora. Que ele tenha todo ganho no coração do seu povo.

Obrigado, Senhor, por tua palavra!

Síntese de uma mensagem compartilhada no Temuco, em outubro de 2016.

Design downloaded from free website templates.