A visão de Deus, uma necessidade

Toda a vida e o serviço cristão são verdadeiramente um assunto de visão.

T. Austin-Sparks

Leituras: Prov. 29:18; 1 Sam. 3:1; Zac. 4:1-2; Atos. 26:16-19; Rom. 1:1-3.

Se alguém me perguntasse qual considero a necessidade que envolve o maior número de assuntos vitais no povo do Senhor, resumiria tudo em uma palavra: Visão, uma visão dada por Deus. Se refletirmos por alguns minutos, veremos que a Bíblia é quase por inteiro um assunto de visão, que toda a fé cristã do Novo Testamento é um assunto de visão, e toda a vida e o serviço cristão são verdadeiramente um assunto de visão.

A visão compreende dois aspectos: significa algo visto, e também a capacidade de ver; é algo apresentado para ser visto, e a aptidão de ver aquilo que é apresentado. Isso é a visão. Pode haver uma visão imperceptível em um primeiro momento, uma apresentação não discernível. Sem dúvida, assim seria muito difícil estimar o valor e a importância da visão divinamente concedida.

No Novo Testamento é usada também outra palavra para visão. É a palavra revelação, uma expressão muito ampla. Sem importar que ponto trataremos em relação à vida cristã no Novo Testamento, estaremos tocando a visão ou a revelação.

O começo da vida espiritual

O começo ou aquele estado inicial da vida cristã é visto no Novo Testamento como um assunto de revelação ou visão. Isto é uma apresentação ao coração e uma apreensão íntima do Senhor Jesus; e a menos que seja essa a natureza do princípio da vida cristã, haverá uma carência essencial e vital.

Toda vida cristã que for um mero consentimento mental a certas proposições da verdade cristã, e um registro de seu nome em uma folha de papel que diga que você se fez cristão, carece de algo que é essencial para fazer dela uma força poderosa.

O princípio da vida de fé constitui uma revelação de Cristo ao coração em uma apreensão genuína dele. É um assunto de visão espiritual interior. Essa visão pode ser de caráter muito elementar, pode ser muito imperfeita no que concerne à plenitude de Cristo, mas é suficiente para seu fim imediato, e é tremendamente real para aqueles que a possuem, para aqueles que são capazes de dizer, com as palavras que forem: «Eu vejo o Senhor Jesus como meu Salvador». Quando tal coisa pode ser dita com realidade, isso representa visão, se essa for a visão do coração. Então, ao falar das origens da vida cristã, estamos nos referindo à visão.

A continuidade da vida espiritual

Quando tratamos da continuação da vida cristã no Novo Testamento, também nos encontramos com a visão. A continuidade desta vida é o desenvolvimento, o crescimento, o progresso, o que implica maior plenitude de Cristo.

Quando se alcança um entendimento mais pleno de Cristo, quando se obtém algum progresso, algum movimento, algum avanço, algum desenvolvimento, algum crescimento, sempre acharemos que isto ocorre por meio de uma nova visão ou revelação. É um desvelamento adicional, uma revelação mais plena. É uma nova apreensão apresentada ao coração, e algo novo visto pela obra do Espírito Santo. É muito diferente de um mero conhecimento intelectual ou doutrinário, o qual pode ficar curto frente ao dinâmico poder de expansão da vida espiritual.

O verdadeiro progresso, tal como o encontramos no Novo Testamento, tem como base uma revelação fresca, uma revelação mais plena, uma nova visão. Se isto for real, um crente ativo tem seu progresso marcado por ser capaz de dizer como no princípio: «tenho visto o Senhor de uma maneira nova, mais plena, com os olhos do coração iluminados».

A consumação da vida espiritual

O que é verdade sobre o início e à continuação, também o é com relação à consumação da vida espiritual. Se olharmos a consumação da vida espiritual, veremos que ela se relaciona com a revelação de Jesus Cristo. O que é a consumação da vida espiritual? A aparição de Cristo, com a qual está próxima e inseparavelmente ligada a consumação de nosso progresso espiritual. «Vejam qual amor nos deu o Pai, para que fossemos chamados filhos de Deus; por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu ele» (1 João 3:1). Esse é o começo.

«Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser; mas sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é» (v.2). Essa é a consumação da vida espiritual. Seremos como ele, porque o veremos. Há um maravilhoso poder de mudança pelo fato de ver o Senhor, do começo ao fim.

Visão necessária para o serviço

Isto também é válido para o serviço. Observemos o serviço no Novo Testamento, e comprovaremos que é inseparável da visão. Se o apóstolo Paulo for uma representação do verdadeiro serviço espiritual, é evidente que a visão foi a base de todo o relacionado com ele. «Não fui rebelde à visão celestial» (Atos. 26:19). Ele foi constituído ministro e testemunha porque o Senhor apareceu para ele. Ele fez referência a isso em sua carta aos gálatas com palavras que nos são muito familiares: «Mas quando agradou a Deus… revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios…» (Gál. 1:15-16). O serviço está ligado à visão.

Visão que liberta

Quão importante é, então, a visão, se ela for realmente o contexto, o fundamento, a base da vida e o serviço em relação ao Senhor Jesus. A visão exerce um poder maravilhoso entre o povo do Senhor. Um dos efeitos da verdadeira visão, da visão dada por Deus, é libertar o seu povo de tudo aquilo que seja menos que o Senhor, e esse não é um efeito menor. É um poder libertador.

Esta é a razão pela qual a visão é tão necessária hoje em dia. O povo do Senhor está tão limitado, tão tímido, tão estreito, tão preso, tão inibido e tão curto em seu horizonte espiritual. Muitos estão tão limitados pelas aceitações comuns tradicionais, porque «assim era no começo, assim é agora e assim será sempre», assim se refere a um sistema. É algo que se tornou estático, inalterado.

O próprio Paulo se moveu dentro de uma esfera muito rígida e fixa, o âmbito do «você deve e você não deve» –regras que podiam ser aplicadas em inumeráveis assuntos na esfera de um sistema muito rígido da vida religiosa– que o prendia a esta terra. Então ele teve a visão do Senhor; e no dia em que recebeu essa visão dada por Deus, se tornou livre desta terra, de toda ligação com o mundo, até no ambiente religioso. Ele foi libertado de tudo aquilo que, com terrível poder, o prendia tão rígida e firmemente em sua antiga vida.

Este é um dos milagres do Novo Testamento: como um iracundo fariseu, um judeu tão radical como Saulo de Tarso, pôde ser totalmente despojado de toda a tirania e escravidão do judaísmo, e sair para um lugar espaçoso onde ele pôde dizer: «Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão vale nada, nem a incircuncisão, mas uma nova criação» (Gál. 6:15).

Pensemos em um homem como Saulo de Tarso dizendo isso, com toda aquela historia por trás de si, seu nascimento, sua criação, sua instrução. Não é fácil livrar-se de algo que está no próprio sangue, e que esteve ali por gerações. Se fosse o nosso caso, nunca poderíamos pensar de maneira diferente. Não é algo passivo, mas algo ativo e enérgico em nosso ser, fazendo-nos tomar aquela direção. Isso era o judaísmo.

Toda aquela tremenda veemência de Saulo de Tarso o fez ser mais zeloso do que outros. «Avantajava a muitos de meus contemporâneos em minha nação, sendo muito mais zeloso» (Gál. 1:14), disse ele. Tudo isso estava em seu sangue. E agora encontramos um homem livre daquilo, repudiando toda essa situação e saindo dela, disposto a combatê-la e abatê-la, agora com uma nova força e um novo poder. Quem provocou aquilo? A visão. Não meramente uma visão mística, mas algo além do psíquico. É o milagre da revelação de Jesus Cristo, e nada mais pode realizá-lo. Esse tipo de visão nos liberta de tudo aquilo que é menos que o Senhor, mesmo que se trate de algo que tenha conotação religiosa.

Visão que unifica

A verdadeira visão, a que é dada por Deus, é um magnífico poder unificador e de consolidação. Provérbios 29:18 toca esse ponto. «Sem profecia o povo se desenfreia». Mais literalmente, seria: «Onde não há visão, o povo se desintegra (despedaça-se, desmorona-se, perde a sua coesão, perde a sua solidez)».

Isso é muito certo. Olhemos para os dias de Samuel: «Naqueles dias... as visões não eram frequentes» (1 Sam. 3:1), e como foram aqueles dias? Dias terríveis. Um dos trágicos frutos daqueles dias foi que o povo havia dito: «nos constitua agora um rei que nos julgue, como têm todas as nações» (8:5). Desta forma, rejeitaram o governo de Deus, preferindo em seu lugar o governo do homem. Isso sempre é desastroso.

Até esse dia, Deus tinha sido o seu rei, o seu Senhor. Ele tinha estado no trono, mas agora eles tinham perdido a visão, colocando um homem em seu lugar. Que tragédia! Então, o povo foi arrasado. Os filisteus dominaram, a arca foi roubada, tudo foi marcado pela fraqueza e a desintegração; o povo se desmoronou; não havia visão.

Há uma patética falta de coesão entre o povo de Deus hoje em dia. Por que toda essa desintegração, essas fragmentações, essas frações dispersas? Por que toda essa divisão no povo do Senhor? Por quê? Porque a interpretação humana tomou o lugar da revelação do Espírito Santo. Isso é verdade? Oh sim, é verdade. Quando o Espírito Santo ocupa o seu lugar e as pessoas estão sendo iluminadas e ensinadas por ele, não há duas mentes; há uma só mente, uma só visão, uma maravilhosa integração.

Hoje, existe a enorme necessidade de uma nova revelação pelo Espírito Santo ao coração do povo de Deus, para que eles possam vir a essa revelação de Cristo que o Espírito Santo outorga, e com a revelação se convertam em um só povo, governado por uma só visão. Assim foi no começo.

Alguém poderá me dizer: «Você está propondo um projeto de perfeição, algo que não nos atrevemos a alcançar neste tempo?». Bem, eu me atrevo a esperar isso; não algo que abranja a todo o povo de Deus, mas creio que é possível alcançar uma medida muito maior da que existe agora.

Nós somos chamados para orar a fim de que o Senhor dê uma visão aos instrumentos de seu ministério neste tempo no qual ele trará para seu povo a uma nova revelação de si mesmo, e em seguida irá reunindo, não como uma organização ou como uma multidão de gente que aceita certa interpretação, mas unindo-os por laços espirituais, porque viram ao Senhor de uma maneira nova.

Tudo o que desejamos é que haja tal Ministração de Cristo neste mundo, pela revelação do Espírito Santo, para que, tudo o que é menos que Cristo, seja retirado, e o povo sejam unidos ao próprio Senhor. E se eles estiverem unidos com ele, então sim haverá unidade, e cessarão as divisões.

Visão que sustenta

Por outro lado, quanto poder de sustentação possui a visão. Tomemos uma vez mais ao apóstolo Paulo como exemplo. O que era aquilo que o mantinha avançando? Falando naturalmente, se houvesse um homem que deveria desistir, esse homem era ele. Imagino a Paulo renunciando a tudo em algumas situações.

Se você ou eu tivesse sido um pastor da igreja em Corinto, creio que teríamos desistido muito rapidamente. Talvez em outros lugares, tivéssemos preferido um ministério itinerante, porque não poderíamos suportar o serviço local. Mas Paulo suportou até o fim; mesmo que eles desistissem, Paulo não desistia deles. E como sofreu! Quanta coisa caiu sobre ele, mas ele continuou até que pôde dizer: «completei a carreira, guardei a fé» (2 Tim. 4:7). Posso perceber um eco das palavras do Mestre com respeito a isso, de outra maneira: «Nenhum homem a tira de mim, eu de mim mesmo a dou». É um avançar até a meta por aquele poder de Deus. Mas o que foi aquilo que sustentou o seu caminhar? Foi sua visão do Senhor. A visão celestial. A revelação de Cristo é um grande poder de sustentação.

A natureza da visão

Só dizer que necessitamos de uma visão de Cristo pode não nos levar muito longe, mesmo que vejamos a existência de tal necessidade e o valor da visão.

Em Romanos 1:1-3, Paulo diz que a revelação concernente ao Filho de Deus foi dada pelos profetas nas Escrituras. Mas o que nós queremos ver, o que precisamos ver, é que no Novo Testamento há um encontro, de maneira espiritual, dos significados mais profundos das visões dos profetas. Nesta passagem no início da carta aos Romanos, onde o apóstolo diz que recebemos aquilo que foi prometido através dos profetas concernente ao Filho, temos ao menos a sugestão de que no Novo Testamento está definido o valor espiritual daquilo que os profetas viram, daquilo que estava na visão deles. Ilustraremos tal instância com alguns exemplos.

Temos dito que no Novo Testamento temos, de maneira espiritual, para nossa compreensão sobre Cristo, aquilo que na verdade estava inicialmente por trás da visão dos profetas. Tomemos quatro ilustrações da visão profética.

Visão de Cristo como a Cabeça soberana da igreja

Retornemos ao profeta Isaías, naquela conhecida passagem: «No ano que morreu o rei Uzias eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e suas orlas enchiam o templo» (6:1). É o Evangelho que concerne ao Filho, prometido nas Escrituras por meio dos profetas. Mas, em que lugar aparece o Evangelho? Isso é uma questão de visão. Como isso está representado no Novo Testamento?

O Novo Testamento está cheio da supremacia e da sublimidade do Senhor assentado sobre o trono, e de suas vestimentas enchendo o templo. Em outras palavras, é a soberania absoluta de Jesus Cristo como cabeça de sua igreja. Deus o ressuscitou de entre os mortos «... assentando-o a sua mão direita nos lugares celestiais (‘sentado sobre um trono’), sobre todo principado e autoridade e poder e senhorio (‘alto e sublime’), e sobre todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e submeteu todas as coisas debaixo dos seus pés, e o deu por cabeça sobre todas as coisas à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que tudo o enche em tudo (as orlas de suas vestimentas enchiam o templo)» (Ef. 1:20-23). Esta é uma revelação de Cristo em sua primazia sobre todas as coisas, à igreja que é seu corpo, a qual é a plenitude dele.

Procuremos uma visão disso. Procuremos uma revelação disso para o nosso coração pelo Espírito Santo, e veremos o seu poder de libertação e de sustentação. Essa deve ser a revelação presente no coração. É isso o que o Senhor procurou revelar a muito tempo e cada vez mais aos nossos corações.

O ponto é que, nos havendo sido apresentado esse aspecto da visão, você e eu temos que pedir ao Senhor a capacidade espiritual para vê-lo. E isso nos leva a outra passagem da mesma carta: «Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de glória, vos dê espírito de sabedoria e de revelação no conhecimento dele, iluminando os olhos do vosso entendimento…» (1:17-18). Este é o outro aspecto da visão: nossos olhos espirituais sendo iluminados. Orarás para obtê-lo? Orarás para que todo o povo de Deus tenha isto?

Quando o povo do Senhor alcança, pelo Espírito Santo, uma nova revelação sobre o soberano senhorio de Cristo, e começa a reter a Cabeça (Col. 2:19), eles abandonarão tudo o que é local, pessoal, diferente e disperso no mundo. Este é o lugar da unidade. Se Cristo for a absoluta e soberana cabeça em nossas vidas, como filhos do Senhor, não haverá discórdias entre nós. Quando o Senhor tiver pleno domínio como cabeça em nossas vidas, toda independência de ação e vida, toda vontade própria, todo rumo próprio, toda vangloria e vindicação própria se irá em seguida. Essas são as coisas que nos separam hoje uns dos outros.

Mencionamos o livro de Isaías; recordemos que ali temos os resultados de uma visão desse tipo no homem Isaías. Tal visão teve o efeito imediato de humilhá-lo até o pó. Sim, perdemos todo o orgulho, toda nossa importância, quando vemos o Senhor em glória. «Ai de mim!». Isso é humilhação.

Em seguida, depois da humilhação, vem a consagração: «Eis que isto (a brasa) tocou os teus lábios, e é tirada a tua culpa, e limpo o teu pecado». E depois da humilhação e da consagração, vem a chamada. «A quem enviarei, e quem irá por nós? Então respondi eu: eis-me aqui, envia-me a mim» (6:6-8). Uma vida apropriada aos propósitos do Senhor para o serviço é aquele resultado completo de uma revelação do senhorio absoluto e soberano de Jesus Cristo.

Tal é o ensino de Isaías. E assim é no Novo Testamento. Se formos ao livro dos Atos, veremos que o serviço ali manifestado fluía da exaltação de Cristo, a quem eles tinham visto.

Visão de Cristo em Seu senhorio universal

Passando por Isaías, Efésios e Colossenses, vamos agora para Daniel. Apenas algumas passagens. Não podemos ir a fundo nas visões de Daniel, mas, resumindo-as, qual é o resultado principal? Não é por acaso que o curso da história mundial vai movendo-se em direção a Cristo, para a sua consumação? Os impérios passam como um desfile teatral diante dos olhos espirituais do profeta.

Em rápida sucessão, ele vê aqueles poderosos impérios mundiais, cada um caindo diante do seu sucessor. E ao final, Daniel vê uma pedra, cortada não por mãos, quebrar a história deste mundo, e um Reino é levantado, cujo fim não se vê e nunca será visto; e o domínio e a autoridade são concedidos ao povo do Altíssimo, vindo o Senhor para reinar, pois este é o seu direito. Esta é a consumação da história do mundo, o desfile de todos os impérios movendo-se em direção a Cristo.

Essa é uma grande lição espiritual, mas o valor espiritual disto é captado imediatamente na carta aos Colossenses, como em outras partes do Novo Testamento, e aí está perfeitamente claro que o predestinado propósito de Deus para este mundo é que Cristo seja, no final, tudo em todos, preeminente absolutamente no universo, e que, embora possa parecer que outros poderes estão controlando a história deste mundo, há forças muito mais poderosas movendo-se e parecendo tocar o seu destino.

Quando Daniel viu essas forças operando –como por exemplo, durante as conquistas de Alexandre o Grande, em todo mundo–, sem dúvidas que ele se maravilhou com o fim que aguardava esse império. Este homem tinha capturado e conquistado tudo, subjugando todas as coisas; e não havia mais reino para conquistar, pois ele já possuía o domínio absoluto. E então Daniel viu Alexandre o Grande derrubado com um sopro, destruído antes de alcançar uma meia idade, e viu outro poder que se levantava. E Daniel viu mais. Qual seria o fim de tudo isso? Ele viu o final nas mãos do Filho do Homem.

Se olharmos o mundo de hoje, bem poderíamos dizer, vendo-o naturalmente: «Bom, o que ocorrerá agora? As coisas vão de mal a pior. Vejam como está tudo. Vejam quanta coisa terrível está acontecendo no mundo». As vemos e perguntamos: «Qual será o fim?». Bom, o fim será Jesus no trono do domínio universal. Nada poderá evitá-lo! Tenhamos isso no coração, e vejamos quanto poder tem essa visão. A visão tem um poder imenso.

Onde não há visão, o povo certamente se desintegrará. Você, certamente, seria derribado se estivesse preso pelas condições do mundo, se elas fossem tudo o que pudesse ver. Assim é o coração do homem debilitado pelo medo; mas há toda uma diferença quando se tem a visão.

Colossenses 1:16-17 estabelece definitivamente: «Porque nele foram criadas todas as coisas (...) Tudo foi criado por meio dele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas nele subsistem». E ele está destinado pelo eterno conselho de Deus para ter, no final, a preeminência em todas as coisas. O primeiro capítulo da carta aos Colossenses é a soma espiritual das visões de Daniel.

Visão da igreja que é o Seu corpo

Passemos de Daniel para Ezequiel. Entre as muitas visões de Deus concedidas a Ezequiel, selecionamos uma muito conhecida, no capítulo 40, a visão do templo que está para vir, o templo da época final. A visão é de um varão com uma cana de medir, vindo e medindo o pátio e o templo, e tirando de maneira detalhada as dimensões de tudo o que está relacionado com o templo: os muros, sua altura, seu comprimento e sua largura; cada passagem, cada corredor, cada câmara, cada vaso; tudo medido com exatidão. Em seguida é anotado com precisão o que são essas coisas, como por exemplo, o que é e para que serve cada câmara.

Tudo está descrito em sua natureza, suas dimensões e seu propósito. E fora do templo, o rio debaixo do altar, brotando, ganhando volume, profundidade, longitude e força, conforme vai avançando. As árvores em ambos os lados, continuamente gerando frutos, cujas folhas nunca caem. Perguntamo-nos: «Onde está o Evangelho nisto?». Bom, retornemos de novo à carta aos Efésios e teremos tudo aquilo muito claro, descrito com precisão e explicado para nós.

Este templo tem sua equivalência espiritual nesta dispensação, na igreja que é Seu Corpo. Aqui, neste templo, temos a Cristo apresentado como a igreja, e temos as medidas de Cristo, nas quais o seu povo tem que entrar, a fim de que cada um exerça a sua função, «segundo a atividade própria de cada membro», como o expõe Paulo em Efésios 4:16. Essa é sua medida em Cristo. Não esteja em menor quantia dela, nem tente ultrapassá-la. Então, alcançaremos nossa plena medida quando estivermos juntos. Paulo diz: «Até que todos cheguemos à unidade da fé (...) a um varão perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo» (v. 13).

Não apenas temos uma medida, mas também temos um lugar para funcionar em Cristo, porque neste Templo há lugares de serviço, e cada um tem o seu lugar atribuído no ministério, e cada conjuntura tem que funcionar, e cada membro deve cumprir a sua função: «Porque (...) o corpo é um, e tem muitos membros» (1 Cor. 12:12), «mas nem todos os membros têm a mesma função» (Rom. 12:4), apesar de que cada um tem a sua função; não a mesma função, mas todos têm um serviço.

Em seguida encontramos aquelas câmaras para o descanso dos servos do Senhor. Os lugares de repouso. E você e eu viemos para descansar em Cristo. Estamos tão familiarizados com isso, que tal afirmação já não provoca assombro em nossos corações, mas o Evangelho aparece em tudo isso e veio por revelação através dos profetas.

Que bom seria se você e eu tivéssemos essa visão, da igreja como o corpo de Cristo, da maravilhosa ordem celestial, segundo o qual a cada um de nós é dada uma medida, «de acordo com a nossa medida», e que nós devemos ser eficientes nessa medida! A cada um de nós foi dado um lugar em Cristo, e a cada um é dado um serviço em Cristo, e cada um, por ter um lugar, uma medida e um serviço, deve conhecer o seu próprio repouso em Cristo.

A revelação espiritual da igreja como o Corpo de Cristo é algo maravilhoso; e quando vemos a igreja desse modo, envergonhamo-nos de nós mesmos, porque sempre pensávamos a respeito da igreja como uma instituição da terra. Nessa revelação celestial do que é a igreja, todos os santos têm o seu lugar respectivo crescendo a sua medida em Cristo e cumprindo o seu serviço em Cristo. Essa é a igreja, o templo, «um templo santo no Senhor». Orarás por essa visão, por essa revelação? Orarás para que o povo do Senhor em todo lugar alcance isto? Isto é algo que requer oração. Essa é uma necessidade hoje.

Visão do vaso "vencedor"

Concluiremos com uma palavra de Zacarias. Entre as visões deste profeta está a do capítulo 4: «Tornou o anjo que falava comigo, e despertou, como um homem que é despertado do seu sono. E me disse: O que vês? E respondi: olhei, e eis que um candelabro todo de ouro, com um depósito em cima, e suas sete lâmpadas em cima do candelabro, e sete canudos para as lâmpadas que estão em cima dele» (v. 1-2). Um candelabro de ouro puro!

O que é isso de acordo com a revelação do Novo Testamento? É um instrumento exclusivo de Deus aqui na terra, para manifestar o testemunho de Jesus; algo inteiramente de Deus; não feito por homem nem constituído por homem, mas algo que Deus produziu, no qual há um testemunho chamejante de Jesus pelo azeite do Espírito Santo.

Quem dirá que o Senhor não necessita disso hoje? Quem dirá que o povo do Senhor não precisa retornar a isto ou ir em direção a isto: ser para Ele um vaso, um instrumento totalmente constituído por Deus, feito daqueles elementos divinos de ouro puro, nos quais o testemunho arde e resplandece, sem cessar, porque o óleo incessante do Espírito está fluindo sem trava? Isso não é impossível. Não está além da vontade do Senhor para hoje.

Não deixemos que isto seja meramente visionário. O Senhor nos salve de que isso se converta em algo apenas visionário, mas oremos para que Cristo se torne uma revelação viva em nosso coração. Isto não é algo da mente ou da imaginação. Amados, isto é real! Pode ser dito em uma linguagem mais suave, em termos mais secos, mas isto é o que se converteu na paixão do coração de alguns de nós; é o que nos libertou e sustenta; é o que constituiu o serviço de alguns de nós.

Então, podemos afirmar que isto é o que está mantendo juntos alguns de nós, quando nada mais poderia nos unir. É a capacitação do Espírito Santo para que apreendamos a Cristo.

"O que vês?"

Concluímos com a pergunta feita pelo anjo: «O que vês?». Em primeiro lugar, tem tido uma visão? O progresso, o ministério e tudo o que está relacionado com a vida, flui da visão; de outro modo, não contam para nada. O que você viu? Se tivermos visão, também é importante poder declará-la. Se você tiver uma visão, pode explicá-la? Pode declará-la? Ou ela está agarrada em ti?

Tudo isto nos guiará em seguida a uma oração muito definida. Esta é a direção para orar: o testemunho vivo do Senhor, um vaso para este testemunho, a verdadeira visão espiritual, a revelação de Cristo ao coração.

O povo de Deus necessita de visão. Oremos para que os seus olhos sejam abertos, para que possamos ser um ministério de «abrir os olhos», a fim de que estas palavras também sejam realidade com respeito a nós: «...para que se convertam das trevas para a luz, e da poder de Satanás para Deus; para que recebam, pela fé que é em mim, perdão de pecados e herança entre os santificados»; «Sem profecia o povo se desenfreia»; «não fui rebelde à visão celestial» (Atos. 26:17-18; Prov. 29:18; Atos. 29:19). Que o Senhor nos conceda revelação de si mesmo.

Traduzido de: The Lord’s Testimony and the World Need, Cap. 3.

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