Cristo, a verdade e a vida

Não basta conhecer a Cristo como a verdade; precisamos conhecê-lo como a vida – a vida divina.

Rubén Chacón

“...e conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres" (João 8:32).

Livres do engano

O antônimo de verdade é mentira. A primeira coisa que diremos é que a verdade nos faz livres do engano. Faz-nos livres do engano da mentira e das meias verdades. Às vezes, a mentira não se apresenta em forma aberta, porque seria muito evidente e provocaria rejeição, mas se disfarça, dissimula-se, mostrando-se como verdade pela metade.

A verdade nos liberta também do engano das verdades subjetivas. «Isto é verdade para mim, embora para ti não o seja», como se cada um tivesse sua própria verdade. Desta forma, a verdade nos liberta das verdades particulares e do relativismo moderno.

Em minha juventude, havia uma seita chamada «os meninos de Deus». Eles pregavam uma meia verdade: «Deus ama ao pecador». A partir dessa premissa, diziam: «Apenas temos que ser pecadores, para que Deus nos ame». Isso postulava em suas práticas; não tinham nenhuma regra, e cada um fazia o que bem lhe parecia.

Livres da presunção

Em outro aspecto, a verdade nos liberta também da presunção de crer que podemos guardar o ensino de nosso Senhor Jesus Cristo por nós mesmos. Necessitamos com urgência ter claro o ensino do Senhor com respeito a estas coisas. Mas é necessário saber que o mero conhecimento dos seus ensinos não nos capacita de forma automática para vivê-las.

O saber não me dá a segurança de não cair em pecado. Portanto, assim como podemos ser enganados pela mentira, também podemos ser enganados pela presunção de crer que o homem, em suas próprias forças, pode guardar os ensinos de Cristo.

«Porquanto os desígnios da carne são inimizade contra Deus; porque não se sujeitam à lei de Deus, nem tampouco podem; e os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus» (Rom. 8:7-8). Tudo o que procede da mentalidade da carne, é contra Deus; o homem natural é escravo do pecado.

Assim que, temos que ser tirados da mentira nestes dois aspectos. Não é apenas uma questão de ensinar moralidade ou de ensinar valores; embora isto sendo necessário, não seria suficiente. A palavra de Deus deve ser ensinada; mas isso, por si mesmo, não garante que faremos aquilo que sabemos.

«Disse então Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres» (João 8:31-32). Qual é a verdade, segundo o versículo 31? «A minha palavra». É o que ele ensinou. Assim, a verdade que nos faz livres, primeiro, é a verdade bíblica ou verdade escriturística.

A verdade é a palavra de Jesus; mas, também, é próprio Cristo. É o que ele disse, e o que ele é. Há dois âmbitos desta verdade que nos faz livres. Jesus não só mostrou a verdade em seu discurso, mas também com sua própria vida. Ele foi consequente com tudo o que ensinou. Não só precisamos conhecer a sua doutrina, mas necessitamos dele mesmo, porque sem ele não podemos ser verdadeiramente livres.

«Assim que, se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres» (João 8:36). Aqui, Cristo é a própria verdade. Se esquadrinharmos as Escrituras, ela nos tirará do engano da mentira. E o próprio Cristo, como a verdade, nos fará realmente livres, porque só nele e com ele se pode viver a verdade.

Cristo nos liberta com o seu ensino

Vamos ao terceiro ponto. Então, visto que Cristo é a verdade, como ele nos liberta? Em primeiro lugar, com seu ensino, que é verdade objetiva, absoluta e eterna. Vejamos um exemplo.

«Manifestas são as obras da carne, que são: adultério, fornicação, imundície, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, pelejas, ciúmes, iras, contendas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedeiras, orgias, e coisas semelhantes a estas; a respeito das quais vos admoesto, como já vos tenho dito antes, que os que praticam tais coisas não herdarão o reino de Deus» (Gál. 5:19-21).

A lista poderia estender-se mais ainda. Aqui são mencionados 17 coisas que são obras da carne, ou seja, são o que a natureza pecaminosa manifesta, e que está naqueles que são escravos do pecado.

À luz disto poderemos dizer que o adultério não é pecado? Em quem creremos, na sociedade, ou no ensino de nosso Senhor Jesus Cristo? Ou te firmas sobre a mentira, ou te apoias sobre a verdade.

Precisamos tomar uma decisão, de tal maneira que, se eu cair em alguma destas coisas, não posso me justificar dizendo: «Bom, mas isto é o que todos fazem, isto é o que a sociedade diz hoje em dia que está em discussão». Devo reconhecer que o mal é mal, que aquele pecado é pecado. Não posso trocar a verdade pela mentira.

Aquilo que para Deus é pecado, para nós também deve ser. É obvio, há perdão para os pecados; mas, para que haja, deve haver convicção de pecado. Não podemos receber o perdão do Senhor e sermos limpos do pecado, se chamarmos o mal de bom.

Se alguém tem a verdade no universo, não pode ser outro além de Deus, o Criador de todas as coisas. Se você não crê em Deus em quem você crerá? Se não for Deus quem merece a sua confiança, sua fé e sua credibilidade a quem vais crer? Aos filósofos, aos sociólogos, aos psicólogos? Não pode haver alguém que oferece maior confiança que o Criador dos céus e da terra.

Cristo nos liberta com a sua vida

Cristo nos liberta com o seu ensino. E, em seguida, ele nos liberta ministrando a sua vida divina, que é a única vida que pode guardar o seu ensino. Jesus viveu de maneira natural os ensinos sobrenaturais do céu. Nos dias da sua carne, ele viveu a vida humana por meio da vida divina que havia nele. E nós não temos outra opção, se quisermos segui-lo, do que viver por meio da vida divina.

O nosso problema não é tanto aquele discernir o que é bom e o que é mal, mas, mesmo que soubermos a verdade, não pudemos vivê-la; porque a carne não se sujeita à lei de Deus, nem pode (Rom. 8:7). Se tentarmos viver a vida cristã com nossas próprias forças, estaremos destinados ao mais terminante fracasso. Paulo passou por isso. Romanos 7 está escrito por esta razão.

As verdades escriturísticas são inatos à vida divina. Se formos viver pela vida divina que está em nós, então descobriremos que as verdades bíblicas são análogas a ela. Mas, se tentarmos viver os ensinos de Cristo na carne, recorde que a mentalidade da carne é inimizade contra Deus.

«Porque os que são da carne pensam nas coisas da carne; mas os que são do Espírito, nas coisas do Espírito» (Rom. 8:5). Paulo não diz: «Os que são da carne, esforcem-se em pensar nas coisas do Espírito». Não é assim. Os que são da carne, de maneira espontânea, pensam nas coisas da carne. De igual maneira, os que são do Espírito, de maneira natural, pensam nas coisas do Espírito.

Nosso maior problema é a falta de vida; não porque não a tenhamos, pois temos a Cristo, mas porque não aprendemos a viver por meio dessa vida. Não basta saber a verdade; necessitamos a vida de Cristo para viver a verdade.

A vida divina em nós

«E este é o testemunho: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida; que não tem ao Filho de Deus não tem a vida» (1 João 5:11-12). Não basta conhecer a Cristo como a verdade; precisamos conhecê-lo como a vida – a vida divina.

«Miserável de mim! Quem me livrará deste corpo de morte? Graças dou a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim, eu mesmo com a mente sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado» (Rom. 7:24-25). Paulo relata aqui a sua própria experiência. Um «corpo de morte», um corpo morto, não pode fazer nada. Diante das demandas de Deus, somos incapazes de guardar, por nós mesmos, a doutrina de Cristo. Paulo, tendo renascido, querendo agradar a Deus, descobriu que não podia.

«Quem me livrará?». Cristo, como a verdade, liberta-nos. Mas agora Paulo precisa conhecer a Cristo como a vida, para ser completamente livre. Quem me livrará deste corpo que não pode fazer a vontade de Deus? A resposta está no versículo 25: «Graças dou a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor». Cristo é a vida que necessitamos para podermos andar nos caminhos do Senhor.

1. Cristo é a vida quando ele habita em nós

Não é apenas Cristo, mas Cristo vivendo em nós. «Com Cristo estou juntamente crucificado, e já não vivo eu, mas Cristo vive em mim» (Gál. 2:20). Este é um texto fundamental. Para que Cristo viva em mim, há uma coisa prévia: «Já não vivo eu».

Como Paulo encontrou a libertação deste corpo mortal? Ele disse: «...e o que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim». Ou seja, vivo na fé de que ele é quem vive em mim. Que o Senhor viva a sua vida em nós.

2. É Cristo em nós, mas Cristo em nós pelo Espírito Santo

Graças à pessoa do Espírito Santo, Cristo habita em nós. Esse é o elo. Desta forma, como não estar agradecidos ao Espírito de Deus, se é graças a ele que Cristo habita em nós!

João 14:23 diz: «Respondeu Jesus e lhe disse: Aquele que me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos morada com ele». Quer dizer: «Eu e meu Pai viremos para ele, e faremos morada com ele». Aqui, Jesus estava falando da vinda do Espírito Santo. Quando o Espírito Santo veio morar em nós, nele, também, o Filho veio morar na igreja, e no Filho, o Pai veio morar.

A quem Paulo dá graças em Romanos 7:25? Onde achou a libertação para o seu corpo de morte? Em Cristo. Mas agora, no versículo 8:2, diz: «Porque a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da morte». Para vencer uma lei, é necessário outra lei; neste caso, uma lei superior à lei do pecado e da morte – a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus.

Se eu lançar uma pedra, imediatamente a lei da gravidade a fará cair. Mas, diferente da pedra, os passarinhos podem voar, e parece que para eles a lei de gravidade não atua. Por quê? Porque está regendo sobre eles outra lei, como a nós, a lei da vida, e essa lei é superior à lei da gravidade.

«Porque se viverdes conforme à carne, morrereis; mas se pelo Espírito fizeres mortificardes as obras da carne, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, estes são filhos de Deus» (Rom. 8:13-14).  Necessariamente, temos que considerar o Espírito Santo.
Cristo habita em nós pela fé; mas isso ocorre «por meio do Espírito». Tenho que viver na fé do Filho de Deus, crendo que ele é quem vive em mim; mas não só pela fé, mas também pelo Espírito. E, qual é a relação entre a fé e o Espírito? A fé cria o ambiente necessário para que o Espírito Santo, a lei do Espírito de vida, atue em nós. Temos o Espírito Santo habitando em nós e, por meio dele, temos o Pai e ao Filho habitando em nós.

3. Sempre cheios do Espírito

Mas precisamos acrescentar algo mais: é Cristo em nós, pelo Espírito... sempre e quando vivermos cheios do Espírito Santo. Poderíamos dizer: Sem Cristo, é impossível viver a vida cristã. E estaria correto. Ou dizer: Sem o Espírito Santo, é impossível viver a vida cristã. Também estaria correto. E também seria correto dizer: Sem Cristo, e sem o Espírito Santo, é impossível viver a vida cristã.

Mas, mais ainda: Sem a plenitude do Espírito Santo é impossível viver a vida cristã. Para vivermos cheios de Cristo, devemos necessariamente viver cheios do Espírito. Não podemos pretender nos encher de Cristo, sem entender que, para isso, devemos nos encher do Espírito.

Aqui há algo muito fino, mas muito importante. O propósito de Deus é que tudo se encha de Cristo. Entretanto, não se pode estar cheio de Cristo sem estar cheio do Espírito.

A Escritura diz que o Espírito Santo em nós é um selo, que é o penhor de nossa herança, que é a unção, que é um dom, que é as primícias, que é um batismo. E diz que é uma plenitude.

Qual é a figura da plenitude? É como pegar um jarro com água, e encher um copo. Ou seja, se você for o copo, deve ser cheio por completo. Há muitas outras figuras que descrevem o variado significado espiritual da morada do Espírito Santo em nós. Agora, o interessante desta figura é que ela é a única de todas que tem mandamento.

Um mandamento e um caminho prático

«Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução; antes sede cheios do Espírito» (Ef. 5:18). A expressão «sede cheios» está no imperativo. É um mandamento dirigido aos filhos de Deus. Os crentes da igreja em Éfeso tinham o Espírito. O sentido da frase, então, é que eles deviam continuar sendo cheios, que não deviam deixar de viver cheios do Espírito.

Para torná-lo prático, sigamos lendo: «...falando entre vós com salmos, com hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vossos corações; dando sempre graças por tudo ao Deus e Pai, no nome de nosso Senhor Jesus Cristo» (v. 19-20).

Parece que aqui se descreve a experiência de uma pessoa que está cheia do Espírito Santo. Mostram-se as evidências da plenitude com o Espírito. Assim, sua vida será um canto e um louvor ao Senhor; será uma pessoa que dará graças ao Pai por tudo. Estes seriam, por assim dizer, os frutos da vida que uma pessoa cheia do Espírito tem.

Entretanto, também poderíamos interpretar os versículos 19 e 20 de outra forma, sem negar que a anterior seja verdadeira. Estes textos poderiam descrever como ser cheios do Espírito. Se Paulo tem dito: «Sede cheios do Espírito», pode ser que nos esteja dizendo como se alcança essa plenitude.

Então, aqui há quatro verbos que enunciam tudo o que devemos fazer se quisermos ser cheios do Espírito.

O primeiro é falando; o segundo, cantando; o terceiro, louvando, e o quarto, dando graças. Este é um caminho prático. Se, para vivermos cheios de Cristo, precisamos viver cheios do Espírito, seria bom tomarmos como uma prática desta vida quatro ações.

Primeiro: «falando». Nós sabemos falar. Mas, para sermos cheios do Espírito não é uma coisa de saber falar, mas do que vamos falar. Como tem que ser o nosso falar? O que quer dizer: «falando entre vós com salmos, com hinos e cânticos espirituais»? Creio que o que Paulo está dizendo é que o seu falar seja conforme ao conteúdo daquilo que você canta.

Se quisermos ser cheios do Espírito Santo, teremos que cuidar com as nossas palavras. Não que falar qualquer coisa facilita a plenitude do Espírito, mas aquele falar de acordo os salmos, hinos e cânticos espirituais.

Em segundo lugar, cantando. Todos nós cantamos, mas aqui não se trata de qualquer canto. Diz: «cantando ao Senhor em vossos corações». Quando cantamos ao Senhor com sentimento, com afeto, amando-o com o coração, esse cântico nos encherá do Espírito.

Em seguida, «louvando ao Senhor». Louvar é enaltecer uma pessoa, falar bem dela. Na igreja, o fazemos. Mas devemos praticar isto fora, se quisermos viver cheios do Espírito. Temos que cuidar com o nosso falar, cuidar o que cantamos e louvamos ao Senhor.

No caos do mundo, a imagem dos políticos, dos empresários e dos religiosos desabou. Não é um momento bom para enaltecer o nome de Cristo? Só há um digno de ser crido, no qual se pode confiar. É tempo oportuno para que os filhos de Deus alcem a voz e falem bem do único do qual se pode falar bem – nosso Senhor Jesus Cristo.

E, quarto, diz: «Dando sempre graças por tudo ao Deus e Pai, no nome de nosso Senhor Jesus Cristo». Notem o aspecto trinitário. Temos que nos encher do Espírito, temos que cantar ao Senhor (referindo-se ao Senhor Jesus Cristo), e dar graças ao Pai.

«Dando sempre graças por tudo». Damos graças por tudo, ou só pelas coisas boas? Temos um bom Pai, que nos guarda e cuida de nós; e, se ele permitir que algo nos ocorra, será para o nosso bem, porque «aos que amam a Deus, todas as coisas contribuem para o bem» (Rom. 8:28).

Então, se você crê que está sob a providência do Pai, sob sua soberania e seu amor, confie plenamente a ele, as coisas boas e as más, e lhe dê graças por tudo.

Aqui há um caminho prático para ser cheio do Espírito. Cuidando com o nosso falar, cuidando com o que cantamos, cuidando a quem louvamos, e sendo agradecidos.

O fruto do Espírito

Para terminar, é Cristo em nós, pelo Espírito Santo, do qual devemos viver cheios. E acrescentamos este último aspecto, cujo fruto principal, quando se vive cheio do Espírito, é que ele acende a nossa vida de amor por Cristo. Porque o Espírito veio para glorificar a Cristo, para dar testemunho dele, para fazer que Cristo e sua vida sejam reais em nós.

«Para mim o viver é Cristo» (Flp. 1:21). Esta é uma declaração cheia de realidade. Paulo era um apaixonado, um apaixonado por Cristo. E o amava, porque ele estava cheio do Espírito Santo. O Espírito Santo produzirá esse fruto, porque «o fruto do Espírito é amor» (Gál. 5:22). É amor por todos, mas, primeiro, pelo Senhor Jesus Cristo.

É possível vivermos apaixonado por Cristo? Sim. Se esta for a nossa experiência, então a vida do Senhor prevalecerá. Isto não garantirá que, eventualmente, caiamos em pecado; mas assegurará que nada será maior e mais forte que o amor de Cristo. Se vivermos apaixonados por ele, não poderemos escapar jamais de sua verdade e seu amor.

A vida divina é Cristo em nós, pelo Espírito Santo, do qual devemos viver cheios e cujo fruto principal é o amor a Cristo. «A graça seja com todos os que amam o nosso Senhor Jesus Cristo com amor inalterável» (Ef. 6:24). Que precioso! Este amor, que nunca deixa de ser, e que só pode ser fruto da obra do Espírito em nós. Amém.

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