ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
O matrimônio segundo Deus
A principal escola formativa para o desenvolvimento do caráter de Cristo em nossa vida.
Rodrigo Abarca
Vivemos um tempo no qual, sem dúvida, a instituição matrimonial está em crise. Minha esposa me dizia que, conversando com as suas colegas de trabalho, lhe chamava a atenção que de todas ela fosse a única que estivesse casada com a mesma pessoa com quem se casou originalmente. Não é fácil para as pessoas do mundo compreender como é possível viver tanto tempo com a mesma pessoa, e depois de muitos anos, seguir amando-a, e ainda querer viver junto a ela.
Crise transversal
O matrimônio está em crise, mas não somente entre os incrédulos. Tempos atrás, a revista Christianity Today destacava que hoje chamou muito a atenção nos Estados Unidos a taxa de divórcios entre os crentes, que supera a taxa dos não crentes. Isso é um tremendo testemunho contra a igreja, porque nesse país há uma guerra cultural, um ataque forte e um esforço contínuo de pessoas e instituições para apagar o cristianismo de toda a referência pública. Esta mesma tendência pode ser observado também em nossas nações. Qual é a explicação disto?
A Escritura nos ensina claramente que o matrimônio foi projetado por Deus para durar toda a vida. Em linhas gerais, esse é o plano de Deus. A pergunta é como se chega até lá, e como se chega bem, porque o propósito do Senhor é que isto funcione até o final. Necessitamos, então, compreender o matrimônio do ponto de vista da Escritura.
Fugindo do engano
«Veja que ninguém vos engane por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo as tradições dos homens, conforme aos rudimentos do mundo, e não segundo Cristo» (Col. 2:8). Paulo nos diz que no mundo existe uma mentalidade, uma maneira de pensar; há crenças que governam os pensamentos e a conduta dos homens. Esses rudimentos são os pontos de vista do mundo em relação à vida, e em particular, com respeito ao matrimônio.
Pedro fala de «sua vã maneira de viver, as quais recebestes dos vossos pais» (1ª Ped. 1:18). Do contexto sócio cultural, das pessoas que nos rodeiam, recebemos uma má visão da vida, porque a vida humana se encontra devastada pelo pecado. Quando estas crenças estão no coração e dominam as relações, fazem um dano profundo, e conduzem à ruína do matrimônio e das vidas. O problema é quando estas coisas também se dão entre os crentes.
«Isto, pois, digo e requeiro no Senhor: que já não andeis como os outros gentios, que andam na vaidade de sua mente, tendo o entendimento entenebrecido, alheios da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração» (Ef. 4:17). Aqui, o apóstolo Paulo se refere a aqueles que são governados por crenças vãs que condicionam a sua conduta, e faz uma demanda absolutamente necessária, para que nossa vida possa frutificar segundo o propósito de Deus.
Mente renovada
«Quanto à passada maneira de viver, vos despojeis do velho homem, que está viciado conforme os desejos enganosos, e vos renoveis no espírito da vossa mente, e revesti-vos do novo homem, criado segundo Deus na justiça e santidade da verdade» (Ef. 4:22-24:). O que o apóstolo quer dizer aqui é muito importante em relação a nossa formação como filhos de Deus.
Quando nós cremos e nos convertemos ao Senhor, ocorre um milagre em nossa vida. Nossos pecados são perdoados, somos justificados e somos reconciliados com Deus; mas, além disso, ocorre uma regeneração. O nosso espírito é renovado pelo Espírito de Deus, uma nova vida nos é dada, e os desejos mais profundos do nosso coração mudam.
Revestir-se do novo homem é vestir-se de Cristo. Em termos práticos, significa que todo o nosso ser é renovado e conformado ao Senhor Jesus, mediante aquele poder do Espírito Santo. A nossa mente tem que renovar-se para poder expressar, conhecer e experimentar verdadeiramente ao Senhor.
Estamos sendo influenciados por crenças e ideias falsas, em relação ao que é o matrimônio. Se elas governarem a nossa vida, sem dúvida estarão conduzindo o nosso matrimônio à ruína, por isso precisamos prestar muita atenção.
Plano divino
O que a Escritura nos diz a respeito do matrimônio? Vejamos Gênesis 1:26. «Então disse Deus: Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, as aves dos céus, as bestas, em toda a terra, e em todo animal que se arrasta sobre a terra. E criou Deus ao homem a sua imagem, a imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou».
Aqui temos algo fundamental. Deus diz: «Façamos o homem a nossa imagem», e essa frase expressa o seu desejo com respeito à criação do homem. Deus o criou para que o homem expresse ou carregue a imagem de Deus. E este será o grande tema de toda a Escritura.
O homem foi criado para viver em comunhão com Deus, para que, vivendo nessa relação de intimidade com ele, pudesse então manifestar a imagem de Deus. Aqui, a palavra imagem tem a ver com o caráter moral de Deus. O homem foi criado para refletir o caráter, a santidade e os atributos morais de Deus, para expressar também a autoridade e aquele poder de Deus sobre a criação.
Quando se fala da criação específica de Adão, diz-se que Deus fez a Adão e em seguida disse: «Não é bom que o homem esteja só» (Gên. 2:18). Esta expressão tem a ver com o propósito de Deus com respeito a nós. Por que não é bom que o homem esteja só? Em seguida Deus diz: «Farei uma ajudadora idônea para ele». Mas no capítulo 1 diz simplesmente: «Criou Deus o homem a sua imagem ... macho e fêmea os criou».
São necessário dois
A grande declaração sobre o caráter moral de Deus está em 1ª João. «Deus é amor». O amor não é uma virtude a mais de Deus, mas a coroa de todos os seus atributos morais. Mas, para que exista amor, têm que haver, ao menos, dois.
Você não poderia amar se existisse apenas você. Imagine, se Deus tivesse sido um ser solitário, por toda a eternidade, a quem teria amado? O amor exige a existência de outro ou outros. Sabemos que Deus é amor, porque desde a eternidade existem, em Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, uma Trindade de amor. Eternamente houve amor em Deus, porque Deus nunca esteve sozinho; sempre houve três pessoas que se amaram íntima e inefavelmente pela eternidade.
Deus os fez macho e fêmea, porque no mínimo é necessário dois para poder levar a imagem de Deus. E aí começamos a descobrir o significado essencial do matrimônio. Fomos criados para viver em matrimônio. Claro que não é uma obrigação, mas está dentro do plano divino. Fomos criados também para vivermos em comunidade, para nos amarmos uns aos outros, e isso também faz parte do plano de Deus. Mas a relação original mais básica para a qual o homem foi criado é esta relação de macho e fêmea, homem e mulher.
De maneira que o propósito do matrimônio é, em primeiro lugar, que possamos expressar o caráter e a imagem de Deus. Todas as relações foram criadas para expressar o Seu caráter, mas esta é a relação mais básica. «Deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá a sua mulher, e serão uma carne» (Gên. 2:24), para que através dessa relação fosse expressado o caráter de Deus, o amor de Deus.
Uma escola formativa
O matrimônio foi pensado por Deus como uma relação que expressa a sua glória, o seu caráter, a sua imagem, e como uma relação que é uma escola formativa. Para amar e manifestar o caráter divino, temos que aprender, e para isso necessitamos de uma escola de formação.
Por isso mesmo, a principal escola formativa para o desenvolvimento do caráter de Cristo em nossa vida é o matrimônio. Deus nos insere em uma forma de vida relacional, a única que permite que o seu caráter se desenvolva em nós.
É Deus quem planejou que vivêssemos em relação com outra pessoa. Repito, isto não é uma obrigação, mas é parte do plano. E se você viver uma vida matrimonial ou se deseja se casar e ter uma vida matrimonial, deve reconhecer que este é o projeto original de Deus, um plano que tem a ver com o seu propósito. Então, o matrimônio sempre foi pensado como uma escola. Antes que o homem caísse e a alma humana fosse devastada e deformada pelo pecado, ainda esse era o propósito divino.
Temos dito outras vezes que, quando Deus criou a Adão, criou-o perfeito, mas não o criou maduro. Há uma diferença. Um menino recém-nascido, se for saudável, é um ser perfeito como menino; mas não é maduro. Ainda tem que crescer por um longo tempo, até amadurecer e alcançar a estatura de um homem adulto.
O mesmo ocorreu com Adão. Espiritualmente falando, ele foi criado perfeito, inocente, mas menino, e tinha que alcançar a maturidade, desenvolvendo a imagem de Deus, essa plenitude de glória destinada para ele. Como ocorreria isso? Em primeiro lugar, em comunhão com Deus e, em segundo lugar, em uma vida de relação, de amor, com outros semelhantes a ele. E dentre todos esses outros, o mais importante é o marido ou a esposa. Nessa vida de relação, Adão aprenderia e Eva aprenderia a expressar a imagem de Deus.
No entanto, já sabemos, o homem caiu, e a alma humana foi danificada por aquele pecado. É obvio, não foi completamente destruída; se não, nós não estaríamos aqui, salvos pela graça do Senhor.
Crenças danosas
Gostaria que considerássemos agora algumas das crenças do mundo que são mais danosas para o matrimônio. As razões pelas quais as pessoas deste mundo se casam, as ideias que eles põem como fundamentos do matrimônio, estão nos bombardeando diariamente, e pode acontecer que venham a fazer parte da nossa vida, e estar destruindo a nossa relação sem que notemos.
A primeira crença errada do mundo é apoiar o matrimônio no chamado romantismo ou amor romântico, do qual nos falam as novelas e os filmes; esse amor onde tudo é cor de rosa, que foi exaltado pela literatura e a arte durante os últimos duzentos anos da história ocidental.
Esse amor romântico é o que nós chamamos de enamorados. Quem não esteve apaixonado alguma vez? Apaixonar-se por outra pessoa é quando você vive pensando nela o dia todo, quando tudo o que você vê lembra aquela pessoa, e quando você olha para ela, parece-lhe a mais perfeita. Não é impressionante o que o amor faz?
Isso é assombroso, e realmente é algo bom quando acontece conosco. Mas, sabe, há um grave problema com o amor. Não é que seja mau. O problema é que o amor romântico é absolutamente incapaz de sustentar uma relação matrimonial. E se você for para o casamento crendo que esse amor vai sustentá-lo, você vai topar de frente um dia com a terrível realidade de que não é assim.
Amor cego e efêmero
No dia de hoje, esse é o amor que se promove como o ápice da vida humana. O cinema descreve esse amor pelo qual se pode sacrificar a vida, a carreira e a nação, e coisas tão absurdas como estas, pelo amor de outra pessoa. Entretanto, há algo profundamente imoral nessa maneira de perceber o amor romântico, porque este é moralmente cego. Não é que seja bom ou mau, é simplesmente cego.
O amor é uma força maravilhosa de atração por outra pessoa; mas, como não é governada por princípios morais, é como uma força magnética, mas moralmente cega, pode funcionar para um lado moralmente correto ou moralmente incorreto. E aí começam os problemas.
Quando uma mulher casada começa a se sentir atraída por outra pessoa que não é o seu marido, o grande conselho da sabedoria nos filmes românticos é: «Faça o que diz o teu coração». Mas, é precisamente porque os homens seguem o que diz o seu coração, que destroem suas vidas e a vida de outras pessoas ao seu redor.
Entretanto, este amor serve como um mecanismo de atração. Porque, o que aconteceria se ele não existisse? Nós, criaturas caídas, que não somos propensos a amar a ninguém, egoístas por natureza, que queremos viver nossa vida sozinha, poderíamos sequer desejar viver uma vida junto a outra pessoa se não existisse essa atração? Não, não nos casaríamos nunca; não haveria família nem haveria filhos.
Então, Deus o planejou assim. Isto não é algo criado pelo mundo; é parte do plano de Deus. A sua função é fazer que alguém nos atraia o suficiente para que estejamos dispostos a viver nossa vida junto a esta pessoa. Dá-nos o impulso para iniciar essa vida, mas é absolutamente ineficiente para sustentar essa relação no tempo.
O amor romântico faz promessas que não pode cumprir, embora diga de coração, porque é um amor sincero. Não é que esteja mentindo; realmente o deseja. Mas, detrás de cada divórcio, de cada matrimônio rompido, houve promessas de amor sinceras.
Vou lhes dizer um segredo: o amor romântico não dura muito. Alguns cientistas detectaram que aquele estado de amor, com sorte, dura entre três e cinco anos. Esse amor idealiza ao outro; mas, quando começam a viver juntos o dia a dia, a realidade, vemos que essa pessoa não era tão perfeita como acreditávamos.
Todos nós crescemos em ambientes diferentes, com idiossincrasias, gostos e hábitos diferentes, e o quão difícil é conviver com alguém que tem costumes diferentes dos seus, e lhe faz sentir-se incomodado. E no casamento, isso acontece todos os dias. O que você pode fazer nesse caso? Você tentará mudar, mas passam os anos, e as coisas seguem iguais. Então, o amor romântico começa a se esfriar, e é inevitável que aconteça assim, porque não foi criado para sustentar o casamento, mas apenas para impulsioná-lo.
Vivendo o amor de Deus
O único amor que pode sustentar um matrimônio é o amor de Deus, o amor de Cristo, que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Quando se ama a outra pessoa, a suportamos como ela é. Você, por outro lado, tem que aprender a amar o outro e a suportá-lo com todas as suas diferenças. O amor romântico apaga, mas o amor de Deus tudo pode. Esse é o amor que o Espírito Santo derramou em nossos corações.
Quando a Escritura diz: «Maridos, ameis as vossas mulheres», não se refere ao amor romântico, mas ao amor com que Cristo amou a igreja. Você ama a sua esposa tal qual ela é, deseja que vá bem em tudo; quer que ela se desenvolva como filha de Deus e que se cumpra o propósito de Deus nela, e você está a disposição desse propósito divino na vida de sua esposa. Você a faz objeto do amor; é uma decisão do coração, mas alimentada pelo amor de Deus.
Em 1ª Coríntios 13, quando Paulo fala do amor, esse é o amor que pode sustentar e dar continuidade no tempo para a relação matrimonial.
Cristo no matrimônio
Paulo em Colossenses 3:12 fala a respeito das nossas relações como irmãos, mas sem dúvida isto se aplica também à relação matrimonial. Já falamos que a necessidade de nos revestir de Cristo. Também precisamos nos revestir de Cristo em nossa relação conjugal. Não se pode excluir esta relação da presença do Senhor; ao contrário, ela deve ser inserida na presença do Senhor.
«Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amado, de íntima misericórdia, de benignidade, de humildade, de mansidão, de paciência». Agora, como você pode revestir-se de íntima misericórdia, se não existir alguém de quem ter misericórdia? Não olhe tão longe; olhe a sua esposa. Ela é a primeira pessoa que Deus pôs ao seu lado, para que você aprenda a ser compassivo, misericordioso, benigno, e é a primeira pessoa com quem temos que aprender a ser humildes, nos vestindo de Cristo.
A mais básica de todas as relações para as quais Deus nos criou é a relação matrimonial. Lembre que o apóstolo Pedro diz aos maridos que suas esposas são coerdeiras da graça da vida. A primeira pessoa que é membro do mesmo Corpo e que está junto a você, é a sua esposa ou o seu marido. E com ela, ou com ele, você tem que vestir-se destas virtudes que conformam ao caráter de Cristo.
Às vezes temos a estranha ideia de que, em casa, não precisamos ser pacientes, nem humildes, nem mansos nem amáveis. Há casais que acostumaram a tratar-se mal, a ofender-se, a serem rudes um com o outro. Esta é uma má ideia do que significa a familiaridade, o companheirismo, a intimidade.
Aquele que mantém a chama
Falando exatamente da mesma coisa, em Efésios 4:30, o apóstolo Paulo acrescenta algo interessante com respeito a tudo isto. Ele diz: «Não entristeçais o Espírito Santo de Deus». O Espírito Santo é o guardião do amor. Quando ele está presente e governa a relação matrimonial, ele se encarrega de manter acesa a chama do amor entre o casal. Se o Espírito Santo é entristecido, essa chama se apaga. Quando permitimos que no matrimônio entre a amargura, a dureza e as más palavras, o Espírito se apaga e o amor de Deus se separa da nossa relação, e aí sobrevém a tragédia.
O contexto de Efésios 4 nos exorta a sermos misericordiosos, compassivos uns com os outros. A compaixão é a capacidade de aceitar e amar a outro com os seus defeitos. Da mesma forma é que Deus tem compaixão de nós. «Ele tem compaixão de nós, lembra-se de que somos pó». Ele sabe quão fracos somos e por isso tem compaixão de nós. Você tem compaixão da sua esposa, ou não suporta os seus defeitos?
Também somos chamados a nos perdoar uns aos outros. Faz tão bem pedir perdão e outorgar perdão. Temos que aprender a fazer ambas as coisas. Quando você ofende a sua esposa ou ao seu marido, não deixe as coisas ficar como estão. Siga o caminho de Cristo. Quando fazemos o que a Palavra nos diz, permitimos que o Espírito se encarregue da relação. Quando você pede ou dá perdão, permite que o Espírito Santo encha outra vez o coração.
Se você submeter o seu casamento, aos princípios da Escritura, não há nenhuma forma de que seu matrimônio fracasse. Pode haver dificuldades, mas não haverá fracasso, porque «o amor tudo sofre». Nada ocorrerá em sua vida que o amor divino não possa vencer. «O amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta». É um amor indestrutível, porque é o amor de Deus, que ninguém pode apagar... exceto você mesmo, se fechar a porta ao Espírito, enchendo o seu coração de ciúmes, de amarguras, de ira, de gritarias, e todas essas coisas. Então, lembre-se, o amor romântico não é suficiente.
Fundamentos errados
Para terminar, vou mencionar rapidamente outras coisas que, às vezes, ficam como fundamentos do matrimônio para o mundo, e que não são, e que podem estar nos influenciando.
Hoje vivemos em uma sociedade que poderíamos qualificar como híper sexualizada. O sexo se converteu em algo que está em qualquer parte, e nos bombardeia todo o tempo com imagens, com filmes, que exaltam o atrativo físico. Na vida moderna, a beleza física parece ser o mais importante.
Muitas pessoas se casam porque acha que a pessoa é atrativa. Não digo que isso não seja bom, mas, se você se casou ou vai se casar só por isso, está totalmente equivocado. Porque os seres humanos são muito mais que um corpo físico atrativo. Nós fomos criados para viver em união com Cristo pela eternidade, para expressar a glória de Deus.
Mas vivemos em uma sociedade onde o sexo é enfatizado quase como uma questão fundamental. O matrimônio é um lugar onde há sexo, há intimidade, há prazer, mas isso não é o seu fim, mas um complemento. O casamento não foi planejado para ser simplesmente um lugar de satisfação sexual. Logicamente, uma perspectiva dessas conduz à ruína e à destruição do matrimônio.
Felicidade?
Outros dizem que tem que casar para ser feliz, para realizar-se na vida, e vão para o casamento com essa crença. Mas o matrimônio não foi criado para isto. Sabe o que nos faz realmente felizes? Só o Senhor Jesus Cristo satisfaz o desejo mais profundo do coração humano. Não o matrimônio.
Se você colocar o casamento como o seu projeto de vida, para realizar-se e ser feliz, vai direto para a ruína; porque nunca vai ser feliz através da relação matrimonial. Vai trazer alegria para a sua vida, mas não será a razão de sua realização, porque a única coisa que realiza o homem e à mulher nesta vida é o Senhor.
Santo Agostinho dizia: «Tu nos fizestes para ti, e nosso coração está inquieto, até achar descanso em ti». Assim, se você crer que o matrimônio vai te realizar, você estará conduzindo a tua vida ao precipício. Tudo vai ser derrubado quando começar a vir as dificuldades. Quando vierem os problemas, as situações difíceis da vida, o casamento não será fonte de felicidade nem de realização, mas de sofrimento. Todos os seus sonhos cairá por terra, e o seu matrimônio junto com eles.
Há felicidade no casamento, mas também há trabalho. Há cruz, há negação de si mesmo, há renúncia. Porque é uma escola de formação, e você aprende ali a revestir-se do caráter de Cristo. Nem sempre é uma fonte de satisfação. Portanto, se você pensou em se casar para isso, precisa se arrepender. E me deixe explicar em que sentido específico eu uso esta palavra.
Arrependimento
No grego, a palavra arrepender-se significa mudar de mente; mas é uma mudança consciente, voluntária. Por isso, diz «revesti-vos do novo homem... transformai-vos...». De forma ativa e decidida, você tem que mudar a sua mentalidade com respeito ao significado do matrimônio. Você tem que arrepender-se e adotar a visão divina em relação ao matrimônio. E então tudo vai mudar, e o Senhor se fará presente em sua vida. Precisamos nos arrepender das ideias do mundo com respeito ao casamento.
Os filhos
Outro elemento. Alguns creem que o matrimônio é para ter filhos. Então, os filhos se convertem na razão de ter um casamento, e a relação passa através dos filhos; mas não existe uma relação real entre o casal. É a lei do Senhor em relação à vida humana que os filhos se casem e formem as suas próprias famílias. Que tragédia é quando os filhos se vão, e ficam apenas os pais, e como a sua relação foi gerada apenas através dos filhos, agora os pais são dois estranhos entre si.
O casamento não é automático. Para que realmente dê fruto e funcione segundo o propósito de Deus, temos que trabalhar nele, temos que cooperar com o Senhor na relação.
Por outro lado, no lado oposto, está a ideia moderna de que não temos que ter filhos, ou que temos que adiar o ter filhos até mais adiante. Por trás disso se oculta grande parte do egoísmo e do individualismo moderno; porque o homem vive para si, e neste sentido os filhos são um estorvo.
As pessoas, hoje em dia, prefere ter um bicho de estimação, ao ter filhos. Porque os bichos de estimação não exigem nada. Mas ter filhos demanda renúncia, negação de si mesmo.
Ter filhos é uma grande bênção, porque é uma grande escola de negação, de renúncia. Ali haverá uma mãe que terá que passar a noite as claras, porque o bebê acorda às duas, às quatro, às seis, e tem que lhe dar de mamar. E acabou aquele sono prolongado que desfrutava antes. E tantas outras coisas acabam para sempre.
Ganhando em Cristo
Você pode crer que perdeu tanto, mas não perdeu nada. Você está ganhando em Cristo, está se vestindo de Cristo, está aprendendo a ser como o Senhor Jesus, a amar como ele amou, a viver como ele viveu. E assim, a plenitude de Deus estará enchendo a sua vida. Então, os casamentos de jovens ou os que estão por casar-se, pensem um momento nisso.
Irmãos amados, como vimos, de acordo com a palavra do Senhor, não há nenhuma razão para pensar que o nosso casamento tem que fracassar.
Se você esteve pensando de forma errada, ou teve motivos, conscientes ou inconscientes, que estiveram governando o seu casamento –esses motivos falsos do mundo– você precisa se arrepender, mudar de pensamento, trazer tudo aos pés do Senhor e revestir-se da mente de Cristo, pelo que ele nos falou, e pedir ao Espírito Santo que acenda de novo essa chama de amor no seu coração, e ele o fará. Amém.
Síntese de uma mensagem oral ministrada em Rucacura (Chile) em janeiro de 2015.