Quando o céu ouve a terra

Quando os homens vêm a Sua casa, podem tocar ao Deus dos céus, e cooperar com a sua vontade na terra.

Rodrigo Abarca

Leitura: Marcos 11:15-19.

O Senhor Jesus disse aos seus discípulos: «Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração» (Mat. 11:29). No entanto, quando ele entrou no templo de Jerusalém (na passagem de Marcos 11) teve uma conduta incomum em sua pessoa, derrubando as mesas dos cambistas e expulsando-os do templo.

A irritação do Senhor

Por que o Senhor se zangou dessa maneira? Conforme a profecia, no dia de sua morte, ele «não abriu a sua boca; como cordeiro foi levado para o matadouro; e como ovelha diante dos seus tosquiadores, emudeceu, e não abriu a sua boca» (Is. 53:7). Ele foi manso e humilde até o final; mas aqui não. Aqui há algo que lhe causou uma profunda irritação. E é necessário e importante que entendamos a causa de sua ira.

Os estudiosos dizem que o Senhor entrou no templo duas vezes em seu ministério: no princípio, em João capítulo 2, quando ele entrou e expulsou os cambistas; e no final, quando voltou para Jerusalém, encontrou-se com o mesmo cenário, e tornou a fazer exatamente o mesmo.

Quem eram aqueles com quem ele se enfureceu? É claro, eles estavam fazendo negócios ali. De forma constante, iam a Jerusalém pessoas de todo o mundo conhecido, judeus que viviam espalhados devido à diáspora. De fato, todo judeu ia pelo menos uma vez em sua vida a Jerusalém para oferecer sacrifícios no templo. Eles traziam dinheiro dos seus lugares de origem; e o trocavam no próprio templo para poder comprar o necessário para o sacrifício.

De alguma maneira, os cambistas prestavam um serviço. Mas o Senhor, irado, «derrubou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam pombas». Ou seja, tanto vendedores como cambistas receberam a ira do Senhor.

«E lhes ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Mas vós a têm feito covil de ladrões» (Mar. 11:17). Eles tinham alterado o propósito da casa de Deus, convertendo-a em algo muito distinto ao que devia ser; um lugar onde cada um procurava o seu próprio interesse.

O sonho de Jacó

O propósito do templo é ser «casa de oração para todas as nações». O Senhor definiu a sua essência. Ele pode ter dito que aquele era o lugar do sacerdócio ou dos sacrifícios; no entanto, chamou-o «casa de oração».

Para entender o sentido que o Senhor deu a esta frase, vamos à primeira menção bíblica da casa de Deus, na história do sonho de Jacó: «E chegou a certo lugar, e dormiu ali, porque já o sol se pôs; e tomou das pedras daquela paragem e pôs na sua cabeceira, e se deitou naquele lugar. E sonhou: e eis que uma escada que estava apoiada na terra, e seu extremo tocava no céu; e eis que anjos de Deus que subiam e descendiam por ela. E eis que, Jehová estava no alto dela...» (Gên. 28:11-13).

Aquele era um sonho difícil de entender. Quando diz que anjos subiam e desciam pela escada, quer dizer que o céu estava aberto, atuando sobre a terra. «E despertou Jacó do seu sonho, e disse: Certamente Jehová está neste lugar, e eu não sabia» (V. 16). Este é o lugar onde o céu se une com a terra. «E teve medo, e disse: Quão terrível é este lugar! Não é outra coisa que casa de Deus, e porta do céu» (V. 17).

A casa de Deus é porta do céu, é o lugar onde o céu toca a terra, onde a vontade do céu atua sobre a terra. Em seguida, quando Deus ordena a Moisés levantar o tabernáculo, e quando manda a Salomão construir o templo, ambos estão apoiados neste princípio original – o lugar onde Deus se faz presente na terra.

A pedra e a casa

«E se levantou Jacó de manhã, e tomou a pedra que tinha posto de cabeceira, e a levantou por sinal, e derramou azeite em cima dela» (V. 18). Jacó entendeu que essa pedra era fundamental, pois marcava o lugar da casa de Deus, e derramou azeite sobre ela. «E esta pedra que pus por sinal, será casa de Deus» (V. 22). Onde está esta pedra, está a casa de Deus. Por que a pedra e por que o azeite sobre a pedra? Que sinal representa essa pedra? Vejamos:

«aproximando-vos dele, pedra viva...» (1ª Ped. 2:4). Cristo é a pedra viva. Pedro afirma isto, aquele que recebeu a maior revelação do Novo Testamento, que é fundamento de todo o restante: «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente» (Mat. 16:16). Cristo é o Ungido, uma expressão que vem do Antigo Testamento, aplicado primeiro ao rei Saul e em seguida a Davi. Eles foram ungidos reis com o azeite da unção, figura do Espírito Santo.

«Tu és o Cristo». É a unção o que estabelece ao Senhor Jesus como o Cristo de Deus. A palavra Ungido, em hebreu, é Messias, e em grego, Cristo. E isto é o que Jacó estava apontando – a pedra ungida, a pedra fundamental. «...e sobre esta rocha edificarei a minha igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela».

«... desprezada certamente pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa». Esta é a pedra que Deus estabeleceu. Então, «vós também, como pedras vivas, sois edificados como casa espiritual» (1ª Ped. 2:5). A igreja é a casa de Deus; não uma casa física, mas uma casa espiritual, da qual o tabernáculo e o templo eram figuras. A verdadeira casa é esta, que tem a Cristo, pedra viva, como fundamento.

Então, ao ungir a pedra, Jacó estava apontando para o lugar da casa. Esta pedra é o sinal, e as outras pedras têm que vir e ser edificadas sobre ela, para constituir a casa de Deus.

Também o Senhor Jesus interpretou o sonho de Jacó: «Em verdade, em verdade vos digo: daqui em diante vereis o céu aberto, e aos anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem» (João 1:51). E ele nos diz que o lugar onde os anjos sobem e descem não é a escada, mas ele mesmo. Que maravilhoso! Ele é a pedra que aponta o lugar da casa de Deus, e também é a escada que une o céu e a terra. É nele que o céu e a terra se unem. Ele é «o tabernáculo de Deus com os homens» (Ap. 21:3).

Cooperando com Deus

Em Marcos 11, falando da casa, Jesus diz: «A minha casa será chamada casa de oração». Chegamos, então, ao mistério da oração na Escritura. É através da oração que o céu pode descer e atuar sobre a terra. Este mistério é tão importante, que está contido em muitas passagens. O homem foi criado para cooperar com Deus e ser a expressão de Deus sobre a terra. Mas, como ocorre isso? Principalmente por meio da oração.

Ezequiel 22:30 diz: «E procurei entre eles um homem que fizesse um muro, e que ficasse na brecha diante de mim, a favor da terra, para que eu não a destruísse; e não o achei». Esta passagem fala do julgamento e a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, no ano 500 antes de Cristo. Mas o Senhor está dizendo que, antes de destruir a cidade, ele procurou a alguém que intercedesse a favor dela e não o achou.

Deus, soberanamente, restringiu-se a si mesmo, para que a sua vontade seja executada em união com os homens. No sentido estrito, Deus não necessita dos homens; ele poderia fazer tudo sozinho. No entanto, ele se limitou a si mesmo. Por isso, ele sempre procura homens que colaborem com ele na realização de Sua vontade.

A forma mais alta de cooperação com Deus é a oração. Mais que o serviço, mais que o ministério, mais que algo que possamos fazer para Deus. «A minha casa será chamada casa de oração», pois o propósito dela é cooperar com a vontade de Deus na terra.

Uma passagem em 2 Crônicas 6 nos esclarece o sentido básico da casa de Deus, o dia em que Salomão fez a dedicação do templo. Qual é o significado fundamental que Salomão deu ao templo? Vejamos o que diz ele em sua oração: «Mas é verdade que Deus habitará com o homem na terra? Eis aqui, os céus e os céus dos céus não lhe podem conter; quanto menos esta casa que edifiquei?» (6:18). Salomão tinha muito claro que essa casa material não podia ser a habitação definitiva de Deus, mas somente uma figura.

«Mas tu olharás para a oração do teu servo, e o seu rogo, Oh! Jehová meu Deus, para ouvires o clamor e a oração com que teu servo ora diante de ti» (V. 19). E, o que Salomão pede como função fundamental da casa de Deus? «Que os teus olhos estejam abertos sobre esta casa de dia e de noite, sobre o lugar do qual disse: O meu nome estará ali; que ouça a oração com que teu servo ora neste lugar» (V. 20).

«Deste modo que ouça o rogo do teu servo, e do teu povo Israel, quando neste lugar fizerem oração, que tu ouças dos céus, do lugar da tua morada; que ouça e perdoes» (V. 21). Se houver alguma razão do existir desta casa, é que Deus esteja sempre atento à oração que se faz nela. Em toda a sua oração, Salomão segue afirmando o mesmo. A casa é o lugar onde os olhos e os ouvidos de Deus estão atentos, pois seu coração está ali.

«Se alguém pecar contra o seu próximo, e se lhe exigir juramento, e vier a jurar diante do teu altar nesta casa, tu o ouvirás dos céus, e atuarás, e julgarás... Se teu povo Israel for derrotado diante do inimigo por ter prevaricado contra ti, e se converter, e confessar o teu nome, e rogar diante de ti nesta casa, tu ouvirás dos céus, e perdoarás o pecado do teu povo Israel, e lhes fará voltar... Se os céus se fecharem e não houver chuvas, por ter pecado contra ti, se orarem a ti para este lugar, e confessarem o teu nome, e se converterem de seus pecados, quando os afligir, tu os ouvirás nos céus, e perdoarás...» (V. 22-27).

O céu escuta a terra

Salomão diz que este é o lugar onde o céu escuta a terra. Há outro lugar como este sobre a terra, onde os homens possam se encontrar com Deus, seguros de que ele está ali, e que os ouve, e os atende? Quantos se aproximaram de Cristo e foram defraudados? Nenhum. Todos eles tocaram o céu na terra. Milhares de pessoas traziam seus doentes ao Senhor, e a Escritura declara algo surpreendente a respeito: «E curou a todos» (Mat. 8:16).

Aqui vemos exatamente o mesmo. Toda situação humana, aflição, pecado, derrota, fracasso, o que seja, pode ser trazido para esta casa, diz Salomão. E se eles orarem, o Senhor ouvirá, curará, perdoará, resgatará. Quão importante é isto! Esta oração abrange todos os aspectos da vida humana, e em todos os casos, sempre se conclui com a mesma expressão: «Tu ouvirás dos céus».

Salomão, tipo de Cristo

«Agora, pois, Oh! meu Deus, rogo-te que estejam abertos os teus olhos e atentos os teus ouvidos à oração neste lugar. Oh! Jehová Deus, levanta-te agora para habitar em teu repouso, tu e a arca do teu poder; Oh! Jehová Deus, sejam vestidos de salvação os teus sacerdotes, e teus santos se regozijem na tua bondade. Jehová Deus, não rejeites o seu ungido; lembre das tuas misericórdias para com Davi teu servo» (2 Crón. 6:40-42).

Salomão é um tipo de Cristo. Esta é a oração com a qual Cristo dedica a sua casa ao Pai. Esta é a oração do Ungido, como sumo sacerdote, pedindo para que o coração de Deus esteja conosco; para que os ouvidos do Pai sempre estejam abertos à oração em sua casa. O Pai rejeitará a oração do seu Ungido? Jamais. Ele é ministro do santuário, do verdadeiro tabernáculo que Deus levantou e não o homem, o qual somos nós.

«Quando Salomão acabou de orar, desceu fogo dos céus, e consumiu o holocausto e as vítimas; e a glória de Jehová encheu a casa» (2 Crôn. 7:1). A presença de Deus desceu para a terra nesse lugar.

«E apareceu Jehová a Salomão de noite, e lhe disse: Eu ouvi a tua oração, e escolhi para mim este lugar por casa de sacrifício. Se eu fechar os céus para que não haja chuva, e se mandar os gafanhotos que consuma a terra, ou se enviar pestilência ao meu povo; se o meu povo se humilhar, sobre o qual o meu nome é invocado, e orarem, e buscarem a minha face, e se converterem dos seus maus caminhos; então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra» (2 Crôn. 7:12-14).

Toda a bondade e a compaixão, todo o amor, toda a graça, o poder e a autoridade de Deus tocam a terra, na casa de Deus. «Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração neste lugar» (V. 15). Deus precisa ouvir a oração de seu povo, «...porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que esteja nela meu nome para sempre; e meus olhos e meu coração estarão aí para sempre».

Quando o Senhor disse: «A minha casa será chamada casa de oração», estava definindo o mesmo que Salomão definiu aqui. A casa de oração é o lugar onde o céu se une com a terra, e, quando os homens vêm a esta casa, podem tocar o Deus dos céus.

Nos dias de Samuel

Vejamos um exemplo a mais sobre a oração na casa de Deus. Sem dúvida, todos nós temos a experiência de que, às vezes, Deus não nos responde. Por que isto ocorre? Veremos um princípio fundamental em 1 Samuel capítulo 1.

Os primeiros capítulos deste livro são passagens muito importantes da Escritura, porque neles há uma espécie de ponto de inflexão na história dos tratamentos de Deus com o homem. É um desses momentos transcendentais, onde a situação muda radicalmente, quando parecia que os planos de Deus para Israel iriam fracassar.

Durante quatrocentos anos, os juízes governaram sobre Israel. Em todo esse tempo, Israel foi de mal a pior, até cair no fundo da degradação moral e espiritual. Parecia que a nação estava corrompida até os alicerces, e o sinal mais claro de sua decadência era a degradação da casa de Deus e o seu sacerdócio. Tudo havia se corrompido, da mesma forma como o Senhor Jesus encontrou ao entrar no templo de Jerusalém.

A história começa com um homem chamado Elcana, que tinha duas mulheres, Ana e Penina. Ana era estéril, e a outra mulher tinha filhos. «E todos os anos aquele varão subia de sua cidade para adorar e para oferecer sacrifícios ao Jehová dos exércitos em Siló, onde estavam dois filhos de Eli, Ofni e Finéias, sacerdotes de Jehová» (1 Sam. 1:3). Estes exerciam o sacerdócio de maneira real, pois, embora Eli fosse o sumo sacerdote, já era muito velho.

«Os filhos de Eli eram homens ímpios, e não tinham conhecimento de Jehová» (1 Sam. 2:12). Que tragédia! E se eles não tinham conhecimento, quem o teria? É por isso que a casa de Deus tinha perdido o seu propósito e função.

«E era costume dos sacerdotes com o povo, que quando alguém oferecia sacrifício, vinha o criado do sacerdote enquanto se cozia a carne, trazendo em sua mão um gancho de ferro de três dentes, e o metia no tacho, na panela, no caldeirão ou na marmita; e tudo o que tirava o gancho de ferro, o sacerdote tomava para si. Desta maneira faziam com todo israelita que vinha a Siló» (V. 13-14).

A Lei estabelecia que os sacerdotes podiam comer das ofertas, mas que antes deviam oferecer o sacrifício a Deus. No entanto, eles tinham invertido a ordem. Quando os interesses humanos se sobrepõem aos interesses divinos, então a casa perde o seu propósito e se corrompe.

Um ponto de inflexão

Ana era uma mulher muito infeliz. Para uma mulher israelita, não ter filhos era uma tragédia. Cada ano, Ana pedia a Deus um filho. Enquanto isso, a casa de Deus tinha perdido sua razão de ser, e os olhos de Deus não estavam mais ali. No entanto, Deus queria restaurar a sua casa.

Aqui temos um ponto de inflexão. Esta história nos mostra quantas coisas se desencadeiam quando o céu ouve a terra; quando a vontade de Deus atua no mundo em resposta à oração dos seus filhos. Aqui nós nos encontramos com uma tragédia espiritual e moral que afeta a toda a nação de Israel. Parece que o plano de Deus para o seu povo está a ponto de fracassar; mas há uma mulher que sobe todos os anos ao santuário para orar por um filho.

«E a sua rival a irritava, zangando-a e entristecendo-a, porque Jehová não lhe tinha concedido ter filhos» (1 Sam. 1:6). Pergunto-me quantas vezes Satanás zomba de nós, nos dizendo: «Deus não te escuta». «Assim fazia cada ano; quando subia à casa de Jehová, irritava-a assim; pelo qual Ana chorava, e não comia... E se levantou Ana depois que tinha comido e bebido em Siló; e enquanto o sacerdote Eli estava sentado em uma cadeira junto a um pilar do templo de Jehová, ela com amargura de alma orou a Jehová, e chorou abundantemente» (V. 7, 9-10).

No entanto, nesta última ocasião, ocorreu algo totalmente diferente. Ao longo desses anos, a situação de Ana representava de alguma forma, a própria situação de Israel. Ana era estéril, e a nação inteira estava estéril aos olhos de Deus. Mas, agora, por meio da dor de Ana, a vontade de Deus começou a entrar em seu coração.

No princípio, ela pedia para si mesmo. Mas, nesse tempo de aflição, quando ela subia a aquele lugar, podia ver a condição da Casa de Deus, e era possível notar o que os filhos de Eli faziam. E a dor por toda a ruína moral e espiritual da nação, começou a entrar no coração de Ana. Ela começou a sentir a dor de Deus. Não só a sua necessidade pessoal, mas a necessidade de Deus.

Deus amava a esse povo e queria que fosse a expressão de sua vontade. Graças a sua própria situação, Ana pôde sentir a dor de Deus, até o ponto em que, em sua última oração, já não pediu para si, mas para o Senhor. «E fez voto, dizendo: Jehová dos exércitos, se te dignares olhar para a aflição da tua serva, e te lembrares de mim, e não se esquecer da tua serva, mas deres à tua serva um filho varão, eu o dedicarei a Jehová todos os dias de sua vida, e não passará navalha sobre a sua cabeça» (V. 12).

O céu ouve a terra

Quando todos procuravam o seu interesse, uma mulher fez algo totalmente diferente. Ana renunciou ao filho que tanto desejava e o deu ao Senhor. E Deus a ouviu. Através dessa mulher tão simples, a história de Israel mudou, porque Ana orou pela vontade de Deus, dando prioridade às necessidades de Deus, e pedindo que o coração de Deus fosse satisfeito.

Nem mesmo o sumo sacerdote pôde compreender a Ana. Eli a teve por ébria, mas lhe disse: «Não, meu senhor; eu sou uma mulher afligida de espírito; não bebi vinho nem cidra, mas sim derramei a minha alma diante de Jehová» (V. 15). «Eli respondeu e disse: Vai em paz, e o Deus de Israel te outorgue a petição que lhe tem feito» (V. 17).

Embora Eli fosse um sacerdote fraco e ineficaz, Ana creu que essas palavras eram a resposta do Senhor e foi-se em paz. Então, Deus lhe deu um filho, ao qual chamou Samuel.  Mas ela renunciou o seu filho e o deu ao Senhor: «Depois que o desmamou, levou-o consigo, com três bezerros, uma efa de farinha, e uma vasilha de vinho, e o trouxe para a casa de Jehová em Siló; e o menino era pequeno» (V. 24).

«E matando o bezerro, trouxeram o menino para Eli. E ela disse: Oh, meu senhor! Vive a tua alma, meu senhor, eu sou aquela mulher que esteve aqui junto a ti orando a Jehová. Por este menino orava, e Jehová me deu o que lhe pedi. Eu, pois, dedico-o também a Jehová; todos os dias que viva, será de Jehová» (V. 25-28). E olhem que linda frase final: «E adorou ali a Jehová» (V. 29). Porque a adoração é a forma mais alta de oração.

«Mas buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas» (Mat. 6:33). Eis aqui o grande segredo, que Ana aprendeu através deste ato de renúncia. «E voltaram para a sua casa. E Jehová visitou a Ana, e ela concebeu, e deu a luz três filhos e duas filhas» (1 Sam. 2:20-21). Ana deu um filho ao Senhor e recebeu cinco em troca. Quando as necessidades de Deus são satisfeitas, então ele satisfará as nossas em abundância.

Interpretando o coração de Deus

Por que, em ocasiões, o Senhor parece não ouvir as nossas orações? Porque procuramos a nossa vontade e não a sua. Deus procura homens que orem pelo cumprimento de Sua vontade. Ana não era uma pessoa especial, mas uma mulher simples, que, em um momento crucial da história, interpretou o coração de Deus como nenhum outro pôde fazê-lo. E Deus ouviu a sua oração, e sua reposta mudou o curso da história.

«E Samuel cresceu, e Jehová estava com ele, e não deixou cair por terra nenhuma de suas palavras. E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel era um fiel profeta de Jehová. E Jehová tornou a aparecer em Siló; porque Jehová se manifestou a Samuel em Siló pela palavra de Jehová» (1 Sam. 3:19-21). O Senhor tornou a aparecer em sua casa. Samuel foi o homem que Deus usou para restaurar a casa e o céu tornou a atuar sobre a terra.

Seria longo mencionar todas as vezes em que a Escritura registra como o céu atuou sobre a terra em resposta à oração. Não importa quem ore, seja o rei Salomão, ou uma mulher simples como Ana, os olhos do Senhor percorrem a terra procurando a aqueles que privilegiam as necessidades de Deus, para responder as suas orações. Se aprendermos isto, seguramente ele satisfará também todas as nossas necessidades.

Que o Senhor nos ajude, para que possamos ser verdadeiramente casa de oração. Quando você ora, não pense em primeiro lugar em suas necessidades. Pense que Deus necessita das nossas orações; que o céu necessita das orações da terra. O irmão Nee dizia: «acumularam-se muitas coisas de Deus nos céus, que não puderam descer para a terra, porque o povo de Deus não ora para que isso ocorra».

Oremos como Ana, com fé, crendo que Deus nos ouvirá. Façamos grandes orações, porque Aquele que ouve e responde é grande, embora nós sejamos tão pequenos. O Senhor ouvirá dos céus e agirá sobre a terra.

Síntese de uma mensagem compartilhada no Peñaflor (Chile), em novembro de 2014.

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