A obra inclusiva de Cristo...
à luz do livro de Josué

Nossa participação na obra objetiva de Cristo é exclusivamente pela fé, e esta verdade vale para todos os seres humanos.

Rubén Chacón

Moisés morreu

O livro de Josué começa constatando o sucesso com que finalizou o livro de Deuteronômio: a morte de Moisés. A menção deste servo de Deus nos respectivos episódios de sua vida tem ao menos três possíveis significados, segundo o contexto e o propósito onde são mencionados:

1) Como tipo de Cristo;
2) como o homem mortal que foi; e
3) como figura da Lei.

Este último caso é o que encontramos aqui no livro de Josué.

Com efeito, Josué não podia entrar em cena até que Moisés morresse. Por quê? Porque Moisés representa aqui a lei, a qual não pode nos introduzir no repouso do Senhor. Somente Josué, aquele quem representa neste ponto a Cristo, podia fazê-lo.

Portanto, por trás da trágica notícia comunicada a Josué, «meu servo Moisés morreu», esconde-se não obstante uma boa notícia. A libertação da lei é fundamental para experimentar a nova vida que temos em Cristo. Só Cristo  –nosso Josué–  pôde nos libertar da lei e nos introduzir em sua própria vida através de sua morte e ressurreição, tipificadas aqui pelo cruzamento do rio Jordão. Canaã representa o próprio Cristo e o desfrute de sua vida maravilhosa e plena. No entanto, para tal efeito, a lei  –cujo tipo é Moisés–  é completamente inútil e ineficaz. Ela não só não pode nos introduzir na vida plena de Cristo, como também é um dos maiores obstáculos  –junto com o domínio do pecado–  para desfrutarmos da vida divina. A morte para a lei era absolutamente necessária para qualquer que pretendesse viver a vida cristã. Mas a boa nova é que Moisés morreu e agora Josué  –tipo de Cristo-  pode nos levar através de sua morte pelo Jordão, deixando para trás, e para sempre, o deserto e a lei, e nos levar para a ressurreição de uma nova vida.

O Novo Testamento mostra esta preciosa verdade nos seguintes termos: «Assim também, meus irmãos, vocês morreram para a lei mediante o corpo crucificado de Cristo, a fim de pertencerdes ao que foi levantado de entre os mortos… Mas agora, ao morrer aquele que nos tinha subjugados, ficamos livres da lei, a fim de servir a Deus com o novo poder que nos dá o Espírito, e não por meio do antigo mandamento escrito» (Rom. 7:4-6 NVI).

Levanta-te e passes este Jordão

Agora que Moisés morreu, Jehová diz a Josué: «levanta-te e passes este Jordão, tu e todo este povo, para a terra que eu dou aos filhos de Israel» (1:2). A frase «tu e todo este povo» é o que podemos chamar a morte inclusiva de Cristo. Como disse Paulo: «se um morreu por todos, logo todos morreram» (2ª Cor. 5:14). Quando o nosso bendito Senhor Jesus Cristo morreu, o fez em representação de todo o gênero humano. Por isso, é que podemos dizer que nele todos morreram.

O apóstolo Paulo disse o mesmo aos romanos: «sabendo isto, que o nosso velho homem foi crucificado juntamente com ele…» (Rom. 6:6). A palavra chave neste texto é «juntamente». Nossa morte não está separada da do bendito Filho de Deus. Pelo contrário, nossa morte ocorreu «juntamente com ele». Portanto, aquele que morreu crucificado foi Cristo e apenas ele; no entanto, nele todos estávamos incluídos e sua morte passou a ser a nossa morte também. Assim, com a mesma certeza de fé com a qual afirmamos que Cristo morreu, podemos confessar também nossa morte nele.

Quando Josué passasse pelo leito do Jordão e com ele todo o povo dos filhos de Israel, estaria tipificando com isso a morte inclusiva de Cristo. Este fato é equivalente ao que mais tarde experimentaria o profeta Jonas no ventre do grande peixe, como prelúdio da morte de Cristo: «Do seio do Sheol clamei, e minha voz foi ouvida. Lançaste-me no profundo, no meio dos mares, e me rodeou a corrente; todas as tuas ondas e tuas vagas passaram sobre mim» (Jonas 2:2-3).

O cruzamento milagroso do Mar Vermelho também em princípio significa a morte de Cristo, mas em um aspecto distinto ao do rio Jordão. O primeiro nos separou para sempre do Egito; o segundo, ao contrário, separou-nos para sempre do deserto. O Mar Vermelho tipifica a morte de Cristo para a nossa salvação; o Jordão, a libertação da lei. O primeiro nos introduz na bendita realidade da redenção; o segundo, nos introduz na bendita vida de Cristo. Mas ambas as realidades foram obtidas apenas e unicamente pela morte de Cristo.

Não obstante, a carta de Paulo aos Efésios revela que Cristo não foi inclusivo somente em sua morte, mas também em sua ressurreição. Se assim não tivesse sido, seria como se Josué tivesse levado os filhos de Israel apenas até o leito do rio Jordão.

Obviamente, isso não teria sentido. Descer até o fundo do rio era necessário a fim de cruzá-lo e chegar até a outra margem. Descer até o fundo tipifica a morte, mas sair do fundo do rio até chegar ao outro lado simboliza a ressurreição. Ambas as coisas vão juntas; a primeira existe para a segunda. São as duas faces de uma mesma moeda.

Livres para viver a Cristo

Assim também Cristo nos uniu não só à sua morte, mas foi além, para a sua ressurreição: «E juntamente com ele nos ressuscitou» (Ef. 2:6ª). Observe novamente a palavra chave: «juntamente». A libertação que Cristo alcançou por nós com sua morte, necessariamente implicava uma libertação de e uma libertação para. Sua morte nos libertou da lei e nos libertou para participarmos da vida do Filho de Deus. O primeiro aspecto Jesus Cristo conseguiu com a sua morte, e o segundo, com a sua ressurreição.

Mas o apóstolo em sua carta aos Efésios não se detém na ressurreição; ele continua mais profundo ainda nas implicâncias da bendita e perfeita obra objetiva de Cristo, porque, depois de afirmar que o Pai celestial nos ressuscitou juntamente com Cristo, acrescenta: «… como também nos fez assentar nos lugares celestiais com Cristo Jesus» (Ef. 2:6b). Graças à ressurreição de Cristo, a igreja não só desfruta da gloriosa vida do Filho de Deus, mas também goza de uma nova posição; sua posição já não é terrena, mas celestial.

E é precisamente neste âmbito celestial onde a igreja de Jesus Cristo entra em sua luta espiritual: «Porque não temos que lutar contra sangue e carne, mas contra principados, contra potestades, contra os governadores das trevas deste século, contra hostes espirituais de maldade nas regiões celestes». A igreja entra numa luta, mas não na guerra, porque quem lutou a guerra e ganhou foi o nosso guerreiro, Cristo: «E despojando os principados e às potestades, exibiu-os publicamente, triunfando sobre eles na cruz» (Col. 2:15). A versão NVI diz de uma maneira ainda mais bela: «Desarmou aos poderes e às potestades, e por meio de Cristo os humilhou em público ao exibi-los em seu desfile triunfal». Esta guerra e nossa luta espiritual é mostrada em figura no livro de Josué.

O princípio dos três dias

O anterior fica firmemente estabelecido, graças à reiterada menção da frase «três dias». «dentro de três dias passarão o Jordão para entrar e possuir a terra que Jehová seu Deus lhes dá em possessão» (1:11). Em seguida, o conselho de Raabe aos dois espiões israelitas foi o seguinte: «Marcha ao monte… e estejam escondidos ali três dias, até que os que os seguem hajam tornado…» (2:16). O V. 22 nos mostra que efetivamente os dois espiões assim o fizeram: «E caminhando eles, chegaram ao monte e estiveram ali três dias…». No capítulo três do livro de Josué, os filhos de Israel partem de Sitim rumo à margem do rio Jordão. Ali, diz o texto, que repousaram por três dias antes de cruzá-lo (3:1-2).

A menção por quatro vezes da frase «três dias» chama ainda mais a atenção toda vez que foram ditas antes que Israel cruzasse o rio Jordão. De alguma forma, o relato antecipava assim o que mais adiante anunciaria a profecia em relação à morte de Cristo: «Porque como esteve Jonas no ventre do grande peixe três dias e três noites, assim estará o Filho do Homem no coração da terra três dias e três noites» (Mateus 12:40).

Por meio da fé

Antes de cruzar o Jordão, o capítulo dois do livro de Josué relata algo que chama a atenção: o envio de dois espiões à terra de Canaã. Embora o propósito inicial da comissão seja explícito no relato: «Andem, reconheçam a terra, e a Jericó», é evidente que o propósito final do relato é mostrar o testemunho de fé da outrora prostituta Raabe. Ela sendo gentia e prostituta pôde finalmente participar da herança do povo de Deus. Mas, como pôde ser possível semelhante milagre? Exclusivamente por meio da fé. Assim testemunha o Novo Testamento na carta aos Hebreus: «Pela fé Raabe a prostituta não pereceu junto com os desobedientes, tendo recebido os espiões em paz» (11:31).

O propósito da localização do testemunho de Raabe, justo antes da proeza do Jordão, não pode ser outro que o de testemunhar que o único e suficiente meio para fazer nossa a morte e a ressurreição de Cristo, é a fé. Este fato é ainda mais evidente quando a testemunha escolhida não é um membro do povo eleito de Deus, mas uma mulher gentia que, além disso, era prostituta. Assim, o Espírito Santo reiterou uma vez mais para todos os séculos que a fé é a única resposta necessária e suficiente à revelação da morte e da ressurreição, inclusivas de Cristo.

A confissão de fé de Raabe destaca e brilha tanto como a ação de sua fé. Com efeito, ela não só recebeu aos espiões em paz, mas também confessou a sua fé, que em suas partes principais, foi a seguinte: «Sei que Jehová vos deu esta terra; porque o temor de vós tem caído sobre nós, e todos os moradores do país já desfaleceram por causa de vós… Ouvindo isto, deprimiu o nosso coração; nem ficou mais ânimo em homem algum por causa de vós, porque Jehová vosso Deus é Deus acima nos céus e abaixo na terra» (2:9, 11). Que grande fé se percebe nestas palavras! A fé desta mulher não só salvou sua vida, mas também a de toda a sua família. Sua fé a fez membro do povo de Deus e herdeira das promessas do Senhor. E se acaso for pouco, Salomão, descendente de Judá, tomou por esposa e por ela gerou a Boaz, ambos formam parte da linhagem do Messias (Mat. 1:5).

Assim, nossa participação na obra objetiva de Cristo é exclusivamente pela fé. Esta verdade vale não só para a prostituta Raabe, mas para todos os seres humanos que passaram por esta vida. «Nele também foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus, que o ressuscitou de entre os mortos» (Col. 2:12b).

O juramento

A seguir Raabe solicitou dos dois espiões israelitas «que me jurem por Jehová, que como tenho usado de misericórdia para convosco, assim a fareis vós com a casa de meu pai» (2:12). Para isso, pediu como garantia um sinal seguro. Então eles disseram: «Juramos por nossa vida que a de vocês não correrá perigo!» (2:14 NVI). Assim, o juramento da palavra é o sinal mais segura de nossa salvação e das promessas divinas. Ela dá plena certeza para a nossa fé e esperança. Segundo o autor de Hebreus, um juramento «põe ponto final a toda discussão». E então acrescenta: «Por isso Deus, querendo demonstrar claramente aos herdeiros da promessa que seu propósito é imutável, confirmou-a com um juramento. Fê-lo assim para que, mediante a promessa e o juramento, que são duas realidades imutáveis nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos um estímulo poderoso os que, procurando refúgio, agarremo-nos à esperança que está diante de nós» (Heb. 6:16-18 NVI).

O cordão vermelho

Depois do juramento, os dois israelitas advertiram a Raabe que havia apenas uma condição que os deixaria livres do juramento que tinham realizado: «Ficaremos livres do juramento que te temos feito se, quando conquistarmos a terra, não vermos este cordão vermelho atado à janela pela qual nos fizeste descer» (2:17-18 NVI). O sinal do cordão grená faria que aquela casa e seus moradores fossem guardados do terrível juízo que cairia sobre a cidade de Jericó. O sinal do cordão vermelho era para ser vista pelos executantes do juízo divino.

O paralelo com o incidente do cordeiro pascal na noite que Israel saiu do Egito é inegável. Naquela oportunidade Jehová o Senhor disse a Moisés e a Arão: «Pois eu passarei aquela noite pela terra do Egito, e ferirei todo primogênito na terra do Egito, assim de homens como de animais; e executarei meus juízos em todos os deuses do Egito. Eu Jehová. E o sangue lhes será por sinal nas casas onde vós estiverdes; e verei o sangue e passarei de vós, e não haverá em vós praga de mortandade quando ferir a terra do Egito» (Ex. 12:12-13).

Então, é óbvio que o fato de que o cordão fosse de cor grená ou vermelha não é nenhuma casualidade. A cor vermelha representava a presença do sangue, cobrindo a casa e a família da crente Raabe, da mesma forma como o sangue do cordeiro pascal  –colocada nas vergas das portas-  salvou as casas dos israelitas no Egito. Em ambos os casos se estabelece que tanto o sangue como o cordão vermelho eram para servir de sinal aos que executariam o juízo.

O ponto é que há uma relação estreita e direta entre a fé e o sangue, entre a fé e o cordão grená. O apóstolo Paulo em sua carta aos romanos afirma com clareza de meio-dia que Deus pôs a Jesus Cristo como propiciação, ou melhor dizendo, como propiciatório «por meio da fé em seu sangue» (3:25). O objeto da fé que salva não é qualquer coisa; a fé que salva é aquela que é depositada em Cristo e em seu sangue. A presença do cordão vermelho sobre a casa de Raabe indicava que o juízo já havia caído sobre ela e, portanto, não era necessário tornar a executá-lo. O sangue que de maneira antecipada representava o cordão grená era, nada mais nada menos, que o bendito sangue que o Filho de Deus derramaria para a propiciação dos nossos pecados no final dos tempos. O juízo que merecidamente devia cair sobre nós, caiu sobre o inocente Filho de Deus e assim nós saímos incólumes.

Por isso, o apóstolo João em sua primeira carta diz algo assombroso. Ele declara que se confessarmos os nossos pecados, Deus «é fiel e justo para perdoar os nossos pecados, e nos purificar de toda maldade» (1:9).

É fácil entender que Deus seja fiel; no entanto, por que é justo que ele perdoe os nossos pecados? Pela simples razão de que se Jesus Cristo já fez a propiciação dos nossos pecados por meio de seu preciosíssimo sangue, Deus o Pai cometeria uma injustiça com ele se não perdoasse os nossos pecados confessados. Deus em sua fidelidade e justiça com seu bendito Filho perdoa-nos dos nossos pecados. Deste glorioso feito falavam antecipadamente, o sangue do cordeiro no Egito e o cordão vermelho de Jericó.

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