Ungido com o Espírito

O ministério do Espírito Santo na vida do Senhor Jesus Cristo é o fundamento da manifestação do Espírito Santo na vida da igreja.

Rodrigo Abarca

“Vós bem sabeis o que se divulgou por toda a Judéia, começando pela Galiléia, depois do batismo que pregou João: como Deus ungiu com o Espírito Santo e poder a Jesus de Nazaré, e como este andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus estava com ele” (Atos 10:37-38).

Nesta primeira pregação aos gentios, chama-nos a atenção a maneira em que Pedro começa a apresentar o evangelho. Normalmente nós enfocamos a morte e a ressurreição do Senhor, em sua obra de expiação, de perdão de pecados. No entanto, Pedro realça primeiro o fato de que Jesus foi ungido pelo Espírito Santo com poder.

Na apresentação original do evangelho, este era um dos fatos fundamentais sobre o Senhor Jesus. A expressão «como Deus ungiu» é chave para entender por que a Bíblia destaca este fato. A palavra ungido se refere a aquele que recebe a unção de Deus. Em um princípio, a expressão é usada para referir-se aos reis de Israel. A palavra hebraica é Messias, traduzida depois para o grego como Cristo.

Saul e Davi

«Tomando então Samuel uma redoma de azeite, derramou-a sobre a sua cabeça, e o beijou, e lhe disse: Não te ungiu Jeová por príncipe sobre seu povo Israel?» (1 Sam. 10:1). Este é o momento em que Saul, o primeiro rei de Israel, é ungido com azeite pelo profeta Samuel e estabelecido através dessa unção. O azeite é um elemento físico; mas o que importa aqui é o significado do azeite derramado sobre a cabeça do rei. E nos versículos 5 a 7, Samuel profetiza o que ocorrerá a Saul dali em diante:

«Depois disto chegará à colina de Deus onde está a guarnição dos filisteus; e quando entrar lá na cidade encontrará uma companhia de profetas… Então o Espírito de Jeová virá sobre ti com poder, e profetizará com eles, e serás mudado em outro homem. E quando lhe tiver acontecido estes sinais –não antes–, faz o que lhe vier à mão, porque Deus está contigo».

Isto é muito importante. O que capacitava um rei para representar a autoridade de Deus em Israel, era só uma coisa – a unção do Espírito Santo de Deus. Já conhecemos a história. A base para que essa unção permanecesse sobre Saul era a fidelidade; mas Saul não obedeceu e foi descartado por Deus. E outro homem, Davi, foi escolhido em seu lugar.

«Então Jeová disse: levanta-te e unge-o, porque é este. E Samuel tomou um vaso de azeite, e o ungiu no meio dos seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito de Jeová veio sobre Davi. Levantou-se em seguida Samuel, e voltou para Ramá» (1 Sam. 16:12-13). Agora o Espírito de Deus veio sobre Davi, e o que capacitou a Davi para ser o rei segundo o coração de Deus e vencer os inimigos de Israel foi só uma coisa: não a sua habilidade, não a sua inteligência, mas a unção que ele recebeu.

Mas vejamos o quão triste é o que continua no versículo 14. «O Espírito de Jeová se separou de Saul, e lhe atormentava um espírito mau da parte de Jeová». Sem o Espírito de Deus, Saul já não era mais o rei. Agora, o Espírito estava sobre Davi, e então Davi foi o rei segundo o coração de Deus.

Davi entendeu quão importante era que a unção permanecesse sobre ele. Ficou tão gravado a fogo o que aconteceu com Saul, que perdeu a unção e que o Espírito de Deus se separou dele, devido a sua infidelidade, que, quando Davi pecou, ao reconhecer o seu pecado, escreveu o Salmo 51. Ali há algo que angústia sobremaneira ao rei Davi. Ele recorda o que aconteceu com Saul, e clama: «Não retires de mim o teu santo Espírito».

Com o tempo, a maioria dos reis em Israel foram ímpios, que governaram segundo o seu coração, mas sem a unção do Espírito Santo, até que finalmente a dinastia real desapareceu. No final, Judá foi levado cativo para a Babilônia, e após isso nunca mais houve reis ungidos em Israel.

Um novo Rei

Mas, nos dias finais de sua vida, Davi profetizou sobre o futuro, anunciando a vinda de um Rei eterno e verdadeiro. «Haverá um justo que governe entre os homens, que governe no temor de Deus. Será como a luz da manhã, como o resplendor do sol em uma manhã sem nuvens, como a chuva que faz brotar a erva da terra» (2 Sam. 23:3-4). Desde aquele momento, Israel esperou a vinda desse Rei. E quando a dinastia dos reis se apagou, toda a esperança da nação se concentrou naquele que haveria de vir. O Rei segundo Deus viria para lhes dar salvação.

«Sairá uma vara do tronco de Jessé, e um renovo brotará de suas raízes. E repousará sobre ele o Espírito de Jeová; o espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de poder, o espírito de conhecimento e de temor de Jeová» (Is. 11:1-2). O profeta está dizendo que desse tronco sem vida, que é a descendência de Jessé, que era o pai de Davi, e que se secou, sairá um renovo, um ramo, um novo princípio de vida.

Um novo Rei virá, mas ele não será como os outros reis, pois «repousará sobre ele o Espírito de Jeová». Será um rei ungido pelo Espírito de Deus. Isaías 42:1. «Eis aqui meu servo, eu lhe sustentarei; meu escolhido, em quem a minha alma tem contentamento; pus sobre ele o meu Espírito; ele trará justiça às nações». Por que trará justiça? Porque «pus sobre ele o meu Espírito». O mesmo que se diz em Isaías 11. Esse Espírito é o que o capacitará para ser um Rei segundo o coração de Deus.

«O Espírito de Jeová o Senhor está sobre mim, porque me ungiu Jeová; enviou-me para pregar boas novas aos abatidos, a restaurar os quebrantados de coração, a publicar liberdade aos cativos, e aos presos abertura do cárcere; a proclamar o ano da boa vontade de Jeová, e o dia de vingança do nosso Deus; a consolar a todos os tristes; a ordenar que aos afligidos por Sião lhes dê glória em lugar de cinza, óleo de gozo em lugar de luto, manto de alegria em lugar do espírito angustiado…» (Isaías 61:1-3).

Esta é uma das profecias mais lindas do Antigo Testamento. Ela se cumpriu quando o Senhor Jesus entrou na sinagoga em Nazaré no capítulo 4 de Lucas. Ele se levantou e leu no rolo esta passagem, e em seguida disse: «Hoje se cumpriu esta Escritura diante de vós». Em outras palavras, estava diante deles o Rei, o Messias, o enviado, cheio do Espírito de Deus.

Os reis de antigamente foram apenas figuras; eles receberam uma porção do Espírito Santo para uma obra muito específica. A medida era pequena, e quase somente de uma maneira física, para lutar batalhas. Mas, quando vem Jesus Cristo, diz-se dele algo completamente diferente. João Batista anuncia: «Eu na verdade vos batizo em água; mas vem um mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de desatar a correia do seu calçado; ele vos batizará no Espírito Santo e com fogo» (Luc. 3:16). É através dele que será outorgado o Espírito Santo a todos os que vierem para ele.

O Espírito em plenitude

«Então Jesus veio da Galiléia a João ao Jordão, para ser batizado por ele. Mas João lhe opunha, dizendo: Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? Mas Jesus lhe respondeu: Deixa agora, porque assim convém que cumpramos toda a justiça. Então lhe deixou. E Jesus, depois que foi batizado, subiu logo da água; e eis que os céus lhe foram abertos, e viu o Espírito de Deus que descia como pomba, e vinha sobre ele. E houve uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem tenho complacência» (Mateus 3:13-17).

Agora, os céus se abriram. «…e viu o Espírito de Deus que descia como pomba, e vinha sobre ele». Na passagem paralela de Lucas diz: «…e permaneceu sobre ele». Diferentemente dos reis do Antigo Testamento, o Espírito Santo veio em plenitude, repousou sobre ele e permaneceu sobre ele. Agora veio o Rei que receberá o domínio eterno, o Cristo, o Messias. Veio a plenitude do Espírito para repousar e para habitar nele. Seu nome, Jesus Cristo, está unido eternamente à unção do Espírito Santo.

Nesse momento começa o ministério público do Senhor. Não é que o Espírito Santo não estivesse antes na vida do Senhor Jesus, porque Isaías 11:2 diz: «Repousará sobre ele o Espírito de Jeová», e diz que o instruirá desde o começo, de maneira que o Espírito de Deus sempre esteve em Jesus de Nazaré.

A pessoa divina do Verbo eterno assumiu a natureza humana. Mas, sendo ele o Filho de Deus eternamente, ele está também em eterna comunhão com o Espírito Santo. Mas há aqui uma grande diferença. Quando Jesus foi feito homem, ele assumiu essa natureza para viver a vida humana tal como qualquer de nós, mas da forma em que nós deveríamos ter vivido sob a unção do Espírito Santo.

Jesus conhecia intimamente ao Espírito Santo desde o momento de sua encarnação, pois a própria encarnação do Verbo ocorreu por obra do Espírito Santo. E desde esse tempo em diante, o Espírito do Senhor esteve com ele lhe ensinando. Mas ao chegar o início do seu ministério público, ele recebe uma capacitação adicional.

Duas esferas complementares

Na Escritura, o ministério do Espírito Santo é apresentado em duas grandes esferas complementares, mas diferentes. Uma esfera é a obra interior do Espírito Santo, que nos conforma à imagem de Cristo. Em ocasiões anteriores falamos que este aspecto da operação do Espírito é para nos transformar à imagem do Senhor, tanto na forma individual como corporativa.

Mas, além disso, na Escritura há um segundo aspecto do ministério do Espírito Santo, e tem haver com o poder ou a capacitação para fazer a obra de Deus e expressar seu reino e sua vontade neste mundo. O primeiro aspecto, a operação interior, esteve na vida do Senhor Jesus desde o dia da sua encarnação. Toda a sua vida foi formada pelo Espírito e na dependência do Espírito. Mas, quando chegou o início de sua manifestação pública, ocorreu um segundo fato da obra do Espírito em sua vida. Ele foi ungido pelo Espírito Santo para ser o Cristo de Deus.

Os profetas haviam dito que o Messias seria reconhecido porque sobre ele repousaria o Espírito Santo de Deus. Quando os judeus procuravam nas Escrituras os sinais que lhes permitiriam identificar o Messias, diziam: «O Messias será aquele que estará cheio do Espírito Santo». Por isso, quando João Batista estava na prisão e começou a duvidar, mandou os seus mensageiros para perguntar ao Senhor, e a resposta foi: «Ide, e façam saber a João o que viram e ouviram: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho». Em outras palavras, os sinais de autenticação do Messias estavam com ele. O Espírito Santo de Deus estava com ele.

«E houve uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem tenho complacência» (Mat. 3:17). Isaías 42:1 diz: «Eis aqui o meu servo... o meu escolhido, em quem a minha alma tem contentamento». Esse versículo é quase citado literalmente pela voz do Pai quando o Espírito desce sobre Jesus em forma corpórea, como pomba. Estes são sinais que permitem identificar a Jesus Cristo como o Messias anunciado.

Confrontando e vencendo

«Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto» (Mat. 4:1). Dali em diante, a vida de Jesus foi uma vida guiada pelo Espírito Santo. Sendo Deus, ele não precisa ser conduzido; mas, quando se encarnou, diz Filipenses 2 que ele se despojou dos seus atributos divinos, porque ele tinha que ser um homem como todos nós. Dessa maneira, ele teria que ser instruído pelo Espírito Santo em todas as coisas.

Não é glorioso o que o Senhor Jesus Cristo fez por nós? Ele veio para converter-se no homem segundo o coração de Deus, para vencer ali onde a raça humana falhou, e para converter-se na cabeça de uma nova humanidade criada a imagem de Deus. Por isso, ele teve que ser homem perfeito e completo, com todas as limitações e fraquezas da natureza humana, com apenas uma exceção – o pecado.

«Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto». Entramos aqui em um dos grandes mistérios dos propósitos da unção do Espírito Santo sobre a vida de Jesus. A primeira coisa que Mateus diz é que ele foi levado ao deserto com o propósito específico de ser tentado pelo diabo. Jesus é levado para confrontar a Satanás, ali onde o inimigo ganhou a sua primeira vitória sobre o homem.

Por que Satanás pode assediar e oprimir à raça humana? Porque ele roubou essa autoridade sobre o homem no jardim, quando tentou Adão e Eva. De maneira que agora Jesus é levado ao deserto para confrontá-lo, e então, ali onde Adão fracassou, o Senhor Jesus Cristo venceu como homem, e retirou o poder de Satanás de sobre os homens.

Jesus venceu, e isto nos dá uma chave do significado da vinda do Senhor Jesus Cristo a este mundo. Pedro diz: «…como Deus ungiu com o Espírito Santo e poder a Jesus de Nazaré». E o resultado disso foi que ele andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com ele.

Quando o homem caiu, a terra foi separada do céu. Deus, em sua providência, seguiu governando os assuntos do mundo, mas desde então o coração do homem estava entenebrecido pelo pecado. A terra já não era mais o espelho do céu, mas um lugar de opressão, de angústia e de morte. O propósito divino se perdeu e os homens sofreram debaixo da escravidão de Satanás.

O reino dos céus presente na terra

Mas, glórias ao Senhor Jesus Cristo! Os céus se abriram outra vez, e aqui há um homem segundo o coração de Deus. Outra vez o céu está ligado a terra. O reino dos céus se aproximou. Aleluia! O poder de Satanás para destruir a vida humana, chegou ao seu fim. O apóstolo Pedro diz isto, porque ele esteve com o Senhor desde o começo e viu que isto era precisamente o que Jesus fazia desde o princípio.

«E percorreu Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando toda enfermidade e toda doença no povo. E se difundiu a sua fama por toda a Síria; e lhe trouxeram todos os que tinham doenças, os afligidos por diversas enfermidades e tormentos, os endemoninhados, lunáticos e paralíticos; e os curou» (Mateus 4:23-24). Por quê? Porque o reino dos céus tinha chegado.

Na Escritura, o poder de Satanás se manifesta na opressão e na possessão demoníaca. Mas também se manifesta através da enfermidade, embora nem todas as enfermidades sejam causadas diretamente por ele. A enfermidade pode ter uma causa física ou biológica, uma causa psicológica ou mental ou uma causa espiritual ou demoníaca.

A Escritura menciona algumas enfermidades causadas por demônios. Mas, de alguma forma, todas as enfermidades são usadas por Satanás para oprimir a raça humana e são sinais da condição da queda do homem. Por isso, quando Jesus veio, ele começou a curar os doentes, porque isto significava que o poder de Satanás sobre o homem estava chegando ao seu fim.

Os milagres do Senhor, particularmente suas curas, são expressões do reino de Deus, da autoridade de Deus, da presença do Espírito Santo na vida de Jesus.

«Veio a Nazaré, onde tinha se criado; e no dia de sábado entrou na sinagoga, conforme o seu costume, e se levantou para ler. E lhe deram o livro do profeta Isaías; e tendo aberto o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para dar boas novas aos pobres; enviou-me a curar os quebrantados de coração; a apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos; a pôr em liberdade aos oprimidos; e para pregar o ano agradável do Senhor» (Lucas 4:16-19).

O que significa «o ano agradável do Senhor»? Quando a nação de Israel foi estabelecida, Deus determinou que cada sete anos haveria um ano chamado de jubileu. Quando chegava aquele ano, as dívidas das pessoas que durante esses anos se empobreceram, eram perdoadas; aqueles que tinham tido que vender-se como escravos por causa de sua pobreza, ficavam livres. Esse era o ano do jubileu.

Mas havia outro jubileu especial cada cinquenta anos, que acrescentava algo mais. Em Israel, o símbolo de pertença ao povo de Deus era a posse da terra – porque ela representava a Cristo. Todo israelita tinha uma porção de terra dada por Deus. Mas às vezes, eles perdiam a sua propriedade ou a tinham que vender a outros. No entanto, cada cinquenta anos, toda a terra voltava para seus possuidores originais.

Notem agora o que quer dizer «…a pregar o ano agradável do Senhor». O Senhor Jesus veio para trazer o jubileu de Deus, já não sobre a nação de Israel, mas sobre toda a humanidade, para libertar a todos aqueles que estavam caídos debaixo do poder do inimigo.

Demônios estremecendo

«Estava na sinagoga um homem que tinha um espírito de demônio imundo, o qual exclamou com grande voz, dizendo: Deixe-nos; o que tem conosco, Jesus nazareno? Vieste para nos destruir? Eu conheço quem eres, o Santo de Deus. E Jesus lhe repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. Então o demônio, lhe derrubando no meio deles, saiu dele, e não lhe fez mal algum» (Luc. 4:33-35). «Vieste para nos destruir?». Os demônios sabiam o que significava a vinda do Senhor Jesus.

«Mas se pelo dedo de Deus eu expulso os demônios, certamente o reino de Deus chegou a vós» (Luc. 11:20). Mateus 12:28 diz: «Mas se eu pelo Espírito de Deus expulso os demônios, certamente chegou o reino de Deus».

No ministério do Senhor Jesus, a unção que ele recebeu o capacitou para desfazer as obras do diabo. E agora, Jesus chamou doze discípulos, para que estivessem com ele. Olhando a vida e o exemplo dele, eles aprenderam como se vive uma vida cheia do Espírito Santo e como se fazem as obras de Deus. Por isso, Marcos 3:13-15 diz: «Depois subiu ao monte, e chamou a si aos que ele quis; e vieram a ele. E estabeleceu a doze, para que estivessem com ele, e para enviá-los a pregar, e que tivessem autoridade para curar enfermidades e para expulsar demônios».

Os evangelhos sinóticos registram exatamente o mesmo: Jesus chamou os doze e os capacitou para fazer as mesmas obras que ele fazia, para expressar a autoridade do reino de Deus da mesma maneira em que ele o fazia. Podemos dizer: «Bom, eles eram os apóstolos, capacitados por Deus para fazer estas coisas». Mas em Lucas capítulo 11 vemos algo que ocorre depois que o Senhor enviou os apóstolos:

Capacitados pelo Espírito

«Depois destas coisas, designou o Senhor também a outros setenta, a quem enviou de dois em dois diante dele a toda cidade e lugar aonde ele tinha que ir ... Ide; eis que eu vos envio como cordeiros no meio de lobos ... Em qualquer cidade onde entreis, e vos recebam, comam o que lhes ponham diante; e curem aos enfermos que haja nela, e digam-lhes: É chegado a vós o reino de Deus» (Luc. 10:1, 3, 8-9).

E o versículo 17 ao 19: «Voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, até os demônios nos sujeitam em teu nome. E lhes disse: Eu via satanás cair do céu como um raio. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e sobre toda força do inimigo, e nada vos fará dano».

Este último não foi encomendado aos Doze, mas a setenta homens dos quais nem sequer sabemos seus nomes, mas apenas que eram discípulos do Senhor. Qualquer discípulo do Senhor pode estar incluído dentro deste grupo de pessoas. Também eles receberam o mesmo poder, a mesma autoridade.

E quando terminou o seu tempo aqui na terra, ele disse aos seus discípulos: «Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura». E em seguida lhes disse que antes de fazer algo deviam ficar em Jerusalém até que fossem ungidos com poder do alto. «…e ser-me-eis testemunhas…».
Irmãos, se o Senhor Jesus teve que receber a plenitude do Espírito Santo para trazer a expressão plena do reino de Deus a este mundo, nós poderíamos continuar com o ministério do Senhor sem essa mesma unção? Não; é impossível. Nós não temos poder contra o príncipe deste mundo, mas só o Espírito de Deus. Para pregar o evangelho se requer poder. Sem ele, só serão palavras vazias; mas, quando se proclama o evangelho pelo poder do Espírito, são palavras ateadas de poder, são flechas divinas que transpassam o coração dos homens e os trazem cativos ao reino de Deus.

Os milagres e sinais não eram periféricos na vida do Senhor nem na vida dos apóstolos. No livro de Atos, quando o Espírito desce sobre a igreja, começa a reproduzir na vida dos apóstolos e na vida da igreja a mesma experiência que eles viram na vida do Senhor Jesus Cristo.

O testemunho dos crentes

A igreja, durante os primeiros duzentos anos, teve uma expansão assombrosa. Passado esse tempo, havia igrejas por todos os recantos do Império Romano. Não havia cidade onde não houvesse uma igreja do Senhor Jesus Cristo.

Tertuliano, um crente do século II, escreve ao imperador: «Uma das demonstrações de que os cristãos estão sob a autoridade de Deus e temos o reino de Deus que nos respalda é esta: Tão somente somos de ontem e já enchemos o mundo». Esses homens antigos atribuem essa expansão a três coisas: primeiro, a autoridade do Evangelho, a palavra de Deus; depois, a compaixão com que os cristãos se dão pelas pessoas, e, em terceiro lugar, o poder de Deus na vida da igreja.

Diz Tertuliano: «Quando vocês estão doentes ou oprimidos pelos poderes demoníacos, a quem acodem? Quais são os únicos neste mundo que têm poder para curar as suas enfermidades e libertá-los do poder de Satanás? Só a igreja do Senhor Jesus Cristo. Isso causou grande impacto no mundo antigo. A medicina era incapaz de curar às pessoas; mas a igreja tinha esse poder.

Não enfrentamos um poder humano, enfrentamos o poder das trevas. No princípio, foi o Espírito Santo quem levantou a igreja, e ocorreram maravilhas que demonstravam que o reino de Deus tinha chegado e que Satanás estava vencido. Só é necessária uma coisa: a unção do Espírito Santo.

A unção sobre a Cabeça e sobre o corpo

A unção do Espírito veio em plenitude sobre Jesus. E, o que ocorreu conosco?

«Oh! quão bom e quão delicioso é habitar os irmãos juntos em harmonia!». A harmonia é sinal da presença do Espírito de Deus. «É como o bom óleo sobre a cabeça, o qual desce sobre a barba, a barba de Arão, e desce até a orla das suas vestimentas» (Sal. 133:1-2). Que linda figura! Cristo é a nossa cabeça, e nós somos o seu corpo.

Esta unção derramada sobre a igreja não é uma unção pequena, mas a mesma que veio em plenitude sobre ele. João diz: «Vós tendes a unção do Santo». Em termos práticos, isto significa que todos nós somos chamados a fazer as obras do Senhor Jesus, a manifestar o reino de Deus. Assim como aqueles setenta, nós estamos capacitados para orar pelos doentes e que estes sejam curados no nome do Senhor, para expor as obras das trevas e desfazer o poder de Satanás. Não é necessário pessoas especiais; sobre todos nós pesa o mesmo encargo, a mesma comissão do Senhor.

Ele não nos unge para exaltar a nós; mas para representar o reino de Deus, para anunciar que em Jesus veio o perdão, a salvação, a libertação, para todos os homens. O Senhor nos socorra, para que sejamos cheios dessa mesma unção, desse mesmo poder, dessa mesma capacitação divina. Amém.

Síntese de uma mensagem oral ministrada em Rucacura (Chile) em janeiro de 2014.

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