A vestimenta dos culpados

Há uma roupagem de justiça que Deus tem provido para adornar e embelezar a nossa alma nua.

Henry Law

E Jeová Deus fez ao homem e a sua mulher túnicas de peles, e os vestiu» (Gên. 3:21).

Existe um Deus e um acesso até o seu sorriso. Existe um céu e uma porta para chegar a ele. O Salvador que tinha de vir, e que já veio, é um só, Cristo. A fé de Abel e a de João Batista olhavam para o mesmo Cristo. Noé não pregou uma justificação e Paulo outra. Os patriarcas não se regozijaram em uma esperança e os apóstolos em outra.

O único caminho para a vida

Desde o começo até o fim, todos os peregrinos do monte de Sião se apoiaram em um mesmo braço. Todos os viajantes que cruzam o mar da vida, a caminho do descanso eterno, são guiados pela mesma bússola.

Quão importante é, pois, para nós pensar o seguinte: Temos escapado dos múltiplos caminhos tortuosos que levam a destruição? Viajamos seguros pela única vereda que conduz à vida? Cristo Jesus é este único caminho.

Os raios do seu amor redentor brilharam tão logo houve um pecador para iluminar. O jardim do Éden foi testemunha do sombrio espetáculo da inocência destruída; mas foi também testemunha de algo mais que a mera inocência restaurada. Os pais de nossa raça não foram expulsos ao selvagem deserto da terra sem uma promessa alentadora, sem um forte consolo, sem uma preciosa perspectiva e sem uma imagem clara de plena restauração.

O caminho de volta ao céu foi esboçado em um mapa muito claro. Sobre ele mesmo estava representado, com vivas cores, o Senhor Jesus.

A roupagem de justiça

Até os vestidos que lhes foram feitos, e lhes foram postos, pregavam-lhes o Evangelho. Considere a situação. Estavam conscientes de sua própria vergonha e se ruborizavam da própria luz do dia.

Em sua confusão trataram de ocultar-se. Idealizaram o melhor, mas eram sombras de vestidos; não podiam humanamente fazer mais. Quão frágeis, quão esfarrapados e quão maltrapilhos aquelas roupagens!

Mas Deus, em Sua misericórdia, veio em sua ajuda. Supriu toda a sua necessidade, fez «túnicas de peles e os vestiu».

Talvez até aqui você não tenha visto nada nestas vestimentas, a não ser calor para o corpo e amparo contra a intempérie. Mas pode estar seguro de que o significado é muito mais amplo. É espiritual. Fala-nos da roupagem de justiça que Deus tem provido para adornar e embelezar a nossa alma despida. Que o Senhor nos mostre, por seu Espírito, esta maravilha!

Receberemos mais luz sobre o assunto se examinarmos o material da qual foram feitas as vestimentas. Não eram folhas postas juntas, nem fibras entretecidas, nem raízes trançadas. Eram peles de animais mortos.

A morte, pois, tinha começado a sua obra desoladora no jardim. Mas, como se aproximou de suas primeiras vítimas? Não com o passo lento da queda gradual. Era a manhã da existência. O tempo estava em sua infância. Os desperdícios das épocas estavam ainda muito longínquos. Estas bestas do campo devem ter caído por mão da violência.

Mas, por quê? Não para prover comida ao homem. Antes do dilúvio, os vegetais bastavam para a sua nutrição. Foi Noé o primeiro a ouvir a concessão mais ampla: «Tudo o que se move e vive, ser-lhes-á para mantimento: assim como os legumes e plantas verdes, dei-lhes tudo» (Gên. 9:3). Aqueles animais foram mortos, pois, com outros propósitos.

Um sacrifício no Éden

Não houve propósitos ímpios, pois Deus não olhou com agrado aquela morte. Ele testifica isso usando as peles. Se, pois, morreram de acordo com a vontade de Deus, fica apenas uma conclusão lógica: foram oferecidos em sacrifício. Ali o Cordeiro estava representado «imolado desde antes da fundação do mundo».

Desta forma aprendemos que houve vítimas que derramaram o seu sangue no Éden. Com efeito! A primeira gota de sangue que ensopou a terra, e o primeiro gemido mortal, proclamaram os termos mais inteligíveis que «a paga do pecado é a morte» e que «sem derramamento de sangue não há remissão». A doutrina destes ritos é a doutrina da cruz.

Não há dúvidas que as peles ministram os primeiros objetos para vestir o homem. Foram tiradas das ofertas pelo pecado. Assim, para a visão de fé, cada sacrifício é o sinal duplo da salvação plena. Cada altar projeta uma sombra, não só do sangue que nos liberta do inferno, mas também da justiça que ganha o céu.

Tal é o quadro, admirável por sua simplicidade. Mas, quem pode expressar a amplitude e a profundidade de verdade que se encerra? Uma verdade que é a mesma chave do céu e o alimento da alma. Até que aprendamos isto, nos encontraremos na sala de espera do Evangelho. Vocês não vão querer se aproximar comigo e indagar, e procurar o pleno consolo do conhecimento perfeito?

Não posso duvidar que seu maior desejo é entrar nas prazerosas mansões dos benditos uma vez que esta breve vida tenha passado. Mas, vocês têm a roupa adequada para tal ocasião? Estar no céu é estar com Deus. Tudo ali é belo. Todos brilham com pureza. Todos têm a brancura da perfeição imaculada. O olhar de Deus descansa sobre eles com deleite. Não acha defeito nem recriminação neles. Considera-os dignos de sentar-se em tronos de glória.

Embelezados para serem achados dignos

Mas, como obtiveram tais vestimentas? Não pode ser obra de homens. As mãos manchadas unicamente podem obter sujeira. «Somos como trapos de imundície». Está claro que se pudéssemos morar ali onde só a justiça reina seria porque traríamos conosco a justiça própria. Igualmente verdade é que poderíamos nos fazer facilmente deuses se conseguíssemos nos vestir com roupas imaculadas. Quem, então, pode nos embelezar para que sejamos achados dignos?

Tudo foi provido no Salvador

Nosso raciocínio nos leva às boas novas do glorioso Evangelho. Tudo foi provido no Salvador Jesus Cristo. A justiça que necessitamos, e que nos é oferecida, é a sua própria obediência. Ele faz por nós o que nós nunca poderíamos fazer. Nele nos convertemos no que nunca poderíamos ter sido sem ele. Ele opera uma dignidade infinita, a fim de poder ser para nós tudo o que o seu nome implica: «Senhor justiça nossa».

Quão precioso é este poço de verdade! Dele tiremos um frescor mais profundo em gratidão e fé. Eis aqui, uma e outra vez, o fato glorioso. Um homem, nascido de mulher, passou pela vida humana sem apartar-se nenhuma só vez do caminho de Deus.

A terra viu a um Homem tão puro como Deus, tão santo como Deus, tão perfeito como Deus, tão impecável como Deus. Percorreu todo o caminho da lei sem desviar um só passo. Com fortes asas subiu às alturas, e não vacilou nem fraquejou. O olho esquadrinhador de Deus sempre esteve sobre ele, e não pôde achar nem por uma só vez a ausência do amor celestial em seu pensamento, em sua palavra nem em seus atos.

O chão, frequentemente, se tornou escorregadio, mas ele nunca escorregou. Permaneceu erguido diante de Deus, sustentando com as suas mãos numa plena e perfeita obediência, realizada e completada até o último detalhe. E tudo isto foi por nós. Trouxe-o para nos dar isso e o oferece a todo pecador despido que, pela fé, corre para cobrir-se nele.

Leitor, eu te pergunto: O Senhor me confirma com as suas palavras essas novas? Se, ele as confirma, então escute as suas palavras: «A justiça de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, para todos os que creem nele» (Rom. 3:22).

Confie completamente nestas palavras e haverá para ti paz perfeita. É para todos, como pagamento a seu favor no livro de contabilidade.

Assim, quando Deus faz conta, do lado do crente, e exige o cumprimento da lei, eis que aparece aqui a favor do pobre pecador uma obediência imensa que cumpre as mínimas exigências da mesma. É o presente da mão de Cristo.

Deus nem deseja nem pode receber mais. Assim é sobre todos, para todos os que creem. Por conseguinte, quando o crente chama as portas do céu, faz-se um vestido com a roupagem celestial; a justiça de Cristo lhe cobre. Que mais lhe pode exigir? Aparece tão brilhante e glorioso como o próprio Deus.

Feitos justiça de Deus

Gostaria que vocês achassem satisfação neste ponto. E com este desejo vos rogo que considerem outra passagem da Escritura: «Aquele que não conheceu pecado, fez pecado por nós, para que nós fôssemos feitos justiça de Deus nele» (2ª Cor. 5:21).

Bendito o homem cujo coração estas verdades tocam profundamente! São-lhe mais preciosas que dez mil mundos. Não nos dizem elas que nós, que não somos mais que vileza, se apenas estivermos unidos a Cristo somos feitos justiça de Deus?

Se apenas nos considerasse justos seria já muito. Mas muito mais é que nos considere justiça de Deus. Alegrem-se em tão grande consolação. Ao crente humilde ecoam as palavras da Escritura quando diz: Em Cristo sou feito justiça de Deus.

É manifesta a vontade de Deus que esta provisão pela alma estivesse sempre presente diante dos nossos olhos adoradores. Resultando assim que o objeto mais familiar para os nossos sentidos, aquele com o que cobrimos o corpo, está planejado para tal fim. Estude esta lição. É compreensível a toda inteligência. É tão clara para o ignorante como para o letrado.

Acho, no entanto, que as sombras terrenas não acertam para descrever as realidades celestiais; é como a criatura que comparada ao Criador não é nada.

Uma vestimenta eterna

Admiramos a roupa da inocência de Adão. Puro e delicado; mas era humano. Esta vestimenta não é assim. O Deus-Homem, Jesus, é seu autor. O vestido de Adão foi manchado, logo se estragou. Satanás lhe tocou, e se desfez.

Mas a nova vestimenta está guardada no alto dos céus, e o destruidor não a pode alcançar. As peles trazidas a Adão logo se tornariam velhas e se danificariam.

A nova vestimenta é justiça eterna (Dan. 9:24). Uma geração segue a outra geração, mas ela não vê corrupção; a sua novidade é sempre jovem. Os vestidos terrenos são às vezes de impressionante esplendor. Mas, até as próprias vestimentas reais de Salomão, o que seriam junto à roupagem celestial? Pálidos trapos, como a mais frágil estrela colocada diante dos raios do sol ao meio dia.

Detenho-me aqui, crendo que a eternidade não acabará com os louvores por este vestido. E não terei escrito em vão se estas breves palavras fizerem mais preciosos a alguma alma os preciosos vestidos da justiça divina.

Um chamado

Leitor, você quer se vestir deles? Peça, e lhe será dado. Procure-a com fé sincera e serão tuas. O filho pródigo volta e o pai lhe diz: «Tragam o melhor vestido e vesti-lha (Luc. 15:22). Compareça contrito o pecador e os melhores ornamentos dos céus, sobre ele serão postos. Sejas, pois, sábio e escute a voz que do alto te diz: Aconselho-te que adquiram de mim vestes brancas, para lhes vestir com propriedade.

Que mais podes desejar? A dignidade de Cristo para a nossa indignidade. Sua impecabilidade para a nossa natureza pecaminosa. Sua pureza para a nossa impureza. Sua beleza para a nossa deformidade. Sua sinceridade para a nossa hipocrisia. Sua verdade para a nossa falsidade. Sua humildade para o nosso orgulho. Sua perseverança para a nossa apostasia. Seu amor para o nosso ódio. Em uma palavra, sua plenitude para o nosso vazio; sua glória para a nossa vergonha, e sua justiça por nossas várias injustiças.

Feliz o homem que responde: Escondo-me em ti, bendito Jesus! Recebo-te como minha justiça. Esta alma canta docemente: «Em grande maneira me regozijarei em Jeová, minha alma se alegrará em meu Deus; porque me vestiu com vestes de salvação, rodeou-me de manto de justiça» (Is. 61:10), acrescentando com humildade esta nota triunfal: «Desde agora, me está guardada a coroa de justiça, a qual me dará o Senhor, juiz justo, naquele dia; e não só a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda» (2ª Tim. 4:8).

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