ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
Um Hóspede estimulante
A partir de sua ascensão ao Pai, abre-se um benefício extraordinário para os discípulos de Cristo.
Marcelo Díaz
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e vos darei outro Consolador, para que estejais convosco para sempre… Mas eu vos digo a verdade: Convém-vos que eu vá; porque se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas se eu for, vô-lo enviarei” (João 14:15-16; 16:7).
Ao longo da Bíblia, vemos que a ação poderosa do Espírito Santo operou em alguns homens escolhidos por Deus de forma intermitente, e somente para falar referente a um assunto específico. Por isso, quando Jesus pronuncia estas palavras, faz os seus ouvintes notarem a conveniência de Sua partida, o que resultaria benéfica, visto que se estabeleceria uma nova era a partir da consumação de sua obra.
Naquela época, apenas um homem sentia e percebia internamente a comunicação íntima com Deus de forma permanente. Esse homem era Jesus. O próprio Deus, a sua natureza, os pensamentos e as intenções profundas do coração de Deus habitavam somente nele. Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, cheio da presença celestial no ventre de sua mãe. E o Espírito veio a ele em forma corpórea, como uma pomba. E em seguida, ele foi conduzido passo a passo, socorrido permanentemente por sua presença.
Por isso, há muito valor nas palavras do Senhor quando diz: «Convém-vos que eu vá…», visto que, a partir de sua ascensão ao Pai, abre-se um benefício extraordinário para os discípulos de Cristo; uma conveniência inimaginável, a bendita morada do Espírito na vida do crente, de cuja magnitude, pela insólita e majestosa, muitos não são conscientes.
A exaltação de Cristo e a vinda do Espírito
O apóstolo Pedro, em seu primeiro discurso à multidão no dia de Pentecostes, explica que o ocorrido é por causa da exaltação de Jesus Cristo à presença de Deus. «Assim, exaltado pela mão direita de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós veem e ouvem» (Atos. 2:33). A exaltação de Cristo resulta no derramamento do Espírito Santo aos crentes.
A novidade de sua vinda está no fato de que o Espírito agora faria habitação permanente no homem e, além disso, em muitos homens. Isto é o que Paulo explica como «o novo homem»; quer dizer um homem corporativo composto por muitos, cada um membro de um só corpo, onde o Espírito Santo opera ativamente para proveito comum (1ª Cor. 12:7).
Hoje, por termos em nós o Espírito, podemos entender a Deus, podemos entender a sua vontade e seu propósito em nossa vida. Ele nos recorda e nos explica as palavras do Senhor, ensina-nos a raciocinar conforme os seus raciocínios. Sem ele, toda a Escritura não seria mais que uma história.
Cristo vive em nós através de seu Espírito. É o Espírito o que vive em nós. Tudo o que é do Pai nos é real pela presença do Espírito Santo. Por isso o Senhor diz: «Convém-vos que eu vá; porque se eu não for, o Consolador não virá a vós». Até esse momento, só Cristo gozava desta bênção que, hoje, nós, pela graça de Cristo, podemos experimentar.
A atividade interna do Parakletos
Se houver algo complexo na vida, é o interior do homem, onde habita a alma. Há nela labirintos e recantos inescrutáveis. Muitas vezes, a mente nos boicota. Por exemplo, os transtornos mentais são desordens dos nossos pensamentos e afetos, que se voltam contra nós mesmos. E em seguida, esses pensamentos, essas emoções, transformam-se em condutas disfuncionais. Mas que gloriosa realidade é saber que quando vem o Espírito Santo, o Espírito de vida, começa no interior do homem uma obra cuja missão é levantá-lo, defendê-lo e alentá-lo até fazê-lo semelhante à imagem de Jesus.
O nome que Jesus atribui ao Espírito Santo dá a entender a natureza de sua função na vida do crente. A palavra Consolador tem muitos significados. Literalmente é Parakletos. Na história de alguns povos antigos, dava-se o nome de paracleto ao advogado que defendia a aquele que tinha sido acusado. Este significado é muito rico – saber que o Espírito Santo advoga por nós. De fato, Paulo, em Romanos 8, diz que o Espírito intercede a nosso favor.
O Espírito Santo está como escudo a favor da vontade de Deus em nosso interior, nos defendendo, não só das acusações do diabo, mas até de nós mesmos. Quando minhas próprias convicções ou minhas emoções me levam a angústias e a ansiedades, o Espírito Santo me defende disso. É ele quem apresenta a defesa, que toma os recursos do céu, e os faz realidade em nós, nos defendendo de toda adversidade. Que bom é que o Espírito Santo tenha independência de nós mesmos.
Parakletos também tinha outro significado. Era a pessoa cuja função era estimular os atletas em sua carreira. Os paracletos estavam postados de trecho em trecho, para animar os corredores. Os atletas iam recebendo esse alento, pondo seu olhar na meta, para chegar a obter o prêmio.
É interessante observar o conflito dos atletas no momento da prova. A concentração, o domínio do corpo, o bloqueio da excessiva ansiedade, o autocontrole, são elementos que participam ativamente para chegar à meta. Se algum deles falha, o resultado não será favorável. Pois bem, assim o Espírito nos estimula dia a dia em nossas fraquezas, para que sejamos fortalecidos no homem interior.
Nem todos os crentes são conscientes de que é a voz do Espírito Santo a que os exorta a seguir, que estão capacitados por Deus para cumprir os seus propósitos. «Não vos deixarei órfãos…» (Jo. 14:18).
O dia de Pentecostes
Vejamos alguns versículos no livro de Atos, para extrair algumas lições. «...mas recebereis poder, quando vier sobre vós o Espírito Santo» (1:8). «...e de repente veio do céu um estrondo» (2:2). «...e foram todos cheios do Espírito Santo» (2:4). «...lhes ouvimos falar em nossas línguas as maravilhas de Deus» (2:11).
Aqui ocorre algo muito especial. Até esse momento, um grupo de homens estava reunido em um aposento, temerosos, talvez desanimados. Mas uma coisa importante lhes impulsionava: obedecer a instrução do Senhor. De repente, ocorre algo espetacular. Desce o Espírito Santo sobre a igreja. A promessa anunciada era derramada em cada um dos assistentes. Inicia-se a era do poder de Deus através da presença gloriosa do Espírito na igreja.
Pedro conclui o seu discurso dizendo: «A este Jesus Deus o ressuscitou, do qual todos nós somos testemunhas. Assim, exaltado pela mão direita de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo…» (2:32). O Pai se comprometeu com o Filho em algo; mas esse algo ocorreria uma vez que o Filho tivesse consumado a sua obra.
A promessa do Pai
O Filho recebeu a promessa do Pai. Qual era o compromisso? Joel diz: E depois disto derramarei o meu Espírito sobre toda carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão…» (2:28). «Haverá uma revolução, encherei o mundo da minha presença; me comprometerei com os homens, morarei com eles». A promessa do Pai é esta – Deus morando, fazendo tabernáculo, no homem.
«E tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós vedes e ouvis». O maior argumento espiritual do por que o Espírito está em nós, reside em que Cristo, como homem, ressuscitou e foi exaltado à mão direita de Deus. Por isso, assim como o poder do Pai se derramou no Filho, agora o poder do Filho se derrama em muitos, na igreja.
Tal como o Filho venceu o pecado através do poder do Espírito Santo, sendo cheio da graça de Deus, assim agora a igreja está cheia da graça, do poder e dos dons do Filho, através do Espírito.
As duas cidades
Ao lermos Atos capítulo 2, também nos vêm à mente a construção da torre de Babel. Os homens se acertaram com o propósito de edificar uma torre até chegar ao céu. Seu fim era exaltar ao homem. Então, Deus confundiu as suas línguas, e os espalhou por toda a terra.
Agora, no Pentecostes, um punhado de crentes em Cristo, cheios de esperança, se reúnem unânimes em Seu nome, aguardando a manifestação do poder divino. Deus responde dos céus, e começa a levantar uma nova cidade, com o poder do seu Espírito, com os homens e nos homens, unificando as suas línguas para falar as maravilhas de Deus.
Há um Nome de salvação dado aos homens. Agora há distintas línguas, mas estas falam apenas uma realidade. As pessoas ouviam os discípulos, «e estavam atônitos e maravilhados… porque cada um ouvia falar em sua própria língua as maravilhas de Deus».
A embriaguez e o Espírito
«Mas outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto» (Atos 2:13). Alguns, ao ver os discípulos, pensavam que estavam bêbados, porque ouviam coisas que não podiam entender.
Liguemos esta passagem com Efésios capítulo 5. Os efésios se caracterizavam por sua idolatria. Nessa época, Éfeso era uma cidade corrupta, uma cidade que concentravam muitas pessoas, com muito comércio, libertinagem e corrupção. Ali, o Espírito Santo, por boca dos apóstolos, proclamou liberdade aos cativos, e muitos daqueles que eram pagãos, converteram-se e se constituíram na igreja em Éfeso.
Aquela foi uma igreja cheia de dons, de conhecimento e de graça. E Paulo, em Efésios 5:15-18, dá-lhes esta instrução: «Vede, pois, com diligência como andeis, não como néscios mas como sábios, aproveitando bem o tempo, porque os dias são maus. Portanto, não sejais insensatos, mas entendidos de qual seja a vontade do Senhor. Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução; antes sede cheios do Espírito».
A instrução é entregue justamente a pessoas que em outro tempo estavam acostumados a embriagar-se com vinho. O vinho era o elemento de maior consumo na antiguidade, usado como estimulante das emoções. Há duas maneiras de interpretar este verso. Uma, vendo-o como antítese, que quer dizer: «Não se embriaguem com vinho, mas façam outra coisa: sejam cheios do Espírito Santo». E outra é vê-lo como um símile: «Não se embriaguem com vinho, mas embriaguem-se com o Espírito Santo».
A palavra embriagar-se significa também empapar-se. «Não se empapem com vinho». E a palavra «dissolução» é o mesmo que Lucas emprega quando fala do filho pródigo. Então, embriagar-se com vinho é inundar-se de um viver perdidamente, sem rumo, é perder o controle da vida.
Estranhamente, todos acreditam que o álcool é um estimulante, mas isto é um engano. O correto é que o álcool é um sedativo, que adormece o controle do aparelho neurológico central, de modo que as pessoas ficam expostas a que se manifestem seus instintos mais perversos. O vinho inibe o controle de si mesmo, e como resultado dá lugar a um variado leque de instintos carnais.
Os resultados da ação do Espírito
No entanto, o que ocorre quando alguém é cheio do Espírito Santo? O contrário. É controlado pela vontade de Deus. Os instintos da carne são subordinados e tratados no tempo, ajustando-se a um são desenvolvimento da vida humana.
A vida cheia do Espírito Santo é uma vida que está controlada e sujeita ao Senhor. Por isso, quando se manifestam os dons na igreja em Corinto, Paulo ensina: «E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas; pois Deus não é Deus de confusão» (1ª Cor. 14:32-33). Aqui é tudo em ordem; tudo está sob controle.
Alguns interpretam mal que ser cheio do Espírito Santo é deixar-se levar pela espontaneidade e a desordem da sensibilidade. Não é. Ao sermos cheios do Espírito e exercermos os dons do Senhor, não se perde o controle. Não é entrar em um suposto êxtase espiritual e perder a consciência, como no espiritismo. A plenitude e os dons espirituais são ajustados à vontade de Deus. Deus tem o controle desses homens.
O Espírito estimula
Diferente da ação do álcool, o Espírito estimula. Muitas vezes, temos sentido o estimulo do Espírito Santo, sem sabê-lo. O Espírito sim estimula a sua mente, as suas emoções, a sua vontade. Onde está o Espírito Santo, a mente tem mais lucidez. Há recursos adicionais; o Espírito estará operando na mente, para conjugar e unir situações para uma maior compreensão da realidade.
O Espírito não deprime; ele te estimula. Ele jamais te impedirá; ao contrário, te motivará a ir mais adiante. É interessante mencionar que, nos países onde houve um verdadeiro avivamento espiritual, uma visitação especial do Espírito Santo, vem a seguir um tempo de alto interesse pela educação, por aperfeiçoar-se, porque o Espírito Santo estimula a mente.
Por exemplo, ao ler as Escrituras, você sente desejos de continuar esquadrinhando? É a ação do Espírito Santo. Essa não é uma fome natural por ler – é a ação de Deus. Ou, em quem desfruta ouvindo ensinos e estão sempre enchendo-se da Palavra, essa motivação é o estimulo do Espírito Santo, querendo encher todo o ser com a vontade de Deus.
A influência do Hóspede
«Sede cheios do Espírito». Em definitivo, ser cheios do Espírito não é outra coisa que ser cheios de uma Pessoa e deixar-se ser influenciado por ela. O Espírito Santo é alguém com quem convivemos diariamente. Uma das evidências de ser cheios do Espírito é ter consciência de que ele habita em nós.
O que você faz quando recebe um hóspede em sua casa? Ignora-o? Tem uma especial preocupação por atendê-lo bem e lhe fazer se sentir cômodo? Irmão, o Espírito Santo é um hóspede em nosso ser. Aonde você vai, vai com este hóspede, e convive com ele todo o dia.
Tomar maior consciência do Espírito Santo em nossas vidas é uma das coisas que devemos considerar permanentemente. Deus tem feito morada em nós. Atendê-lo é a nossa missão; facilitar os seus movimentos, lhe dar uma atenção primitiva, porque ele é um hóspede especial, um hóspede celestial. Bendito seja o Senhor!
Mensagem ministrada no retiro El Trebol, Chile, janeiro 2014.