Dons, ministérios e operações

Há uma riqueza de conhecimento que o Espírito Santo quer nos comunicar como igreja do Senhor.

Cristian Cerda

Não quero, irmãos, que ignoreis a respeito dos dons espirituais. Sabeis que quando éreis gentios, vos desviáveis para os ídolos mudos, conforme éreis levados. Portanto, faço-vos saber que ninguém que fale pelo Espírito de Deus chama anátema a Jesus; e ninguém pode chamar a Jesus Senhor, a não ser pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas Deus, que faz todas as coisas em todos, é o mesmo”.

1ª Cor. 12:1-6.

Ao escrever a respeito dos dons espirituais, Paulo o faz em um contexto onde trata assuntos vinculados com a reunião da igreja. Do capítulo 11 ao 14, tenta acentuar a ordem em que as coisas deveriam se dar. E, no versículo 14:40, conclui dizendo: «…mas faça-se tudo decentemente e com ordem».

Estes capítulos são as únicas passagens da Escritura que permite nos aproximar de uma maneira mais clara à forma em que a igreja se reunia. Quando a igreja em Éfeso é mencionada, aquela era uma igreja maravilhosa; mas, em Corinto, a igreja é tal qual se declara as relações entre aqueles irmãos.

Naquela época, Corinto era um dos centros comerciais mais importantes do mundo antigo. Sua prosperidade contrastava com a realidade moral de sua população, que levava uma vida corrupta e dissipada, ávida de toda classe de excessos, bebedeiras, fornicação e degradação.

Em Corinto, quando Paulo fala da fornicação, diz: «O alimento é para o ventre, e o ventre para os alimentos» (1ª Cor. 6:13). Porque, entre outras coisas, o argumento que os coríntios tinham para a sua forma de vida dissipada, era justamente este: «Assim como o ventre é para os alimentos e os alimentos para o ventre, então a sexualidade é para usá-la. Se os olhos são para ver e os ouvidos são para ouvir, que problema há com a sexualidade?».

Mudança radical

No entanto, Paulo revaloriza nosso corpo de uma maneira maravilhosa. Nessa época, toda a filosofia apontava que o corpo era uma espécie de prisão. Mas, quando Paulo fala do corpo, diz: «Mas o corpo não é para a fornicação, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo» (6:13). Ele tem um entendimento grandioso: «O corpo é templo do Espírito Santo de Deus». É uma mudança radical na maneira de pensar.

«Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus?» (6:9). Aqui, Paulo está sendo bem prático. Não está falando de algo que para eles era desconhecido. Eles eram exatamente assim. «Não erreis; nem os fornicários, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem roubadores, herdarão o reino de Deus» (v. 10).

«E isto fostes alguns…». Eis aqui a misericórdia extraordinária do Senhor. A uma cidade corrompida, Deus envia a Paulo com a mensagem do evangelho, para chamar homens e mulheres à comunhão com seu Filho Jesus Cristo. O evangelho é poder de Deus, é o anúncio da mensagem poderosa do Senhor a aqueles que vivem na ignorância e na dissolução.

Não é de estranhar, então, que em uma sociedade como aquela se manifestassem problemas no momento de reunir pessoas com diversas condições de origem. Por esta causa, Paulo lhes advertiu: «Portanto, faço-vos saber que ninguém que fale pelo Espírito de Deus chama Jesus de anátema; e ninguém pode chamar a Jesus de Senhor, senão pelo Espírito Santo» (12:3). Assim, ele introduz o adequado entendimento dos dons espirituais.

«Não quero, irmãos, que ignoreis a respeito dos dons espirituais» (12:1). Uma tradução mais fiel deste texto seria: «Não quero que ignoreis a respeito dos assuntos ou capacidades espirituais», o que o resultado, é um pouco mais amplo que a expressão «dons espirituais».

A nossa sociedade

Hoje vemos, em nossa sociedade, um crescente agnosticismo, que nega a possibilidade de conhecer uma realidade superior a aquela que humanamente captamos. O agnosticismo está, de alguma forma, permeando todas as bases da sociedade.

O assombroso é que essa realidade, que para os agnósticos é impossível de reconhecer, é a que você e eu conhecemos. «A Deus ninguém viu jamais; o unigênito Filho, que está no seio do Pai, o deu a conhecer» (João 1:18). Então, há um tremendo desafio para nós, como igreja do Senhor, e é que você e eu somos responsáveis por expor aquele conhecimento, que para alguns está velado, ou não tem muito interesse ou carece de relevância para a sociedade.

Nós devemos conhecer a realidade de Deus, aquela que hoje em dia é ignorada pela sociedade. A igreja tem uma mensagem que revitaliza nestes tempos. Ela é a única que a possuí. A mensagem do Deus que eles dizem não conhecer é a mensagem do Deus que se manifestou, para que você e eu o conheçamos.

Eles dizem: «Claro, se não houver possibilidade de conhecer a Deus, ditemos nossas regras, nossas pautas de conduta. Tenhamos uma Constituição laica, pluralista. Não temos por que estar sujeitos a padrões que herdamos de uma realidade que não podemos conhecer, algo mais liberal». Vocês já escutaram isso?

As manifestações do Espírito

Notem o que Paulo diz no capítulo 2, e creio que isto tem relação com as manifestações do Espírito. Versículos 9-10: «Mas, como está escrito: Coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem subiram ao coração dos homens, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo Espírito; porque o Espírito tudo esquadrinha, até as profundezas de Deus».

Quando Paulo está escrevendo isto, parece-me que ele quer dar o realce necessário aos seus leitores e lhes diz: «Porque quem dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem que está nele? Assim tampouco ninguém conheceu as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus» (V. 11).

O Espírito de Deus conhece o profundo de Deus. O maravilhoso é que nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito de Deus. O íntimo de Deus, o mais secreto do seu coração, ele o quer compartilhar; ele quer revelar ao fraco, ao néscio, ao que não é. Há uma riqueza de conhecimento que o Espírito quer nos revelar. Ele quer dar-se a conhecer a todos.

Temos a Sua mente

Versículo 16: «Porque quem conheceu a mente do Senhor? Quem lhe instruirá? Mas nós temos a mente de Cristo». O íntimo de Deus, a mente de Cristo, ele nos dá a conhecer a tal ponto que Paulo diz algo que pode soar arrogante: «Mas nós temos a mente de Cristo». Psiquicamente falando, não há uma mente mais lúcida, neste mundo, que a mente extraordinária de nosso Senhor Jesus Cristo, de cuja boca surgiram as palavras que ninguém antes tinha jamais dado.

Quem são estes «nós»? Todos os coríntios ou todos os crentes? E concluímos que não é assim, porque, no capítulo 3, Paulo faz uma elucidação muito forte: «Não pude vos falar como a espirituais» (1ª Cor. 3:1). «Há tanto que aprender da intimidade de Deus, mas foi impossível lhes falar nessa medida de sabedoria». Por quê? Porque eram carnais, eram crianças ainda, porque manifestavam ciúmes, contendas e dissensões entre eles.

Temos um alto desafio: investir o tempo conhecendo a Deus pelo Espírito Santo, conhecendo o profundo de Deus. Falta-nos muito por conhecer. «Não quero, irmãos, que ignoreis a respeito dos dons espirituais». Quais são estas capacidades espirituais? Os dons ou carismas, que são presentes ou dádivas; os ministérios, serviços ou diaconias, e as operações.

Diversidade de operações

É muito interessante a expressão que traduz a versão Reina-Valera 1960 por operação. Agora, para cada uma delas, que expressão o apóstolo Paulo usa? «Há diversidade…».

A expressão diversidade vem da palavra grega diairesis, que se relaciona com uma palavra usada na parábola do filho pródigo. O filho diz: «Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde». E o que o pai faz é lhe repartir os bens. Repartir é a mesma expressão da qual deriva diversidade. Uma tradução mais adequada suporta a ideia de distribuir, racionar, administrar para outros, bens que não são iguais, a pessoas que tampouco são iguais. O Espírito Santo reparte, distribui, dons ou carismas; o Senhor distribui, raciona, ministérios, e o Pai, operações.

A expressão operações se vincula com energia, energema. E se define basicamente como o resultado de ter posto em funcionamento certa energia. «Há diversidade de operações», quer dizer, diversidade de resultados ao aplicar certa energia. «Mas Deus, que faz…», essa expressão, «faz», é energeo, que significa energizar.

Nesta economia dentro da Divindade, vinculada com os assuntos espirituais, o que o Pai faz é energizar, para que tenha resultados. Por isso, Filipenses 2:13 diz: «Deus é o que em vós produz tanto o querer como o fazer, por sua boa vontade».

Em Isaías 40:28-31 há uma expressão muito preciosa: «Não soubestes, não ouvistes que o Deus eterno é Jehová, o qual criou os limites da terra? Não desfalece, nem se fatiga com cansaço, e seu entendimento não há quem o alcance. Ele dá força ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhuma. Os moços se fatigam e se cansam, os jovens fraquejam e caem; mas os que esperam em Jehová terão novas forças».

Isso é o que está dizendo o apóstolo Paulo. Deus é o que pode renovar as nossas forças. Há um poder de Deus distribuído entre os filhos de Deus, uma energia sobrenatural, para que se produzam os resultados que Deus quer. O poder de Deus está distribuído. Deus repartiu. Bendito seja o Senhor! Ele nos capacita para a tarefa que temos adiante.

Diversidade de ministérios

Por outro lado, a expressão de 1ª Coríntios 12, «diversidade de ministérios», é serviço. Paulo assinala que o Senhor é o único que reparte estes ministérios. Eles têm um sentido restringido e um sentido amplo.

Em 1ª Coríntios 3:5, quando surgem divisões entre os servos de Deus, Paulo diz: «O que, pois, é Paulo, e o que é Apolo? Servos por meio dos quais crestes». Ao olharmos um pouco as referências, há um sentido um pouco restringido a este tipo de ministérios, que são aqueles os quais Paulo cita em Efésios –apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres–; no sentido restringido sim, Paulo diz que há diversidade destes serviços, «mas o Senhor é o mesmo».

Que possamos entender, então, que, na administração de Deus, na Trindade, o Filho assume esta condição. Mas também há um sentido amplo, que está em Efésios 4:12, porque diz que todos estes ministérios são dados para capacitar os santos para que eles façam a obra do ministério. Então, assim como todo resultado não é produto do meu poder ou minha habilidade, mas de Deus que nos provê, assim também todo serviço é atribuído a um, ao Senhor. Todo serviço na casa de Deus, quanto aos assuntos espirituais, é distribuído pelo Senhor Jesus Cristo. Ele tem a preeminência neste assunto.

Diversidade de dons

Por último, Paulo menciona os carismas ou dons espirituais. Em primeiro lugar, em 1ª Coríntios 1:7, o apóstolo diz: «Nada vos falta em nenhum dom». Ou seja, apesar de todas as dificuldades que a igreja em Corintos tinha, não faltava nada dos carismas do Espírito.

Estes dons não estão necessariamente associados à maturidade espiritual. A igreja em Corinto, claramente, não era uma igreja em que havia essa condição, mas tinham todos os dons. Não era porque os irmãos tinham alcançado um conhecimento elevado de Deus que os tinha feito amadurecer. Mas, mesmo que não o tivessem e eram uma igreja carnal, mesmo assim, o Espírito distribuía dons entre eles.

Por outro lado, não porque alguém manifeste algum destes dons, necessariamente está aprovado diante de Deus. Disse o Senhor no sermão do monte: «Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus» (Mat. 7:21). Dito isto, devemos nos aproximar da realidade dos dons do Espírito como manifestações para proveito.

«E lhes disse: Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado. E estes sinais seguirão aos que creem: Em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão serpentes nas mãos, e se beberem coisa mortífera, não lhes fará mal; sobre os doentes porão as suas mãos, e curarão» (Mar. 16:15-18).

Manifestações espirituais para proveito

É urgente que nós tenhamos hoje uma maior intimidade com o conhecimento que pelo Espírito podemos alcançar, para que possamos chegar a dizer, com toda propriedade, que nós estamos nos aproximando da mente de Cristo. Mas isso não descarta a necessária manifestação destes dons aos quais Paulo os chama de carismas do Espírito; mas, ao contrário, são evidências para proveito de todos.

Paulo menciona nove dons. E a respeito deles, diz que são manifestações. «Mas a cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito» (12:7). Manifestar é fazer algo público. E a ideia de proveito é trazer benefício, acarretar em algum bem.

As manifestações do Espírito não são decorativas; todas elas são para o nosso proveito. Não são para o nosso entretenimento, nem são espécies de êxtases nos quais perdemos a consciência; ao contrário, estamos muito conscientes de que são realidades espirituais que se podem manifestar em nós.

Exemplos do livro de Atos

Os dons que Paulo menciona são: palavra de sabedoria, palavra de ciência, fé, dons de curar, milagres, profecia, discernimento de espíritos, diversos gêneros de línguas, e interpretação de línguas.

Olhemos um pouco o livro de Atos, para vermos algumas manifestações. No capítulo 5, lemos o ocorrido com Ananias e Safira. Chega Ananias, e Pedro lhe diz algo cujo conhecimento não pode ter sido senão uma manifestação do Espírito. Versículo 3: «E disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo, e subtraístes do preço da herdade?».

Recordem que as manifestações são atos públicos cujo sentido é o proveito, o benefício. Quem disse a Pedro que Ananias estava mentindo? Sem sombra de dúvidas, vemos aqui uma experiência sobrenatural. «E veio um grande temor…». Quando o Espírito manifestou aquilo, houve proveito; a igreja começou a ter uma atitude reverente diante da presença de Deus.

Outro caso. Em Atos capítulo 3, traziam um coxo de nascimento, e o punham à porta do templo, para que pedisse esmola. Vêm Pedro e João, e eles o olham. «Então ele esteve atento, esperando receber deles algo. Mas Pedro disse: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho te dou; no nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta-te e anda» (v. 5-6).

De repente, aquele homem começa a saltar e a correr. «…e saltando, ficou em pé e andou; e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus. E todo o povo lhe viu andar e louvar a Deus. E lhe reconheciam que era o que se sentava para pedir esmola à porta do templo, a Formosa; e se encheram de assombro e espanto pelo que lhe tinha acontecido» (v. 8-10).

Mas, como é proveitoso, aquele homem tinha se achegado a Pedro e a João. Então Pedro viu que aquela era ocasião para pregar o evangelho. «Vendo isto, Pedro, respondeu ao povo: Varões israelitas, por que vos maravilheis disto? Ou por que põem os olhos em nós, como se por nosso poder ou piedade tivéssemos feito andar a este?» (3:12). E começa a pregar o evangelho. Bendito seja o Senhor!

Em 1ª Coríntios 14, Paulo se limita fundamentalmente a dois dons – a profecia e o falar em línguas. «Mas se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, por todos é convencido, por todos é julgado…» (v. 24). E como estes dons são para proveito, Paulo conclui: «…o segredo do seu coração se faz manifesto; e assim, prostrando-se sobre o rosto, adorará a Deus, declarando que verdadeiramente Deus está entre vós» (v. 25).

No contexto no qual Paulo insere os dons do Espírito, mostra-nos que eles são para proveito. Este assunto tem que ser uma constante preocupação em todas as igrejas. Aqui há uma situação pela qual o Senhor nos quer ensinar para transitar mais claramente, porque este conhecimento do Senhor tem que ser acompanhado destes sinais, e estas manifestações vão trazer muito benefício à igreja.

Mensagem ministrada em Trebol, Chile, janeiro 2014.

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