O segredo do reino de Deus

A lição mais importante que Jesus ensinou com as suas palavras e exemplo é que o homem não pode fazer nada por si mesmo.

Rodrigo Abarca

«Depois subiu ao monte, e chamou a si aos que ele quis; e vieram a ele. E estabeleceu a doze, para que estivessem com ele, e para enviá-los a pregar, e que tivessem autoridade para curar enfermidades e para lançar fora demônios» (Mar. 3:13-15).

Quando o Senhor chama os seus discípulos, o faz para depositar neles o programa eterno do reino de Deus, isto é, o plano divino em relação ao homem, que se perdeu por causa da queda deste e ficou escondido desde a fundação do mundo, mas que agora veio com Jesus Cristo.

Multiplicação

O plano de Deus para a humanidade é reunido e completado agora em Jesus Cristo. Por esta razão, Cristo chama discípulos, com o fim de encomendar-lhes a administração do Seu reino no mundo, porque o propósito de Deus não é ter apenas um homem segundo o seu coração, mas que esse homem se multiplique para que chegue a ser muitos – a igreja.

Jesus disse a Pedro, e nele a todos os seus discípulos: «dar-te-ei as chaves do reino dos céus» (Mat. 16:19). Em outras palavras, ele quer multiplicar-se a si mesmo, e que o reino que ele encarna e representa seja também encarnado e representado por muitos outros: «Porque aos que antes conheceu, também os predestinou para que fossem feitos conforme à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos» (Rom. 8:29). Cristo é o primogênito, segundo o qual todos os outros serão formados.

Diz-se que a igreja nasceu no Pentecostes, mas na verdade ela começou na terra quando Jesus chamou os Doze. Quando a nova Jerusalém descer do céu de Deus, em Apocalipse, ela terá doze fundamentos e em cada um deles está escrito o nome de um dos doze apóstolos do Cordeiro.

Eles são o começo da igreja. E, vendo o que o Senhor fez com eles, entendemos o propósito de Deus para toda a igreja. O que ele fez neles é o fundamento do que ele fará até o final dos tempos com todos os que são chamados. Por isso, quando a igreja começou a se apartar do propósito original, no fim do primeiro século, Deus levantou o seu servo João, que começa a sua carta, dizendo: «O que era desde o princípio…», referindo-se a aquela experiência inicial dos Doze com Jesus Cristo.

Ekklesia

«Depois subiu ao monte, e chamou a si aos que ele quis». A palavra ekklesia significa, literalmente, «os chamados para fora». Esta palavra era usada no mundo grego para referir-se a uma reunião pública. Na Grécia, quando era necessário tratar os assuntos de uma cidade, as pessoas eram chamadas para sair de suas casas ou negócios para reunir-se na praça pública. Tal reunião era chamada ekklesia. O Senhor Jesus resgatou essa palavra e lhe deu um significado totalmente novo – os que ele convoca do mundo, para reunir-se com ele e tratar os assuntos relativos ao Reino.

No registro dos evangelhos, Jesus usou duas vezes a palavra igreja: «Dize-o à igreja» (Mat. 18:17), e «…edificarei a minha igreja» (16:18). Sua chamada, tal como se lê no evangelho de Marcos, tem uma ordem que não deve ser alterada. «…chamou a si aos que ele quis; e vieram a ele. E estabeleceu a doze, para que estivessem com ele». O motivo principal de nossa chamada não consiste em ser enviados para pregar, ou servir a Deus em sua obra. Estas não são mais que consequências do chamado; mas, se perdermos de vista o essencial, todo o resto estará em perigo de se perder.

Conhecimento dele

«…para que estivessem com ele». Em primeiro lugar, fomos chamados para estar com o Senhor e lhe conhecer. Isto é o mais importante na vida dos filhos de Deus. Se não o conhecermos, nada do que façamos depois servirá de muito. A tragédia da igreja, ontem e hoje, radica na falta de conhecimento de Deus. No Antigo Testamento, os profetas diziam: «Meu povo foi destruído, porque lhe faltou conhecimento» (Os. 4:6). E não se trata do conhecimento de doutrinas ou teologias, mas do conhecimento íntimo do Senhor.

Por isso, quando João fala da essência de nossa chamada, diz: «O que era desde o princípio». Ele escreveu estas palavras quando era já muito ancião. No final do primeiro século, ele tinha observado os sinais da decadência espiritual e por isso enfatiza a experiência original e essencial que deu origem à igreja: «O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, e apalparam as nossas mãos referente ao Verbo de vida» (1ª João 1:1). E nos diz que tudo se tratava de Cristo, de conhecê-lo, de escutar a sua voz, de lhe tocar com as nossas mãos.

João descreve uma experiência progressiva. Ele era o mais jovem dos discípulos, mas era também o mais contemplativo. Foi absorvido mais poderosamente pela personalidade do Senhor Jesus. Entretanto, ele descreve uma experiência plural. Não só «o que eu ouvi, o que eu vi», mas «o que ouvimos, o que vimos». Essa experiência dos Doze com Jesus determinou o fundamento da igreja.

Levando a sua imagem

Conhecer a Jesus da maneira em que os discípulos o conheceram veio a ser o fundamento da vida e o caráter deles. O conhecimento de Cristo é o fundamento do caráter dos filhos de Deus. Sem este conhecimento, não há caráter cristão. Eles viveram na presença de Jesus, conhecendo-lhe, apalpando-lhe e ouvindo a sua voz durante todos esses anos, e isto transformou o seu caráter a imagem do caráter do seu Senhor.

Alguém que vive na presença do Senhor por muito tempo, não pode seguir sendo o mesmo. Este é o segredo da transformação na vida cristã. O reino de Deus consiste em que o homem leve a imagem de Deus, e esta imagem está em Jesus Cristo, «a imagem do Deus invisível».

Viver na presença de Deus é viver na presença de Jesus Cristo. «portanto, todos nós, olhando a face descoberta como em um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor» (2ª Cor. 3:18). É um mistério divino o que acontece, quando contemplamos o rosto do Senhor, quanto mais o conhecemos, somos conformados mais e mais a sua imagem.

A obra do Espírito Santo

Quem faz isso? Não nós, mas o Espírito de Deus que está em nós. O contexto desta passagem explica o que Paulo está dizendo. No capítulo 3, ele diz que a glória do Novo Pacto é imensamente superior à glória do Antigo, porque nós não somos como Moisés. Quando Moisés esteve com Deus quarenta dias e quarenta noites e desceu do monte levando em suas mãos as tábuas do Pacto, os israelitas viram que seu rosto resplandecia com a glória de Deus, e se aterrorizaram.

Moisés não estava consciente do que tinha ocorrido. De tanto estar na presença do Senhor, a glória de Deus se impregnou nele e seu rosto brilhava. Mas Moisés cobriu o seu rosto, para que eles não fixassem os olhos no fim daquilo que tinha que ser abolido. Um dia não longínquo esse brilho no rosto de Moisés iria desaparecer; essa glória era temporária.

Entretanto, Paulo diz que a glória do Novo Pacto é totalmente diferente, porque nós, não com um véu, mas olhando a face descoberta a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, e essa glória não se desvanecerá jamais. Quanto mais vemos aquela glória, mais dela se impregnará em nossa vida, e esta vez não será algo meramente exterior, mas uma transformação de dentro para fora. Você resplandecerá com a glória do Senhor. Este é o mistério do espelho.

Por que diz: «como em um espelho»? Porque, quando você se olha no espelho, vê o seu próprio rosto. Mas, agora, quando você vem ao Senhor, ele é como um espelho. Você se olha ali, mas o rosto que o espelho lhe devolve não é o seu, mas o rosto do Senhor. O espelho lhe mostra um mistério: que você está em Cristo e que, aos olhos de Deus, você é como o Senhor Jesus Cristo, e que o Espírito Santo que está em nos conforma à imagem do espelho, porque Cristo é o que somos diante de Deus.

Uma experiência ascendente

«…de glória em glória». Lembrem-se da experiência de João. Primeiro, diz «o que ouvimos»; depois, «o que vimos»; isto é um pouco mais profundo. Em seguida «o que contemplamos, e apalparam as nossas mãos». É uma experiência progressiva, ascendente, com o Senhor.

Quando Oséias diz que o povo pereceu porque lhe faltou conhecimento, entrega-nos a solução para esse estado de coisas, dizendo: «E conheceremos, e prosseguiremos em conhecer o Senhor; como a alva está disposta a sua saída» (Os. 6:3). Assim ocorrerá com aqueles que buscam ao Senhor. Nunca deixará de sair o sol para eles; o Senhor está disposto a revelar-se a todos os que o buscam. Aquele que o busca, verá sair o Sol da justiça sobre a sua vida.

«…e virá a nós como a chuva, como a chuva tardia e temporã à terra». Em Israel, no princípio da primavera, vinha a primeira chuva que fazia brotar os campos.

Alguns começaram a servir ao Senhor quando eram jovens; veio a primeira chuva e foram regados com ela. A outros lhes passou o tempo, mas o Senhor diz que virá também como a chuva tardia. Seja qual for a sua idade, ele prometeu que se você o buscar, virá a manhã, e a glória do Senhor resplandecerá sobre a sua vida.

Então, o princípio fundamental da vida cristã, o fundamento do caráter, é uma vida de conhecimento de Deus em Jesus Cristo.

O conhecimento de Deus se obtém através de Jesus Cristo. Este é o primeiro elemento do reino de Deus. Este reino é difícil de definir, porque ele abrange tanto à pessoa como à obra de Deus e, como poderíamos definir o próprio Deus?

O fundamento do Reino

O reino de Deus é uma realidade tão ampla como Deus; mas, ao lermos com atenção em Gênesis 1, vemos os elementos fundamentais que definem a natureza do Reino: «Então disse Deus: Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e assenhoreie nos peixes do mar, nas aves dos céus, nas feras, em toda a terra, e em todo animal que se arrasta sobre a terra» (Gên. 1:26).

«Então disse Deus». Deus mesmo é o fundamento do Reino. E o Deus que se revela aqui é o Deus trino, a Trindade divina. Por isso diz: «Façamos», no plural. Então, conhecer a Deus, é conhecer o Pai, conhecer o Filho e conhecer o Espírito Santo. Essa é o nosso chamamento essencial.

Jesus chamou os seus para que o conhecessem; mas, o conhecendo, também aprenderiam a conhecer o Pai e ao Espírito Santo, e então estaria completo o fundamento do Reino em suas vidas. Dissemos que o Senhor Jesus é o homem segundo o coração de Deus; ele expressa a imagem de Deus e o propósito divino em relação ao homem. Ele é o homem que tem o conhecimento de Deus, que exerce a autoridade de Deus, e que em seguida se multiplica para chegar a ser muitos, como o princípio de uma nova criação.

Jesus: duas naturezas

O Senhor Jesus é o Verbo de Deus feito carne; a sua pessoa divina assumiu a natureza humana. Ele participa da mesma natureza do Pai e do Espírito e, como o Verbo de Deus, ele possui a plenitude dos atributos de Deus comunicáveis (amor, justiça, sabedoria, bondade, etc.) e incomunicáveis (eternidade, onipotência, onipresença, onisciência, etc.).

A Escritura diz que, das três pessoas divinas, uma delas, o Verbo se encarnou. Sem deixar de ser divino, a sua pessoa assumiu uma segunda natureza – a natureza humana. Mas estas duas naturezas não se confundem; ele assume ambas em uma união inefável. Não é que o homem se divinizou, mas Deus assumiu a natureza humana em Cristo.

O próprio Verbo, que eternamente esteve face a face com Deus, é o que falou agora face a face com os homens. Isto é de suma importância para entender a natureza do nosso chamamento. Ele é o Verbo de Deus, uma das três pessoas divinas, mas agora em uma natureza humana. E a natureza humana que Jesus assumiu é completa; não só teve um corpo, mas também uma alma e um espírito humano.

Para salvar o homem integralmente, Jesus tinha que assumir a natureza humana completa. Gregório de Níssa, um dos pais da igreja, disse: «O que não era assumido, não podia ser salvo». Em outras palavras, se Jesus não assumisse a plenitude de nossa natureza, não podia nos salvar integralmente; por isso, ele assumiu uma natureza humanamente perfeita, com uma exceção – o pecado.

Isto não é meramente teologia, mas tem um valor enorme para a nossa vida cristã. Porque quando o Verbo de Deus assumiu a natureza humana, despojou-se dos atributos de sua glória divina, não no sentido de abandoná-los, (porque se realmente abandonasse os seus atributos divinos, já não seria mais Deus), mas por enquanto os ocultou, suspendeu-os, deixando-os nas mãos do Pai.

Por amor a nós, o Senhor deixou a sua glória, tudo o que possuía nos céus, e se humilhou a si mesmo, fazendo-se como um de nós. Ele andou nesta terra, frágil e dependente, como um simples homem, sem invocar os seus atributos divinos, deixando que o Pai governasse o tempo e a hora quando eles seriam manifestados em sua vida. Isso não é maravilhoso?

Fez-se homem

O Senhor viveu uma vida completa e perfeitamente humana. Ele sabe o que é ser um homem. Ele se fez homem, viveu como vive o homem, olhou com os olhos do homem, ouviu com os ouvidos do homem e sentiu como sente o homem. Deus sabe o que é ser como nós!

Jesus, o Verbo de Deus, aprendeu o que significa a incerteza, o que significa depender completamente de Deus, sem saber o que virá amanhã, confiando na sabedoria do Pai. Ele sabe o que é a dor, a solidão, a humilhação. Por isso, «não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas», mas um que nos entende, que sente como nós, que sabe perfeitamente o que é ser homem e até o que é morrer como morre o homem. Nem sequer disso foi libertado, nem ao menos isso. Tudo isso ele fez por nós.

Em todo esse tempo, Jesus tinha que ser não só o homem segundo o coração de Deus, mas, além disso, de ser o princípio de uma nova humanidade. Porque nele a humanidade foi recriada, restaurada, levantada do cativeiro da morte e do pecado, e retornada ao propósito eterno de Deus. Visto que todos nós falhamos em Adão, ele se converteu no começo de uma nova humanidade. Isto significa que ele aprendeu a viver como o homem deveria sempre ter vivido diante de Deus.

Da eternidade, o Verbo é a imagem perfeita de Deus, a própria expressão de Deus. Mas, quando se fez homem, aprendeu a ser a imagem de Deus agora como um homem. Teve que aprender à maneira humana. E como se faz isso? Vamos ver na história de Jesus.

Lembrem que ele chamou doze, «para que estivessem com ele». Aqui há um grande mistério. Assim que eles o conheceram; foram treinados, capacitados para ser como Jesus. Vendo-o, os discípulos aprenderam a serem homens conforme o coração de Deus. Agora, vejamos o que eles aprenderam dele.

Teve que aprender

Como Jesus chegou a manifestar a perfeita imagem de Deus como homem? Lembrem, como Verbo de Deus, ele é eternamente a imagem de Deus; mas agora foi feito homem, e os homens não nascem perfeitos e maduros. Nascemos bebês e temos que aprender a raciocinar e a usar a nossa vontade. Jesus nasceu como todos nós nascemos. Quando o Verbo de Deus se fez carne, entrou no sono da inconsciência, no ventre materno.

Como ele pôde fazer algo assim? Aquele que é onisciente, que tudo sabe desde a eternidade, entrou em um estado de desconhecimento absoluto no ventre de sua mãe, e nasceu como todos nós nascemos. Teve que aprender a falar, a pensar, a caminhar, como todos nós aprendemos. Mas, a nossa diferença, ele estava nas mãos de Deus o Pai e, desde o começo, o Espírito de Deus esteve com ele.

Segundo mistério

Então, temos um segundo grande mistério. Dissemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma mesma essência divina, indivisível. Existe, além disso, uma união inexpressável do Pai, o Filho e o Espírito Santo, como uma dança eterna das pessoas divinas, tão compenetradas uma na outra, que tudo o que um faz o outro também faz.

Não há um só ato do Pai que não seja feito pelo Filho e por sua vez pelo Espírito. Não há um só ato do Filho no qual não estejam o Pai e o Espírito, e não há um só ato do Espírito onde não estejam também o Pai e o Filho. Esta é a inefável compenetração das pessoas divinas.

Pensem nisto por um momento. Quando o Verbo se faz carne e experimenta o caminho do homem, de alguma forma, a Divindade completa percorre esse caminho com ele. Jesus disse: «…porque o Pai sempre está comigo» (João 16:32).

E não só o Pai. Uma terceira pessoa sempre esteve com ele: o Espírito Santo de Deus. De maneira que, em Jesus, também o Espírito de Deus percorreu o caminho do homem.

Isto é tremendamente importante para nós. O Espírito lhe instruiu, de modo que a vida humana de Jesus foi formada e aperfeiçoada pelo Espírito Santo, sob o governo do Pai. A natureza humana de Jesus não podia tornar-se divina; entretanto, converteu-se no contêiner da vida divina, que habitou plenamente, não só em sua natureza divina como Verbo de Deus, mas agora também em sua natureza humana, até onde esta podia conter e expressar a vida divina.

A santa unção

Uma passagem do Antigo Testamento nos ajuda a entendê-lo melhor: «Disse mais o Senhor a Moisés: Também toma das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinquenta siclos, de cálamo aromático duzentos e cinquenta siclos, de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him. Disto farás um óleo sagrado para as unções, um perfume composto segundo a arte do perfumista; este será o óleo sagrado para as unções. Com ele ungirás a tenda da revelação, a arca do testemunho, a mesa com todos os seus utensílios, o candelabro com os seus utensílios, o altar de incenso, a altar do holocausto com todos os seus utensílios, o altar de incenso, assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que as tocar será santo. Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio. E falarás aos filhos de Israel, dizendo: Este me será o óleo sagrado para as unções por todas as vossas gerações. Não se ungirá com ele carne de homem; nem fareis outro de semelhante composição; sagrado é, e para vós será sagrado. O homem que compuser um perfume como este, ou que com ele ungir a um estranho, será extirpado do seu povo. (Êx. 30:22-33).

O tabernáculo, do qual se fala aqui, é figura da igreja. Todos os elementos mencionados aqui representam diferentes elementos da igreja de Cristo. Para que a casa fosse estabelecida, devia ser ungida com o azeite da unção, que era o que santificava o tabernáculo para o propósito de Deus.

No Antigo Testamento, o azeite é figura do Espírito Santo. E no Novo Testamento nos diz que a unção é o Espírito Santo. A unção capacitava a casa. Por isso, cada elemento da casa tinha que ser ungido. Mas observem com atenção aqui: não é azeite puro, mas um azeite composto, um perfume.

Para criar um perfume se requerem dois elementos. O primeiro é um fixador, que captura os aromas de algum tipo de essência e os fixa nele de forma permanente; e o segundo elemento é o material que dá o seu aroma ao azeite. Quando estes ingredientes ficam no azeite, liberam o seu aroma. Esta é a arte do aromatizador, e isso acontece na realidade com todos os perfumes. Não se trata apenas de azeite puro de oliva, mas de um azeite que capturou os aromas de todos os elementos depositados nele.

Quais são esses elementos? Mirra, canela e cálamo aromático e acácia. Cada especiaria representa uma característica da humanidade perfeita do Senhor Jesus Cristo. Por exemplo, a mirra, o sofrimento do Senhor. Mas essa humanidade foi submersa no Espírito Santo de Deus, e todas as características de sua humanidade se fixaram para sempre no Espírito, porque o Espírito caminhou com ele toda a jornada de sua encarnação.

Cada sofrimento, cada ato da humanidade santificada e aperfeiçoada do Senhor, fixaram-se no Espírito Santo. É por isso que o Espírito Santo veio ser o Espírito de Jesus o homem. A Escritura diz que até a morte do Senhor foi realizada mediante o Espírito Santo de Deus. Então, quando o Senhor subiu ao céu, e derramou o Espírito sobre nós, não foi o Espírito como era –por assim dizer–, puro, na eternidade, mas o Espírito que tinha caminhado com ele durante os dias de sua encarnação, e que reteve em si mesmo todos as qualidades e riquezas da humanidade perfeita do Senhor Jesus.

Aprendendo a viver a Sua vida

Esse é o Espírito que ele derramou sobre nós. Por isso é tão vital entender a relação do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Porque o Espírito Santo é também o Espírito de Cristo, o Espírito que possui a mesma vida divina do Pai e do Filho, mas uma vida que foi ‘humanizada’ para nós.

Nós não poderíamos resistir nem por um segundo a vida divina em um estado ‘quimicamente puro’. Ela nos destruiria. Mas essa vida foi filtrada através da humanidade de Cristo, e chegou a nós humanizada; não foi ministrada diretamente, mas foi mediada, humanizada e atenuada em Cristo. Esta é a vida que o Espírito agora nos entrega.

O que aprendemos, então, de Jesus Cristo homem? Aprendemos a viver, como homens, a vida divina. E, como se vive essa vida? Vejamos outra passagem. No contexto de João capítulo 5, ocorre um milagre. O Senhor Jesus cura um paralítico no tanque de Betesda, e provoca todo um alvoroço, porque o fez no dia de sábado. Aos judeus parecia que não se podia fazer nada nesse dia, e que o Senhor Jesus infringira o sábado.

Então, o Senhor Jesus responde: «Não posso eu fazer nada por mim mesmo» (V. 30). Esta é a lição da vida cristã prática mais importante que ele jamais ensinou aos seus discípulos, uma lição fundamental, que o Senhor gravou a fogo no coração deles. O Filho não pode fazer nada por si mesmo, a não ser «conforme ouço, assim julgo, e meu julgamento é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou, a do Pai». Versículos 31-32: «Se eu der testemunho a respeito de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Outro é o que dá testemunho a respeito de mim, e sei que o testemunho que dá de mim é verdadeiro».

Nada por si mesmo

Agora vejamos os versículos 19-20: «Respondeu então Jesus, e lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: Não pode o Filho fazer nada por si mesmo, a não ser o que vê fazer o Pai; porque tudo o que o Pai faz, também o faz o Filho igualmente. Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra todas as coisas que ele faz; e maiores obras que estas vos mostrará, de modo que vos maravilheis».

Os judeus estavam julgando ao Senhor por causa daquele milagre. E ele responde que ele não pode fazer nada, a menos que o Pai o faça nele. Isto é maravilhoso, porque ele está falando como um homem, tomando a posição dos homens diante de Deus. Até o mais perfeito de todos os homens não podia fazer nada por si mesmo.

Esta é a lição mais importante que Jesus ensinou com as suas palavras e exemplo. O homem não pode fazer nada por si mesmo. De fato, ele renunciou à manifestação dos seus atributos divinos, e agora dependia do Pai para fazer tudo, embora pudesse fazê-lo, porque tudo o que o Pai faz, o Filho faz igualmente, e ambos são inseparáveis em sua ação. Entretanto, ele fala como homem e reconhece: «O Pai que mora em mim, ele faz as obras» (João 14:10).

Jesus escutava apenas uma voz – a voz do Pai. E agia governado por essa voz, em tudo. Pensava os pensamentos de Deus, sentia os sentimentos de Deus, mas como homem. Ele tinha habituado o seu ouvido para ouvir aquela única voz, e assim é que ele caminhou na terra. Então, quando chegou no final, ele disse aos seus discípulos: «Separados de mim, nada podeis fazer» (João 15:5). «Como me enviou o Pai vivente, e eu vivo pelo Pai, deste modo o que come de mim, ele também viverá por mim» (João 6:57). «Assim como eu não posso fazer nada sem meu Pai, assim vocês não podem fazer nada sem mim».

Quando Jesus chamou os discípulos, disse-lhes: «Se alguém quer vir após mim…». O que é a primeira coisa que um discípulo tem que fazer? E o segundo e o terceiro, e sempre? «…negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-me» (Luc. 9:23). Negar-se a pensar os seus próprios pensamentos, a tomar as suas próprias decisões, a sentir os seus próprios sentimentos, para pensar os pensamentos de Cristo, sentir os sentimentos de Cristo e fazer as obras de Cristo. Esse é o segredo que Jesus ensinou aos seus discípulos.

O segredo do Reino

Temos aprendido a lição? Nós podemos fazer milagres? Não. Jamais faremos um só milagre por nós mesmos. O Pai nem sequer delegou a Jesus o poder de fazer milagres em discrição. O Filho só os fazia quando o Pai os fazia nele. Estava no soberano poder de Deus fazer ou não fazer essas obras, e por isso Jesus curou apenas um homem no tanque de Betesda, embora ali houvesse uma multidão de doentes.

Quão glorioso é estar sob as ordens do céu! Quando o céu está aberto sobre nós, vemos a Jesus Cristo, todas as obras de Deus operando através dele, e as palavras de Deus fluindo através dele. Os doentes eram curados e os endemoninhados eram libertados, porque o reino de Deus estava vindo sobre ele e através dele.

Qual é o segredo desse Reino?: «O Filho não pode fazer nada por si mesmo». Este é o segredo de um céu aberto. Se o céu não estiver aberto como deve sobre nós, é porque ainda cremos ser capazes de fazer muitas coisas por nós mesmos. Mas essa é a grande lição que nos ensinou o Mestre: Não posso falar nada por mim mesmo; como eu ouço, assim falo. O que escuto, isso digo; o que vejo, isso faço. Por isso, João diz: «O que vimos», não o que inventamos ou o que nos parece. «O que vimos e ouvimos, isso anunciamos» (1ª João 1:13).

É possível conhecer hoje a Jesus e, através dele, conhecer o Pai e o Espírito Santo, como os discípulos o conheceram? A Escritura afirma que sim, é possível. Como aprenderam os apóstolos a viver sob a unção do Espírito? Jesus lhes ensinou, não de maneira teórica, mas prática. Ele andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus o tinha ungido com o Espírito Santo e poder, e eles aprenderam com Jesus como caminhar sob a unção do Espírito.

Há tanto que aprender de Jesus; por isso somos os seus discípulos, para aprender dele e viver como ele viveu. Lembrem, o conhecimento de Deus traz o caráter; e o caráter traz a autoridade e o domínio. Que o Senhor socorra a todos.

Mensagem ministrada em Cuba, em Outubro de 2013.

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