A Semente da mulher

O Deus todo-poderoso, sem deixar de ser Deus, faz-se homem para nos redimir.

Henry Law

«E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a semente dela; esta te ferirá na cabeça, e tu lhe ferirás no calcanhar» (Gên. 3:15).

Estas são as primeiras palavras de graça a um mundo perdido. Quando foram pronunciadas? Por quem? A quem? Quando? Depois que o pecado entrou no mundo, a inocência desapareceu e o homem se converteu em uma criatura culpada diante de Deus. Tinha sido dado um mandamento com o propósito de ver se o homem amaria, temeria e serviria o seu Criador. Este mandamento, entretanto, tinha sido pisoteado.

Um esforço inútil

Pare aqui por uns momentos e pense. Há quem pense em ganhar a vida eterna fazendo a vontade de Deus, mas se trata de um método que já foi provado. E falhou. O resultado foi a ruína mais catastrófica. Nossos primeiros pais eram inocentes, e não tinham inclinações para o mal e, entretanto, afundaram-se nele. Nós nascemos com corações corrompidos, completamente inclinados para o pecado, e pensamos poder nos manter santos e sem mancha por nós mesmos? É um pensamento vão. Desprezemo-lo. A nossa natureza pecaminosa nos separa continuamente do reto caminho da piedade. Não pudemos nos manter irrepreensíveis um só dia, nem uma só hora de nossa vida. Isto é a pura verdade, e toda consciência sincera há de confessar.

A misericórdia de Deus

Quem pronunciou estas palavras? Lemos: «Disse Deus». Que prova temos aqui de que Deus é misericordioso! Pense o quão grandemente foi ofendido! Medite com que ignóbil ingratidão foi tratado! O homem confiou mais na mentira de Satanás que na verdade de Deus. Quebrou o jugo suave como se tivesse sido uma cadeia insuportável. A linguagem orgulhosa do coração humano tinha sido: «Não queremos que Deus governe sobre nós».

E, entretanto, Deus condescende. Não há nenhum látego em sua mão, nem é acompanhado de nenhuma legião de anjos vingadores prontos a lançar os rebeldes à perdição. A voz que se ouve é uma voz de misericórdia. As novas anunciadas são notícias de liberdade.

Oh, minha alma, pode considerar a voz do que fala e não exclamar: Verdadeiramente, Deus é bom? Ele não quer a morte do ímpio! Raciocine como a mulher de Manoá: «Se Jehová quisesse nos matar, não teria nos mostrado todas estas coisas, nem agora nos teria anunciado isto» (Jz. 13:23).

A atitude do homem

A quem foram ditas as palavras que nos ocupamos? Só havia ali três pessoas. Em primeiro lugar, o casal culpado. Observem a sua situação e dela aprendam: o primeiro passo no caminho da salvação é dado por Deus. Temos evidências decisivas diante de nós. Deus quer nos salvar quando nós queremos perecer. Deus opera para salvar quando nós fazemos o quanto está ao nosso alcance para morrer.

Diante de Deus se acham os nossos primeiros pais, formando uma imagem de todos os pecadores cansados que nasceram deles, quer dizer, de todos os homens. Assim somos nós por natureza, pecadores, cegos e insensíveis. Assim somos todos nós. Cegos, porque seus olhos não estavam abertos a terrível condição em que se encontravam, à sórdida miséria a que estavam desembocando. Insensíveis, porque não confessaram o seu pecado, nem se humilharam, nem choraram, nem clamaram pedindo misericórdia. Tal é a cegueira e insensibilidade natural do homem, até hoje. E mesmo assim, este mesmo Deus vem com palavras de amor, fala de um restabelecimento a seu favor e do seu Reino.

Querido leitor, medite com calma sobre isto. Verás como, quando o homem se desentende de si mesmo, Deus é todo preocupado por ele; quando o homem não pode fazer nada, Deus faz tudo; quando o homem não merece nada, Deus dá tudo. Desde o começo até o fim, a salvação é uma obra da graça. O homem se afunda no inferno e Deus o chama ao céu.

A perfeita provisão divina

Entretanto, além do casal culpado, havia outro ser ali; mas não havia esperança para ele. Disse-lhe apenas que não podia esperar outra coisa do que ruína. Temos aqui uma prova de que Deus faz diferença entre os culpados. Não perguntemos inutilmente por que a graça ganha o homem e dá as costas aos anjos caídos. Só pode haver uma resposta: «Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado». E podemos em seguida deixar de cantar os louvores de Deus, que tanto teve piedade de nós, tão pecadores, nos oferecendo uma provisão tão perfeita pelo pecado? Oh, minha alma, pense nestas coisas!

No que consiste esta provisão? Temos a resposta em uma palavra: «Sua semente». Eis aí a promessa de que virá um libertador a este mundo, o qual nascerá de uma mulher.

Quem é a Semente da mulher?

Se nos perguntarem quem é a semente da mulher, nossa rápida resposta será: O Senhor Jesus Cristo, o bendito Salvador, o único Redentor, o Filho unigênito do Deus Altíssimo. A voz de Deus promete aqui que Jesus, destacado para vir salvar, se fará homem –igual a nós– osso dos nossos ossos e carne da nossa carne.

Isto diz logo. Mas, você tem parado para ponderar as grandes e preciosas verdades que isso implica? Observe bem! O Deus todo-poderoso, sem deixar de ser Deus, faz-se homem para nos remir. Maravilha de maravilhas! Não há nada parecido, nem houve nem haverá. Se o maior rei se convertesse no mais miserável dos pobres, ou o mais rico dos príncipes deixasse o seu palácio por uma cabana, não seria nada comparado com o que Jesus fez quando deixou o céu para levar sobre si os trapos da nossa condição. O Criador de todas as coisas aparecendo como criatura! O Todo-poderoso convertido em um bebê! O Eterno feito um filho do tempo! O infinito constrangido dentro dos limites desta nossa pobre carne! Não é isto a maravilha das maravilhas? Não é isto graça sem limites?

Querido leitor, você crê seriamente que Cristo se humilhou a si mesmo, inclusive por ti? Se assim crês, no mínimo sentirás que não há dívida como a sua dívida; e que assim como os céus estão muito acima da terra, do mesmo modo a sua dívida estava muito além de suas possibilidades de pagar.

Nos pobres costumes deste mundo, o nascimento de um príncipe ou um nobre desperta sinais de alegria e gozo. Balançam as bandeiras. Soam as trombetas. Repartem-se suculentos manjares. Pediremos ao mundo natural que celebre com louvores este portento inefável? Impossível! Embora o sol pudesse emprestar um bilhão de luzes, e ser mais brilhante; embora cada gota dos oceanos pudesse elevar um coro de aleluias; e embora todas as folhas dos bosques pudessem repicar como sinos, tudo isso seria ainda uma maneira vil de celebrar a vinda do Salvador.

Mas há um testemunho delicioso que Jesus busca. Cristo se considera pago quando os corações agradecidos escancaram os seus portais para lhe receber, e quando louvores de bem-vindo exaltam o Seu nome salvador. Oh, minha alma, não oferecerá tudo o que há em ti para irromper em cânticos de adoração amoroso ao redor da manjedoura de Belém?

O dia de Cristo

Quando Abraão viu de longe o dia de Cristo, dizem as Escrituras que se regozijou e ficou feliz. Quando João Batista ainda estava no ventre de sua mãe, não pôde conter a emoção ao pressentir estar próximo de Jesus, aquele que nem tinha ainda nascido (Luc. 1:41). A estrela de luz que dirigia os sábios em sua viagem, enchia-os de gozo. A multidão dos exércitos celestiais, que não participam da graça da redenção, fez que as abóbadas dos céus devolvessem o eco dos seus louvores. Oh, minha alma, poderás estar calada? Não ouve os cânticos dos anjos? «Trago-lhes novas de grande alegria». Tu também não beberás com grande gozo a delícia destas boas novas? «Nasceu-lhes um Salvador, que é Cristo o Senhor». Não o trarás, com o mesmo espírito do ancião Simeão, ao coração de tua fé, e elevarás um hino de louvor?

Você tem considerado seriamente alguma vez com que propósito Jesus se converteu na Semente da mulher? Nossa paz e felicidade dependem do exato conhecimento deste ponto. Foi com este propósito: para que pudesse tomar o nosso lugar, o lugar dos pobres pecadores, e pudesse nos representar.

Sabemos que a palavra de Deus ditou uma sentença, e esta palavra é irrevogável: «A alma que pecar, essa morrerá». Também sabemos que morrer, nesta frase, significa sofrer eternamente as torturas dos perdidos. Por causa do nosso pecado, você e eu somos levados a esta condenação. Você e eu devemos sofrê-la, a menos que Deus se digne em aceitar a morte de Alguém que é sem pecado em lugar da nossa.

Jesus está disposto a sofrer tudo por nós, mas como poderá, não sendo homem? Era necessário que ele tomasse a nossa natureza humana. E assim o fez. De modo que, quando a verdade e a justiça de Deus dizem: «Devo ter a vida deste homem», Jesus prontamente responde: «Eu sou da mesma natureza que a tua; eis aqui a minha vida em vez da tua». Notem, pois, que Cristo é a Semente da mulher para que possa dar a sua vida e o seu sangue em resgate por nós. Vejam claramente que Jesus toma a carne do homem para poder remir com Sua morte a todos aqueles humanos que recebem e confiam nele.

Assim também, como homem, Cristo obedece a todos os mandamentos de Deus. Mas a justiça assim adquirida não é em seu próprio benefício. Jesus toma a carne do homem para que, todo pecador que se apresente às portas do céu, possa exibir como passaporte uma justiça perfeita que lhe foi dada pelo Redentor. Não necessitas de nada mais; pesado na balança de Deus, não é achado em falta.

Repito estas verdades porque são a base da verdadeira fé. Jesus era a Semente da mulher; como nós, humano, mas sem pecado. A sua morte vale pela nossa, a sua justiça é a nossa justificação.

Chamado ao leitor

Leitor, és um pobre pecador, sentindo a tua miséria e temendo a ira eterna? Vai a Aquele que é a Semente da mulher. Há perdão nele para lavar todas as iniquidades. Os fiéis do antigo mundo não o conheciam por outro nome, mas criam que Deus, no seu devido tempo, viria e pagaria por eles. Olhavam para aquele que tinha que nascer. Olhavam, e ninguém olha em vão.

Buscas uma justiça que te sirvas para entrar nos céus? Está a tua disposição nAquele que é a Semente da mulher. Estendas a mão da fé; toma-a, e é tua para sempre. Tudo o que tu precisas está, em abundância, em quem é a Semente da mulher. Entregue-lhe a tua baixeza e tome a sua pureza; entregue a tua pobreza e tome as suas riquezas; lance sobre ele a tua nulidade e tome dele a sua plenitude; entregue-lhe a tua maldição, e receba a sua bênção.

Vacilas? Temes em se aproximar de quem é tão grandemente santo? Bem poderias temer e tremer se tivesses que te aproximar de Deus em sua glória. Mas este que te chama é seu amigo, é a Semente da mulher, é da sua própria raça. Segues vacilando? Tendo vindo Jesus de tão longe para ti, não darás nem um só passo para ires a ele? Não subirás até aquele que desceu tão baixo por amor de ti? Ofereces a tua própria porta, em forma humana, e não lhe abrirás e receberás?

Certamente, há provisão suficiente na Semente da mulher para retirar toda incredulidade, para ganhar e conquistar qualquer coração. Vemos em Cristo como o céu baixa para a terra, para que a terra possa elevar-se aos céus. Vemos o Filho de Deus fazendo-se homem, para que os homens possam ser feitos filhos de Deus. Isto não te satisfaz? Não te convence? Não te inspira? Certamente, Deus não podia fazer mais. O homem, pois, não pode acrescentar nenhuma palavra a mais.

Uma súplica

Encerro com esta fervorosa súplica: leia estas breves linhas uma e outra vez, até que aches a chama da fé e tua alma se incendeie de amor divino.

E então, sobre os joelhos prostrados de gratidão, ore: «Agradeço-te, ó Pai celestial, pela promessa que fez no Éden, a respeito da Semente da mulher. Agradeço-te, por haver-lhe enviado vindo o cumprimento dos tempos. Agradeço-te, Oh Senhor Jesus, por ter vindo para me salvar. Agradeço-te, Espírito Santo, por ter revelado à minha alma a Semente da mulher».

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