Agradando ao Senhor em tudo

A expectativa do Senhor é ser agradado em tudo o que fazemos; não só no culto, no louvor ou na pregação.

Álvaro Astete

«…para que andeis como é digno do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; fortalecidos com todo o poder, conforme à potência de sua glória» (Col. 1:10-11).

Uma norma superior

Vivemos em uma sociedade na qual, frequentemente, se torna complexo viver. Estamos rodeados de preceitos, de princípios, de estatutos morais que tentam guiar a nossa conduta. Mas, o mundo como sistema, não está moralmente capacitado para regular a conduta humana. Esta é uma sociedade que chamou, tal como disse o profeta Isaías, «ao que é doce, amargo, e ao amargo, doce» (Isaías 5).

Esta é uma sociedade cuja norma moral é muito baixa; em consequência, nós, os que somos de Deus, não podemos viver de acordo com essa medida. Há uma frase muito importante, que Paulo assinala em Colossenses e repete em sua carta aos Efésios – «agradando-lhe em tudo». A ênfase em Efésios é chamar os irmãos para que vivam provando o que é agradável ao Senhor. Portanto, este «agradar ao Senhor», esta norma de conduta cristã, é muito mais elevada que até a própria lei de Moisés.

Comprovando o seu agrado

Nós estamos acostumados a pensar, erradamente, que por estarmos hoje vivendo debaixo da graça do Senhor, podemos nos permitir certas licenças. Parece-nos que estar debaixo da graça nos dá oportunidade de pecar, porque temos o sangue do Senhor para perdão dos nossos pecados.

No entanto, o que o Espírito Santo está nos dizendo, através de ambas as cartas, é que a nossa maneira de viver já não deve estar sujeita a mandamentos ou a regulamentos externos, nem estamos sob os antigos preceitos a respeito do que é bom ou é mau. Mas, nossas vidas, devem estar sendo guiadas por este princípio: agradar ao Senhor em tudo.

Quanto a normas de conduta, a que fazer em tal ou qual ocasião, há coisas que não estão explicitamente registradas nas Escrituras. No entanto, quando nos vemos confrontados com este tipo de situações, nossa pergunta deve ser: «Senhor, isto agrada ao seu coração?».

Agradecemos os preciosos ensinos com respeito ao governo do Espírito Santo, e, especialmente, como esse governo se faz prático no que concerne a comprovar aquilo que é agradável ao Senhor. Em primeiro lugar, é o Espírito de Deus, em nosso coração, quem nos dará tal testemunho. Em seguida temos a sua Palavra escrita, a qual é o nosso mapa na vida. Podemos ir para ela e consultar. E, em terceiro lugar, temos a igreja, a comunhão dos irmãos; ali também acharemos a voz do Senhor. Então, com base a estas três instâncias, podemos comprovar o que satisfaz o Seu coração.

Portanto, se, defrontarmos com um assunto em particular que desejamos realizar, e não tivermos uma resposta evidente do Senhor, e ignorarmos se aquilo lhe agrada, não nos movamos sem ter antes o testemunho claro em nosso coração.

Estamos hoje vivendo tempos de batalha, em que a verdade do Senhor é fortemente resistida. Talvez não a percebamos; mas o inimigo está todos os dias trabalhando a fim de nos enganar e nos roubar a fé, para que a nossa vida não seja do agrado do Senhor.

Dois filhos perdidos

Vamos ilustrar isto através de uma parábola do Senhor em Lucas capítulo 15. É a chamada parábola do filho pródigo, embora esse título não corresponda muito bem com o conteúdo, porque o foco de atenção ali não é o filho perdido, mas o grande e sublime amor do pai.

O relato fala de um pai que tinha dois filhos. Um deles pede a herança a seu pai, em vida. E, uma vez que a recebe, o filho se vai de casa e esbanja a sua herança, ficando sem nada. Em tal situação de absoluta pobreza, ele assume um trabalho deprimente e desce a um estado inferior ao de um porco, chegando a desejar comer a comida daqueles animais.

Estando ali, entre os porcos, nota a condição na qual caiu, toma a decisão de retornar para casa e prepara um discurso. «Pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado seu filho; faça-me como a um dos seus empregados». Em seguida, com o triste discurso em seu coração, empreende o longo caminho de retorno. Quando o pai vê a seu filho que vinha, coloca as suas vestimentas e corre ao seu encontro. E o recrimina? Não. O filho vinha de um lugar sujo; no entanto, o pai o abraçou e o beijou.

A atitude do pai para com este filho é uma atitude cheia de amor. Ele mandou os servos lhe trazer roupa, anel e calçado, e ordenou que preparassem um bezerro gordo, para fazer uma festa, porque este seu filho que estava perdido, agora tinha sido achado.

O segundo filho

O coração do pai se alegra profundamente. Mas, depois, aparece o outro filho, aquele que sempre tinha estado em casa. Qual foi a sua reação? Ele vinha do campo, e perguntou a um dos servos a respeito da festa que se ouvia na casa. E, quando lhe contaram o que ocorria, este se zangou e disse: «Pai, eu estive todo o tempo contigo, e nunca te desobedeci. Eu não fui como ele, e não me deste nem um cabrito para matar e me alegrar com os meus amigos».

Sempre identificamos o filho pródigo com alguém que está sem Cristo e que vem aos pés do Senhor, e o Senhor se alegra por aquele pecador arrependido. E é assim mesmo. Mas, se o filho pródigo representar a este tipo de pessoa, a quem representa este outro filho que estava na casa?

À luz do relato, aqui há dois filhos perdidos, não apenas um. Sim, há um que se apartou para longe e desperdiçou a herança de seu pai. Sim, aquele filho se perdeu. Mas, este outro, que permaneceu em casa, cuja jactância era ter estado sempre ali, a quem representa? A um homem religioso, ou a uma mulher religiosa. Porque ele se gloria por estar em casa.

Mas, qual foi a atitude deste, que sempre esteve «próximo»? Ele teve a mesma atitude de seu pai? Não. O pai se alegrou, fez uma festa; ordenou que se pusesse em seu filho uma túnica nova e um anel no dedo, que significa voltar a ser herdeiro. Tinha perdido a herança, mas voltou a tê-la. Era a graça do pai. Mas, a atitude do filho que estava em casa foi completamente contrária.

Atitude religiosa

O que isto nos indica? Esta é uma atitude religiosa. Ser religioso não é ter uma religião; ser religioso é uma atitude do coração. Este filho estava próximo, sempre na casa do pai. No entanto, ele se indignou; quando o pai estava alegre, ele se zangou. Diante da mesma situação, o pai e este filho tiveram sentimentos diferentes. Vemos que aqui há dois filhos perdidos, porque aquele que estava fisicamente em casa, estava igualmente perdido; estava «muito longe do coração» de seu pai.

Estar na casa não significa necessariamente estar próximo e ter plena comunhão ou intimidade com o Pai; não significa necessariamente que o nosso coração e o coração de Deus sejam um. Tornamo-nos religiosos quando temos este tipo de argumentos, quando temos por nossa a glória de termos permanecido nas reuniões da igreja, e crer que estamos bem porque estamos fisicamente ali.

Podemos estar presentes em todas as reuniões, assistir a quantos eventos forem organizados entre os irmãos e até nos encher de muita informação bíblica. Isto pode ser semelhante a «estar na casa do pai»; mas convenhamos, tal coisa não garante que o nosso coração seja como o seu.

Este filho se zangou profundamente, e o pai, paciente, veio falar ao seu coração. Notem o amor do pai. Tampouco o repreende, mas diz-lhe: «Filho, tu sempre tem estado comigo». Nesta frase, há uma exortação implícita, como dizendo: «Da mesma forma, eu demando de ti uma reação semelhante à minha. Eu sempre estive aqui, mas ainda não me conheces. Tivemos todo este tempo juntos; é verdade que nunca fostes embora. Mas, filho, você não deveria saber qual seria a minha reação diante de uma eventual volta do meu outro filho? Como é possível que a volta de seu irmão não comova também a ti?».

Vemos que o coração deste filho ficou em evidência. Ele não sabia como era o coração de seu pai. Como poderia lhe haver agradado?

O «terceiro» filho

Aqui temos dois filhos; mas também há um terceiro. E este é o primeiro, aquele filho que estava morto e agora reviveu. Este, que estava perdido, agora é achado e se tornou uma nova criatura. Na realidade, aqui temos três filhos: o filho perdido que se foi para o mundo; o filho que estava em casa, que é o religioso, e o filho que verdadeiramente nasceu de novo. Agora, o ponto é com qual destes três filhos nos identificamos, qual dos três nos representa hoje?

Nosso objetivo nesta vida deve ser este: agradar ao Senhor. Em tudo o que realizemos; não só dos nossos cultos, do nosso louvor ou da nossa pregação, mas em todas as coisas e áreas de nossas vidas, ele deve ser agradado.

Semente e fruto

Em Colossenses se destaca que agradar ao Senhor implica, primeiro, em «frutificar em toda boa obra». O problema de muitos cristãos é que por anos acumularam sementes, mas as suas vidas refletem muito pouco fruto. O que obtemos tendo uma terra cheia de sementes, se ela não produzir fruto? Podemos ter o coração repleto, saber muitas coisas, mas mesmo assim, ter vidas estéreis.

Podemos ter revelação da Palavra; no entanto, se alguém tiver só a luz da palavra e não a vida que ela deveria produzir é muito fácil que o inimigo venha com sutilezas, com engano, e possa convertê-lo em um apóstata. Esse é o risco que muitos correm hoje.

Um apóstata não é alguém que nunca conheceu a verdade, mas alguém que em algum momento recebeu a luz do Senhor, mas esta foi nele apenas uma semente sem fruto, facilmente caiu sob o engano. Esse é o perigo que hoje corremos, e essa é a batalha que hoje vivemos como igreja, no meio de uma sociedade na qual o relativismo se impõe de forma crescente.

O relativismo é, de alguma forma, uma espécie de ditadura. Hoje, ninguém aceita a verdade; ninguém aceita verdades absolutas. Tudo é relativo; tudo pode ser bom ou mau, dependendo da perspectiva na qual se encontre.

Amados, recebamos seriamente esta advertência do Espírito: se a verdade que recebemos do Senhor não dá fruto em nosso coração, estamos em risco de nos converter em apóstatas da fé. Não devemos viver estes dias de maneira relaxada, como se nada estivesse acontecendo, como se tudo fosse normal. No âmbito espiritual, estão ocorrendo muitas coisas. Cada dia há uma mentira nova, um novo engano arrastando a muitos, e nós devemos estar preparados para isso. Estes são riscos reais.

A linguagem de Asdode

Vejamos um relato no livro de Neemias. O profeta fala sobre a restauração, e nesse tempo ele julga muitas coisas equivocadas em Israel. Mas há uma delas que é muito particular. Vejamos: «Vi deste modo naqueles dias a judeus que tinham tomado mulheres asdoditas, amonitas, e moabitas; e a metade dos seus filhos falavam a língua asdodita, porque não sabiam falar judaico, mas falavam conforme a língua de cada povo» (Nee. 13:23-24).

Esta passagem é muito interessante. É fácil entender o que ocorria ali. Historicamente, o povo judeu se misturou com outros povos, e nessa mistura ocorreu um fenômeno linguístico. A língua dos judeus foi desaparecendo, e foi predominando a língua dos outros povos, a tal ponto que chegou a haver uma mescla entre dois idiomas, de maneira que a metade dos filhos de Israel usavam a língua dos asdoditas ou de outros povos, e não sabiam falar a sua própria língua.

Trazendo isto ao plano espiritual, qual é a linguagem que nós falamos e os nossos filhos? A linguagem sempre está associada à identidade de um povo. E nós, temos identidade? Sim, é obvio que a temos. Nós somos do céu, somos de Cristo, amamos a sua glória; portanto, nosso falar é celestial, é a linguagem de Deus, a língua da fé.

Será que já não falamos uma linguagem pura, o idioma da pátria da qual somos? O mais terrível aqui é que a nova geração não sabia falar o idioma judaico. A mistura era tanta, que já tinham perdido os sons de sua língua. Conosco também pode ocorrer o mesmo. Se a nossa identidade não estiver firme em nosso coração, se o nosso coração estiver cheio de sementes, mas não de frutos, se tivermos a luz da Palavra, mas não a vida dessa Palavra, isto indica que não estamos agradando ao Senhor.

A figueira frondosa

Recordam quando o Senhor passou junto à figueira? (Mat. 21:19). Essa figueira era frondosa, grande e formosa. Qualquer um se maravilharia dela. Mas o Senhor, que tem olhos como chama de fogo –ao qual não podemos impressionar com coisas externas, porque ele conhece o coração–, foi para a figueira, examinou-a cuidadosamente, e não encontrou fruto algum. Sabemos a sentença que veio depois sobre ela. E, quando eles passaram por ali, de volta, a árvore estava seca.

Nós podemos, perfeitamente, cair na armadilha da figueira frondosa. Aos olhos dos outros, podemos parecer muito «frondosos», mas o Senhor não se deslumbra com isso. Ele, que é o dono da figueira, examinará se há fruto nela. Ele não se alegra com as folhas verdes, mas do fruto.

Que, quando o Senhor vier para nos examinar, encontre não só sementes, mas frutos. Devemos refletir no que é que acontece conosco. Tendo tanta semente em nosso coração, por que não há suficiente fruto? Se sabemos tantas coisas, por que muitas vezes vivemos como se não soubéssemos nada? Se temos a luz da Palavra, por que não temos a vida?

Removendo obstáculos

Que o Senhor nos permita, nestes dias, viver nossa vida de tal forma que ela seja grata ao Senhor. No entanto, pode ser que haja algo em nós que esteja impedindo que a vida germine para que o fruto apareça. O Senhor nos ilumine, com o fim de descobrir e tirar qualquer impedimento para que demos fruto hoje.

O Senhor também nos livre de todo espírito de religiosidade. Enfatizamos isto: Não é preciso ter uma religião para transformar-se em um religioso. Ser religioso é uma atitude do coração. De acordo ao que vimos hoje, ser religioso é não sentir a mesma coisa que o Pai sente.

A nossa glória pode ser em pertencer à igreja em determinado lugar, mas isso não basta. Temos que chegar a tal ponto em nossa vida em que, quando o Pai se alegre com algo, também nos alegremos com ele; que, quando o Pai julgar algo, nós também o julguemos.

O Senhor nos socorra. Nossa vida está planejada para agradar o Seu coração. Temos a vida de Cristo em nós, e esta é a vida que agrada ao Pai.

Resumo de mensagem ministrada em Temuco (Chile), em agosto de 2013.

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