ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
O Espírito Santo: a Bíblia do Novo Pacto
Servindo debaixo da nova regência do Espírito.
Rubén Chacón
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, apresenta-nos a boa notícia do evangelho que ele prega. Esta boa notícia em relação com o pecado é duplo; por um lado, nos diz que os nossos pecados têm perdão através do precioso e eficaz sangue de Cristo e, por outro, anuncia que há libertação do pecado. O perdão dos pecados sem a libertação do pecado converteria a vida cristã em um círculo vicioso de pecar-perdão-pecar. No entanto, a boa notícia do evangelho é que em Cristo foi provido tanto o perdão como a libertação do pecado.
Mortos para o pecado
Em efeito, a partir do capítulo seis de Romanos, o apóstolo Paulo declara que os crentes não permanecerão no pecado, porque simplesmente e sinceramente morremos para o pecado. No questão objetiva, nossa morte para o pecado foi produzida de uma maneira dupla. Em primeiro lugar, na cruz inclusiva de Cristo: «Sabendo isto, que o nosso velho homem foi crucificado juntamente com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, a fim de que não sirvamos mais ao pecado» (6:6). E em segundo lugar, esse fato objetivo se fez válido, oficial e pessoal no batismo nas águas. A cruz de Cristo é universal e potencialmente libertadora do pecado de todos os homens; não obstante, deve ser apropriada por meio da fé e do batismo: «Ou não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte?» (6:3).
Mortos para a lei
Não obstante o anterior, quando Paulo conclui no v. 14 introduz outro elemento vital neste assunto da libertação do pecado. Ele diz: «Porque o pecado não se assenhoreará de vós; pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça» (6:14). E este é o ponto vital que irá monopolizar a nossa atenção. Para experimentar a libertação do pecado não é suficiente saber que estamos mortos para o pecado em Cristo Jesus. Além disso, precisamos estar livres da lei. Sem a libertação dela não podemos experimentar a libertação do pecado. Mas a boa notícia do evangelho é que os crentes não estão debaixo da lei. E como foi possível isto? Na cruz de Cristo. Nela não só morremos para o pecado, mas também para a lei: «Assim também vós, meus irmãos, morrestes para a lei mediante o corpo de Cristo…» (7:4).
Então por que precisávamos ser libertos da lei para ser livres do pecado? Pela simples, mas profunda razão, de que o poder do pecado está na lei: «O aguilhão da morte é o pecado, e o poder (gr. dinamis) do pecado, é a lei» (1ª Cor. 15:56). Segundo Paulo, a lei não fazia outra coisa a não ser despertar as más paixões em nós. Ele, com muita honestidade, diz: «Eu não conheci o pecado, senão pela lei» (7:7). E: «Mas vindo o mandamento, o pecado reviveu e eu morri» (7:9). É obvio, o problema não estava na lei; Paulo diz que ela é espiritual e é santa, «mas eu sou carnal, vendido ao pecado» (7:14).
O fato subjetivo
Paulo declara então que «sem a lei o pecado está morto» (Rom. 7:8). O assunto é que, para que esta verdade opere na experiência, necessitamos da bendita pessoa do Espírito Santo. Em efeito, e como já dissemos, a libertação objetiva tanto do pecado como da lei, ocorreu na cruz de Cristo. Em contrapartida, a libertação subjetiva da lei –e portanto do pecado- depende do fato de andarmos no Espírito: «Mas se somos guiados pelo Espírito, não estamos debaixo da lei» (Gál. 5:18). Em outras palavras, só se formos guiados pelo Espírito, não estaremos debaixo da lei. Para o fato objetivo é suficiente Cristo; mas, para o fato subjetivo é necessário o Espírito Santo.
Esta é a importância do capítulo 8 de Romanos. Para vivermos Romanos 6 requer-se Romanos 8. Se Romanos 6 segue a experiência em Romanos 8, então não seria necessário passar por Romanos 7. Mas se não é assim, então Romanos 7 é uma advertência de que, por mais glorioso que seja Romanos 6, não será a nossa experiência.
O novo regime do Espírito
O Espírito Santo é, pois, a salvaguarda divina à pergunta paulina: «Pecaremos, porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De maneira nenhuma» (6:15). Por que foi necessário que Paulo fizesse esta advertência? O que significa o fato de que não estamos debaixo da lei? Significa que já não estamos debaixo de nenhuma demanda de Deus dada externamente. Lembrem que a lei estava escrita em tábuas de pedra fora de nós. Deus mesmo em Cristo nos eximiu que toda obrigação externa de sua vontade. Por isso a pergunta de Paulo era totalmente pertinente. Se estivermos livres de todo mandamento externo de Deus podemos então fazer o que quisermos? Se estamos livres da lei, então somos livres para adulterar, roubar ou mentir? Como respondeu o apóstolo? De maneira nenhuma. Mas por que não? Porque a boa notícia do evangelho anuncia que «agora estamos livres da lei, por termos morrido para aquela em que estávamos sujeitos, de modo que sirvamos sob o novo regime do Espírito e não sob o velho regime da letra» (7:6). O termo «regime» significa «governo». Fomos resgatados de um tipo de governo e transportados para outro. Já não estamos sob a lei, mas sob a graça. Já não estamos sob o governo da letra, mas sob o governo do Espírito.
Livres do velho regime da letra
E a propósito da expressão «regime da letra» queria aprofundar em algo delicado, mas que é de vital importância para ajudar à experiência destas verdades. Quantos veem que o termo «letra» que Paulo usa aqui é perfeitamente aplicável, não só aos 613 mandamentos da lei de Moisés, mas a toda letra da Bíblia? É obvio que o espírito da letra das Escrituras é a Palavra de Deus, mas enquanto e entanto «letra», a Bíblia é uma lei externa e, portanto, parte também da lei. De maneira que não devemos servir a Deus, nem sob o velho regime da letra da lei nem tampouco sob o regime da letra da Bíblia.
A grande diferencia entre o velho pacto e o novo consiste precisamente neste fato: «Porei as minhas leis em vossos corações, e em suas mentes as escreverei» (Heb. 10:16). Quantos veem isto? No novo pacto os crentes não são governados de fora, nem sequer pela letra da Bíblia, mas somos governados interiormente. Os mandamentos que nos regem são os mesmos que lemos em nossas Bíblias, mas agora estão dentro de nós e não fora. Mas como foi possível esta glória? O profeta Ezequiel, profetizando sobre o novo pacto, explica-o assim: «E porei dentro de vós o meu Espírito», diz o Senhor, «e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus preceitos, e os ponham por obra» (36:27). Percebeu? Pelo fato glorioso de sermos habitados pelo Espírito Santo, temos em nós os seus mandamentos escritos. As leis divinas estão no Espírito Santo, ou melhor dizendo, o Espírito Santo é a lei que agora nos governa; ele é o espírito da letra da Bíblia. O glorioso e bendito Espírito Santo é, pois, a Bíblia para os que estão no novo pacto. E ele não é um livro, é uma pessoa e é o próprio Deus.
O lugar das Escrituras
Qual é então a utilidade e a função do livro chamado a Bíblia? Neste ponto devemos ser absolutamente claros, firmes e absolutos se quisermos viver a glória do novo pacto. Realmente necessitamos do livro? Não fica a impressão com o que foi exposto até aqui, que algo está sobrando? Se for verdade que é através do Espírito que habita em nós, o espírito da Bíblia, para que necessitamos do livro? Se para fundamentar a necessidade da Bíblia afirmamos que o livro é necessário para podermos saber a vontade de Deus, cabe então a pergunta: Acaso não é o Espírito Santo o que no novo pacto nos dá a conhecer a vontade de Deus? Se for assim: para que necessitamos então das Escrituras? Ou o Espírito não é suficiente para tal efeito? E se afirmarmos que a necessidade da Bíblia radica no fato de que através dela somos guiados, para que então o Espírito Santo habita em nós? Não podemos supor que é o Espírito que nos guiará a toda a verdade?
Não deveríamos então nos desfazer do livro? De maneira nenhuma. Porque como reconheceríamos a voz do Espírito Santo se não conhecêssemos as Escrituras? Como nos asseguraríamos de não estar confundindo ao Espírito Santo com os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e motivações? Não esqueçamos que o Espírito Santo é o espírito da letra da Bíblia. Portanto, a letra da Bíblia é o eco da voz interior do Espírito Santo em nós. E é precisamente esse eco objetivo, que permite reconhecer que é o Espírito Santo o que nos está falando de maneira subjetiva. Portanto, podemos afirmar com toda a força, o seguinte: Quanto menos conhecermos as Escrituras, menos capacitados estaremos para reconhecer a direção do Espírito Santo. E, quanto mais profundamente conhecermos a Bíblia, mais profundamente conheceremos a voz do Espírito.
Não obstante, em nenhum caso isto significa que estamos governados por uma lei externa chamada a Bíblia. Ela simplesmente é o espelho que permite conhecer, descobrir e reconhecer que efetivamente é o Espírito Santo o que nos está falando e guiando. Cada vez que estudamos as Escrituras, não o fazemos para nos, debaixo das demandas do que lemos –pois isto seria nos pôr debaixo da lei e outorgar ao pecado poder sobre nós– senão para ter os elementos necessários de reconhecimento na hora de recebermos o Espírito Santo. Já não estamos sob o velho regime da letra, mas sob o novo regime do espírito da letra, isto é, do Espírito Santo. O novo pacto também tem uma lei. Mas essa lei não é um livro, mas uma pessoa divina. É a lei do Espírito de vida que em Cristo Jesus nos livrou da lei do pecado e da morte. Amém.