Abraão e a vida no Espírito

A verdadeira herança de Abraão era o próprio Deus.

Rodrigo Abarca

Leitura: Gálatas 3:1-7.

O elemento essencial para a vida de plenitude no Espírito é a fé. Paulo pergunta: «Recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pelo ouvir com fé? Sois tão néscios? Que havendo começado pelo Espírito, agora vais acabar pela carne?». As obras da lei fazem alusão ao esforço do homem por guardar os mandamentos de Deus. Quer dizer, irão usar os recursos da carne para aperfeiçoar a sua vida cristã?

É obvio, esta é uma pergunta retórica. A resposta implícita é que eles não podem tornar a confiar em sua carne. Se a regeneração veio por meio da fé, então também a maturidade da vida cristã vem pelo mesmo caminho – pelo Espírito, por meio da fé.

Em seguida, Paulo introduz um exemplo da vida do Espírito: «Assim Abraão creu em Deus, e foi contado por justiça. Saibam, portanto, que os que são da fé, estes são filhos de Abraão» (V. 6). «para que em Cristo Jesus a bênção de Abraão alcançasse os gentios, a fim de que pela fé recebêssemos a promessa do Espírito» (v. 14).

Abraão é o pai de todos os crentes, e todos os que são da fé são filhos espirituais dele. Sua vida é um exemplo para todos aqueles que «seguem as pisadas da fé que teve nosso pai Abraão» (Rom. 4:12). Antes dele, houve outros crentes, mas, estritamente, no sentido evangélico, foi o primeiro homem chamado das trevas para a luz.

A promessa: o Espírito

Espiritualmente, a vida de Abraão é muito rica. Examinando a sua vida de fé, nós entramos nessa vida do cumprimento da promessa. A promessa a Abraão foi uma terra e uma descendência nessa terra.

Paulo declara aqui que a verdade do cumprimento da promessa é o Espírito. «a fim de que pela fé recebêssemos a promessa do Espírito». Quer dizer, o cumprimento de tudo o que Deus prometeu a Abraão, e a verdade do cumprimento de todas as promessas no Antigo Testamento é o derramamento e a habitação do Espírito Santo. Por isso, ele é chamado «o Espírito Santo da promessa».

Atos 7:2-3 é um resumo de como Abraão começou o seu caminho de fé, o caminho da vida cheia do Espírito. «O Deus da glória apareceu ao nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes que morasse em Harã, e lhe disse: Sai de tua terra e da tua parentela, e vem para a terra que eu te mostrarei».

Esta é a mesma chamada que nós temos recebido de Deus. No caso de Abraão, era uma terra; mas isto tem agora um significado espiritual. «Sai de tua terra e da tua parentela». Ur dos caldeus era uma terra consumida nas trevas, na idolatria, era o domínio do pecado, da morte e de Satanás. «E ele vos deu vida a vós, quando estáveis mortos em vossos delitos e pecados, nos quais andastes em outro tempo, seguindo o curso deste mundo, conforme o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência» (Ef. 2:1-2).

Abraão estava na Babilônia, que tipifica o mundo. A cabeça da Babilônia é Satanás (Is. 14). Abraão estava, como todos nós, sem conhecimento de Deus, perdido, condenado, sob o poder da morte, do pecado e de Satanás. Mas veio então a chamada.

«O Deus da glória apareceu a Abraão». Tudo começou com uma revelação da glória de Deus. Esse foi o começo da fé de Abraão. A fé não surge em nós naturalmente; é sempre a resposta a revelação do próprio Deus. A fé que vem do conhecimento de Deus é dada na forma sobrenatural.

A fé, dom sobrenatural

Nossa tentação é pensar que a fé é uma qualidade especial que alguém tem, e que alguns têm mais do que outros. Mas não é assim. Por que Abraão chegou a ser um homem de fé? Porque o Deus da glória lhe apareceu. Nessa revelação inicial, lhe outorgou uma medida de fé. Romanos 12:3 diz que cada um de nós, junto com a revelação, recebeu uma medida de fé.

«Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é o que resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo» (2ª Cor. 4:6). Este é o ponto de partida da vida cristã. Quem não tem esse conhecimento de primeira mão, ainda não iniciou a sua jornada. Abraão teve uma visão da glória de Deus, uma visão que está além do que podemos definir ou compreender. Assim começou a jornada de Abraão.

Mas agora Deus lhe disse: «Sai da tua terra e da tua parentela, e vem para a terra que eu te mostrarei». Em Gênesis 12 temos o mesmo relato: «Mas Jeová havia dito a Abrão: Sai-te da tua terra e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei». Quando o Deus da glória apareceu em nossas vidas, esta mesma chamada de Abraão veio a nós.

«Sai-te da tua terra e da tua parentela, e da casa de teu pai». O pai de Abraão era Tera. Mas, falando estritamente, a chamada para sair de sua parentela se refere à geração humana completa, que leva a Abraão e a cada um de nós até o primeiro homem – Adão. Todos nós estamos incluídos em Adão, e, segundo a Escritura, «em Adão todos morrem». Todos nos tornamos pecadores em Adão, e, nele, fomos separados, destituídos da glória de Deus.

Sair de Adão

Todos somos da mesma natureza de Adão; por esta razão, estamos sob o poder das trevas, mortos em delitos e pecados. Portanto, a chamada de Deus começa em sair dessa primeira humanidade e vir agora para uma segunda humanidade, que está em Cristo. Sair de Adão, de tudo o que recebemos dele, não só a natureza biológica, mas também todo o sistema de vida que isso significa.

«…para a terra que te mostrarei». A terra prometida representa as riquezas insondáveis de Cristo. A chamada ordena deixar toda aquela herança de Adão e vir para um novo ponto de partida, para lançar raízes em um princípio totalmente novo, que é Cristo, o novo Homem.  Esse chamamento governará todos os entendimentos de Deus com Abraão.

Abraão é chamado para entrar na terra e a tomar posse dela. Neste chamamento para sair desse antigo sistema de vida e vir para esta nova realidade, a fé de Abraão tem importância fundamental. E Abraão fez isto por meio da fé, como vemos em Hebreus 11.

«Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu para sair para um lugar que tinha que receber como herança; e saiu sem saber para onde ia» (Heb. 11:8). Ele obedeceu à chamada e foi para a terra que Deus lhe havia mostrado, até sem saber qual era essa terra. Mas obedeceu e saiu; e a Palavra diz que foi «pela fé».

Definindo a fé

Como poderíamos definir a fé? A fé é o elemento vital em nossa relação com Deus. Sem ela, não podemos viver uma vida de união com Cristo e, por meio dele, com o Pai. Vamos examinar primeiro a natureza da fé, essa fé que permitiu a Abraão introduzir-se na terra prometida, quer dizer, nessa vida de plenitude em Cristo.

Uma tradução subjetiva

«É, pois, a fé a certeza do que se espera, a convicção do que não se vê» (Heb. 11:1). Este versículo, lamentavelmente, tem feito muitos cristãos tropeçarem, por haver uma deficiente tradução. Em a versão Reina-Valera 1960 (espanhol), com a qual muitos de nós crescemos, a tradução nos leva a uma compreensão errônea, porque a ênfase do tradutor está na fé como algo subjetivo.

A fé, segundo esta tradução, é uma certeza, um estado subjetivo, um estado interior do nosso ser. A fé, neste caso, seria um sentimento de certeza ou um sentimento de convicção em relação ao que não se vê. Se isso for a fé, temos problemas, porque na verdade é muito difícil viver com um permanente sentimento de segurança, de certeza e de convicção.

Agora, qual é a tradução objetiva do versículo? A palavra grega traduzida como certeza é hipóstasis, a mesma que aparece no princípio de Hebreus, quando diz que o Filho de Deus é «a imagem exata de sua substância». Vejam como foi traduzida de uma maneira tão distinta em ambos os casos.

Por que tanta diferença? A palavra grega hipóstasis significa «o que está por debaixo de uma coisa e a sustenta». Por isso, traduz-se também como fundamento. É aquilo que não se vê, mas que dá realidade sustenta a existência de algo. Em outras palavras, é a essência, a substância de uma coisa. A substância de uma coisa não a vemos, mas é o que faz real aquilo que está ali. Isso é a hipóstasis.

O fato objetivo da fé

E aqui nos diz que a fé é a hipóstasis do que se espera. Em outras palavras, pela fé, nós obtemos a substância, o fundamento firme, daquilo que esperamos. É algo muito distinto. A ênfase não está no que sentimos subjetivamente, mas em um fato objetivo. A fé nos dá o fato objetivo, a substância, o fundamento certo, pelo que esperamos. Pela fé, recebemos a substância. A diferença é muito grande, porque a fé se refere a um fato objetivo que nos é ministrado.

«a convicção do que não se vê». Outra vez, a palavra convicção faz referência ao que alguém sente com respeito a algo. Mas a ênfase aqui não é a convicção. A palavra grega significa evidência. A tradução correta é: «a evidência do que não se vê». Pela fé, temos a evidência, a prova contundente, do que não se vê.

A fé não se apoia no vazio. Séculos atrás, um filósofo cristão, interpretando este versículo nesta versão, descreveu a fé como «um salto no escuro». «Tenho confiança, tenho certeza, mas não sei no que, e salto na escuridão, não sei para onde». Mas a Escritura não diz isto.

A substância da fé

«O Deus da glória apareceu a Abraão». A substância da fé e a evidência dessa fé é o próprio Deus. É porque o temos visto, e o temos tocado, é que nos dá a evidência em nosso coração. Assim surge a fé. A fé se apoia em Deus e no conhecimento de Deus. A essência da fé é o próprio Deus. Isso é maravilhoso. Nós o conhecemos e temos a evidência dele dentro do nosso ser, o Deus da glória resplandeceu em nosso coração, é porque cremos nele, na sua Palavra. É muito importante entender isto.

A fé se apoia em Deus. Nada menos que ele pode ser o objeto da nossa fé. Assim começa o caminho da fé. Por isso, diz o versículo 2: «Porque por ela alcançaram bom testemunho os antigos». A medida de fé se relaciona com a medida de evidência que temos da glória de Deus, depende de quanto conhecemos a Deus. Quanto mais o conhecemos, maior será a nossa fé. Esse é o grande segredo da fé de Abraão.

Abraão não era uma pessoa extraordinária. Era como todos nós, mas ele o tinha visto; tinha evidências. Ele sabia o que outros não sabiam; tinha visto o Deus da glória, e isso explicava a sua fé. Por isso obedeceu, porque a garantia não estava na terra. Deus não lhe mostrou a terra que lhe daria. Não, a garantia era o próprio Deus.

Abraão creu em Deus. O objeto da fé é Deus. Pela fé conhecemos a Deus. A fé não tem nada haver com os sentimentos. Às vezes, sentimos a sua presença; mas a fé não é um estado subjetivo. A fé é entendimento, conhecimento, evidência, e é a resposta do coração a essa evidência.

Riqueza insondável

Vejamos um pequeno princípio na vida de Abraão, em relação a essa vida de plenitude no Espírito. Deus chamou a Abraão para viver nesta terra que representa a plenitude de Cristo. É por meio de uma vida cheia do Espírito que nos apropriamos das riquezas insondáveis de Cristo, e é por meio do Espírito que tais riquezas se convertem em nossa experiência.

«Sai-te da tua terra e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. E farei de ti uma grande nação, e te abençoarei, e engrandecerei o teu nome, e serás bênção. Abençoarei aos que te abençoar, e aos que te amaldiçoar amaldiçoarei; e em ti serão benditas todas as famílias da terra» (Gên. 12:1-3).

Esta promessa de Deus a Abraão se desenrola ao longo de todo o Antigo Testamento e alcança a sua completa realização com o Senhor Jesus Cristo. A Escritura diz que a Abraão e a sua semente foram dadas as promessas, e a semente de Abraão é Cristo. Todas as promessas de Deus a Abraão têm a sua realização em Cristo. Por meio de Cristo, a bênção de Abraão chegou até nós.

«E se foi Abrão, como Jeová lhe disse; e Ló foi com ele» (v. 4). Isto é muito importante. Qual é o maior obstáculo para essa vida de fé que Deus deseja para todos nós? Por que nem todos vivem essa vida de plenitude? Por que é tão difícil, aparentemente, apropriar-se dessas riquezas de Cristo?

A presença do velho homem

«Ló foi com ele». Aqui temos uma luz muito grande das Escrituras. Deus havia dito a Abraão que saísse de sua terra e de sua parentela. Ele saiu, mas levou com ele a Ló, uma parte de sua parentela. O que isso significa em nossa vida cristã? Que, quando somos unidos a Cristo pelo Espírito, nossa carne, esse conjunto de hábitos, costumes e pensamentos, ainda vem conosco.

O velho homem, embora tenha sido crucificado juntamente com Cristo, ainda vive em nosso corpo e em nossa mente. Mas o propósito de Deus é que deixemos para trás essa antiga vida, para que possamos de verdade desfrutar da vida de abundância que ele preparou para nós em Cristo.

O trabalho do inimigo

«E era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã. Tomou, pois, Abrão a Sarai sua mulher, e a Ló filho de seu irmão, e todos os seus bens que havia ganho e as pessoas que havia adquirido em Harã, e saíram para ir para terra de Canaã; e a terra de Canaã chegaram. E passou Abrão por aquela terra até o lugar de Siquém, até o cume de Moré; e o cananeu estava então na terra» (V. 4-6).

Prestem atenção a este segundo elemento: «e o cananeu estava então na terra». Dois grandes obstáculos se levantam contra essa vida de plenitude na terra prometida. O primeiro é Ló, que vem junto com o Abraão do passado; e o segundo, o cananeu. O que representa o cananeu? Efésios 6:12: «Porque não temos luta contra sangue e carne, mas contra principados, contra potestades, contra os governadores das trevas deste século, contra hostes espirituais da maldade nas regiões celestes».

«e juntamente com ele nos ressuscitou, e deste modo nos fez assentar nos lugares celestiais com Cristo Jesus». Nesses lugares celestiais, temos luta. Satanás e suas hostes tentarão nos apartar, para estorvar, para sufocar, se for possível, essa vida que temos em Cristo. Nessa mesma terra, nessa vida nova, está o cananeu para se opor.

A permanente luta entre o Espírito e a carne

Agora, se quisermos vir a essa vida de plenitude em Cristo, temos que nos separar de Ló. É Ló, a nossa carne, que impede essa vida plena. «Porque o desejo da carne é contra o Espírito, e o do Espírito é contra a carne; e estes se opõem entre si, para que não façais o que quereis» (Gál. 5:17).

Não há acerto possível entre a carne e o Espírito. Se vivermos para a carne, então o Espírito não tem lugar. É excludente: ou a carne, ou o Espírito; mas não é possível servir a ambos de uma só vez. Se servirmos ao Espírito, ele mortificará as obras da carne. Essa foi a grande lição que Abraão teve que aprender.

«Subiu, pois, Abrão do Egito para o Neguebe, ele e sua mulher, com tudo o que tinha, e com ele Ló» (Gên. 13:1). No capítulo 12, registra-se que Abraão desceu ao Egito. Egito é o mundo com todos os seus recursos. Abraão deixou essa vida de fé e desceu ao Egito, porque Ló andava com ele. Se andarmos na carne, ela nos levará sempre fora da vida de plenitude em Cristo. Quando Abraão voltou do Egito, Ló ainda estava com ele. Mas não podia seguir assim para sempre.

«E Abrão era riquíssimo em gado, em prata e em ouro» (13:2). Em Cristo temos tudo o que necessitamos. «E tornou por suas jornadas... até o lugar onde tinha estado antes sua tenda entre o Bet-el e Ai, ao lugar do altar que tinha feito ali antes». Ao chegar à terra prometida, a primeira coisa que Abraão fez foi edificar um altar. O altar assinala uma vida de consagração, de abandono nas mãos de Deus. Quando ele volta do Egito, reedifica o altar, retorna ao ponto no qual tinha caído.

Persistência da carne

«Também Ló, que andava com Abrão, tinha ovelhas, vacas e tendas» (v. 5). Não há nada mais insistente que a nossa carne. A carne, dizia um escritor, pode crescer e desenvolver-se até o redor do altar de Deus. Mas ela pode nos levar a ruína. Por que essa tentação permanente de voltar a confiar na carne e depender dela? Porque a carne está cheia de recursos, e está à mão. Isso aconteceu a Abraão.

«Houve então fome na terra» (12:10). Aquilo era para provar a fé. A vida nos lugares celestiais nos leva a uma dependência mais profunda de Deus. Mas, quando parece que ele não responde, lançamos mão à carne. E a carne disse a Abraão: «No Egito há comida», e ele desceu lá. Quando se vive toda uma vida confiando nos recursos da carne, é fácil voltar a apelar para ela.

O versículo 6 é quase uma transcrição da passagem de Gálatas, onde diz que a carne e o Espírito se opõem entre si: «E a terra não era suficiente para que habitassem juntos, pois suas posses eram muitas, e não podiam morar em um mesmo lugar». Versículo 7: «E houve luta entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló; e o cananeu e o perizeu habitavam então na terra».

Os cananeus estavam ali. Satanás estava ali. E a ação de Satanás sobre a nossa vida é por meio da carne. Se alguém bajular a sua carne, a consente, a protege e a justifica, tem que saber uma coisa: um dia, essa carne o fará sofrer, porque há hostes espirituais da maldade determinadas a destruir a sua vida em Cristo. E a base de apoio deles é a carne.

A carne carece de valor para Deus

«Então Abrão disse a Ló: Não haja agora contenda entre nós dois, entre os meus pastores e os teus, porque somos irmãos. Não está toda a terra diante de ti? Eu te rogo que te apartes de mim. Se for para a esquerda, eu irei para a direita; e se fores para a direita, eu irei para a esquerda» (v. 8-9). Abraão tomou uma decisão radical – não dar mais lugar para a sua carne. Abraão amava a Ló; mas chegou um momento em sua vida em que se deu conta que, se Ló seguisse com ele, a sua vida com o Senhor estaria arruinada.

Somente há uma maneira de tratar com este problema. Nossa carne foi crucificada juntamente com Cristo. Observem isto com atenção – a carne não tem nenhum valor para Deus. «Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem» (Rom. 7:18). Não há nada nela que possa agradar a Deus. Deus, simplesmente, tomou a nossa carne e a crucificou definitivamente em Cristo.

Aceitando o veredicto de Deus

Deus desprezou a carne para sempre, e nós temos que aceitar o veredito de Deus sobre ela. Se entendermos e aceitarmos este veredicto, em um ato de fé e de obediência, então tomaremos a determinação de não ter nada que ver com a carne. Isso é o que Abraão fez. «Se for para a esquerda, eu irei para a direita», quer dizer, vou pôr uma distância inseparável entre você e eu.

O Senhor Jesus disse: «portanto, se o teu olho direito te faz tropeçar, tira-o, e lança-o de ti» (Mat. 5:29). Que coisa pode ser mais importante para alguém que o seu olho direito, a sua mão ou o seu pé direito? Imaginem o que seria a sua vida sem algum desses membros. Mas o Senhor diz: «pois melhor te é que se perca um dos seus membros, e não que todo o teu corpo seja lançado no inferno». Assim devemos tratar com a nossa carne, aceitando o veredito de Deus sobre ela, e operar com ela segundo esse veredito. Isso foi o que Abraão fez.

A estreita visão de Ló

«E elevou Ló os seus olhos, e viu toda a planície do Jordão, que toda ela era regada, como o jardim de Jeová, como a terra do Egito na direção do Zoar, antes que Jeová destruísse a Sodoma e a Gomorra» (v. 10). Ló tipifica aqui a um crente carnal, uma pessoa regenerada, mas que vive para a sua carne.

Vejamos a figura mostrada aqui. A terra de Israel é como uma inclinação que vai das alturas do Golã e desce ao longo do Jordão até chegar a uma depressão a 400 metros abaixo do nível do mar, a planície do Jordão, o lugar mais baixo. E ali, no extremo sul, estavam as cidades de Sodoma e Gomorra.

Abraão olhou para o alto – os lugares celestiais. E Ló viu quão atrativa era a terra, quantas possibilidades, quantos benefícios oferecia. Mas Abraão via o que os olhos físicos não veem e tocava o que os sentidos não tocam. Ele via o Deus da glória, enquanto os olhos de Ló só viam o que estava diante dele, o externo, o aparente.

Ló não pensou em Abraão, mas escolheu imediatamente o melhor para si mesmo. Assim é a carne. «Aqui poderei prosperar». Não era nada pecaminoso; não tinha pecado ali, não imediatamente. Mas a carne, sempre, no final, nos levará para o pecado e à morte.

«e se foi Ló para o oriente, e se apartaram um do outro. Abrão acampou na terra de Canaã, enquanto que Ló habitou nas cidades da planície, e foi armando as suas tendas até Sodoma» (v. 11-12). Abraão permaneceu na terra onde Deus o pôs, e Ló estabeleceu-se em Sodoma.

«Mas os homens de Sodoma eram maus e pecadores contra Jeová em grande maneira» (V. 13). Essa foi a tragédia de Ló, porque ele seguiu os ditames de sua carne. «Porque o que semeia para a sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito ceifará vida eterna» (Gál. 6:8).

Dois caminhos

Aí temos os dois caminhos. Abraão semeou para o Espírito, e colheu vida eterna; Ló semeou para a sua carne, e colheu destruição. Um dia, Ló viu detrás de si um rastro de morte, e sua vida se converteu, não só para ele, mas para a sua descendência, em uma fonte de maldição. Assim é a carne.

Uma vez que a carne foi julgada e foi posta de lado, «Jeová disse a Abrão, depois que Ló se separou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha do lugar onde está para o norte e o sul, e para o oriente e para o ocidente. Porque toda a terra que vê, a darei a ti e a tua descendência para sempre» (v. 14-15). Esta promessa faz alusão à posse plena das riquezas insondáveis de Cristo.

Conhecemos a história de Ló. A Escritura diz que Ló era um homem justo e afligia a sua alma cada dia estando em Sodoma (2ª Ped. 2:7-8). E, por que ele estava ali? Porque tinha saído na sua carne. Estava preso em Sodoma, e não podia sair. Quantas pessoas não conhecemos que se deslizaram, e chega um momento em que estão presas, angustiam-se e choram, sem poder sair, porque um vício ou alguma coisa terrível se apoderou deles.

A carne nunca terá frutos, pois Deus a condenou para sempre. No entanto, Deus teve misericórdia de Ló e mandou procurá-lo em Sodoma, pela intercessão de Abraão. Ele nunca nos abandona, nem mesmo em nossos pecados mais terríveis. Ló se salvou, mas, como diz Paulo, «assim como por fogo» (1ª Cor. 3:15).

A vida de Ló se consumiu, e ele perdeu tudo. A sua mulher se converteu em estátua de sal, porque Sodoma havia entrado em seu coração. As suas filhas se corromperam; tiveram filhos do seu próprio pai. Assim é a carne, corrompe tudo, destrói tudo. A descendência de Ló foi amaldiçoada, porque dele nasceram os amonitas e os moabitas, excluídos para sempre da congregação; eles foram os grandes inimigos do povo de Deus.

Os resultados

Que rastro de morte deixou Ló! , Abraão seguiu o Espírito e continuou avançando. E, o que aconteceu com ele? «Era Abraão já velho, e bem avançado em anos; e Jehová tinha abençoado a Abraão em tudo» (Gên. 24:1). É maravilhoso.

As bênçãos da vida de fé, e as maldições da vida na carne, estão registradas em Deuteronômio capítulo 28. Na história de Abraão e de Ló, vemos uma vida que colheu bênção e outra vida que colheu maldição. Mas a bênção maior de Abraão é que ele conheceu e caminhou com Deus e, ao longo dos anos de seu caminhar com Deus, descobriu que a maior de todas as promessas e do cumprimento delas não era a terra física, mas que a sua verdadeira herança era o próprio Deus.

Quem ganha a Cristo, ganha tudo. A vida no Espírito, a vida de fé, não se apoia no que se vê, mas no que não se vê. Não sigamos a nossa vista nem os nossos desejos, não obedeçamos a nossa carne, mas aceitemos o juízo de Deus sobre ela e caminhemos com os nossos olhos postos no Senhor.

Mensagem ministrada em Santa Clara, Cuba, em março de 2013.

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