O Noivo celestial

O Senhor Jesus ama a sua igreja com amor eterno, e os crentes são desposados com ele para que deem fruto para Deus.

Henry Law

«Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne» (Gên. 2:23).

A nossa Bíblia é um verdadeiro paraíso de belas flores e doces frutos. Mas o crente encontra mais prazer, sobretudo, naquelas passagens escolhidas e povoadas de sinais da ternura do Salvador. Nossa felicidade se eleva até o céu quando, apoiados na Escritura e sob a luz do Espírito Santo, a alma discerne que Jesus ama com amor eterno.

Terna linguagem

Não podemos andar muito pelas páginas da Palavra sem que logo escutemos a voz que nos diz: «Prestem atenção, quero lhes falar do meu amor». Com este propósito, cada imagem de ternura fala em seu turno. Amas um pai com a força do amor varonil? Jesus é nosso Pai Eterno. É uma mãe amorosa em suas doces carícias? O Senhor é mais constante ainda, pois embora pai e mãe se esqueçam de nós, «eu não jamais me esquecerei». O afeto de um irmão é generoso? Cristo é o primogênito entre muitos irmãos. És a união das irmãs tão terna como as fibras do coração? A igreja é sua irmã, sua esposa. A simpatia de um amigo é nobre? Lemos: «Já não vos chamarei servos... mas vos tenho chamado amigos».

Não bastam estes paralelos? Não, se não lhes acrescentarmos outro. Assim como para formar a luz mais pura precisa da combinação de todas as cores, assim todos as matizes devem juntar-se para nos dar o retrato completo de um amante Salvador. Falta o carinho perfeito que flui de um coração a outro coração no enlace nupcial? Mas, chamará também Jesus a seu povo com o qualificativo de «noiva»? Sim, assim o faz. E isso constitui a delícia do Espírito. Encontramos este tratamento no jardim do Éden. Caminha ao nosso lado ao longo de todos os verdes pastos da Palavra. Deleita-nos até o final de Apocalipse. «O Espírito e a Esposa dizem: Vêm». Um eco responde a outro eco: «Como a alegria do marido com a esposa, assim se alegrará contigo o teu Deus (Isaías 62:5) … Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, juízo, benignidade e misericórdia» (Oseias 2:19).

Seguindo esta santa direção, vivamos em busca de Jesus com aqueles sentimentos puros que inocentemente se albergaram no coração de Adão antes que o pecado entrasse e o profanasse. A narração é simples: «Então Jehová Deus fez cair um sono profundo sobre Adão, e enquanto este dormia, tomou uma de suas costelas, e fechou a carne em seu lugar. E da costela que Jehová Deus tirou do homem, fez uma mulher, e a trouxe ao homem» (Gên. 2:21-22). Mas o mistério desta porção é profundo.

Maior que Adão

Alguém maior que Adão, o primeiro marido, encontra-se nesta história de união sem pecado. À fé tem lhe ensinado, e tens aprendido rapidamente, que o noivo espiritual e a esposa mística se acham nesta narração. Os primeiros maridos terrenos não são mais que uma sombra do amor celestial. O segundo Adão dorme um sono, o sono da morte, sobre o duro altar de sua ignominiosa cruz. Seu lado é atravessado. E dali flui os meios para constituir a igreja. Há sangue para expiar cada pecado e água para lavar cada mancha. O Pai apresenta a esposa a Adão. O mesmo Pai entrega ao seu Cristo favorecida esposa. Adão a recebe como parte de si mesmo. A palavra de Cristo outorga a mesma bem-vinda: «…porque somos membros do seu corpo, de sua carne e dos seus ossos» (Ef. 5:30).

Sentimo-nos animados a traçar as semelhanças com reverência. Os casamentos entre pessoas de distinta posição social se tornam difíceis de realizar. Aqui se trata de uma noiva muito baixa quanto às suas origens. É formada de barro. Jesus ao contrário mora no brilhante palácio do céu, glorioso, com todos os atributos de sua divindade. Como poderá ocorrer semelhante união? Ele deixa a sua alta morada. Um véu cobre o seu ser onipotente. E desce para a nossa choupana. Não debocha dos nossos farrapos. Nasce como homem em Belém. O Filho do Homem vive em natureza humana.

Oh, minha alma! O Senhor se deteve em seu caminho para te fazeres seu para sempre? A distância é infinita, mas ele veio com a velocidade da luz sobre asas de amor e não parou até que pousou em nosso lar longínquo.

Envia-lhe cartas

O noivo tem como poucos todos os esforços para ganhar um olhar da noiva. É possível que Jesus lute para ganhar nossas desagradáveis almas? Sim, Jesus batalha por isso. Ele vive quando nós amamos. Tão somente parece reinar quando lhe apresentamos o coração para que dele faça seu trono. Aí, nas Escrituras, envia carta após carta solicitando e ardendo na pura chama da ternura divina. Segue-nos com o clamor constante: «Volta para mim, venham a mim, fica comigo». Por isso envia os seus fiéis ministros, os amigos do noivo, para pleitear a sua causa, para suplicar em seu lugar, para procurar em Seu nome, para apresentar seus imaculados encantos, para mostrar que o seu amor é forte como a morte e puro como a luz, tão infinito como a eternidade.

Esse ministério é tão mais fiel a Cristo, mais rico em frutos eternos, quanto mais vividamente apresenta a Cristo. Mas ainda há mais. O Espírito Santo é enviado pelo Pai e o Filho, e revela o Senhor em todas as belezas de sua pessoa, todas as maravilhas de sua graça, todas as glórias de sua obra. Derruba todos os preconceitos, torce a corrente da vontade oposta e acende uma flamejante tocha nos escuros rincões de nossa alma. Assim é consumada a união. A alma fiel esquece o seu próprio povo e a casa dos seus pais. Atira para longe os antigos pretendentes que cativaram os seus pensamentos. Sai para fora e se separa do mundo que antes tanto amava. Deixa tudo e se une a Cristo.

Os laços nupciais anulam os antigos documentos quanto ao estado e, às vezes, o domicílio. Um novo sobrenome e uma nova direção mostram que a noiva já não é independente, que já não pertence a ela mesma. O mesmo ocorre na união espiritual. A pessoa de Cristo proclama a sua divindade, e esta é o diadema da igreja. Não está escrito assim em Jeremias 23:6 e 33:16? Nos diz primeiro que: «O Senhor, justiça nossa», é seu nome. E a mesma porção é para a esposa, porque acrescenta que: «O Senhor, justiça nossa» é o nome dela também.

Íntima comunhão

O noivo procura a comunhão íntima. Igualmente ocorre com Jesus. Por sua palavra, e por meio dos seus mensageiros, leva o seu povo para o seu lado. Abre diante dele os propósitos de sua graça e os segredos do seu Reino. Anima-lhes a que lhe conte as suas necessidades, temores, desejos e esperanças. Convida-os meigamente: «Faz-me ouvir a tua voz...». Quem pode descrever o carinho de um noivo? E, no entanto, é como uma gota de água comparada ao oceano de uma carícia do Salvador. «Não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas» (Heb. 4:15). «Quem vos toca, toca a própria menina dos seus olhos» (…). «Ele é afligido em todas as nossas aflições» (…). No instante que fazem sofrer um dos seus membros, ao mesmo tempo a Cabeça chora nos céus: «por que me persegues?», pergunta a um inimigo de sua esposa, a igreja.

Querido leitor, talvez você tenha escutado com frequência estas verdades. Porém elas têm vibrado em ti de maneira que tem achado uma resposta em teu coração? Se não for assim, você não tem o espírito da noiva.

O noivo traz o seu dote. E Cristo não nos enriquece com toda sorte de dons? Os próprios anjos podem maravilhar-se e surpreender-se ao contemplar as riquezas da igreja. Cristo não esconde nada dela. Todos os seus atributos são a sua grande herança. Sua sabedoria está pronta para a sua direção. Seu poder para o seu socorro. Seu amor para consolar. Sua fidelidade e Sua verdade são o seu cajado. Seu Espírito Santo é vertido sobre ela sem medida, para lhe ensinar, desposá-la e bendizê-la. Sua é a justiça de Cristo, para embelezar-se com ela nas moradas celestes. Seus céus são os céus da esposa mística. Seu trono é o seu também. E Sua glória é sua coroa. A própria eternidade é para ela, para que possa ter gozo para sempre. Feliz a alma que responde a este convite amoroso!

Sem descanso

O noivo não evita fatigas para poder trazer sustento e abundância para a sua amada. Cristo vive uma vida de trabalho vigilante. Não descansa de dia nem de noite. Suas mãos transpassadas estão sempre intercedendo e derramando fornecimentos de graça do céu, para que, cada vez que surjam necessidades, ele possa satisfazê-la.

As uniões terrenas conhecem com frequência a pena da separação. A severa voz do dever pode ordenar às vezes: «Veta». A necessidade pode obrigar a partir para longe. Mas nada no céu nem na terra, nem no inferno, pode romper o abraço que se ata em torno do Noivo divino. Em cada momento se acha mais próximo que a própria sombra do que a projeta. A vida se apoia em suas mãos. A morte dorme em seu peito. Nenhum laço pode falhar no mundo de segurança celestial: «Não te desampararei, nem te deixarei» (Heb. 13:5).

Neste frio mundo, os afetos podem esfriar-se. O dia que amanheceu com amor pode terminar com ódio. Os gostos mudam e produzem mudanças. Os temperamentos discordes podem discordar. Mas muito diferente é o matrimônio celestial. Sempre é verdade aquele texto: «Aquele que se une ao Senhor, um espírito é com ele» (1ª Cor. 6:17). Quando o Senhor chama com amor, muda-nos por seu Espírito. Ministra uma nova natureza, cujas pulsações vão ao uníssono com as do Esposo. É a própria harmonia do céu quando Cristo é o tudo.

Aqui, neste mundo, um lar tem que chorar às vezes por causa da impiedade que brota dali mesmo. Muitos tiveram que lamentar: «Oh, Absalão, meu filho!». Mas da união celestial não surge mais do que semente celestial. Os crentes são desposados com Cristo para que deem fruto para Deus (Rom. 6:22). Separados de Cristo, o coração é um ninho de maldade; unido a ele, é o progenitor santo de cada graça santa.

Com os olhos da fé

Mas, no presente, a igreja vê o seu Noivo só com os olhos da fé. O véu da carne impede a visão clara. Mas ainda um pouco e o dia da grande bodas chegará. Um mundo surpreso ouvirá a chamada: «Eis aqui, vem o Noivo!». Ouvirão as vozes de uma grande multidão, como voz de muitas águas e como voz de trovão que irá irromper em exclamações: «Aleluia, porque o Senhor nosso Deus Todo-poderoso reina! Regozijemo-nos e nos alegremos e lhe demos glória; porque chegaram as bodas do Cordeiro, e sua esposa se preparou» (Apoc 19:6-7).

Então Cristo brilhará e será admirado em seus santos e glorificado em todos os que creem. A noiva será trazida diante do Rei, com alegria e gozo entrará no palácio. O cântico nupcial será um incessante Aleluia. Feliz a alma que responde a este convite amoroso!

Advertência

Leitor, você também tem este feliz privilégio de conhecer esta união, que dura para sempre, que fundamenta o seu coração em Cristo e a Cristo em ti? Lembre-se, pois, que esta bendita relação exige a sua fidelidade. O Senhor é zeloso do amor do seu povo. Não deves te afastar dele nem um só momento, nem em um só pensamento. Terás que ir com cuidado, porque já chegou os dias, os quais têm vindo estranhos professando ser os amigos do Noivo. Inclusive se levantam em púlpitos e falam em Seu nome. Mas é possível conhecê-los por este sinal: Exaltam mais à noiva que ao Senhor, enaltecem mais os seus regulamentos que a Ele mesmo, incitam-na a contemplar-se a si mesmo, a apoiar-se em si mesmo, a confiar em si mesmo e a decorar-se a si mesmo com os disfarces da falsa humildade e da superstição. Andemos com cuidado, o terreno é escorregadio. Pode parecer agradável a nossa natureza egoísta, mas isso nos desliza para o anticristo.

Se alguma alma mundana, cuja vida está ligada a outros afetos, ler estas linhas, não irá querer voltar-se para trás e romper os seus laços? As promessas do príncipe deste mundo são mentiras; sua porção é angústia, seu abraço a morte, sua morada a escuridão, seu leito as chamas de fogo, sua união um grito angustiado de agonia. Homens e mulheres consumidos na mundanidade, vocês podem amar a semelhante consorte?

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