Uma vida de consagração

A suprema importância da consagração é que nela reside nosso poder espiritual.

Luiz Fontes

«Pois eis que conceberás e darás a luz um filho; e navalha não passará sobre a sua cabeça, porque o menino será nazireo para com Deus desde o seu nascimento, e ele começará a salvar a Israel das mãos dos filisteus» (Jz. 13:5).

De todos os juízes de Israel, com exceção de Samuel, Sansão é aquele do qual a Bíblia nos dá mais detalhes. Portanto, o Espírito Santo colocou a história de Sansão para lembrarmo-nos de Israel acerca do seu chamado e de sua consagração.

Deus havia colocado Israel para que fosse Seu testemunho, a expressão de Sua glória e de Seu governo entre as nações. Mas, ao estudar o livro de Juízes, descobrimos que 111 anos foram perdidos. Foram anos de cativeiro, quase três gerações que não conheceram o propósito de Deus, não conheceram o que era uma vida de consagração, nem puderam conhecer o poder dessa consagração, o poder do testemunho. Isso é grave. Então, o Senhor deu a Sansão para lembrar a Israel da sua vocação celestial.

Preste atenção nisto, porque o Senhor nos está falando hoje. A Bíblia não é um livro de história – é a palavra escrita de Deus, cujo propósito é nos levar a palavra viva de Deus. Hoje, a história de Sansão é uma palavra viva para nós. Que o Senhor nos ajude nesta hora a perceber nossa real condição diante dele. Ele deseja nos levar a tocar especialmente aquelas áreas onde fomos deficientes quanto a nossa consagração.

Sansão viveu no tempo do sacerdote Eli. Naquele tempo, o sacerdócio tinha perdido sua visão espiritual, tinha perdido o significado do seu chamamento; era um sacerdócio corrupto. E agora Deus chama um juiz nazireo. Isto é muito significativo para nós. Em Números capítulo 6 vemos três requisitos para o nazireado. Mas, a diferença dos outros nazireos, cujo voto era por um breve período de tempo, o nazireado de Sansão seria por toda a vida.

Deus levantou a Sansão para mostrar a Israel a sua vocação espiritual. Ele não só foi chamado para destruir os seus inimigos, mas para recordar a Israel que eles tinham sido escolhidos de entre todos os povos para ser uma nação consagrada a Deus perpetuamente.

Nosso chamado

Sansão foi uma escola para Israel e, por meio dele, em nossos dias, o Espírito Santo nos fala de nossa condição, do nosso chamamento. Nós fomos comprados por Deus, através da obra de Cristo Jesus no Calvário. Somos um povo com um chamamento celestial. Não estamos aqui para viver a nossa história, mas para viver o propósito de Deus. A maior tragédia da vida não é a morte, mas viver e não conhecer o propósito eterno de Deus.

Para mostrar a sua vontade a o seu povo, Deus não levanta um sacerdote, mas a um juiz. Notemos alguns requisitos importantes. O primeiro deles é que Sansão deveria abster-se de beber vinho por toda a sua vida. Sabemos que, na tipologia cristã, alguns elementos da Bíblia têm um aspecto positivo e outro negativo. Um destes exemplos é o vinho. No aspecto positivo, ele nos fala da vida do Senhor, dessa vida que foi um resgate para nós.

Na mesa do Senhor, nós bebemos o vinho, porque participamos de Sua vida. A vida do Senhor é a nossa vida, e nós somos parte da sua vida. Esse é o aspecto positivo. No entanto, no aspecto negativo, o vinho nos fala do gozo deste mundo. Sansão não deveria beber vinho, ele não deveria desfrutar do gozo deste mundo, porque seu gozo deveria ser o Senhor.

Três mulheres, três fracassos

Sansão se envolveu com três mulheres. Com uma delas, casou-se; esta mulher ímpia representa o mundo. Depois, envolveu-se com uma prostituta; esta representa a sua carne. E logo se envolveu com Dalila, uma mulher que representa o poder satânico. Aqui vemos o mundo, a carne e o diabo na vida de Sansão.

 A vida de Sansão foi uma real contradição com respeito ao seu chamamento. Ele foi dotado com habilidades espirituais para ser um vaso que contivesse a Deus. O Espírito Santo estava sobre ele, o incitava e o capacitava; mas ele preferiu viver uma vida em completa oposição ao seu chamado. Esta é uma lição para nós; porque, sabendo que devemos viver uma vida de consagração, podemos estar vivendo uma vida como a de Sansão.

O mundo controla nossa carne e tenta governar a nossa alma. A alma nos fala do que sinto, do que penso e do que quero. Precisamos estar na luz do Senhor, e que essa luz penetre em nosso coração e nos revele quanto existe do mundo hoje em nós. Podemos não estar percebendo, o quanto temos tornado a nossa vida cristã em um entretenimento, apenas uma relação religiosa ou utilitária com Deus?

A vida cristã não é isso. Esses são caminhos perigosos, sedutores e sutis do poder do mundo. Tal como Sansão não deveria beber vinho, assim também o nosso gozo não deve estar neste mundo.

O mundo é uma entidade espiritual. O mundo (como um sistema) não foi criado por Deus; ele se desenvolveu a partir da geração de Caim. O mundo está em completa oposição a Deus. Nada do que há nele agrada a Deus. Nós estamos no mundo, mas ele não pode estar em nós. O inimigo usa o mundo para ganhar o nosso coração, e o aspecto mais trágico de sua obra é roubar de nós a presença de Deus. Se quisermos ter uma vida de consagração, não podemos ser governados pelo pensamento do mundo.

O contexto de Efésios 5

A primeira característica da nossa consagração é que a nossa alegria é o Senhor; a nossa alegria está nele. Efésios 5:18 lança luz neste primeiro aspecto da consagração. «Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução; mas enchei-vos do Espírito». Todos nós conhecemos este versículo, mas para conhecer toda a grandeza dele, é necessário conhecer todo o seu contexto.

Efésios 5:1 diz: «Sede, pois, imitadores de Deus como filhos amados». Há atributos de Deus que ele não transmite aos homens. Mas nele há também atributos comunicáveis, dos quais ele nos permite participar. Quando Paulo diz: «Sede, pois, imitadores de Deus», ele está se referindo a esses atributos comunicáveis. Então, todo este capítulo gira em torno deste imperativo.

Como imitar a Deus? Ao olharmos de uma maneira panorâmica, ele usa outro imperativo: «E andeis em amor» (V. 2). Andar em amor é imitar a Deus, porque Deus é amor. Mais adiante, diz o versículo 6: «Ninguém vos engane com palavras vãs, porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência». Há alguns paradoxos neste capítulo. Temos os filhos amados e também os filhos da desobediência. Os filhos amados são aqueles que imitam a Deus e andam em amor.

E quem são os filhos da desobediência? «Porque em outro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andeis como filhos da luz» (V. 8). «E não participeis das obras infrutuosas das trevas» (V. 11). «Vede, pois, com diligência como andeis, não como néscios, mas como sábios» (V. 15). Os filhos de desobediência são aqueles que andam em trevas, os néscios, que não podem imitar a Deus. É muito importante observar cada detalhe do contexto, para poder entender o que é uma vida cheia do Espírito Santo.

«Não vos embriagueis com vinho». À luz do contexto, embriagar-se com vinho, do ponto de vista da revelação espiritual, é viver uma vida em total desobediência a Deus, andar em trevas, andar como os néscios. Espiritualmente, um néscio não é uma pessoa que não crê em Deus, mas alguém que vive como se Deus não existisse. O néscio é um ‘ateu prático’, alguém que vive como se Deus não existisse. Não pensem em pessoas que estão fora da vida da igreja; há pessoas dentro dela que são néscios.

Sabem o que significa a vida cristã? Em seu sentido mais profundo, é ter os pés na terra e o coração no céu. Nós temos perdido a visão da eternidade; por isso, o mundo ganhou espaço em nós, e temos medo da morte. Mas Paulo diz que para ele «o viver é Cristo e o morrer é lucro». Ele não tinha medo de morrer porque Cristo era a sua vida. Nós temos que viver uma vida em fé, e para morrer, temos também que morrer na fé.

Paulo diz a Timóteo: «combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé». Quantos irmãos combateram pelo Senhor, e terminaram a carreira com fé! Infelizmente, muitos têm terminado a carreira sem combater o bom combate. Isto é sério. Só podemos combater o bom combate tendo como base a vida de consagração.

«Não vos embriagueis com vinho». Este é um paradoxo, porque do outro lado vemos: «Sede cheios do Espírito». Muitos cristãos hoje não são cheios do Espírito, porque estão embriagados, intoxicados, com a vida deste mundo. Sua vida, seu tempo, seu trabalho, sua família, tudo, está sob o governo do mundo.

Uma vida de oração

Geralmente dizemos que não temos tempo para oração; mas o tempo não tem nada haver com a oração, porque a oração não é algo que eu faço de vez em quando. A oração tem que ser nossa vida; ela é o nosso relacionamento com Deus. A oração é andar com Deus, é respirar a Deus. Não é algo que eu faço, é algo que vivo.

Isso é difícil, mas é possível. É aí onde entra a bendita pessoa do Espírito Santo. «E de igual maneira o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis» (Rom. 8:26). Quando a sua vida em nós é cultivada em um relacionamento consciente, você passa a ser ajudado por ele. A oração não só será parte das circunstâncias difíceis de sua vida. Você não orará apenas porque está procurando algo de Deus. Você começará a falar com Deus, mas, quando avançar, verá que existe outro lado da oração.

A esfera mais alta da oração não é o que falamos com Deus; é o que ele nos fala. «Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas que não sabes» (Jer. 33:3). Quando você orar, e apresentar um problema a Deus, ele te mostrará algo muito mais elevado, e usará aquele problema para te revelar o Seu coração, porque ele também tem situações gravíssimas pelas quais está chamando a sua atenção, pois você é o vaso que ele quer usar, porque existe oposições nesta terra.

Há uma luta em curso nesta terra. Satanás tem feito uma grande oposição ao propósito de Deus. Há muitas situações divinas, coisas espirituais implicadas, coisas que não somos humanamente capazes de discernir. Mas o Senhor cria situações para nos mostrar coisas muito mais elevadas.

Quando você ora, verá que os assuntos do Senhor são muito mais elevados que os nossos. Quando você compreende o que é orar, entende que orar é participar do coração de Deus. Deus responderá. Mas, quando você ora, não o faz para realizar a sua própria vontade, mas a vontade de Deus. Nós não oramos para mudar a Deus; quando oramos, nós somos transformados.

Momento crítico

Vivemos um momento crítico. O mundo tem tomado forma sutil dentro da vida da igreja. E nós podemos seguir ao Senhor como Israel no tempo de Saul, quarenta anos sem a arca. Saul reinou sem o testemunho da presença da glória de Deus. Esta é uma lição para nós. Podemos seguir, dizendo que somos a igreja, que somos o corpo de Cristo, mas isso pode ser apenas teórico.

O que é o que existe de realidade como igreja à partir da minha vida, do meu casamento, dos meus filhos, do meu trabalho? O que significa ser um membro do corpo de Cristo? É algo teórico ou algo prático? O mundo pode deformar os nossos conceitos. «Não vos embriagueis com vinho». A nossa alegria não está neste mundo. Fomos chamados para imitarmos a Deus, para andarmos na luz.

Realidade espiritual

Deus está nos chamando para andar em realidade espiritual. Se nosso andar não tem realidade espiritual, somos teóricos. Podemos cantar e pregar. Mas, qual é o testemunho disto? Será que, em sua casa, em seu trabalho, na universidade, onde quer que esteja, os outros percebem a fragrância de Cristo?

Estamos vivendo um tempo de estrema indiferença, onde ser cristão é uma moda, uma opção de vida. Mas ser cristão é muito mais do que isso. Nós somos como aqueles pães da proposição. Na tipologia do Antigo Testamento, no tabernáculo, em primeira instância, aqueles elementos apontam para Cristo e a sua obra, porque ele é a grande proposta de Deus para este mundo. Mas a proposta de Cristo para este mundo somos nós. Este mundo ainda não entrou em um real colapso, porque nós ainda estamos aqui, e fomos chamados para preparar o caminho para a volta do nosso Senhor Jesus Cristo.

Os juízos de Deus

O Senhor julgará às nações, aos poderosos deste mundo, e ele não o fará à parte da igreja. Em Gênesis 15:13-16, quando Deus dá a Abraão um resumo de toda a história dos seus descendentes até a entrada em Canaã, diz-lhe que isso não aconteceria enquanto não enchesse a medida da «iniquidade dos amorreus».

No livro de Números, Israel peregrinou 42 estações. No capítulo 21, eles chegaram à estação número 38, que se chamava Ije-Abarim. Em hebreu, a raiz dessa palavra significa «a medida da iniquidade». Esta era a medida, o tempo em que Deus julgaria os amorreus.

Canaã nos fala da plenitude de Cristo. Antes que Israel entrasse em Canaã, Deus usou a Israel para julgar e destruir a essas nações ímpias, e não fez isto à parte de Israel. Apocalipse 8:1-5 diz que as orações dos santos subiram até o trono de Deus, e quando elas tocaram o trono de Deus, sete anjos tomaram suas trombetas para tocá-las. Ao estudar aquela passagem, uma parte dessas trombetas nos fala do juízo das nações.

Deus não julgará a esta terra à parte da igreja. Por isso, ele deseja restaurar o lugar da oração entre nós, e por isso nos fala acerca da importância da vida de consagração, porque nela reside o nosso poder espiritual. Então, depois da oração dos santos, os anjos irão tocar as trombetas. Antes que entremos na realidade do reino de Deus, na eternidade vindoura, Deus julgará a estas nações, por meio da igreja. Deus está nos falando isto hoje. Não somos um povo qualquer.

Cheios do Espírito

«Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução». Imaginem quanto libertinagem existe no mundo. Estas coisas são perversas; elas existem com o propósito de roubar de dentro de nós a presença de Deus. Mas, por outro lado, Paulo diz: «Sede cheios do Espírito».

Sansão não podia viver uma vida conforme ao padrão deste mundo. Romanos 12:1 diz: «Rogo-vos, pois… que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, e agradável a Deus». Dia após dia, temos que nos negar, temos que desejar viver uma vida consagrada. Esse é o nosso chamamento. Como vamos experimentar o poder espiritual sem a consagração?

O contrário disso é viver a vida que Sansão viveu, é banalizar o espiritual. Então vamos banalizar a adoração, a oração, a palavra, as reuniões, a comunhão. Todas as coisas santas se tornam mecânicas. Isso não é o que Deus quer para nós. Fomos chamados para viver a vida cristã além do véu, em um plano muito mais elevado.

«Não vos embriagueis com vinho… antes enchei-vos do Espírito». É um imperativo. Nós somos filhos da luz, ou somos filhos da desobediência? Fomos chamados para ser filhos amados, para ser homens e mulheres cheios do Espírito Santo.

«Sede cheios do Espírito» é uma ordem de Deus. Se amanhecermos um dia sem estarmos cheio do Espírito Santo, estamos em desobediência. Se não estamos cheios do Espírito, de maneira natural, estaremos cheios da alegria deste mundo. Isso é uma tragédia. A igreja não pode viver assim, porque se não vivermos uma vida cheia do Espírito, perderemos a nossa consagração. Este é o primeiro requisito de uma vida consagrada.

Paulo continua segue falando a respeito de uma vida cheia do Espírito Santo. Ele dirá às mulheres que estejam sujeitas, e aos maridos que amem a suas esposas como Cristo amou à igreja. As mulheres jamais conseguirão viver uma vida de submissão aos seus maridos se não forem cheias do Espírito.

Irmã, se você tem dificuldade com respeito à submissão, seu problema não é a falta de submissão, mas o fato de estar vazia do Espírito Santo. Não ore pedindo submissão. O seu problema mais grave é que está em desobediência, não só a seu marido, mas a Deus. A falta de submissão é uma consequência. Peça ao Senhor que te encha do seu Espírito Santo. É dele que você precisa. A sua submissão vai fluir da vida cheia do Espírito.

E quanto aos maridos, quantos deles têm dificuldade para amar as suas esposas! Alguns dizem que as ama, mas amam eroticamente ou de maneira emocional. É um amor que está ligado a aquilo que a mulher pode dar. Mas a Bíblia fala de um amor que o homem natural não é capaz de dar, porque diz que temos que amar as nossas esposas «como Cristo amou a igreja».

Será que nossas esposas se sentem amadas por seus maridos assim como nos sentimos amados por Cristo? Na verdade, isto é impossível; por isso é que o Espírito Santo veio morar em ti. O seu problema não é a falta de amor, é falta de enchimento. Senhor, encha-me do teu Espírito, para que eu possa amar a minha esposa, e para que ela se sinta amada, assim como a igreja se sente amada por ti!

Tudo tem haver com uma vida de consagração. Isto acontece com todos nós, porque existem situações que não podemos ver por nós mesmos. Mas Deus envia a sua palavra, e ela tira todos os véus que cobrem os nossos erros e os nossos pecados. Agora, ao ver-nos na luz do Senhor, temos que clamar: «Senhor tem misericórdia de mim!», porque ele quer ter uma igreja consagrada, comprometida, envolvida, com ele.

Um problema de obediência

Esta é uma ordem, e não é uma ordem que temos que obedecer amanhã, mas agora. Se prosseguir com a sua vida vazia do Espírito Santo, o seu problema não é o estar vazio, mas a desobediência a Deus. A Bíblia diz que a desobediência é como o pecado de feitiçaria. Isto é muito sério. Temos que ir aos pés do Senhor e pedir que sejamos cheios do Espírito.

O que representa a sua vida diante de Deus? Qual é o seu chamamento e a sua consagração? O Senhor está nos falando contigo e a mim hoje. Que você permita que a sua palavra seja como uma cunha abrindo o seu coração. «Sede cheios do Espírito». A frase está no presente do indicativo. Se o imperativo estiver no presente do indicativo, indica que a ação do verbo está em continuação. Significa que esta é uma experiência contínua e ascendente; tem que crescer cada dia mais e mais.

Se você não busca o enchimento do Espírito de maneira crescente, também isso é desobediência. Temos que cultivar uma vida com Deus todos os dias. Precisamos andar no Espírito todos os dias. No entanto, não necessitamos do Espírito Santo apenas para nos encher; necessitamos também que o sangue de Cristo nos lave dos pecados e que o Espírito nos convença de pecado e nos leve a um genuíno arrependimento, não a um arrependimento emocional, aquele onde só nos arrependemos para pecarmos de novo.

«Sede cheios do Espírito». Nos fala no plural; não é apenas uma experiência pessoal, mas um mandamento para toda a igreja. Todos devemos viver uma vida gradualmente cheia do Espírito. O arrependimento que precisamos ter é aquele em que chegamos a sentir a dor de Deus pelos nossos pecados. Isso é o que o Senhor quer fazer, porque a situação é muito mais grave. Necessitamos que o sangue nos lave de todas as nossas iniquidades e que o Espírito Santo se derrame em nossa vida e restaure a nossa condição, para que possamos viver uma vida de consagração a Deus.

Sacrifício vivo

Voltemos para Romanos 12:1: «Rogo-vos…que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus». A palavra principal aqui é sacrifício. Como tem que ser este sacrifício? Vivo. Quando as pessoas olharem para você, elas têm que ver a marca da cruz, a realidade do caminho da cruz. É algo visível. Um sacrifício vivo é uma vida completamente oposta à vida deste mundo.

Não só vivo, mas «santo, agradável a Deus, que é o vosso culto racional». Tem que ser com entendimento. Devemos saber o que isso significa, o que isso realmente representa em nossa vida neste mundo. E em seguida diz: «Não vos conformeis a este mundo…». Não entre na forma deste mundo. Uma vida à parte deste mundo é uma vida consagrada a Deus, é ser um sacrifício vivo neste mundo, uma vida que agrade a Deus, em completa oposição à vida mundana.

«Não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento» (V. 2). Nossa mente precisa ser renovada. E ela é renovada quando nossa vida é um culto racional. Se tivermos uma vida cujo culto é com consciência, teremos uma mente renovada. A mente renovada nos dá consciência do que significa uma vida consagrada. Aí experimentaremos «qual seja a boa vontade de Deus, agradável e perfeita».

Quanto mais o Senhor nos dá, mais o inimigo investirá contra nós. Sabe qual tem sido o maior erro do povo de Deus na história? Desprezar a palavra de Deus. É quando a palavra de Deus se torna apenas conhecimento ou informação, quando perde seu valor e seu caráter espiritual.

Permitam-me encerrar dando um exemplo. Em Jeremias capítulo 35, está escrita a história dos recabitas. Conhecemos o ministério de Jeremias. Ele pregou quarenta anos, e o povo resistiu quarenta anos. Você poderia sobreviver pregando a palavra sem ninguém te escutar?

O Senhor disse a Jeremias: «Vá até os recabitas, toma-os, leva-os ao templo, e ofereça-lhes vinho». Assim o fez Jeremias, e eles disseram: «Não beberemos, porque nosso pai Jonadabe nos disse que jamais bebêssemos vinho, e não podemos desobedecer o mandamento do nosso pai». Em seguida, o Senhor disse: «Está vendo, Jeremias? Estes obedecem a palavra de seu pai, mas meu povo não me quer ouvir».

Sabem qual é a explicação para o cativeiro da Babilônia? Não foi simplesmente pecado sobre pecado. O pecado sobre pecado foi a consequência do desprezo à palavra de Deus.

Sabe o que o inimigo tem tratado de fazer? Depreciar a palavra de Deus. Por um lado, ele desvaloriza a palavra; e, por outro lado, vai diluindo ela. E vamos acostumando a mensagens comuns, sem vida, intelectuais. O intelectualismo tem roubado o lugar da revelação.

Aqui está o destino e a espiritualidade da igreja. A sua visão e a sua vocação deve ter esta palavra como fundamento: consagração. Mas o inimigo não vai descansar; ele fará tudo para mudar o curso da sua vida. Então, presta atenção. O Senhor está nos falando aqui. Os recabitas guardaram a palavra, por isso eles não bebiam vinho.

Vigiando sua Palavra

Esta é a explicação para o cativeiro. Deus disse a Jeremias: «O que vês, Jeremias?». Ele disse: «Vejo uma vara de amendoeira». O Senhor disse assim: «Viste bem, porque eu velo por minha palavra» (Jeremias 1:11-12). Este texto parece muito simples, mas não é. No original hebraico, quando o Senhor disse: «O que vês, Jeremias?», ele disse: «Eu vejo uma vara de amendoeira». A palavra aqui é shaked. E quando o Senhor disse: «Eu velo (vigio) por minha palavra», velo é shakad. É uma pequena mudança.

Quando se traduz esse texto, «eu velo», significa estar olhando constantemente. O Senhor está dizendo: «Eu não tiro os meus olhos da minha palavra». A amendoeira é a primeira das árvores que floresce na primavera. Isto nos fala da frutificação, de algo novo que está por vir. É como se o Senhor estivesse dizendo a Jeremias o que vai viver em seu ministério. «Será muito difícil, mas nunca esqueça, eu não tiro os meus olhos da minha palavra. Minha palavra é algo muito importante para mim. Algo novo vai fluir, algo vai surgir. Olhe para a amendoeira, e eu vou olhar para a minha palavra».

Um horror

Sabem como termina a história de Jeremias? Os eruditos dizem que, no final da destruição de Jerusalém, ele subiu para um monte e ali, em uma caverna, escreveu o livro de Lamentações. No original hebraico, esse livro não se chama Lamentações, mas Horror ou Espanto.

Imagine um pai que ao final do dia chega a sua casa, e quando abre a porta, encontra toda a sua família despedaçada. Um bandido entrou e matou toda a sua família, e jogou seus membros por toda parte. Quando o pai olha aquilo, entra em um estado de espanto indescritível. Isso significa o nome do livro de Lamentações – espanto, horror. No entanto, os editores da Bíblia acharam que era mais suave chamá-lo Lamentações.

Sabem o que isso significa? É o resultado de não ouvir a palavra. O que se descreve neste livro é o espanto, o horror do coração de Deus, porque o seu povo não guardou a sua palavra. Ele mantém os seus olhos sobre a sua palavra, e ele nos convida hoje a guarda-la, a abraçar a sua palavra em nossos corações.

Mesmo que nossas forças sejam tão poucas, o Espírito Santo está aqui. Ele pode nos ajudar. Não perca esta vida de consagração. Que o Senhor nos ajude, em sua infinita misericórdia.

Síntese de uma mensagem compartilhada em El Trébol, Chile, em Janeiro de 2013.

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