ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
Segundo a força da sua glória
Deus está determinado a trabalhar em nossas vidas, e não se deterá até que mais e mais de Cristo seja visto em nós.
Romeu Bornelli
«… a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra, e crescendo no pleno conhecimento de Deus, sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória…» (Col. 1:10-11).
A contemplação de Cristo
Se quisermos glorificar a Cabeça, há uma primeira grande necessidade – a contemplação da glória de Cristo. Este assunto tem perdido lugar na cristandade. Somos um povo atarefado demais, e isso nos tem feito perder a contemplação de Cristo.
Por mais incrível que pareça, podemos perder a contemplação de Cristo por causa da obra de Cristo. Este é um risco sempre presente. Por isso, Paulo quando ora aos Efésios no capítulo 1, pede «espírito de sabedoria e de revelação». Se perdermos a Cristo de vista na obra de Cristo, na igreja de Cristo, nós perdemos tudo.
Filiação e sacerdócio
Em uma ocasião anterior mencionamos as maravilhosas palavras do Senhor Jesus a Maria Madalena: «Não me detenhas, porque ainda não subi a meu Pai; mas vai ter com os meus irmãos, e lhes diga: Subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus». «Meu Pai», era a exclusividade do Senhor Jesus. Era seu Pai e apenas dele, do Filho eterno. E agora ele acrescenta: «…e o vosso Pai».
O Senhor Jesus introduz aqui um conceito novo. Ele nunca tinha tratado antes os seus discípulos de irmãos; eles não eram senão seus discípulos, seus servos, seus amigos. Não havia comunhão de natureza. Mas agora chegou o dia. Ele se ofereceu no Calvário; seu lado foi ferido, e dali brotou sangue e água – sangue para redenção e água para regeneração.
Agora, por causa do sangue e da água, que falam de sua obra completa, podemos ser participantes da natureza divina. Agora ele pode chamá-los de irmãos, e pode trazer o seu Pai para ser o «vosso Pai» e o seu Deus a ser o «vosso Deus. Isto resume a mensagem de toda a Bíblia – a linha da filiação e a linha do sacerdócio. Nós servimos a Deus como sacerdotes, e amamos a Deus como filhos. Que privilégio!
Santificação
Por isso quando Paulo ora em Colossenses, sua oração é uma luta. E quais eram os alvos da sua oração? Em primeiro lugar, «…de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade». Que necessidade é esta, irmãos! Duas vezes, nesta oração de Paulo, aparece a expressão «cheios do conhecimento» ou pleno conhecimento (epignosis). Versículo 9: «pleno conhecimento da sua vontade», e no final do versículo 10: «pleno conhecimento de Deus».
Este é um assunto tão prático. Como podemos chegar ao pleno conhecimento de Deus? Dando passos de obediência, de acordo com a luz que temos do conhecimento de sua vontade. Nunca poderemos chegar ao pleno conhecimento de Deus se não estivermos respondendo individual e corporativamente a aquilo que de Deus nos tem sido revelado como sendo a Sua vontade.
A vontade de Deus tem um aspecto geral e um aspecto particular. Qual é a vontade geral de Deus? 1ª Tessalonicenses 4 o resume assim: «…esta é a vontade de Deus a vossa santificação» (4:3). E, o que é a santificação? Nosso Senhor Jesus é o Santo, e ser santos é sermos tornados parecidos com Cristo. Santificação é Cristo formado em nós. Hebreus diz que, sem santificação, «ninguém verá o Senhor». Então, se ele não for formado em nós, não poderemos contemplar a Cristo, ver-lhe face a face.
Também Romanos 8:28-30 expressa essa vontade geral de um modo muito amplo. Paulo começa a sua oração aqui com o pleno conhecimento de sua vontade. E Romanos 8:28 diz: «E sabemos que todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus». Este bem não é o nosso bem-estar – é o bem que é o propósito de Deus. «…isto é, aos que são chamados segundo o seu propósito».
O bem de Deus é o propósito de Deus. «Aqueles que antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos» (V. 29). Que propósito maravilhoso! Tudo está cooperando para isto.
Irmão, você está contente de ser quem você é? Por um lado, sim estamos, pois somos filhos e servos de Deus. Mas, por outro lado, não estamos contentes conosco mesmos. Não é verdade? «Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum… Miserável homem que eu sou!».
O que é que estamos aguardando? Na vida cristã há uma tensão, expressa em 1ª João capítulo 3, entre o «agora» e o «ainda não». Vejam como João diz isto: «Vejam com que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus» (3:1). De fato, já somos filhos de Deus. Isso é o agora.
«Amados, agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser» (V. 2). E, o que é o que havemos de ser? «…semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é». Então, o que é que fazemos agora? João continua nos ensinando. «E todo aquele que tem esta esperança nele, purifica-se a si mesmo» (V. 3). Qual é esta esperança? Ser como ele é. Então, quando estiver aflito ou em tribulações, não murmure, não reclame, não se queixe porque todas as coisas cooperam para o bem do propósito de Deus.
Formando o caráter
Hebreus capítulo 12, quando fala sobre a disciplina do Pai, diz assim: «Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor», pois ele nos corrige como a filhos. «Que filho há a quem o pai não corrige?». E ele diz: «…vós estais esquecidos». Do que? Ele corrige a quem ama.
Quando Deus começa a nos corrigir, a nossa primeira tendência é questionar o seu amor. ‘Oh!, Deus não me ama. Vejam o meu estado, a minha condição: tristezas, sofrimentos, privações, dores. Isso não pode ser o amor de Deus’. No entanto, em Seu amor, ele está regulando todas as coisas.
Sim, há sofrimentos que são resultado de nossos pecados. Quando semeamos na carne, dela colhemos corrupção. Mas há algo ainda verdadeiro: Deus é capaz inclusive de usar os nossos descaminhos para nos disciplinar, assim como nós fazemos com nossos filhos de modo imperfeito. Hebreus diz que devemos estar em submissão ao Pai dos espíritos, e então viveremos.
Davi pecou horrivelmente; ofendeu a Deus, entristeceu ao Espírito Santo e colheu o resultado dos seus pecados em sua própria casa. Mas ainda assim, o Senhor usou todas aquelas circunstâncias para fazer de Davi um homem segundo o Seu coração. Deus está determinado a trabalhar em nossas vidas, e não vai parar até que mais e mais de Cristo seja visto em nós.
Não se engane, irmão; não olhe para as pessoas, o mundo, as circunstâncias. Olhe para a mão que segura a faca. Ela toma a faca e faz uma obra maravilhosa, dividindo a alma do espírito, as juntas e as medulas, e sondando os pensamentos e os propósitos do coração. Essa é a determinação de Deus.
Sacrifício vivo
Imaginem se o sacerdote perguntasse ao animal do sacrifício: «Você quer morrer?». O que o animal diria? E se o sacerdote perguntasse assim: «Depois que você morrer, vou arrancar-lhe o seu couro. Quer que faça isso?». O que responderia o animal? Sairia correndo do sacerdote! Mas, o Senhor nos pôs em seu altar, chamou-nos para ele e nos diz: «…apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, e agradável a Deus».
Aqui não está falando da reunião de igreja. É muito mais amplo que isso. É nosso culto de 24 horas por dia. Nosso serviço é apresentar nossos corpos como um sacrifício. E o que é que ele vai fazer? Uma hábil cirurgia. Ele tomará a sua faca para nos abrir ao meio. Este é um ato de amor, porque dentro de nós há tantas cavernas, más intenções, motivações impuras, segredos do coração. O sumo sacerdote tomará a sua faca, tirará a nossa pele, vai nos abrir ao meio e vai tirar as nossas entranhas. E sabe o que ele faz com as nossas entranhas? As lava com água. Esse é o trabalho do sacerdote.
Por isso, Paulo fala assim em Efésios 5: «Cristo amou à igreja, e se entregou a si mesmo por ela, para santificá-la, tendo-a purificado, por meio da lavagem de água pela palavra». Isso é o que o Senhor está fazendo conosco hoje. Ele não quer nos lavar por fora; ele quer lavar nossas entranhas. «Filho meu dá-me o teu coração… porque dele procedem as fontes da vida» (Prov. 23:26, 4:23).
O Senhor sabe de onde estamos derivando vida. Somos como um grande polvo, que tem muitos tentáculos, para agarrar tudo o que passa perto de nós. Agarramos isto e isso e aquilo, porque queremos derivar vida dessas coisas, e que erros nós cometemos.
Vejam na vida conjugal. Naturalmente falando, por que os jovens se casam? Para derivar vida de outro para eles. O mandamento é: ‘Me satisfaça, me sirva, me faça feliz’. Na vida de igreja ocorre o mesmo. E vamos estendendo os nossos tentáculos, procurando derivar vida de todas estas coisas. E o Senhor toma sua faca e vai cortando nossos tentáculos. Nossa alma vai se murchando. E varias vezes vamos murmuramos contra Deus, nos queixando; mas ele quer nos levar a única Fonte. Nós cavamos cisternas rotas, porque não compreendemos a sua vontade: «…vos transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade».
Transformados
Se compreendermos qual é a sua vontade –nos transformar de gloria em gloria a sua própria imagem– então vamos olhar tudo de maneira diferente. Veremos o nosso cônjuge, os nossos filhos, os nossos irmãos, e aos do mundo, de uma maneira diferente. Tudo será diferente, porque agora estamos compreendendo a Sua vontade, e ele vai usar todas as coisas cooperando para esse bem. Esse é o pleno conhecimento de sua vontade. Que o Senhor nos ajude a estar centrados nessa vontade.
Também existe a vontade particular de Deus, e precisamos conhecê-la passo a passo. Conhecemos a vontade de Deus por um ato de revelação, que logo vai se ampliando, ganhando mais profundidade.
O que o Senhor fez com Abraão é um modelo de nossa vida de fé. Quando o Senhor chamou a Abraão, Hebreus 11 diz que Abraão «partiu sem saber para onde ia». O que Abraão já sabia? Algo da glória daquele que o chamou. Como sabemos? Não pelo livro de Gênesis, mas pelo livro dos Atos, no discurso de Estevão.
Atos 7:2: «O Deus da glória apareceu a Abraão». Então Abraão já conhecia algo do Deus da glória, e aquele momento foi suficiente para ele, para que não necessitasse de um mapa de Deus. Porque ele poderia dizer ao seu Deus da glória: «Para onde nós vamos? Qual é o mapa? O que vais fazer comigo? Para onde vais me levar? Quais serão as consequências?». Mas não foi nada disso que aconteceu. Ele partiu sem saber para onde ia.
Este é um princípio tão importante. Nós não necessitamos de nenhum mapa; precisamos conhecer o Deus da glória, conhecer a glória de Deus, para assim poder, passo a passo, responder a sua vontade. Deus não nos dará um mapa do caminho, mas irá revelando paulatinamente sua vontade. Para isto, precisamos ouvidos que ouvem, um coração que o ama e um desejo de lhe obedecer.
Lição séria
Deus tem prazer em revelar a sua vontade. Ele não brinca conosco. Mas a sua vontade tem um tempo e um modo. Quando Saul estava no trono, Davi foi ungido. Deus iria colocar Davi no trono. Aquele era um modo de Deus, mas ainda não era o Seu tempo. Então, quando Davi estava naquela caverna e Saul entrou ali, os valentes disseram a Davi: «Agora é o tempo. Você já é o ungido do Senhor. Tira a Saul do caminho e sente-se no trono». Mas Davi não fez isso. Ele sabia que era fácil para ele matar a Saul, mas não o fez, porque conhecia o sentido de autoridade e sabia esperar o tempo de Deus.
Deus é a única fonte de autoridade. Se ele não estiver presente, não há autoridade. Sabendo isto, Davi esperou a vontade de Deus no tempo de Deus. Esta é uma lição vital que temos que aprender durante toda a vida.
Em Colossenses, Paulo menciona a epignosis da Sua vontade e a epignosis de Deus – o pleno conhecimento da Sua vontade e o pleno conhecimento de Deus. Conhecer a vontade de Deus e obedecê-la é o caminho para se conhecer plenamente a Deus. Não podemos inverter isto. Se não respondermos a Sua vontade, andando de acordo com a luz que já temos alcançado, em obediência, nunca chegaremos ao pleno conhecimento de Deus.
Noemi, a vontade de Deus
Vejamos o exemplo de Rute. Que maravilhoso livro! Noemi, a sogra de Rute, representa ali a vontade de Deus. A vontade de Deus aqui é uma só – que Rute encontrasse a Boaz, porque, através da união de Rute com Boaz, teríamos a Obede, que é o pai de Jessé, que é o pai de Davi.
A última palavra do livro de Rute é Davi. A vontade de Deus era Davi, um homem segundo o Seu coração. Mas, o que é que teria que acontecer? Aqui está aquela moabita, que não pertencia ao povo de Deus, estranha às alianças da promessa, uma viúva sem esperança e sem Deus no mundo.
Noemi olha para as suas duas noras, Orfa e Rute, e lhes diz: «não tenho mais filhos no ventre para vos dar, que possam ser seus maridos? Voltem, minhas filhas, e vades ». Rapidamente, Orfa desistiu e abandonou a Noemi, retornando para o seu povo e os seus deuses. Mas Rute fez um voto, e aquele voto está relacionado com a vontade de Deus— Davi. Sem Noemi, nunca haveria Davi, porque, sem ela, Rute não encontraria a Boaz.
Rute diz a Noemi: «Não me instes para que te deixe, e me obrigue a não seguir-te; porque para onde quer que tu fores, irei eu, e em qualquer lugar que pousares, ali pousarei eu. O teu povo será o meu povo, e o teu Deus o meu Deus». É o voto que nós devemos fazer com relação à vontade de Deus. Nada que não seja a morte deve nos separar da sua vontade.
Noemi significa doçura. Mas, a vontade de Deus também pode ser Mara: «Não me chamem mais Noemi, mas me chamem Mara –amarga– ; porque em grande amargura me pôs o Todo-poderoso». Rute seguiria a Noemi não só quando esta era doce, mas quando Noemi era amarga.
Rute permaneceu fiel à vontade de Deus. Ao entrar no campo de Boaz, ela não conhecia a Boaz, não sabia nada a respeito dele. Rute foi colher espigas. Ela era uma mulher gentia, mas, de alguma maneira ela conhecia a palavra de Deus. Rute disse a Noemi: «…colherei espigas por detrás daquele a cujos olhos achar graça». Deuteronômio 23 diz que o povo de Israel não deveria colher absolutamente tudo, mas deixar espigas para o órfão, para a viúva e para o estrangeiro.
Rute uma moabita, mesmo sendo uma gentia, se agarrou à vontade de Deus –Noemi– e se agarrou à palavra do Senhor. Rute disse: «…colherei espigas». Há uma palavra linda no capítulo 2 de Rute. O Espírito Santo escolheu a palavra casualidade. Diz que Rute, por uma casualidade, entrou no campo de Boaz. Isso não é uma casualidade – é a soberania de Deus. São os arranjos de Deus, mas para Rute era uma casualidade.
Deus governa as circunstâncias, ele é o Deus da providência. Para Rute, foi casual; mas, para Deus foi proposital. Rute se apegou à vontade de Deus. Ela entrou no campo do Boaz, e este chegou ao campo ao final da tarde e perguntou quem era essa moça.
Aquele foi o primeiro encontro. Eles disseram: «É a jovem moabita, que voltou com Noemi dos campos de Moabe». Ele se interessou por Rute e quis saber dela. Disseram-lhe: «Ela está desde a manhã até agora, sem descansar nem mesmo por um momento». Então, Boaz diz a Rute: «Ouça, minha filha, não vás colher em outro campo». O que significa isso na linguagem do Novo Testamento?
Boaz é uma figura de Cristo. As riquezas do campo de Boaz são figura das riquezas insondáveis de Cristo. Então, quando diz a Rute: «Não vás colher em outro campo», isso significa: «Não ameis o mundo». Cristo, nosso Boaz, é quem nos diz: «Não vás colher em outro campo… Não ameis o mundo». Então, Boaz acrescenta: «Aqui ficarás com os meus servos». Qual é o caminho para conhecer plenamente a vontade de Deus? Qual é o caminho de Deus para a união com Cristo? Rute e Boaz – Cristo e a igreja.
«Não vás colher em outro campo. Aqui ficarás com os meus servos». O que significa isso na linguagem do Novo Testamento? «…compreender com todos os santos qual seja a largura, o comprimento, a profundidade e a altura, e de conhecer o amor de Deus, que excede todo o entendimento».
Aquele livro maravilhoso nos leva do conhecimento da vontade de Deus até o conhecimento de Deus. Boaz é figura de Cristo. No capítulo 1, Rute é uma estrangeira. Ela é estranha às alianças da promessa. No capítulo 2, Rute está nos campos de Boaz, e no capítulo 3, ela é a serva de Boaz. Ela descobre os pés de Boaz, quando ele está dormindo na eira, e Boaz, despertando como que assustado, pergunta-lhe: «Quem é você?». E ela diz: «Eu sou Rute tua serva». Mas, no capítulo 4, Rute é a esposa de Boaz.
Essa é a nossa história. Nós éramos gentios, estranhos às alianças da promessa. Fomos levados aos campos de Boaz, às riquezas insondáveis de Cristo. Não vamos colher em outros campos; aqui permanecemos com seus servos, e então nos tornamos servos de Cristo. E, finalmente, somos a esposa de Boaz, as bodas do Cordeiro.
Vontade geral e vontade particular
O caminho para o pleno conhecimento de Deus é o pleno conhecimento de sua vontade. Que o Senhor nos ajude, e nos revele sua vontade geral e sua vontade particular com relação a nossas vidas, nossa família, nossos relacionamentos, a vida de igreja, nossos trabalhos, o comprar, o vender, o vestir. Quanto mais respondemos à vontade de Deus, mais entramos na plenitude de Cristo.
Colossenses 1:9 e 10 nos fala do pleno conhecimento de sua vontade e o pleno conhecimento de Deus. Primeiro diz: «em toda sabedoria e entendimento espiritual». Assim vamos conhecendo a vontade de Deus. Deus se agrada em nos revelar a sua vontade. E, para que nos revela a sua vontade? Para que nós obedeçamos.
O Senhor não lança o conhecimento em nosso colo. O genuíno conhecimento espiritual vem pela obediência. Em cada passo, conhecemos e fazemos a vontade de Deus. «aquele que me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada». Quão importante é isto!
E, qual é o propósito? «…a fim de viverdes de modo digno do Senhor» (V. 10). A palavra digno, aí, tem o sentido de harmonia. Paulo também a usa em Efésios 4:1: «Vos rogo que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados». Não aponta apenas para o ponto da dignidade. Mas também para o andar digno, aponta para aquele maestro que está com a sua batuta, regendo uma orquestra e eles tocam os instrumentos de maneira harmônica.
Nosso Deus e Pai, em Cristo Jesus, pelo Espírito, é o nosso Maestro. Ele rege a orquestra e, à medida que vamos conhecendo e obedecendo a vontade de Deus, então andamos de modo harmônico ou digno. Graças ao Senhor, esta dignidade é o resultado da obediência. Viver de modo digno do Senhor.
Agradando ao Senhor
A próxima frase é: «agradando-lhe em tudo». Aqui está o segredo do poder espiritual. O poder espiritual não é barulho, não é oratória, não é eloquência – é agradar a Deus. Quando agradamos a Deus, temos poder espiritual, porque ele se agrada daqueles que o agradam, e os honra.
A pergunta que precisamos fazer sempre não é se isto é bom ou mau. Muitas coisas são boas, mas não nos convêm. A pergunta que precisamos fazer é: «Senhor, isto é agradável a ti?». Quando uma irmã veste uma roupa, antes de perguntar ao seu marido se ela está bem, precisa perguntar: «Senhor, isto te agrada? Do meu vestido, do meu decote, do comprido das minhas saias?».
«…agradando-lhe em tudo», é a motivação da vida cristã. Com esta motivação como pano de fundo, Hebreus capítulo 12 diz: «Assim, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradando-lhe em tudo com temor e reverência». A motivação do serviço a Deus não é o pragmatismo. ‘Oh!, isso é bom, isso funciona’. Esses não são os parâmetros. A pergunta é: «Senhor, isto te agrada? Está satisfeito da minha vida pessoal e familiar, da vida da igreja, do serviço, do ministério?
O segredo da vida humana do Senhor Jesus era um só. A sua satisfação era contemplar sempre a face sorridente de seu Pai. Ele podia suportar tudo –a traição de Judas, a negação de Pedro, o abandono de todos– desde que ele mantivesse a face sorridente do Pai. Por isso Paulo ora «…para que andeis como é digno do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no pleno conhecimento de Deus».
A força da sua glória
Nos versículos 11 e 12, falando sobre o caminho para conhecer a Deus, Paulo diz: «…sendo fortalecidos com todo poder, segundo à força da sua glória». Como somos fortalecidos? «…segundo à força da sua glória». Literalmente significa: «segundo a sua majestade pessoal».
Vejamos outra ilustração. Recordemos de Davi. No Salmo 63, quando Absalão se rebela contra ele e usurpa o trono, Davi sai de Jerusalém, pois compreende que o assunto do trono é uma questão do próprio Deus. Ele é quem estabelece reis e quem remove reis. Então, Davi não luta pelo trono; ele se retira de Jerusalém, deprimido. Há duas formas de vermos esta depressão. Uma é a maneira egocêntrica. Como que Davi pensando em si mesmo: ‘Oh!, perdi o meu trono! Meu filho está em meu trono’. Mas não. Davi saiu de Jerusalém deprimido porque ele sabia que Deus julgaria a Absalão por tocar a autoridade de Deus.
Em 2 Samuel 15 e 16, vemos isto claramente. No capítulo 16, Simei, um descendente de Saul, se põe junto à caravana de Davi e amaldiçoa a Davi. Davi tinha tomado o lugar de Saul. Então, Simei diz: «Fora, fora, homem sanguinário e perverso!». Os generais do rei ficaram inquietos, e um deles disse: «Rogo-te que me deixe passar, e lhe tirarei a cabeça». Este é o homem natural. Mas Davi disse: «deixai-o que maldiga, pois Jehová o tem dito». Que frase impressionante! Davi conhecia o caminho da cruz. O capítulo 16 diz que Davi ia caminhando e Simei ao lado, amaldiçoando-o. E eles chegaram exaustos ao Jordão. Jordão significa «aquele que desce»; isto nos fala do caminho da cruz.
E quando Deus vai julgar a Absalão e a mudar este quadro, eles vão tomar a Jerusalém de volta, e Davi diz: «Tratem benignamente por amor de mim ao jovem Absalão». Mas eles matam a Absalão. E então Davi lamenta a morte de seu filho que usurpou o seu trono, dizendo: «Absalão filho meu, Absalão filho meu!».
Davi conhecia o caminho da cruz. Ele escreve o Salmo 63, nos vales do Jordão, depois da rebelião de Absalão. Os três primeiros versículos dizem: «Deus, meu Deus éres tu; de madrugada te buscarei; minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja, em uma terra seca e árida onde não há águas, para ver o teu poder e tua glória, assim te contemplo no santuário». Davi saiu de Jerusalém para o deserto. Em seu lugar, nós teríamos escrito: «Deus meu, olhe o que Absalão fez comigo!».
Absalão estava no trono, a glória de Jerusalém; Davi, no deserto, humilhado. Seu filho se rebelou contra ele, usurpando o seu trono, mas ele diz: «…eu te contemplo no santuário… para ver a tua força e a tua glória». E Paulo usou essa frase em Colossenses: «fortalecidos com todo poder, segundo à força da sua glória». Contemplar a força da sua glória é que nos fortalece. É uma glória inatingível. Não importa o que outros nos façam ou falem de nós. A força da Sua glória é aquilo que nos fortalece.
Oh!, irmãos, graças ao Senhor, assim Paulo ora em Colossenses. «Fortalecidos com todo poder, segundo à força da sua glória». Este é o desejo do Senhor. É assim como retemos e glorificamos a Cabeça. Como igreja, precisamos avançar nisto, passo a passo. Que o Senhor continue falando aos nossos corações.
Síntese de uma mensagem compartilhada em Iquique (Chile), em novembro de 2012.