O ministério do Novo Pacto

Deus, por sua graça, deu-nos um ministério e este ministério é simplesmente ministrar Cristo aos outros.

Stephen Kaung

«Pelo qual, tendo nós este ministério segundo a misericórdia que recebemos, não desfalecemos» (2 Cor. 4:1).

De fato, todo crente deve servir ao Senhor, porque fomos salvos para lhe servir, e que honra é esta, pois não estamos simplesmente servindo ao homem, mas servindo a Deus. O simples pensamento de que servimos a Deus leva-nos a estar de joelhos. Quem somos nós para servir ao grande Deus? É uma honra que não pode ser descrita e sentimos que não estamos qualificados para lhe servir, mas este é o seu grande prazer e é por esta causa que ele nos salva. Ele não nos salva simplesmente por nós –nos salva para que sirvamos a seu propósito.

‘A’ de «aprendiz»

Quando nosso querido irmão Watchman Nee foi para a Inglaterra, conheceu um jovem que recém tinha se formado médico, e este jovem irmão estava indo para a Índia para servir como missionário e ele serviria com a irmã Amy Carmichael. Talvez já ouviram falar nesse nome. Ela foi uma dama que o Senhor utilizou para fundar um orfanato na Índia, e eu pude visitar esse lugar.

Aquele jovem irmão ia trabalhar como médico nesse lugar, e aconteceu que o irmão Nee esteve ali de visita, e eles estiveram juntos duas semanas, e este jovem perguntou ao nosso irmão: «Qual é o teu conselho para mim agora que vou ser um missionário?». E nosso irmão lhe respondeu: «Deve usar uma letra 'A' bem grande escrita em ti».

Não sei qual é o costume aqui, mas na Inglaterra, quando alguém está aprendendo a dirigir, deve usar uma grande letra 'A' (de Aprendiz) no automóvel. Assim, todos sabem que tal pessoa está aprendendo, e dirigem com cuidado.

Com frequência, sentimos que, depois de termos sido salvos, logo seremos mestres para ajudar às pessoas. Mas, vocês sabem que, quando estamos servindo ao Senhor, é o tempo de aprender? Temos que levar sobre nós essa grande letra 'A'. Graças a Deus, somos aprendizes e nunca nos graduaremos nesta escola. Durante todo o tempo que você serve, você aprende, porque servimos a um grande Deus e temos muito que aprender.

De fato, nossa vida nesta terra é um período de provações. Estamos aqui aprendendo como servir a Deus. Nosso serviço real começará mais tarde. Se aprendermos bem hoje, um dia ouviremos a voz: «Bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor» (Mat. 25:21). Esta é a nossa bendita esperança. Todo o tempo que estivermos servindo, levaremos essa grande letra 'A', e se fizermos assim, graças a Deus, ele nos ensinará o que fazer e como fazê-lo.

Realmente o apóstolo Paulo me impressiona. Quando ele ainda era Saulo, o Senhor lhe apareceu no caminho de Damasco. E daquele momento em diante, ele rendeu a sua vida ao Senhor.

O viver do apóstolo Paulo

Tudo o que Saulo fazia não era realmente um serviço ao Senhor, mas justamente o contrário. Mas, depois que encontrou o Senhor no caminho de Damasco, não só a sua vida foi mudada, mas também o seu serviço. E quão fielmente ele serviu ao Senhor em sua vida!

Se quisermos conhecer a vida de Paulo devemos ir para a epístola aos Filipenses, porque nessa carta ele abriu o seu coração e nos compartilha a sua vida no Senhor. E para pôr de uma forma bem simples, disse: «Para mim o viver é Cristo». É assim que ele viveu diante do Senhor.

Mas se quisermos conhecer como ele serve ao Senhor, devemos ir a 2ª Coríntios, porque nessa carta ele revela o segredo do seu ministério. Então, em 2ª Coríntios 4:1 ele diz: «Tendo este ministério». Claro, o seu ministério era o ministério apostólico e nem todos os ministérios são apostólicos.

Nós, como membros do corpo de Cristo servimos ao Senhor de maneiras diferentes, em diferentes áreas, e mesmo assim, servimos ao mesmo Senhor. Então, quando ele escreve com respeito ao seu ministério, embora nem todos sejamos apóstolos, ensina-nos que os princípios do serviço são os mesmos.

Testemunho pessoal

Pela graça de Deus, eu fui salvo quando tinha quinze anos. Cresci no seio de uma família cristã. Meu pai realmente amava ao Senhor. Toda noite, antes do jantar, ele reunia os seus sete filhos em um quarto, lia-nos a Bíblia, ajoelhávamo-nos e ele orava por nós.

De certa forma, eu conhecia algo de Cristo desde a minha infância. Mas, embora tivesse estudado em escolas missionárias e ia às reuniões cada domingo, eu cria no Senhor mentalmente, mas cria que eu era muito bom para precisar ser salvo. Eu era apenas um estudante. Que pecado teria? Talvez algo pequeno, mas todos fazem isso; comparado com o que o mundo faz, eu acreditava ser muito bom e constantemente tinha essa ideia. ‘Que Jesus salve às demais pessoas, mas eu não necessito tanto dele, porque eu sou suficientemente bom’.

Mas, graças a Deus, em sua misericórdia, caí gravemente doente. Nessa época, minha enfermidade não tinha cura, e estive à beira da morte. Eu era jovem, e não queria morrer. Então orei, muitos oraram por mim, e a graça de Deus me levantou. Depois que fui curado, veio para mim um pensamento muito natural: «Agora, Deus te salvou, e tu tens que fazer algo para lhe pagar». Então, para mostrar a minha gratidão, comecei junto com outras pessoas a organizar reuniões cristãs na escola.

Ainda me recordo claramente a primeira vez que conduzi uma reunião de oração. Nenhum dos meus companheiros e professores conhecia realmente ao Senhor. Então como eu ia dirigir essa reunião de oração? Para mim não era algo difícil. Fui ao escritório de meu pai, tomei um livro de oração e, simplesmente, memorizei algumas orações. Na reunião compartilhei uma mensagem e em seguida convidei a todos a se ajoelhar, mas ninguém orou. Alguns começaram a rir e eu, de uma forma muito severa, repreendi-os e disse: «Bom, estamos diante de Deus e não devemos rir». Esta foi a primeira vez que conduzi uma reunião de oração.

Também preguei; mas, o que podia pregar? Isso era fácil. Fui ao escritório de meu pai e procurei um livro de pregações. Nessa época, havia um pregador americano famoso de sobrenome Jowett. Escolhi uma de suas mensagens, sobre a arca de Noé. Traduzi-o para o chinês, memorizei-o e o preguei. Depois de pregar, me senti muito bem. A única coisa que eu não gostei foi que ninguém veio me felicitar no final.

Irmãos e irmãs, desta forma é que eu servia ao Senhor antes de ser salvo. Mas o Senhor conhecia o meu coração, e ele começou a trabalhar em minha vida. Sem que ninguém tivesse falado comigo, o Espírito Santo começou a operar em minha vida e, de alguma forma, comecei a sentir que eu era um pecador e senti que não havia nada de bom em mim. E quando senti isso, quis de coração conhecer o senhor Jesus. Eu sabia que ele era O Salvador do mundo; mas agora, necessitava que ele me salvasse, e o busquei honestamente.

Durante esse ano, em Shangai, muitos pregadores vieram à igreja de meu pai, e eu fui ouvir-lhes. Às vezes, quando havia apelos, eu ia à frente. Nesse tempo, era costume, depois da mensagem, chamar as pessoas para aproximar-se do altar, ajoelhar-se e buscar o Senhor. Eu fiz isto muitas vezes e chorei diante do Senhor, mas depois que a reunião terminava tudo acabava ali. Nada ficava em meu coração. E isso ocorreu durante um ano.

Quando chegou o verão, decidi ir a uma conferência. Eu queria ser salvo; essa era a única razão pela qual fui à conferência. Três jovens americanos, recém-formados da Universidade, conduziam a conferência. Eu os ouvi, e não havia nada de novo. Eu já conhecia tudo o que eles pregavam. Então, não fui tocado nessa conferência.

Depois de alguns dias, realmente me sentia desesperado. E me lembro que, numa manhã, em meu quarto, não recordo se estava orando ou simplesmente meditando; mas, de alguma forma, disse ao Senhor: «Senhor, vi tantas pessoas que são salvas tão facilmente. Por que para mim é algo tão difícil?».

Lembro em certa tarde, depois de uma reunião, quando ia saindo, um pregador chinês me parou e me perguntou: «Você é salvo?». Tive que ser honesto, e lhe disse: «Eu quero ser salvo». Todos já tinham saído, só ficamos nós dois, e ele me perguntou: «Você crê na Bíblia?». Disse-lhe: «Sim». «Então abre a tua Bíblia e leia 1ª João 1:9». Pediu-me que lesse e trocasse o nós do versículo por meu nome.

Então li o versículo pondo meu nome em vez de nós e, depois de lê-lo duas vezes, ele disse: «vamos orar». Nos ajoelhamos e oramos. Eu sabia como orar, e comecei a orar. Mas, nesse momento, houve uma diferença. Derramei meu coração diante do Senhor e confessei todos os pecados que podia recordar. E disse ao Senhor: «Há muitos outros pecados que cometi e que esqueci, mas tu sabes de todos». Agora, Senhor, eu fiz a minha parte. «Se confessarmos os nossos pecados…». Eu fiz. Agora, tu és fiel e justo. É a sua vez. Tu eres quem podes me salvar. Se morrer agora, morro em teu seio».

Estranhamente, senti que a carga foi aliviada e eu estava livre. Levantei-me e o pregador me perguntou: «Eres salvo?». E lhe disse: «Sim, sou salvo». E me disse: «Como sabes?». «Sinto que a carga se foi, sinto paz em meu coração. Ele fez isto». E, repentinamente, esta palavra veio para mim: «Eu sei que sou salvo porque Deus o disse». E ele me disse: «Isso está bem. Os sentimentos e as emoções mudam, mas a palavra de Deus nunca muda».

Amados irmãos e irmãs, esse foi o princípio de uma nova vida. Lembro-me que retornei ao meu quarto, abri a Bíblia em 2ª Pedro e, à medida que lia, era diferente. Era como se Deus agora estivesse falando comigo. Irmãos e irmãs, foi assim que a graça de Deus veio a este pecador indigno.

Agora, nesse tempo, em uma reunião de avivamento, o último dia sempre era de consagração. Ainda posso recordar que na parede da sala havia um grande mapa da China, e o pregador começou a dizer: «Se tu amas ao Senhor, pode escolher aonde vais lhe servir».

Em outras palavras, naquela época, nosso entendimento era muito limitado. Parecia-nos que a consagração tinha só um fim – ser um pregador. Ou se fosse uma mulher, podia ser uma mulher da Bíblia. Esse era o entendimento geral da época.

Então, quando o pregador disse: «Se amas ao Senhor, podes escolher para aonde vais», eu tinha apenas quinze anos nessa época, recém salvo, e tinha tal amor e zelo pelo Senhor, que pensei: «Tenho que provar quanto amo o Senhor; então, irei ao lugar mais longínquo». Fui à plataforma e pus o meu dedo sobre a Mongólia. Se você conhecer algo do mapa da China, aquele é o lugar mais remoto. «Eu quero ir ali, para demonstrar o meu amor pelo Senhor».

Irmãos e irmãs, para mim, isso era algo muito real. Ocorrido aquilo, a escola reiniciou a sua atividade. Era meu último ano da escola secundária, e alguns de nós nos reunimos. Realmente tínhamos sido salvos, dois professores e dois estudantes. Começamos a planejar atividades cristãs. Organizamos equipes evangelísticas que iam aos setores rurais para pregar e para orar pelos doentes. E quando a igreja tinha reuniões evangelísticas, sempre estávamos à frente, chamando as pessoas para ouvir o evangelho. Tínhamos ardor pelo Senhor.

Mas, irmãos e irmãs, quando fazíamos isso, tudo procedia de nós, de nosso próprio zelo, de nosso entusiasmo, e fazíamos tudo desta forma. Estávamos longe de esperar no Senhor e de realmente saber o que era que ele queria que fizéssemos. Não tínhamos ideia disso. Apenas servíamos ao Senhor da melhor maneira que sabíamos, e com toda a nossa energia natural. Essa era a nossa forma de lhe servir.

Irmãos e irmãs, graças a Deus, ele conhece os nossos corações. Em seguida, gradualmente, ele começou a me ensinar que os seus caminhos são mais altos que os caminhos do homem, e os seus pensamentos mais altos que os pensamentos do homem; e, apesar da nossa inocência, o Senhor realmente conhece o nosso coração, porque no fundo do nosso coração nós o amamos.

A Mongólia era um desejo muito real para mim e todo aquele ano tomei informações sobre aquele lugar. E decidi que, depois que me formasse na escola secundária, eu não iria para a universidade, porque considerava que isso seria perder quatro anos. Eu estava muito ativo nos círculos cristãos e conhecia muito bem as escolas bíblicas. Decidi ingressar em uma delas para estudar a Bíblia, e depois iria servir na Mongólia.

Depois que me formei na escola secundária, falei com meu pai. Eu estava seguro que ele ia entender porque ele servia e amava ao Senhor. Ele conhecia ao Senhor. Para minha surpresa, ele disse: «Não. Você irá para a Universidade, e quando terminar, o enviarei aos Estados Unidos para estudar Teologia». Eu tinha só dezesseis anos, e na China aprendemos a obedecer aos nossos pais. Apesar de minha decepção, obedeci.

Então fui para a Universidade. Era uma universidade missionária, em outra cidade. Os professores eram missionários que vinham dos Estados Unidos. Quando cheguei, imediatamente me envolvi seriamente nas atividades cristãs. Mas, em pouco tempo, para a minha surpresa, descobri que esses missionários não criam realmente na Bíblia como a palavra de Deus. Tudo o que eles falavam era dos aspectos sociais, políticos e éticos da Bíblia. Nem sequer criam que Jesus é o Filho de Deus.

Até então, eu não sabia que há duas classes de cristãos. Era a primeira vez que me encontrava com este tipo de cristianismo. Quando eu tentava falar sobre o Senhor, eles fugiam do tema. Então me fechei em mim mesmo. No internato, compartilhávamos três pessoas o mesmo quarto, mas, o que podia fazer agora? Senti que a única forma de manter minha vida com o Senhor seria estar muito próximo dele. Então dediquei muito tempo para estar de joelhos, lia a minha Bíblia e orava de joelhos; e nem sequer me importava que meus companheiros de quarto entrassem ou saíssem enquanto eu permanecia de joelhos, porque sentia que se não tivesse esse tempo com o Senhor não poderia prosseguir.

Amizade com Watchman Nee

Foi nesses momentos serenos que comecei a apreciar o que o Senhor tinha dado ao nosso irmão Watchman Nee. Eu já o tinha ouvido algumas vezes no passado. De fato, já o tínhamos convidado para a nossa escola para pregar aos estudantes, e eu fui ao lugar onde se reunia para o ouvir pregar.

Ainda recordo a primeira vez que o encontrei. Ele pregou uma mensagem evangelística. O tema era: «Deus está disposto. Você está disposto?». E isso realmente nos tocou. Graças a Deus, já fomos salvos. A primeira vez que fui escutá-lo, nossa escola estava em uma extremidade de Shangai e o lugar onde ele se reunia, na extremidade oposta, e fui escutá-lo junto com um professor que tinha recém se formado na universidade.

A reunião era um domingo às duas da tarde. Nós chegamos à uma. Não havia ninguém ali. Era um salão onde cabiam umas duzentas pessoas, e só nós dois estávamos ali, e começamos a falar, a rir. De repente, um homem entrou e nos disse que o senhor Nee estava descansando logo acima. Podiam ficar quietos por um momento? Isso nos assustou.

Às duas da tarde, o salão estava cheio. Ninguém falava. As pessoas que entravam se sentavam e oravam silenciosamente ou liam a Bíblia. As duas em ponto, o irmão Nee desceu do seu quarto e pregou por duas horas. Até hoje recordo que ele pregou sobre a mulher samaritana. Um homem solitário encontrou uma mulher solitária. Fomos tocados, mas não estávamos preparados para essa mensagem porque estávamos muito expectantes, não tínhamos quietude para apreciar a mensagem.

Mas depois, quando eu estava na universidade, em um lugar frio como um cubo de gelo, nessa época li os escritos de Watchman Nee e isso começou a tocar o meu coração.

Batismo em água

O assunto do batismo começou a me preocupar. Eu fui batizado quando era um bebê. Meu pai aspergiu a minha cabeça com gotas de água. Eu cria que já tinha sido batizado, e nem sequer sabia o que significava o batismo. Alguns tentaram revisar as Escrituras comigo, mas eu era muito obstinado e recusava escutar. No entanto, à medida que lia a Bíblia, cheguei à convicção de que aquele batismo que recebi de meu pai não era correto. Essa era a fé dele, não a minha. Eu realmente tinha que declarar que cria no Senhor e me separar do mundo.

Certo dia fui e bati na porta da casa de Watchman Nee. Ele abriu e me perguntou: «O que quer?». Disse-lhe: «Quero ser batizado». Disse-me: «Seu pai sabe isto?». Ele conhecia meu pai. «Não, mas, mesmo assim, quero ser batizado». Então fui batizado. O dia seguinte era domingo, e comecei a partir o pão com os irmãos.

O batismo realmente abriu o meu entendimento. Gradualmente, a palavra de Deus começou a se tornar viva e real para mim, e eu sentia que tinha que seguir ao Senhor. Eu estava fazendo coisas religiosas, mas que não era a vontade do Senhor. E tinha que me libertar delas e seguir ao Senhor com todo o meu coração.

Irmãos e irmãs, nós podemos servir ao Senhor com as nossas próprias ideias, com a nossa energia natural, com o nosso próprio zelo. Mas, será que essa é a maneira que ele quer que o sirvamos?

Estudando a palavra de Deus, comecei a compreender que, se quisermos servir ao Senhor, temos que servir-lhe à sua maneira. Não podemos servir-lhe da nossa maneira ou da forma tradicional. Temos que servir-lhe à sua maneira. E até hoje, nunca fui a Mongólia. Essa era a minha maneira, e Deus disse: «Não». Ele mudou o rumo. Ele queria que eu o seguisse. Embora o mundo me desprezasse, embora a minha própria família não me compreendesse, eu tinha que seguir a ele.

Algo que sempre acendeu o meu coração foi: «Eu quero ser seu discípulo, quero seguir-lhe». Irmãos e irmãs, ao fazer isso, nós passamos por grandes tribulações, que não só vêm do mundo, mas também do mundo cristão. Mas mesmo assim, há gozo e paz em nosso coração.

Em minha família, só meu pai sabia o que acontecia; outros não entendiam. Mas, graças a Deus, meu pai sempre entendeu. Então, quando me formei na universidade, Deus levantou uma assembleia na cidade de Suzhou. Então disse: «Senhor, não estou preparado ainda. Eu gostaria de passar mais tempo me preparando; queria conhecer mais a Bíblia». E não podia deixar essa pequena reunião ali. O irmão Nee queria que eu estivesse com ele. Fui para Shangai por uma semana e retornei, porque sentia que não estava preparado.

Mas os caminhos do Senhor são mais altos que os caminhos do homem. Ele sabia o quão obstinado sou. Durante esse tempo, em nossa reunião havia um jovem irmão que estava na escola secundária, e eu o amava muito. Antes das férias, antes de retornar para o seu lar em Nankim, ele estava nadando em um rio e se afogou. Eu tive que fazer os preparativos até que seus pais chegaram.

Na noite depois que ele foi sepultado, eu não podia dormir, e discuti com Deus. «Por que teve que levar este jovem irmão?». E à medida que discutia com Deus, ele me disse: «Esse irmão morreu por ti. Tu disseste que queria me servir, mas que este não era o momento. Agora, se você tivesse morrido como esse jovem, estaria disposto a me servir?». O Senhor me convenceu. Então disse a meu pai, e ele compreendeu. Ajoelhamo-nos juntos, encomendou-me ao Senhor, e me disse: «Se estás servindo a Deus, não me interessa onde o sirva». Abençoou-me e me deixou ir. 

A primeira vez que saí de casa tinha vinte anos e fui a Shangai para me encontrar com o irmão Nee. Durante esse ano, o irmão Nee esteve doente a maior parte do tempo. Mas fizeram alguns acertos para que eu pudesse estar com ele uma vez por semana, e nos falávamos. Normalmente, ele me dava alguns livros para ler. E isso cultivou meu hábito de leitura.

E sabem como ele tratou comigo? Aos domingos às sete, ele me mandava uma pequena nota, só duas palavras. Mas dizia: «Eu venho», isso significava que ele ia falar aquele domingo. Mas me dizia: «Você prega», então eu pregava aquele domingo. Ele me manteve em suspense durante todo um ano. Eu realmente tremia.

Quando se é um jovem de vinte anos de idade, quanto realmente conhecemos ao Senhor? Havia pessoas sentadas ali que conheciam o Senhor por dez, vinte ou trinta anos. Graças a Deus por sua paciência comigo. Eu não sabia o que estava pregando, mas era um processo de aprendizagem. Depois disso, ele me enviava quando as pessoas o convidavam para algum lugar e ele não podia ir. E mais tarde, viajei de cidade em cidade, pregando o evangelho, reunindo o povo de Deus e tratando de ajudá-los.

Depois de fazer tudo isso por vários anos, eu me sentia cansado. E disse: «Isso é servir ao Senhor? O que posso fazer?». Pergunto-me: Se houver irmãos ou irmãs que estão servindo ao Senhor dessa forma, sentir-se-ão cansados? As coisas podem ser corretas, mas, isso realmente é uma vida diante do Senhor?

Então Deus atuou, em sua soberania. Eu estava em Singapura, e começou a Segunda Guerra Mundial. No último momento, em 31 de dezembro de 1941, o Senhor me tirou de Singapura e me levou para a Índia. Cheguei como refugiado, mas o Senhor fez algo maravilhoso. É uma história muito longa para entrar em detalhes. O Senhor me permitiu ir a certo lugar para descansar dois meses e meio. (O ir. Stephen esteve esse tempo em uma casa de repouso sustentada pela irmã Amy Carmichel na Índia. Nota do Editor).

Durante esse tempo, pude estar quieto diante do Senhor e ali li os livros de Austin-Sparks. O Senhor abriu os meus olhos e começou a me mostrar o seu eterno propósito e a me mostrar a imensidão de Cristo. «Se Cristo for meu tema, não haverá fim na pregação» dizia o irmão Sparks. Isso abriu os meus olhos e me libertou. Em seguida, retornei para a China.

Não desfalecemos

À medida que vamos servindo, continuamos aprendendo. O apóstolo Paulo diz: «…tendo este ministério, não desfalecemos» (2ª Cor. 4:1). Pensem nisso. Este ministério de servir ao nosso Deus é tão maravilhoso, tão nobre. É ministrar a Cristo às pessoas, não apenas algumas regras e regulamentos, nem sequer explicações. Significa ministrar a Cristo, ministrar vida. É algo tão nobre. Quem somos nós para fazer isso? Quanto mais entendes o que é servir ao Senhor, mais descobres a tua falta de qualificação.

Se realmente souberes o que é servir ao Senhor, vais desfalecer. Irmãos e irmãs, a primeira lição que devemos aprender sobre este serviço é desfalecer. Já chegamos a esse ponto? Ou ainda somos tão fortes em nós mesmos, como se fôssemos capazes de fazer as coisas? Vemos realmente o que significa servir ao Senhor à sua maneira, por sua força, sem nada de nós; não nos ministrando a nós mesmos, mas ministrando a Cristo, dando vida?

Quando pensamos nisso, como não desfalecer? Quem sou eu para fazer isto? Como posso fazê-lo? Mas o apóstolo diz: «Tendo este ministério, não desfalecemos». Como não desfalecer? Porque ele diz: «…segundo a misericórdia que recebemos». É só pela misericórdia de Deus que não desfalecemos, que somos capazes de servir ao grande Deus vivo, que somos capazes de ministrar vida às pessoas, para que Cristo cresça e nós diminuamos. Irmãos e irmãs, esta é a misericórdia de Deus.

Essa é a primeira lição que temos que aprender ao servir ao Senhor. Se seguirmos crendo que somos capazes, ainda não sabemos o que realmente é o ministério, esquecemos a Quem estamos servindo. O sentido de nossa total incapacidade é o princípio de um real ministério. Por isso, Paulo diz que recebemos misericórdia. Misericórdia significa que tudo vem de Deus, nada de nós mesmos. Por causa da misericórdia de Deus, não desfalecemos. Então, irmãos e irmãs, esta é a primeira lição que temos que aprender ao servir ao Senhor.

Ministério do Novo Pacto

Então a segunda lição. Há duas formas diferentes de servir ao Senhor. Ao lermos 2ª Coríntios capítulos 3 e 4, você vê como o apóstolo Paulo nos mostra muito cuidadosamente que servir é ministrar ao Senhor e que há duas formas de ministério. Um tipo é o que ele denomina o ministério do Antigo Pacto e o outro, ele o chama o ministério do Novo Pacto.

Paulo está falando de sua própria experiência. Em Filipenses capítulo 3, ele fala do seu passado, dizendo: «Eu sou um judeu típico, da tribo de Benjamim». Por que ele menciona isso? Porque, entre as doze tribos de Israel, Benjamim foi a única que permaneceu com Judá. Então, ele diz: «Eu sou hebreu da tribo de Benjamim, fui educado como um fariseu».

Hoje temos uma conotação muito negativa dos fariseus – eles eram hipócritas, tinham grandes ideais; falavam muito, mas não faziam o que deviam fazer. Mas Saulo era um fariseu real: ele tinha estudado aos pés de Gamaliel, o grande rabino daquela época. E ele diz ser «fariseu de fariseus», porque em sua família falava hebreu e, em seu zelo, ele perseguiu os cristãos, pois, de acordo com os ensinos dos pais, eles consideravam que Jesus era um impostor e devia ser combatido.

Saulo fez o que pôde para eliminar os cristãos. E enquanto fazia isso, ele acreditava servir a Deus. Ele pensava que estava servindo a Deus, porque servia sem revelação, servia de acordo com a tradição, e quanto prejuízo causou! Em outras palavras, ele estava servindo a Deus de acordo ao ministério do Antigo Pacto. Mas, no caminho para Damasco, depois de receber revelação do alto, o seu serviço foi totalmente mudado, e ele começou a servir segundo o ministério do Novo Pacto.

Irmãos e irmãs, há dois modos diferentes de servir a Deus. Um é rejeitado por Deus; porque de fato, ofende a Deus. O outro modo é o modo de Deus, e Deus se agrada nele. Então, em relação ao ministério, usualmente nós começamos a servir no modo do Antigo Pacto. No entanto, pela graça de Deus, ele nos liberta e nos capacita gradualmente de acordo com o Novo Pacto e esse é o único serviço aceito por Deus.

Vocês se lembram o que o Senhor diz no Sermão do Monte? «Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, e em teu nome não expulsamos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? E então lhes declararei: Nunca vos conheci» (Mat. 7:22-23). Isso quer dizer: «Não vos aprovo».

Irmãos e irmãs, de que tipo é o nosso ministério? É do Antigo ou do Novo Pacto? Agora, qual é a diferença? Ao ler 2ª Coríntios capítulo 3, Paulo menciona as cartas de recomendação. Nesses dias, as pessoas não se conheciam umas a outras, e quando um irmão ou irmã viajava para outra cidade, deveria levar consigo uma carta de recomendação dos irmãos da cidade aonde esse irmão ou irmã vinha, e graças a essa carta, a pessoa era recebida.

Mas Paulo diz: «Eu não necessito dessa carta de recomendação, porque vocês são a minha carta». Como foi escrita essa carta? Espiritualmente falando, não no papel, mas no coração. Paulo diz: «Simplesmente olhe para mim e verás a carta de Cristo; então saberás o que diz». «Olhe para ti mesmo», diz aos Coríntios, «e saberão que carta de Cristo escrevi em seus corações. Essa é a minha carta de recomendação».

De certa maneira, o ministério é como escrever uma carta, deixando um registro ali, e ao ver esses registros saberemos o que foi feito. Mas há duas formas de escrever essa carta; uma é a maneira do Antigo Pacto. Uma carta escrita com tinta. A tinta, nas Escrituras, faz-nos recordar a um escriba. Em outras palavras, esse é um ministério apoiado no que leste ou estudaste, no conhecimento que acumulastes em tua mente. Quando você estuda, usa tinta para escrever, e o que escreve é com tinta; quer dizer, está passando às pessoas o que estudou, o que leu ou o que meditou.

E quando usas tinta, onde escreves? Esse é o segundo aspecto. Está escrevendo sobre pedra; porque, se você se lembrar dos Dez Mandamentos, eles foram escritos sobre pedras. Em outras palavras, aqui estão as palavras de Deus, mas estão fora de ti. Como sabe que essa é a vontade de Deus? Tem que estudar ou, se não puder estudar, outros lhe ensinarão o que tem que fazer.

Se algo estiver escrito em pedra, está fora de ti. Não há um sentimento, tudo é objetivo. Isso é o escrever do Antigo Pacto, é o ministério do Antigo Pacto, e depende muito da tua competência – se você for capaz de fazer isso, se estudou o suficiente, se adquiriu suficiente conhecimento para que possas passar essa informação. Mas, é obvio, isso é de mente para mente, não de espírito para espírito.

Ao servir dessa forma, está condenando em vez de justificar, porque se você não conhecer os mandamentos de Deus, você não é culpado; mas se você os conhecer e não os cumprir é condenado. Este é um ministério de morte, não um ministério de vida, que começa com glória, mas essa glória gradualmente se desvanece.

Lembrem de Moisés. Ele esteve diante do Senhor, recebeu os Dez Mandamentos e, ao descer do monte, o seu rosto resplandecia e as pessoas tinham medo de olhá-lo. Ele pôs um véu em seu rosto, e essa glória se desvanecia. Esse é o ministério do Antigo Pacto.

Irmãos e irmãs, graças a Deus, ele nos libertou desse Antigo Pacto da lei e nos transportou para o Novo Pacto da graça, e isso é o que a mesa do Senhor é. Em Lucas 22:20, o Senhor tomou o cálice e, o que é que disse? «Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que por vós é derramado».Irmãos e irmãs, sempre que recordamos o Senhor na mesa, ele nos faz lembrar que já não estamos debaixo do Antigo Pacto da lei, mas no Novo Pacto da graça. Somos o povo do Novo Pacto, e não só o povo do Novo Pacto, mas também servimos com o ministério do Novo Pacto.

Um pacto é a maneira em que Deus trata conosco, e também é como nós tratamos com Deus. Nossos relacionamentos com Deus são de acordo com o Novo Pacto. Esta é a maneira em que vivemos e a maneira como servimos.

Vejamos o que é este ministério do Novo Pacto. Em primeiro lugar, este ministério não é com tinta, mas com o Espírito. Em outras palavras, procede do Espírito. No mais profundo do seu espírito, você recebe revelação de Deus. Nós recebemos visão de Deus. O Espírito Santo toca o teu espírito e te faz entender qual é a vontade de Deus e, procedente do que aprendeu em seu interior, você ministra.

Não é simplesmente uma questão de letra. Não estou dizendo que a letra é inútil. Nós precisamos estudar a Bíblia, precisamos conhecer a palavra de Deus e entesourá-la em nosso coração. E quando o Espírito Santo toca o que está em seu coração, ele pode fazer aflorar a Palavra que está em ti para fora, de uma maneira viva, e assim pode servir a outros.

Em segundo lugar, o ministério do Novo Pacto não está escrito em pedras, mas escrito na carne do coração. Irmãos e irmãs, todos sabemos que, em nosso ministério, se proceder de nossa mente, tudo o que faremos será tocar a mente dos outros. Mas, se proceder do coração, vai tocar o coração dos homens. Esse é o ministério do Novo Pacto.

Quando pensas em tal ministério, você nunca pensa que é competente. Se crês que o é, deve se perguntar que tipo de ministério está desenvolvendo. No ministério do Novo Pacto, sempre sentirá que não é competente. Sua competência vem de Deus. «Nem por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos» (Zac. 4:6).

Esse é o sinal de que tipo de ministério estamos levando a cabo. E é um ministério de justificação. Em vez de condenar às pessoas, temos que levar a graça de Deus. É um ministério de graça, um ministério glorioso. Podemos contemplar ao Senhor com o rosto descoberto e o Espírito começa a trabalhar em nossas vidas e nos leva de glória em glória.

Então, irmãos e irmãs, aqui vemos estes dois tipos de ministério. E, ao lermos a vida de Paulo, vemos como ele, como fariseu, ministrava no Antigo Pacto; mas em seguida, como apóstolo, ele ministrou à maneira do Novo Pacto e realmente ministrou vida às pessoas.

Renunciando o oculto

Por último, chegamos à pergunta importante: Como é possível que tenhamos este ministério do Novo Pacto? Isso é o que o apóstolo Paulo trata de nos explicar em 2ª Coríntios capítulo 4: «…tendo nós este ministério,… não desfalecemos», porque temos a misericórdia de Deus sobre nós. Mas, isso quer dizer que tudo o que vamos fazer é sentar e esperar? Não. Mesmo que foi Deus quem fez a obra, e nós não fizemos nada, temos uma responsabilidade. É como a Bíblia diz: «Buscai, e achareis». O tesouro está aí, mas tem que buscá-lo, e quando o busca, encontra-o.

Então, irmãos e irmãs, como podemos ser transportados do ministério do Antigo Pacto para o do Novo Pacto? Qual é a parte que temos que fazer, e qual é a parte que o Espírito Santo fará? Vemo-lo no capítulo 4 versículo 2: «Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade». Essa é a parte que nós temos que fazer.

Se realmente quisermos servir a Deus na forma do Novo Pacto, nós temos que fazer algo, precisamos renunciar o oculto e vergonhoso. Se houver algo em nossa vida que envergonha, algo que não está bem, mas mesmo assim permitimos que continue, se houver algo oculto, temos que confessá-lo ao Senhor e renunciar a tudo o que é obstáculo no caminho do Senhor e não adulterar ou falsificar a palavra de Deus, quer dizer, não usar a palavra de Deus para nosso próprio benefício; explicar a palavra de Deus de forma direta, seja o que for que ela diz, embora seja contra o nosso próprio interesse.

Muitas pessoas tentam usar a palavra de Deus para seu próprio benefício, mas isso é algo de que temos que ser libertos, «pela manifestação da verdade nos recomendando a toda consciência humana», ou seja, quando estamos ministrando a outros, não há nenhum motivo secundário em nossa consciência diante de Deus e dos homens, como o apóstolo Paulo disse quando estava diante do governador: «Toda a minha vida mantive uma boa consciência diante de Deus e dos homens» (Atos. 24:16).

Em outras palavras, ao ministrar a outras pessoas, de certa forma, estarás ministrando a ti mesmo. Não há nenhum interesse próprio nisso, é puramente para Deus. Não porque quer receber algum benefício, mas recomendando a sua própria consciência acima de todo homem. Dessa forma, não há obstáculo no que você pregar. Essa é a nossa preparação. Dito de outra forma, tem que estar tudo limpo e aberto diante do Senhor e se andarmos assim, então o Espírito Santo trabalhará. Como ele opera? O apóstolo Paulo usa uma ilustração, dizendo: «Mas temos este tesouro em vasos de barro…» (2ª Cor. 4:7).

Vasos quebrados

Todos nós somos vasos terrenos. Você se vê a si mesmo como esse simples vaso de barro? Às vezes penso que alguns irmãos se veem a si mesmos como vasos de alabastro. Temos um muito alto conceito de nós mesmos, mas a Bíblia diz apenas que somos vasos de barro, comuns, opacos. Isso é o que somos, feitos do pó, sem valor, mas graças a Deus, ele faz algo que ninguém faria. Você poria um tesouro em um vaso de barro? Não, não combina. Se tiver um tesouro, o porá em uma caixa de ouro.

Essa é a maravilha de Deus. Ele é o único que põe um tesouro em um vaso de barro. Que tesouro é este – o tesouro dos tesouros! Não há tesouro mais valioso que ele. Qual é o tesouro? O Filho de Deus, Jesus Cristo, o tesouro de Deus. E mesmo assim, Deus deseja pôr esse tesouro em nosso coração. Indignos como somos, ele põe o tesouro mais digno em nós – «Cristo em vós, a esperança da glória» (Col. 1:27).

Mas, irmãos e irmãs, há um problema. O tesouro está cheio de luz, é resplandecente; mas, como ele está oculto no vaso de barro, e o vaso é opaco, a luz está escondida e não pode brilhar através dele. O resplendor do tesouro não pode ser visto. Como o resplendor do tesouro pode ser liberado? Apenas quando o vaso é quebrado. Essa é a forma como o Espírito Santo está operando em nós. Ele é responsável pela vida de Cristo em nós.

Com frequência digo: Deus nunca confia uma alma a outra pessoa. Por quê? Porque nossa alma é tão valiosa para ele. Ele só confia as almas ao Espírito Santo. O Espírito Santo habita em nós e ele é o único responsável pela vida de Cristo em nós. É seu trabalho fazer que a vida de Cristo cresça em ti e fazer que essa vida de Cristo em ti seja liberada e flua através de ti. E porque ele é responsável, e ele é fiel, cada dia ele prepara nossas circunstâncias, para nos quebrantar e para que Cristo resplandeça.

Conhecemos a história de Maria. Ela desejava expressar seu amor pelo Senhor ao lhe trazer uma oferta. Ela não era rica. Talvez aquele vaso de alabastro com perfume de nardo puro era a economia de toda a sua vida; talvez o guardasse para as suas bodas. Mas, depois que o Senhor fez essa obra tão maravilhosa na vida de seu irmão Lázaro, ela queria expressar o seu amor e sua gratidão ao Senhor. Então trouxe o frasco de alabastro e o quebrou. A libra de nardo puro foi derramada sobre o Senhor e a fragrância encheu o quarto. Ela se quebrantou a si mesma para que o Senhor fosse honrado.

Isso é o que o Espírito Santo está operando em nós – nos quebrantando para que Cristo possa resplandecer. Vemos em 2ª Coríntios 4:8: «…que em tudo somos afligidos, mas não angustiados». É como se não houvesse saída por nenhum lado, mas há sim. Não é o fim; há um caminho ascendente. «…em apuros, mas não desesperados». Chegamos ao final do que podemos fazer, mas não ao fim da sua vida. «…perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos», machucados, mas não fora de combate.

Livrando-nos de nós mesmos

Não é verdade que, às vezes, em sua vida, o Espírito Santo arruma circunstâncias de tal forma que te levas a ponto em que parece que não há saída? Mas, graças a Deus, há uma saída. Às vezes crês ter chegado ao fim de ti mesmo; tenta isto e aquilo, e nada parece funcionar. Mas, graças a Deus, não há nada impossível para Ele. É açoitado, mas não abandonado. Às vezes é golpeado; talvez muitas vezes, mas te levantas de novo, não foi nocauteado definitivamente. Essa é a experiência cristã.

O Espírito Santo prepara nossas circunstâncias, para que levemos em nosso corpo a morte de Cristo. Não a morte como um fato real, mas os efeitos da morte de Jesus. Quando ele morreu, levou sobre si os nossos pecados e eles foram perdoados. Quando Cristo morreu, nós morremos nele e com ele. Isso é um fato. Nesse sentido, é um fato eterno, eficaz para sempre. Sua morte ocorreu há dois mil anos atrás, mas o efeito dessa morte é real ainda hoje.

Mas aqui Paulo não fala da morte de Cristo. No original, é o processo da morte de Cristo, não só algo que ocorreu no passado, mas está em ação hoje. O Espírito está aplicando o morrer de Jesus em nossa vida. Ele põe a vida de nossa alma em morte, e nos liberta de nós mesmos, não só do pior, mas também do melhor de nós, porque em nossa carne não habita o bem.

O Espírito Santo opera em nós de forma completa. Com frequência pensamos que no mundo há aflições, mas agora, que cremos em Jesus, todos os problemas terminarão. Vamos em um carro magnífico e alguém está nos levando para o céu. Mas, para a nossa surpresa, a vida cristã não é assim. Enfrentamos muitos problemas e o Senhor nos disciplina para nos libertar de nós mesmos e para que a vida de Cristo possa brilhar através de nós, não só crescendo em nós, mas repartida para aqueles a quem você ministra. Esse é o ministério do Novo Pacto.

O ministério do Novo Pacto não se mede pelo conhecimento, mas sim pela vida. E para isto, quem é competente, a menos que o Senhor mesmo o faça? Graças a Deus, essa é sua misericórdia. Assim somos libertos do Antigo Pacto para o ministério do Novo Pacto, de forma gradual, e isso é vida ministrada. Não podemos desfalecer se quisermos fazê-lo. «Portanto, não desfalecemos; antes ainda que este nosso homem exterior se vá desgastando, o interior contudo se renova de dia em dia» (2ª Cor. 4:16).

Não estamos procurando aquilo que se vê, mas as coisas invisíveis, porque as coisas visíveis são temporárias, mas as invisíveis são eternas. Então, amados irmãos e irmãs, graças  a Deus, por sua graça, ele nos deu um ministério e este ministério é simplesmente ministrar Cristo a outros.

Ninguém pode fazer isso por si mesmo, mas todos podemos fazê-lo pelo Espírito de Deus. Por isso, a glória é para Deus; nós não temos do que nos gloriar. O apóstolo Paulo diz: «Nós apóstolos, somos considerados os últimos. Somos como a escória do mundo, como nada; mas Cristo é tudo e nós somos vossos conservos». Esse é o ministério.

Que o Senhor possa nos levar adiante. Nunca se esqueça dessa grande letra 'A' sobre ti, e que Deus abençoe a cada um de vocês.

NOTA: Em setembro de 2012 tivemos no Chile o privilégio de receber pela segunda vez a visita de nosso amado irmão Stephen Kaung. Na data, ele contava já com 98 anos de idade. Este artigo é uma síntese de sua primeira mensagem, dado na cidade de Santiago.

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