Comunhão e revelação

O mero conhecimento não produz obediência; apenas a revelação de Deus nos leva a obedecer.

Álvaro Astete

Nestes dias tivemos o privilégio de ouvir o Senhor nos falando por meio de diferentes vasos, usados conforme o Seu propósito. Tem sido deleitoso escutar a voz do nosso Mestre. Particularmente aos jovens, o Senhor os tratou de maneira muito especial, privilegiando-lhes em ter ao seu alcance tanta riqueza quanto ao conhecimento de Sua pessoa e Sua obra.

No entanto, irmãos amados, convêm destacar o risco que podemos correr se apenas ficarmos com o conhecimento intelectual das coisas que ouvimos, sem que este desça ao coração, e fique aninhado apenas em nossa mente. Isto seria um tremendo fracasso.

Conhecimento vs. revelação

Existe uma grande diferença entre o conhecimento intelectual sobre aspectos escriturísticos ou teológicos e a revelação em torno dos mesmos assuntos. O primeiro é, sem dúvida, necessário, visto que primeiro devemos conhecer intelectualmente algo para em seguida compreendê-lo; tudo isto mediante a graça do Senhor. Mas se ficarmos apenas nesse âmbito, nunca poderemos experimentar a realidade das coisas que conhecemos.

A revelação é diferente. É uma ação divina. Aqui o pensamento humano não intervém, nem as emoções nem os desejos humanos de saber algo. A revelação não é um descobrimento, não é uma ideia brilhante que alguém obteve como resultado de uma busca incessante; é o próprio Deus nos dando a conhecer os seus segredos e até a ele mesmo. E isto se dá, como já mencionamos, por uma ação divina, mas também como resultado de nossa comunhão com o Senhor. É aqui onde encontramos a principal diferença entre o mero conhecimento e a revelação.

Irmãos, o simples conhecimento de doutrinas ou de letras em relação a um assunto bíblico, não provoca em nós obediência. A obediência não é uma consequência direta do conhecimento. Os judeus conheciam a Lei de Moisés. No entanto, nos é dito que nenhum deles pôde obedecer. Por quê? Porque era apenas conhecimento, era algo exterior. Paulo diz isto em sua epístola aos Romanos: «Não há justo, nem sequer um… não há quem faça o bem, não há nem um sequer» (Rom. 3:11a-12b). As leis se relacionam, neste contexto, com a árvore do conhecimento do bem e do mal. Conhecemos o bom e o mau, mas esse tipo de conhecimento não trará como resultado a obediência.

Amados jovens, podemos estar cheios de conhecimento quanto a assuntos proféticos, diversas doutrinas e outros assuntos teológicos, mas se aquilo não está revelado ao coração, temo que só provoque dores.

Resultados do mero conhecimento

O mero conhecimento provoca autossuficiência e presunção. Autossuficiência, pois, ao pensar que dirigimos uma quantidade de ’informação’ que outros não conhecem, sentimos que ninguém tem a suficiente autoridade intelectual para nos corrigir e nos dizer como devemos nos conduzir em diversas situações. Sabemos o suficiente para dirigir a nossa vida sem considerar as sugestões e conselhos de outros, menos ainda se eles souberem pouco. Isto não só é autossuficiência, mas também arrogância.

A presunção reside em ter um alto conceito de si mesmo. Não podemos presumir que, por ter tido o privilégio de participar de conferências ou treinamentos, estejamos muito mais capacitados que outros para servir ao Senhor. O Espírito Santo, através das Escrituras, recorda-nos que ninguém deve ter um mais alto conceito de si mesmo do que convém (Rom. 12:3).

Amados jovens, vocês podem perceber quanto perigo correm caso se conformem apenas obtendo conhecimento intelectual sem revelação?

A importância da comunhão com Jesus Cristo

Como já mencionamos, a revelação é uma ação divina, mas também envolve um aspecto que tem haver conosco, isto é, a comunhão. É neste âmbito da comunhão com o Senhor, o ambiente propício para que ele, em sua soberania, revele-nos os seus segredos, a sua obra, a sua pessoa. Fora deste ambiente tudo se reduz a simples formalismos, um conhecimento parcial e nublado, mas jamais se transformará em revelação.

É na comunhão íntima onde o Pai mostra a seu Filho; onde o Filho nos mostra o Pai; e onde o Espírito Santo nos ministra a plenitude da Deidade. Para esta comunhão fomos convidados a participar.

O chamado que recebemos da parte de Deus se resume assim: «Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão com seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor» (1a Cor. 1:9). Deste chamado se desenvolve todo o resto. Seu chamado não é ir para a África ou para outro lugar pregar o evangelho, mas para ter comunhão com Jesus. E se, como resultado dessa comunhão, o Senhor te enviar, glorias ao Senhor por isso! Mas seu primeiro e único chamado é para ter comunhão com Ele. Isto é, em outras palavras, procurar primeiro o reino de Deus e a sua justiça; todo o resto será acrescentado.

Resultados da revelação

Deus não quer que apenas conheçamos a sua palavra; ele quer que esta seja revelada em nossos corações. O autor da carta aos Hebreus, citando o profeta Jeremias, diz: «Porei a minha lei em seus corações e em suas mentes as escreverei» (Heb. 10:16). Isto é revelação. Apenas a palavra revelada produz mudanças na vida de uma pessoa.

Consideremos a vida de Paulo. O que provocou uma mudança nela, claramente, não foi o seu conhecimento das Escrituras. Se alguém pudesse se vangloriar dos seus conhecimentos, esse era ele. No entanto, esse conhecimento não lhe permitiu reconhecer a Jesus como Senhor. Isto só ocorreu quando o próprio Senhor se revelou a Paulo e então ele ressalta que não foi rebelde à visão celestial (Atos. 26:19). Essa mudança ele não obteve pelo nível de conhecimento adquirido; só foi originado como resultado de uma revelação.

A revelação de Sua Palavra produz mudanças em nossas vidas. Por exemplo, conhecemos que devemos honrar os nossos pais, pois, temos lido isto na Bíblia. Este mandamento implica a obediência para eles, mas, como é custoso fazê-lo!

Se tentarmos obedecer, não só a nossos pais, mas também a Deus, apoiados no conhecimento teórico e intelectual, isto se transformará em uma mochila muito pesada e difícil de levar. Mas se a palavra de Deus estiver revelada em nossos corações pelo Espírito Santo, a obediência não será uma carga; ao contrário, será um gozo, tal como o era para o nosso Salvador. Ele se deleitava em fazer a vontade do Pai, pois ele obedecia, não pelo mandamento externo, mas a partir do seu coração. Que assim ocorra também conosco. Concluímos, então, que a revelação de Sua Palavra produz em nós obediência.

Sermos equilibrados

Irmãos, é verdade, podemos estar cheios de conhecimento e poderíamos fazer um discurso em torno de certos tópicos da vida cristã ou temas escatológicos, mas podemos seguir sendo os mesmos presunçosos de sempre.

A busca de conhecimento é boa. Sempre é bom conhecer algo a mais sobre alguns assuntos. No entanto, devemos ser equilibrados, visto que o desejo de conhecer pode facilmente nos desfocar do ponto central da vida cristã.

Talvez na hora de preparar um tema para compartilhar com os irmãos, nos entretemos procurando informação, dados interessantes com respeito ao texto em grego, o contexto em que se escreveu a carta ou o livro, mas, houve a mesma proporção quanto ao tempo dedicado à oração por essa palavra? É mais difícil para nós orarmos ao Senhor por esse sermão que procurar informação para o mesmo.

Tudo deve ter um equilíbrio. O que o Pai mais deseja não é que nos enchamos de conhecimento doutrinário, mas que busquemos a ele, pois ele está interessado em nos mostrar os seus caminhos e em nos revelar a sua verdade.

Há uma expressão de Paulo que qualifica muito bem a este tipo de crentes que apenas procuram conhecimento sem revelação: «...inutilmente inchado em sua própria mente carnal» (Col. 2:18b). Inchado, vale dizer, é sem substância, sem revelação.

Um ambiente de comunhão e de realidade

O desejo de Deus é que cresçamos com o crescimento que ele mesmo nos dá, que vivamos em um ambiente de comunhão, um ambiente de realidade.

Amados irmãos jovens, a sua posição hoje é gloriosa e terrível ao mesmo tempo. Gloriosa, pois vocês terem recebido da parte do Senhor uma riqueza incomensurável em relação a sua palavra. Mas terrível, porque se isso ficar apenas como um mero conhecimento não conseguirão alcançar aquilo para o qual foram ganhos por Cristo.

Convido-lhes, em consequência, a não desprezar o conhecimento que hoje possuem quanto à palavra do Senhor; mas não se conformem com isso. Procurem o Senhor, desejem ter comunhão e intimidade com ele. Deixem de lado, por um momento, os livros, os comentários e estudos cristãos, para estar quietos diante do Senhor e conhecer que ele é Deus. Então a sua vida será diferente. Terão acrescentado algo que será fundamental, sem o qual a nossa vida se tornaria um símbalo que retine, isto é, a comunhão com Jesus Cristo nosso Senhor.

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