O Espírito Santo e a consciência

Manter uma boa consciência para com Deus dia a dia é essencial para a vida da fé.

Andrew Murray

«Em Cristo digo a verdade, não minto, e minha consciência me dá testemunho no Espírito Santo… O Espírito mesmo dá testemunho com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus» (Rom. 9:1; 8:16).

A glória mais excelsa de Deus é a sua santidade, em virtude da qual ele aborrece e destrói o mal, e ama e opera o bem. No homem, a consciência tem o mesmo trabalho: condenar o pecado e aprovar o que é reto. A consciência é o que permanece da imagem de Deus no homem, é a característica mais próxima do divino nisto, o guardião da honra de Deus no meio da ruína causada pela queda. Por conseguinte, a obra redentora de Deus deve começar sempre com a consciência.

O Espírito de Deus é o Espírito de Sua santidade; a consciência é uma faísca da santidade divina. A harmonia entre a obra do Espírito Santo, de renovar e santificar o homem, e o trabalho da consciência, é a mais íntima e essencial.

O crente que será cheio do Espírito Santo e experimentará ao máximo as bênçãos que Ele tem para entregar, deve em primeiro lugar procurar dar à consciência o lugar que lhe pertence. A fidelidade à consciência é o primeiro passo no caminho da restauração da santidade de Deus. Uma consciência séria será o alicerce e a característica da verdadeira espiritualidade.

Visto que o trabalho da consciência é dar testemunho de nossa reta conduta de acordo com o nosso sentido do dever e para Deus, e a obra do Espírito é testificar agradando a Deus de nossa fé em Cristo e nossa obediência a ele; ambos os testemunhos, do Espírito e da consciência irão ser cada vez mais idênticos à medida que a vida cristã progride. Sentiremos a necessidade e a virtude de dizer como Paulo, com respeito a toda a nossa conduta: «A minha consciência me dá testemunho no Espírito Santo».

Pode-se comparar a consciência a uma janela de um quarto, através da qual brilha a luz do céu, e pela qual podemos olhar para fora e ver o céu com toda a sua luz brilhando. O coração é a antecâmara na qual mora a nossa vida, nosso ego ou nossa alma, com seus poderes e afetos. Nas paredes dessa câmara está escrita a lei de Deus. Até no incrédulo, ela é legível em parte, embora tristemente obscurecida e desfigurada. No crente, a lei é escrita de novo pelo Espírito Santo, em letras de luz, que normalmente no começo são frágeis, mas crescem em claridade e resplandecem com maior brilho à medida que são expostas livremente à ação da luz.

Em cada pecado que cometemos, aquela luz que brilha o manifesta e o condena. Se o pecado não é confessado e abandonado, a mancha permanece, e a consciência é poluída, porque a mente rejeitou o ensino da luz (Tito 1:15). E assim, com um pecado atrás do outro, a janela se torna mais escura, até que a luz pode quase não brilhar, e o cristão pode pecar sem ser perturbado, com uma consciência cegada em grande parte e sem sensibilidade. Em sua obra renovadora, o Espírito Santo não cria novas faculdades: ele renova e santifica aquelas que já existem.

A consciência é a obra do Espírito do Deus criador; o primeiro cuidado do Espírito de Deus, o Redentor é restaurar o que o pecado poluiu. É só restaurando a consciência à ação completa, e revelando nela a graça maravilhosa de Cristo, ‘o Espírito dando testemunho ao nosso Espírito’, que ele capacita ao crente para viver uma vida na luz plena do favor de Deus. É quando a janela do coração que olha para o céu é aberta e mantida limpa, que podemos andar na luz.

A obra do Espírito na consciência é tripla. Através da consciência, o Espírito permite que a luz da santa lei de Deus brilhe no coração. Um quarto poderia ter suas cortinas, e até seus forros fechados, mas isto não pode impedir o relâmpago brilhar de vez em quando na escuridão.

A consciência poderia estar tão manchada e cauterizada pelo pecado que o homem forte poderia morar nela sem ser incomodado. Quando o resplendor do Sinai brilha no coração, a consciência se desperta, e está imediatamente disposta a confessar e suportar a condenação. Ambas, a lei e o evangelho, com seu chamado ao arrependimento e sua convicção de pecado, apelam à consciência. E a libertação não chegará verdadeiramente até que a consciência aceite a acusação de transgressão e incredulidade.

Da mesma maneira, é pela consciência que o Espírito faz brilhar a luz da misericórdia. Quando as janelas de uma casa estão sujas, precisam ser lavadas. «Quanto mais o sangue de Cristo … limpará as suas consciências?» (Heb. 9:14).

O objetivo completo do precioso sangue de Cristo é chegar até a consciência, silenciar as suas acusações, e limpá-la, até que possa testificar que toda mancha é removida e que o amor do Pai flui em Cristo em um resplendor sem nuvens dentro da alma. «…purificados os corações da má consciência» (Heb. 10:22), este deve ser o privilégio de todo crente, e acontece quando a consciência aprende a dizer Amém à mensagem divina do poder do sangue de Jesus.

A consciência que foi limpa no sangue deve ser conservada limpa pelo caminhar na obediência da fé, com a luz do favor de Deus brilhando nela. A consciência também deve dizer Amém à promessa do Espírito que habita no interior, e ao seu compromisso de conduzir em toda a vontade de Deus, e testificar que Ele o faz.

O crente é chamado para caminhar em humilde ternura e vigilância, para que não aconteça que em qualquer coisa, inclusive pequena, a consciência lhe acuse por não ter feito o que ele sabia que era o correto, ou fazer aquilo que não provinha da fé. Ele não deveria alegrar-se com nada menos que o testemunho feliz de Paulo: «Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, que com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas com a graça de Deus, temos vivido no mundo» (2ª Cor. 1:12). (Comparar com o Atos 23:1, 24:16; 2ª Tim. 1:3).

Notem bem estas palavras: «A nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência». Quando a janela é mantida limpa e brilhante, mediante o nosso habitar na luz, podemos ter comunhão com o Pai e o Filho, o amor do céu brilha de forma aberta, e nosso amor cresce com a confiança de um menino. «Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança em Deus; e qualquer coisa que lhe pedirmos a receberemos dele, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos as coisas que são agradáveis diante dele» (1ª João 3:21, 22).

O manter uma boa consciência com Deus dia a dia é essencial para a vida da fé. O crente deve ter isto como objetivo, e não deve estar satisfeito com nada menos que isto. Ele deveria assegurar-se de que isto esteja dentro do seu alcance.

Pela fé, os crentes no Antigo Testamento tiveram testemunho de ter agradado a Deus (Hebreus cap. 11). No Novo Testamento, isto é posto diante de nós, não só como um mandamento a ser obedecido, mas também como uma graça a ser forjada pelo próprio Deus. «…para que andeis como é digno do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; fortalecidos com todo poder» (Col. 1:10). «…vos faça aptos em toda boa obra para que façais a sua vontade, fazendo ele em vós o que é agradável diante dele» (Heb. 13:21).

Quanto mais procurarmos este testemunho da consciência de que estamos fazendo o que agrada a Deus, mais sentiremos liberdade, em cada falha que fomos surpreendidos, que olhemos imediatamente para o sangue que limpa sempre, e mais forte será a nossa segurança de que os pecados que habitam em nós, junto com todas as suas obras que ainda nos são desconhecidas, são cobertos também por esse Sangue.

O sangue que aspergiu a consciência habita e atua ali no poder da vida eterna que não conhece nenhuma interrupção, e do sacerdócio imutável que salva totalmente. «Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com outros, e o sangue de Jesus Cristo seu Filho nos limpa de todo pecado» (1ª João 1:7).

A causa da fraqueza da nossa fé se deve em grande parte à falta de uma consciência limpa. Identifiquemos bem com quanta proximidade Paulo as conecta em 1ª Timóteo: «…o amor nascido de coração limpo, e de boa consciência, e de fé não fingida» (1:5). «…mantendo a fé e boa consciência, a qual desprezando alguns naufragaram quanto à fé» (1:19). E especialmente (3:9): «que guardem o mistério da fé com uma consciência limpa».

A consciência é o consentimento da fé. Aquele que cresce forte na fé, e tem confiança em Deus, deve saber que está agradando ao Pai (1ª João 3:21, 22). Jesus disse claramente que é para quem o ama e guarda os seus mandamentos que está guardada a promessa do Espírito, com o Pai e o Filho morando em seu interior, o habitar em seu amor, e o poder na oração.

Como podemos proclamar confidencialmente estas promessas, a menos que com uma simplicidade infantil a nossa consciência possa atestar que cumprimos com as condições? Oh, aqui a igreja pode levantar-se a altura de sua chamada santa como intercessora, e apelar a estas promessas ilimitadas que estão realmente ao seu alcance. Os crentes terão que aproximar-se do Pai, lhe glorificando, como Paulo, no testemunho de sua consciência, pois, pela graça de Deus, eles estão caminhando em santidade e sinceridade.

Deverá ser evidente que esta é a humildade mais profunda, e trará maior gloria à gratuita graça de Deus abandonar a ideia humana do que nós podemos obter, e aceitar a declaração de Deus, pelo que ele deseja e promete, como o único padrão do que devemos ser.

E como alcançar esta vida bendita, na qual é possível diariamente apelar a Deus e aos homens como Paulo: «Verdade digo em Cristo, não minto, e minha consciência me dá testemunho no Espírito Santo»? O primeiro passo é: Inclina-te muito baixo diante do que a consciência reprova. Não te conformes com uma confissão geral, porque há muitas coisas que estão incorretas.

Não confundas a transgressão real com os atos involuntários da natureza pecaminosa. Se esta última for ser conquistada e morta pelo habitar interior do Espírito, deveria antes tratar com a primeira. Comece com algum pecado individual, e dê tempo à consciência em submissão silenciosa e humilhação para reprovar e condenar. Diga ao seu Pai que nisto, por Sua graça, vais obedecer.

Aceite de novo a oferta maravilhosa de Cristo para tomar plena posse de seu coração, para habitar em ti como Senhor e Guardador. Confia nele por seu Espírito Santo para fazer isto, mesmo quando se sentir fraco e desamparado. Recorde que a obediência, o tomar e guardar as palavras de Cristo em sua vontade e vida, é a única maneira de provar a realidade de sua entrega a ele, ou seu interesse em seu trabalho e sua graça. E te submetas em fé, que pela graça de Deus serás exercitado sempre para ter uma consciência livre de ofensa para com Deus e para com o homem.

Quando tiveres iniciado isto com um pecado, proceda da mesma forma com os outros, passo a passo. Se for fiel em manteres uma consciência pura, a luz brilhará com mais resplendor do céu no teu coração, descobrindo pecados que  não tinhas notado antes, trazendo para fora claramente a lei escrita pelo Espírito que não tinha sido capaz de ser lido. Desejes ser ensinado; confiando em que o Espírito o ensinará. Cada esforço honesto de manter a consciência limpa pelo sangue, na luz de Deus, será resolvido com a ajuda do Espírito. Apenas te apoies com todo o teu coração e inteiramente à vontade de Deus e ao poder do seu Espírito Santo.

Se te inclinares desta forma diante da repreensão da consciência, e te entregares por completo à vontade de Deus, o seu valor se fortalecerá e te serás possível ter a tua consciência limpa de ofensas. O testemunho da consciência, quanto ao que está fazendo e o que farás por graça, será completado pelo testemunho do Espírito quanto ao que Cristo está fazendo e fará.

Com simplicidade infantil procurarás começar cada dia com uma simples oração: ‘Pai, agora não há separação entre eu e ti, e seu Filho. A minha consciência, divinamente limpa no sangue, me dá testemunho. Não permitas sequer que a sombra de uma nuvem encubra este dia. Que em tudo eu faça a tua vontade; seu Espírito, que mora em mim, guie-me e me faça forte em Cristo’. E entrarás nessa vida que se gloria na livre graça só quando disser no final de cada dia: «A nossa glória seja esta, o testemunho da nossa consciência, que em santidade e sinceridade divina, pela graça de Deus, temos vivido no mundo … Minha consciência me é testemunha no Espírito Santo». Amém.

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