ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
O conhecimento da vida eterna
É necessária a operação da graça de Deus Pai, nos revelando a seu Filho, por meio do Espírito Santo.
Roberto Sáez
«E esta é a vida eterna: que te conheçam ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviastes» (João 17:3).
A vida eterna consiste no conhecimento do único Deus verdadeiro e de Jesus Cristo o enviado de Deus.
O conhecimento de Deus não se obtém pela via do intelecto; requer-se uma operação da graça de Deus para tal efeito. Uma doutrina errônea quanto a Deus e ao Senhor Jesus Cristo trará como consequência a perda do desfrute da vida eterna.
Visto que a vida eterna consiste no verdadeiro conhecimento de Deus; sem vida eterna não há salvação, mas uma eterna exclusão de Deus.
Conhecendo ao único Deus
Existe um só e único Deus verdadeiro, o qual coexiste em três pessoas distintas, mas unidos por uma mesma substância. Estas três pessoas são reveladas nas Escrituras tendo a vida eterna como natureza própria de cada um. A natureza essencial de Deus é a vida eterna que possui, o que nos permite perceber uma unidade em pluralidade de pessoas.
Nenhuma das três pessoas foi originada; do contrário, não teriam como propriedade a vida eterna. Esta coexistência eterna dá testemunho da qualidade de vida que há em Deus, o que faz que Deus seja único. A vida incriada é única, pois não há outros seres que a possuam, com exceção daquelas criaturas humanas a quem lhes conferiu tê-la pela graça do Deus que a possui.
Em Deus, havendo três pessoas distintas, não há hierarquia, pois os três compartilham uma vida exatamente igual em qualidade. Embora seja verdade, cada um nos revela em distintas funções, mas a função não lhes dá uma categoria maior, pois os três têm uma mesma essência, e isto nos livra de pensarmos em três deuses, mas em um Deus único.
Algumas evidencias mostram que o Pai é quem preside, o Filho quem executa os planos do Conselho Eterno e o Espírito Santo quem comunica os segredos de Deus.
Conselho eterno
O conceito de Conselho Eterno de Deus aponta para uma reunião de pessoas com autoridade para tomar decisões. Pedro faz referência a esse Conselho Eterno: «…a este, entregue pelo determinado conselho e presciência do conhecimento de Deus, o prendestes e o matastes» (Atos 2:23).
Este Conselho Eterno sempre existiu, antes de todas as coisas, antes de tudo o que foi criado. À partir daí saiu tudo o que foi criado. A ordem do universo, a ordem dos tempos, a criação dos anjos, a criação do homem, tudo foi originado nesse Conselho Eterno. Dali saiu a voz do Pai, em sua função de presidir o Conselho: «Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança» (Gn. 1:26).
O que o Pai expressa é o que sempre houve na essência dos três, pois na natureza divina há um mesmo pensamento, um mesmo sentir; o que um quer, o outro também quer; o que um diz, o outro o confirma.
Ali, no Conselho Eterno, houve um acordo unânime, determinações e planos em relação ao que seria criado. A figura central da criação seria o homem, destinado a ser conformado à imagem de Deus, obra mestra da criação, a coroa de toda a criação.
A criação do homem foi prevista no espaço e tempo predeterminado por Deus; a queda e a redenção também foram previstas. No Conselho Eterno soube-se que o homem cairia e necessitaria de um Redentor. Por isso, alguém deveria encarnar-se para ser o Redentor da humanidade caída.
A este acordo, combinado entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, é que Pedro se refere no texto já citado.
Pacto eterno
Sempre que o Pai preside, o faz em representação da Deidade. Ele não fala por si mesmo, mas o que os três sentem. Não há contrariedade nas deliberações. Não há imposições nos acordos, e sim aceitação da vontade divina. A isto o Senhor Jesus faz referência quando dá testemunho do que foi acordado na eternidade: «Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida, para torná-la a tomar. Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou. Tenho poder para dá-la, e tenho poder para torná-la a tomar. Este mandamento recebi de meu Pai» (Jo. 10:17-18).
O que foi acordado com o Pai constitui um mandamento para o Senhor Jesus, ao qual se submete para dar cumprimento aos acordos do Conselho Eterno. O Senhor Jesus é o executor desses acordos. O Pai preside, o Filho executa. Estes dois aspectos ressaltam na revelação da Palavra escrita de Deus.
A voz presidencial do Pai é ouvida quando diz: «Desçamos e confundamos ali a sua língua» (Gn. 11:7). O Pai toma a iniciativa na Trindade para castigar a soberba dos homens. Isaías vê a glória de Deus no templo e ouve a voz presidencial: «A quem enviarei, e quem irá por nós?», e em seguida a voz do Executor: «Eis-me aqui, envia-me a mim» (Is. 6:8).
Função do Espírito Santo
A função do Espírito Santo é comunicar os acordos do Conselho Eterno, sobre a base do que foi executado pelo Redentor. O Senhor Jesus disse aos seus discípulos: «Tenho muitas coisas que vos dizer, mas agora não as podeis suportar. Mas quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos fará saber as coisas que hão de vir» (Jo. 16:12-13).
O Espírito Santo é revelado aqui como o comunicador do Conselho Eterno de Deus; por isso, a blasfêmia contra o Espírito Santo não tem perdão de Deus, pois, quem resiste a comunicação do Espírito, como conhecerá o que Deus lhe deu? Por isso, «ninguém pode chamar a Jesus de Senhor, a não ser pelo Espírito Santo» (1a Cor. 12:3b).
A consistência do conhecimento do Deus único e verdadeiro é contundente para apreciar que Deus não é um indivíduo, mas um conjunto de pessoas vivendo em uma beleza de unidade harmônica.
Família de Deus, igreja de Deus
O que dissemos de Deus, diz-se também da família, pois a família, da mesma forma que Deus, é um conjunto de pessoas vivendo em unidade. O mesmo se pode dizer da igreja, como um conjunto de pessoas vivendo em unidade. Isto põe um selo à imagem de Deus na natureza humana; pois o homem que ainda não é convertido tem a necessidade de viver uma vida de conjunto; por isso a origem da vida tribal, a vida em povos e nações, pois o homem foi feito para viver em sociedade.
A igreja é o lugar onde está o Conselho de Deus na terra. Ali está a autoridade para ligar e desligar. Ali estão «os tronos do juízo» (Sal. 122:5).
A sabedoria que recebemos para aconselhar provém do Conselho Eterno de Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo em sua obra redentora e a comunicação do Espírito Santo, que não só nos comunica os planos eternos, mas ministra a vida eterna de Deus em forma orgânica.
O Espírito Santo cumpre a missão de glorificar a Cristo e comunicar o que ouvir do Pai e do Filho aos santos de Deus, como também convencer o mundo do pecado, do juízo e da justiça, para que os conduzam ao arrependimento, apontando à vida eterna manifestada na pessoa do Jesus Cristo, «porque a vida eterna foi manifestada, e a vimos, e testificamos e vos anunciamos a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada» (1ª Jo 1.2).
Os fiéis, amados e escolhidos de Deus devem reconhecer o Conselho de Deus no meio de Sua casa e valorizar o fato de que a igreja se ajunta para declarar a multiforme sabedoria de Deus às potestades superiores (Ef. 3:10). A igreja é a depositária dos conselhos de Deus e a administradora dos mistérios de Deus, revelados pelo Espírito Santo.
Conhecimento de Jesus Cristo
De acordo ao que foi acordado entre o Pai e o Filho no Eterno Conselho de Deus, o Filho deveria vir em forma de homem –Deus encarnado–, para representar os interesses do Conselho Eterno obtendo o cumprimento dos planos eternos de Deus.
Já vimos que o Filho aceitou a encarnação e a entrega de sua vida em resgate dos pecadores, não por imposição, mas voluntariamente, em termos de pacto; não por ser inferior, mas sendo co-igual. Era necessário de acordo ao que foi previsto, a encarnação do Filho para executar o plano de redenção.
Isto está registrado maravilhosamente em Filipenses 2:5-11. Neste sentido, o Filho não só representaria os acordos do pacto, mas também viria em representação da humanidade para trazê-los de volta para Deus, para resgatá-los da sua queda, salvando-os, a fim de conduzi-los à glória.
Com a finalidade de salvar os homens, o Filho assumiu a natureza humana. Ao assumi-la, ele teria que viver de uma maneira humanamente perfeita, e pôde fazê-lo, porque nele não havia pecado e era impossível que o pecado o tentasse ao ponto de fazê-lo pecar.
Não há maneira de separar a natureza humana da natureza de Cristo. Não é possível saber se o que veio do Salvador é divino ou humano; o absoluto é que vem de uma só pessoa – Jesus Cristo O Salvador. Nele, há duas naturezas em uma pessoa; enquanto que, na Trindade, há três pessoas em uma mesma natureza.
Entre os acordos pactuados, o Filho teria que assumir a condenação dos pecadores representados nele; teria que assumir o castigo de toda a humanidade, morrer em representação de todos os homens, principalmente daqueles que haviam que crer nele.
Hebreus 5:7 descreve os sofrimentos de Cristo no momento de assumir a morte dos pecadores: «E Cristo, nos dias da sua carne, oferecendo orações e súplicas com grande clamor e lágrimas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido por causa do seu temor reverente».
De que morte Cristo pedia para ser livrado? Não era a morte física, pois esta foi totalmente assumida. Quando firmou o seu rosto como pederneira para ir a Jerusalém, e Pedro tratou de evitá-lo, Jesus repreende ao espírito do diabo que queria lhe impedir a morte física.
Quando, orando ao Pai, diz-lhe: «Agora está perturbada a minha alma e o que direi? Pai salva-me desta hora? Mas para isto tenho chegado a esta hora» (Jo. 12:27), ele sabia para que tinha chegado a essa hora – para morrer fisicamente pelos pecadores. Então, de que morte pedia para ser livrado? Da morte espiritual, da separação eterna que o ser humano tinha por causa da condenação por seus pecados, «a segunda morte», que consiste em ficar separado de Deus, pois a morte em todas suas formas é separação.
É esta morte que Jesus temia; pois, em toda a eternidade, ele jamais se separou do Pai nem por um instante. Sendo onisciente, não havia experimentado a separação do Pai. O Pai e o Filho tinham vivido eternamente –«nisto consiste a vida eterna»– em uma união essencial. Para nos redimir, ele tinha que nos representar em toda a nossa humanidade, sem deixar nenhum aspecto legalmente representado; do contrário, não teria podido nos salvar.
O Cordeiro imolado
O dia em que Jesus morreu, o céu se escureceu durante três horas. Foi o tempo em que o Pai se separou por primeira e única vez do Filho.
Há quem pense que a relação de Pai e Filho é temporária, e que começou quando o Filho foi encarnado em Maria. No entanto, as Escrituras mostram uma relação eterna entre o Pai e o Filho. A dor da separação é algo espantoso; não podemos dimensioná-la, apenas imaginá-la; mas não seria tão doloroso se a relação do Pai e do Filho fosse temporária e não eterna.
Esse dia, de acordo a Flavio Josefo, deviam morrer em Jerusalém 256.000 cordeiros. O mais provável é que nesse dia morreu apenas um Cordeiro (devido à escuridão), pois os outros eram só símbolos da gestão redentora que efetuaria o Enviado de Deus, deixando para trás os rituais simbólicos para dar passagem para a realidade de Jesus Cristo.
Em todos os pactos de Deus interveio a morte naquilo que foi pactuado. A versão Reina-Valera, traduz mal o texto: «...porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador» (Hb. 9:16). O testador é o Pai, e o Pai não é quem morreu, mas o Filho. A tradução correta seria que, para que os herdeiros do pacto recebam a herança, é necessário que a morte intervenha naquilo que foi pactuado.
Na noite que ele ia ser entregue, Jesus celebrou o cumprimento do Pacto Eterno. Horas mais tarde, no Getsêmani, ele pediu que o Pai o tornasse para aquela glória que tinha tido com ele antes da fundação do mundo –outra prova da eternidade da relação entre o Pai e o Filho–, porque tinha acabado a obra que o Pai lhe tinha encarregado.
Títulos de Cristo
Nas Escrituras, os títulos do Senhor Jesus Cristo são uma revelação contundente de quem é esta pessoa tão gloriosa. É assinalado que Jesus tem 252 títulos em toda a Bíblia; outros eruditos dizem que são muitos mais.
Esses títulos revelam quem é a pessoa e qual é a obra do nosso Senhor Jesus Cristo. O texto que agora estamos comentando, «E esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviastes» (João 17:3), mostra que a vida eterna consiste em conhecer a Deus, o Deus único e verdadeiro, e a Jesus Cristo, o Enviado de Deus.
Precisamente, este título de Jesus, o Enviado em castelhano –em grego, o Cristo, em hebreu, o Messias–, nos indica a missão pactuada na eternidade entre o Pai e o Filho.
Outro título associado com esta missão é o de Apóstolo. Jesus é o único apóstolo que veio sendo ele a luz, para iluminar aos que estavam nas trevas. Outros apóstolos vieram das trevas para a luz. Quão importante é conhecer os títulos de Cristo para conhecermos a sua pessoa e a sua obra!
Isaías 9 assinala vários títulos de Cristo, que nos revelam a Sua participação no Conselho Eterno de Deus. «Porque um menino nos é nascido, filho nos é dado, e o principado está sobre o seu ombro; e o seu nome se chamará Admirável, Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz» (Is. 9:6).
A versão portuguesa de João de Almeida, diz: «Maravilhoso Conselheiro. Isto, implicitamente, dá a entender a participação de Cristo no Conselho Eterno de Deus. O título de «Pai Eterno», é por representar os acordos do Conselho, onde o Pai fala na representação dos três. «Deus Forte», põe em evidência a fortaleza de Jesus quanto a sua humanidade e divindade, que «não estimou o ser igual a Deus como coisa a que aferrar-se» (Fil. 2:6). Demonstrou ser forte, porque se despojou da forma de Deus para assumir a nossa humanidade, sem deixar de ser Deus. «Príncipe da Paz» é um título que revela como Cristo estabeleceu a paz entre Deus e os homens e isso, assumido desde a eternidade.
Comunhão eterna
Também estes títulos põem em evidência a preexistência de Cristo e a comunhão eterna com o Pai, fazendo ressaltar a qualidade da obra consumada sobre a base da qualidade da Pessoa que a realizou.
Jesus Cristo é a vida eterna manifestada; ele é a vida de Deus encarnada. A vida suprema, incriada, veio para nos aproximar da comunhão do Pai e do Filho no Espírito Santo. Agradou a Deus dar-se a conhecer, manifestando sua vida eterna na encarnação de Jesus Cristo.
Cristo nos mostrou a forma da vida eterna dizendo: « Crede-me que eu estou no Pai e o Pai em mim» (Jo. 14:11). Nestas palavras se encontra a revelação da vida eterna quanto a sua forma: consiste em que alguém está contido no outro – o Filho sempre esteve contido no Pai e o Pai sempre contido no Filho. O Espírito Santo, procedente de ambos, indica que o Espírito habitava no Pai como no Filho. As pessoas da Trindade viveram eternamente um para dentro do outro.
Em João 17, em sua oração sacerdotal, Jesus orou pedindo que aqueles que haviam crido em sua missão, que haviam crido que ele tinha vindo do Pai, vivessem da mesma maneira como a Trindade viveu, «para que todos –os que tinham crido nele e em sua missão– sejam um; como tu, Oh Pai, em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós» (Jo. 17:21).
Cristo revelado
Embora esta seja uma revelação registrada na Bíblia, ela não é experimentada apenas por lê-la ou memorizá-la. É necessário que o próprio Pai nos revele o Filho e, ao mesmo tempo, que o Filho nos revele o Pai. Do contrário, tudo o que soubermos de Deus e de Jesus Cristo é mera letra.
É absolutamente necessária a operação da graça de Deus para conhecê-lo: «Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e dos entendidos, e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim te agradou… Ninguém conhece o filho, senão o Pai, e ninguém conhece ao Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar» (Mt. 11:25-27).
É minha oração que estas palavras contribuam um enfoque para o conhecimento de Deus e do Senhor Jesus Cristo, com o fim de desfrutarmos da vida eterna de Deus, especialmente para aqueles a quem já foi revelado o segredo da vida eterna, mas precisam crescer no conhecimento de Deus e do Senhor Jesus Cristo.