ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
O exercício da piedade
Por obra do Espírito Santo, nosso espírito foi despertado; portanto agora pode cumprir suas principais funções.
Stephen Kaung
«Exercita-te na piedade, porque o exercício corporal para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo se aproveita, pois tem promessa desta vida presente, e da vindoura. Palavra fiel é esta, e digna de ser recebida por todos. Que por isto mesmo trabalhamos e sofremos opróbios, porque esperamos no Deus vivente, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos que crêem» (1 Tim. 4:8-10).
Queridos irmãos e irmãs, queria compartilhar com vocês algo que está em meu coração nestes dias. Enquanto percorro entre o povo de Deus, sinto que há um incremento no conhecimento espiritual; mas, infelizmente, descubro que a vida espiritual do povo de Deus não cresceu na mesma proporção. Por esta razão, estive meditando no Senhor. Eu gostaria de saber qual é a razão desse sintoma, e me parece que o Senhor guiou aos versículos que acabamos de ler. Neles, descobrimos o que se chama «exercício espiritual».
O exercício corporal
Todos nós sabemos o que é o exercício. Nos últimos anos, as pessoas tem tomado uma maior consciência de sua saúde física, e por onde viajo vejo que todos praticam o exercício corporal. Até nos hotéis encontramos salas para exercícios. Graças a Deus, as pessoas estão conscientes do seu corpo físico.
Nos Estados Unidos, os jovens se colocam muito tempo diante do computador, e por estar sentados durante horas diante da tela, a sua saúde se deteriora. Então, eles estão começando a entender a importância do exercício físico. E creio que isso é algo bom.
No entanto, o apóstolo Paulo diz: «O exercício corporal para pouco é proveitoso». É benéfico, mas é benéfico para pouca coisa. Por quê? Primeiro, porque só favorece ao corpo físico, e em segundo lugar, não importa o tempo que isso poderá ser proveitoso, pois, será algo limitado.
Exercitando-se para a piedade
De certa maneira, Deus quer que exercitemos o nosso corpo; mas, para nós cristãos, há algo muito melhor que o exercício físico. Paulo o chama «exercício para a piedade» (em inglês, godliness). Outras versões das Escrituras dizem «exercício na piedade» (em inglês, piety) . Creio que a palavra mais apropriada seria piedade (godliness).
Para explicar a diferença, me permitam usar uma ilustração. Certa vez, nas Filipinas, fui a uma cidade chamada Baguio e visitei um templo católico. Quando entrei ali, vi umas figuras de branco ajoelhadas diante do altar. Eram várias mulheres. Ao me aproximar um pouco mais, vi que eram monjas, diante do altar, imóveis. A primeira coisa que pensei foi: «Que piedoso é isto!». Mas, em seguida, o Senhor me falou, dizendo: «Isto pode parecer piedoso exteriormente, mas interiormente pode ser distinto».
Essa é a diferença entre estas duas palavras. A palavra piety dá a ideia de uma aparência exterior, mas a outra, godliness, refere-se a uma realidade interior, porque godliness, em inglês, significa «semelhança com Deus», ou seja, ter o caráter de Deus, estar conformado à imagem de Cristo. E isso se refere ao nosso homem interior.
Irmãos e irmãs há um exercício básico que os cristãos têm que praticar, e este é o chamado «exercício para a piedade» (1ª Tim. 4:7). E, por que isso é tão importante? Porque o benefício é muito grande. O proveito que isto tem não é apenas para hoje, mas até para a eternidade. Paulo nos diz que a piedade «tem promessa desta vida presente, e da vindoura» (1ª Tim. 4:8). A palavra vida aqui não é a vida humana; no grego, é zoe, a vida de Deus.
Então, há um tipo de exercício que os cristãos têm que praticar, e ao fazê-lo, cresceremos na vida espiritual, e isto não só é proveitosa para hoje, mas também para os dias vindouros. Então, assim como vemos pessoas exercitando os seus corpos, Deus espera que seu povo exercite o seu espírito.
O Espírito Santo e o nosso espírito humano
Quando cremos no Senhor Jesus, nosso espírito humano, que estava morto por causa do pecado, foi renovado pelo Espírito Santo. Deus é espírito, e por esta causa, quando criou o homem, criou-o a Sua imagem, e pôs nele um espírito humano.
Olhe as grandes montanhas; elas têm um corpo enorme, mas não têm alma. Um cachorro ou um gato ao contrário, embora sejam pequenos, têm alma, pois têm entendimento e sentimentos; são muito mais que uma montanha. Mas nós, os seres humanos, Deus criou a sua imagem e semelhança – nos criou com um espírito.
Os anjos são espíritos; eles não têm corpos. Mas nós fomos criados não só com um corpo, mas também com uma alma. Somos almas viventes, temos sentimentos, pensamentos, e podemos exercer a nossa vontade. Mas mais que isso, temos também um espírito. E porque fomos criados com um espírito, podemos nos comunicar com Deus, porque Deus é Espírito, e apenas o espírito pode comunicar-se com o Espírito.
Por desgraça, por causa do pecado, a comunhão se perdeu. Deus disse a Adão: «Da árvore da ciência do bem e do mal não comerás; porque o dia que dele comeres, certamente morrerás» (Gn. 2:17). No entanto, Adão desobedeceu, e comeu. Mas, ele morreu nesse dia? Não. Vemos que ele viveu centenas de anos, e a vida de nenhum de nós se compararia com os anos que ele viveu. E não só isso; ele teve filhos e filhas.
Em outras palavras, não só seu corpo não morreu, mas a sua alma tampouco morreu. Mas, é verdadeira a palavra de Deus? Sim. Então, o que é que morreu? O seu espírito. Adão perdeu a sua conexão com Deus, seu espírito estava morto e já não pôde comunicar-se com Deus. Então foi expulso do jardim de Éden. Nós nascemos com um corpo e uma alma vivente, mas com um espírito morto. O espírito, como órgão, ainda está aí, mas a sua própria função se perdeu.
Quando o primeiro astronauta russo foi ao espaço, retornou declarando: «Não há Deus; porque olhei ao meu redor e não pude encontrar a Deus em nenhuma parte». Mas isso não tem sentido, porque ele estava tentando usar seu corpo para contatar a Deus que é espírito, o qual é impossível.
Queridos irmãos, graças a Deus porque quando somos salvos não só os nossos pecados são perdoados. Esse é o lado negativo. Mas, no positivo, Deus tem feito algo muito maior em nossas vidas. Ele renovou o nosso espírito! Em Ezequiel descobrimos que Deus nos deu um novo espírito; este é o nosso espírito humano que foi renovado. Esta é a razão pela qual em Romanos capítulo 8, vemos que o Espírito Santo testifica como o nosso espírito que somos filhos de Deus e nós clamamos: «Abba Pai».
Quando você foi salvo, algo ocorreu em sua vida. Talvez tenha crescido em uma família cristã, conhecia a Bíblia e até orava. Mas o dia em que realmente foi salvo, imediatamente, descobriu que você e Deus estavam conectados. E agora, quando ora: «Abba Pai», há um relacionamento. Não é como antes, não é apenas algo em sua mente; agora tem contato com Deus.
A obra do Espírito Santo em nosso espírito
Quando fomos salvos, Deus nos deu um novo espírito; o Espírito Santo veio morar em nosso espírito, e está ali para assegurar que a vida de Cristo cresça em nós. Graças a Deus! Em 2ª Pedro lemos que Deus, em seu divino poder, dispôs tudo o que é necessário para a vida e a piedade. Em outras palavras, em sua misericórdia e sua graça, quando ele nos salvou, quando ele nos deu vida, sua própria vida, ele também fez provisão para a piedade. Assim, esta vida crescerá em nós, para que sejamos feitos semelhantes a Deus, para que a vida de Cristo cresça em nós até sermos conformados a sua imagem. Esta é a vontade de Deus.
No entanto, como podemos de verdade crescer espiritualmente? Nós sabemos como crescer fisicamente, sabemos como exercitar o corpo. Também sabemos como exercitar a nossa alma: vamos à escola, recebemos informação dos nossos professores, a armazenamos em nossa mente e nos tornamos em pessoas que tem saber. Desta forma é que a nossa alma cresce. Já não somos mais ignorantes, podemos ler, pensar, emitir opiniões, podemos ter nossos próprios sentimentos, assim como disse um grande filósofo: «Penso, logo existo».
Irmãos e irmãs, nós como cristãos temos algo muito melhor. Nosso espírito precisa crescer, e este é o significado da vida espiritual. Ela não se refere simplesmente a seu corpo nem ao crescimento de sua alma, mas ao crescimento em seu espírito, quer dizer, que a vida de Cristo começa a crescer em ti. Graças a Deus, ele tem nos provido tudo para esse crescimento; mas, por outro lado, ele requer que nós cooperemos com ele. E qual é a nossa cooperação? Que exercitemos o nosso espírito.
Pergunto: Depois que você foi salvo, pôde comprovar se o Espírito Santo está operando em seu espírito? Percebeu que algo não exterior está ocorrendo? Não é uma coisa mental, mas que, no mais profundo do seu ser, seu espírito está crescendo.
Irmãos, nós sabemos como exercitar o corpo físico e como exercitar a nossa alma. Mas, sabemos realmente como exercitar o nosso espírito? Não vemos o espírito, porque não é matéria, mas isso não quer dizer que não seja real. De fato, o espírito é mais real que o seu corpo.
Desde que Deus nos deu este novo espírito, ele tem feito de Cristo nossa vida, e pôs seu próprio Espírito em nós. Qual é a obra daquele que habita em nós? Assegurar-se de que a vida de Cristo cresça. Ele operará em nosso espírito, e embora não possamos vê-lo, podemos percebê-lo através das suas funções.
Por exemplo, todos conhecem a eletricidade. Mas, você a viu? Não. No entanto, embora não a veja, sabes que ela é real. Como sabes? Por seu poder. A eletricidade tem poder. Pela luz, sabemos que há eletricidade; em outras palavras, sabemos que existe a eletricidade pela função. Da mesma forma, conhecemos nosso espírito por suas funções.
Quando você lê a palavra de Deus, descobre que as principais funções do nosso espírito são três: consciência, intuição e comunhão. Quer dizer, o Espírito Santo vai operar em nosso espírito de três maneiras: ele vai falar com a nossa consciência, vai revelar a mente de Deus a nossa intuição e vai nos levar a uma comunicação com Deus. É por meio destas três funções que sua estatura espiritual será acrescentada.
Exercitando a nossa consciência
Como podemos exercitar a nossa consciência? Lembrem o que Paulo diz em 1ª Timóteo capítulo 1: Como podemos pelejar a boa batalha da fé? Ele diz: «…mantendo a fé e boa consciência». Assim podemos militar a boa milícia, «mantendo a fé e boa consciência, a qual desprezando-a alguns, naufragaram quanto à fé» (V. 19).
No mundo, as pessoas dizem com frequência: «Eu faço tudo de acordo com a minha consciência». Até um ladrão pode dizer isso. Quão pouco digna de confiança é a consciência humana!
Quando dizemos que o nosso espírito estava morto, não quer dizer que o espírito não estava ali como um órgão; simplesmente quer dizer que perdeu a função que lhe é própria. A definição científica de morte é o afastamento de comunicação com o meio ambiente. Quando o corpo morre, perde a comunicação com o seu entorno.
O mundo é o lugar onde se desenvolvem as circunstâncias de nossa vida, mas quando uma pessoa morre fisicamente, essa comunicação se perde, porque não pode ver mais, não pode ouvir mais, não pode gostar mais. A comunicação com seu entorno terminou. Essa é a morte do corpo.
Agora, o que é a morte da alma? A morte da alma ocorre quando ela já não tem sentimentos, já não pode pensar ou perdeu a sua vontade. Então a alma morreu. E, o que é a morte do espírito? É quando não pode se comunicar com Deus. Mas, até em um incrédulo, o seu espírito está ali como um órgão. Como sabemos? Porque neste mundo há pessoas que se comunicam com espíritos malignos, mas não pode comunicar-se com Deus. O órgão ainda está ali, mas a função própria terminou, perdeu o seu padrão original.
Quando os canibais comem outras pessoas, eles se sentem bem, e a sua consciência não os incomoda, porque, no mundo, a consciência humana é governada pelo costume ou o hábito, e não por Deus. Ao perder a sua comunicação com Deus, ela é governada pelo costume e o hábito. É algo no qual não se pode confiar.
A consciência nos crentes
Mas, queridos irmãos e irmãs, depois que somos salvos, nossa consciência volta para a sua comunicação própria. Deus é o padrão apropriado para a nossa consciência. Por essa razão, às vezes ouvimos dizer: «Nossa consciência é a voz de Deus».
Frequentemente, quando falamos a respeito de Deus se diz: «Deus me falou», alguns jovens dizem: «Deus nunca me falou. O que isso significa?».
Irmão, Deus tem falado contigo; está te falando diariamente, mas você não está consciente disso. Você faz certas coisas, tem certos hábitos. Talvez esteja indo a certos lugares; mas, depois que é salvo, descobre que há algo diferente. Quando tenta ir de novo a lugares que frequentava antes, algo te detém, algo te freia. Já sentiu isso? Isso é o Espírito Santo que está trabalhando em sua consciência, e a sua consciência começa a sentir que isso não é correto.
Vou te contar uma história. Conheci um eletricista que se converteu. Ele vivia em uma montanha. No inverno, ali fazia muito frio, e ele tinha o hábito de beber vinho. Na China, as pessoas bebem o vinho de maneira diferente. Costumam fazê-lo durante as comidas e previamente o esquentam. Mas, quando esse homem bebia vinho, embebedava-se.
Um dia, depois que ele se converteu, a sua esposa esquentou o vinho, e antes que se sentassem para comer, ele disse: «Oremos primeiro». E enquanto oravam, subitamente ele se deteve, olhou para a sua esposa e lhe perguntou: «Um cristão pode beber vinho?». Ela respondeu: «Não sei». Ele replicou: «Então, traz o Livro». O irmão Nee tinha estado com eles e lhes tinha deixado uma Bíblia.
Aquele irmão era pouco instruído e sua esposa era totalmente iletrada. Trouxe-lhe o livro e começaram a procurar. Graças a Deus, não encontraram nada, porque há um só versículo em toda a Bíblia que te diz: «Bebe um pouco de vinho…». Recordam esse versículo? Paulo diz a Timóteo: «Já não beba água, mas usa de um pouco de vinho por causa do teu estômago e de tuas frequentes enfermidades» (1ª Tim. 5:23). E, felizmente, não encontraram esse versículo.
Então sua esposa disse: «O vinho está se esfriando. Bebe-o agora, e a próxima vez que vier o senhor Nee lhe perguntamos». Isso parecia razoável. Começaram a orar de novo, e ele voltou a se deter, para perguntar: «Pode um cristão beber?». Ela disse: «Não sei». Voltaram a orar pela terceira vez, e ele se deteve de novo e disse a sua esposa: «Leve daqui o vinho».
Meses mais tarde, ele viajou para Shangai, encontrou-se com o irmão Nee e lhe perguntou: «Um cristão pode beber?». Lembrem, sempre que ele bebia se embriagava. O irmão Nee lhe respondeu: «Por que me perguntas isso?». E ele lhe disse: «Porque quando eu fui beber vinho, meu Chefe de dentro não me permitiu isso». Ele não sabia o nome do Espírito Santo, mas o Espírito Santo era algo real para ele. O Espírito estava lhe falando, e o estava freando.
Irmãos e irmãs, todos nós temos esse Chefe interior. Seu Chefe está te falando? Eu creio que ele deve estar te falando, mas é provável que você não o escute. E depois que recusar ouvi-lo algumas vezes, a voz vai se fazendo mais e mais fraca, até que já não a ouves mais. Queridos irmãos e irmãs, temos o Espírito Santo em nós. Desde o primeiro dia em que você foi salvo, ele quer te ajudar a crescer em Cristo. E diante de algo que não lhe agrade, ele vai tocar a sua consciência. E quando a sua consciência é tocada, essa é a voz de Deus.
Uma boa consciência
O apóstolo Paulo, depois de ser salvo, manteve uma boa consciência. E quando foi levado diante do concílio para ser julgado, em Atos 23:1, ele disse: «Eu com toda boa consciência vivi diante de Deus até o dia de hoje». Depois no capítulo 24, quando estava declarando diante do governador, diz: «…procuro ter sempre uma consciência sem ofensa diante de Deus e diante dos homens». Paulo sempre mantinha uma boa consciência diante de Deus; assim caminhava diante de Deus e dos homens, com uma consciência sem ofensa.
Nossa consciência pode nos acusar ou nos defender. Se você está fazendo a vontade de Deus a sua consciência vai te desculpar, mas se está caminhando em oposição a Sua vontade, a sua consciência te acusará. Então, para crescer espiritualmente, para que cresça nossa vida em Cristo, os cristãos devem manter uma boa consciência.
Deus está falando em nossa consciência, e quando mais atuamos de acordo a ela, tanto mais a nossa consciência estará em paz. Então, para que a nossa vida espiritual cresça, isto é algo no qual temos que nos exercitar.
Quando temos uma má consciência, isso afeta a nossa comunicação com Deus. Mas, graças a Deus, em cada ocasião em que cairmos, podemos confessar ao Senhor imediatamente, e recorrer à purificação do sangue de Jesus que, como nos diz Hebreus capítulo 10, purificou os nossos corações da má consciência, para que nos aproximemos de Deus confidencialmente. Esta é a primeira coisa que devemos exercitar diariamente.
Exercitando a nossa intuição espiritual
Em segundo lugar, devemos exercitar a nossa intuição. A intuição é um conhecimento direto. O conhecimento comum, do qual já falamos, é o que vem a nossa mente. Mas a intuição é um conhecimento direto, que vem ao nosso espírito. 1ª João 2:27 diz. «Mas a unção que vós recebestes dele permanece em vós, e ... a própria unção vos ensina todas as coisas». Ela não vai só nos ensinar as coisas grandes, mas também as coisas pequenas.
Se atendermos a essa unção, permaneceremos em Cristo. Como podemos permanecer nele? Como podemos viver em Cristo, habitar em Cristo? Como podemos conhecer o Senhor?
Frequentemente, os jovens dizem: «Eu não sei qual é a vontade do Senhor». E dizem isto como se conhecer a vontade de Deus fosse a coisa mais difícil do mundo. Mas, querido irmão, o Senhor te salvou e ele proveu tudo o que é necessário para que você cresça em Cristo.
Hebreus 8:11 diz: «Ninguém ensinará a seu próximo, nem ninguém ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor». A palavra conhece, aqui, é o conhecimento comum, quer dizer, como conhecemos na forma normal, reunindo informação de coisas exteriores e armazenando-a em nosso banco de dados. Hebreus diz que não necessita que alguém te diga: «Conhece ao Senhor». Por quê? Porque, nos dias do Antigo Testamento, a lei foi escrita sobre pedras. E se você não podia ler ou compreender, necessitava de um escriba ou de um fariseu para te ensinar, e tudo o que eles lhe ensinassem seria armazenado em sua mente. É dessa forma que nós conhecemos as coisas. Era dessa forma que as pessoas no Antigo Pacto conheciam ao Senhor. Como o conheciam? Pelo ensino que recebiam dos escribas e fariseus.
Mas lembre-se, esse conhecimento é externo, em sua mente, e embora possa saber coisas sobre o Senhor, é um conhecimento exterior. Você não tem um contato pessoal com o Senhor, seu cérebro se torna enorme, mas seus pés ainda são pequenos. Mas, no Novo Pacto, não necessita que alguém te ensine a conhecer ao Senhor dessa forma. Agora, se ninguém te ensinar, como você pode saber? Graças ao Senhor, ele diz: «Porque todos me conhecerão, do menor até o maior deles».
Conhecimento interior
Há um conhecimento do Senhor que não depende da sua mente, mas do seu espírito, e em seu espírito você está sendo ensinado pelo Espírito Santo. Ele não só te ensinará as coisas grandes, mas também as coisas pequenas.
Irmão, nas coisas pequenas, você diz: «Não preciso orar, não preciso procurar o Senhor, porque isso é algo pequeno; eu posso fazê-lo sozinho». Só nas coisas grandes, é que começamos a compreender. «Oh», você diz, «não estou capacitado para isso; então, vou orar; temos que esperar no Senhor». E assim vivemos a nossa vida cristã, mas isso é errado. Porque, para que cresçamos espiritualmente, não necessitamos apenas que o Espírito Santo nos ensine nas coisas grandes, mas também nas coisas pequenas.
Esta forma de conhecer o Senhor é diferente; é um conhecimento interior. O Espírito Santo te dará luz e revelação, te dará sabedoria e iluminará a sua intuição. Você o conhece interiormente, e essa é a maneira real de conhecer o Senhor, um conhecimento experimental, não um conhecimento objetivo, mas um conhecimento subjetivo, do Senhor.
Surpreendemos-nos quando, às vezes, encontramos irmãos de mais idade, que, quanto ao conhecimento do mundo, sabem muito pouco, e são talvez até analfabetos. Mas tenha comunhão com eles, e constatará que eles conhecem o Senhor por experiência muito mais do que você o conhece. Por quê? Porque eles foram ensinados pelo Espírito Santo.
Irmãos, temos que exercitar a nossa intuição. Temos que abrir o nosso espírito diante do Senhor para que o Espírito Santo nos ensine. Essa é a única forma de crescer interiormente.
Crescendo na comunhão
Em seguida, em nosso espírito há outra função que se chama comunhão. Vocês recordam, em João capítulo 4, quando Jesus estava em Samaria, ele estava sentado junto ao poço de Jacó, enquanto os seus discípulos tinham ido à cidade para comprar comida, e uma mulher samaritana saiu da cidade para tirar água do poço.
Normalmente, as mulheres iam buscar água cedo ou ao entardecer, e vinham juntas. Mas esta mulher veio tirar água ao meio dia e estava sozinha, porque era uma grande pecadora e queria evitar às pessoas. Mas o nosso Senhor estava sentado ali, e ele condescendeu para falar com ela, pedindo a mulher que lhe desse água.
Aquilo surpreendeu a mulher, porque os judeus nem falavam com os samaritanos. Como um judeu poderia pedir água a uma samaritana? Mas o Senhor lhe disse: «aquele que beber da água que eu lhe der, jamais terá sede; mas a água que eu lhe der será nele uma fonte que salte para a vida eterna» (João 4:14). Então, ela disse: «Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha sede, nem venha aqui para tirá-la». Mas o Senhor lhe disse: «Vai, chama a teu marido, e vem para cá».
Ela era uma grande pecadora. Então o Senhor lhe disse: «Cinco maridos tivestes, e o que agora tens não é teu marido». Quando ela ouviu isso, disse: «Senhor, parece-me que tu és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar». E ele lhe disse: «Mulher, creia-me, que a hora vem quando nem neste monte nem em Jerusalém adorareis ao Pai... os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade... Deus é Espírito; e os que o adoram, em espírito e em verdade é necessário que o adorem». Deus é Espírito. Como podemos adorá-lo? Apenas quando nosso espírito se levanta e o toca.
Creio que os cristãos devem ter um tempo com o Senhor na manhã. Lembro-me que, logo que fui salvo, eu tinha 15 anos de idade e, em casa, eu era o primeiro a me levantar. Fechava-me em um quarto e me ajoelhava diante do Senhor, lia a Bíblia, orava e cantava sozinho. Era o meu serviço da manhã. Mas, depois disso, saía dali, e se você me perguntasse: «O que lestes?», eu te diria: «Me esqueci». Eu estava fazendo coisas religiosas, mas não tinha comunhão com Deus.
Exemplo do G. Müller
Como podemos ter comunhão com Deus? Lembro-me de uma história sobre George Müller. Ele era alemão, e foi para a Inglaterra para preparar-se para ser missionário entre os judeus. Mas o Senhor o levantou para abrir orfanatos em Bristol. Müller cuidava de centenas de órfãos, apenas por fé.
Cada manhã, ele se aproximava de Deus, lia apenas um versículo, e em seguida meditava sobre ele. Às vezes, aquele versículo o levava ao louvor, outras vezes ao arrependimento. E depois de lê-lo várias vezes, ele se prostrava diante do Senhor, e segundo o que tinha lido, ele se comunicava com o Senhor. Foi assim que cresceu em sua vida espiritual. Quando soube isso, tentei fazer o mesmo e, graças a Deus, foi uma grande ajuda para minha própria vida espiritual.
Quando nos aproximamos de Deus, frequentemente estamos muito apurados. Levantamo-nos rápido para correr para o trabalho, temos cinco minutos, e nesse tempo tratamos de ler a Bíblia e orar. Tudo passa tão às pressas que nos levantamos e nos esquecemos de tudo. Isso não é comunhão. Desta forma não exercitamos o nosso espírito.
Müller, depois de ler pela manhã, quando tinha um momento livre durante o dia, meditava de novo sobre aquele versículo. E foi assim que ele cresceu espiritualmente.
Muito daquilo que fazemos não é a forma em que a verdade nos ensina. Logo que fui salvo, ensinaram-me a guardar o domingo. Não se podia acender fogo, nem fazer nenhum trabalho. Esse dia eu não podia estudar, e até tinha medo de fazê-lo, embora tivesse uma prova na segunda-feira. Isso é guardar a lei. Graças a Deus, nós adoramos em espírito e em verdade. E quando você está próximo do Senhor, então começa a conhecê-lo melhor.
Na casa de meu pai havia uma senhora norte-americana, já de idade, que vivia conosco. Ela tinha vindo da Virginia como missionária para a China, e criou uma escola em Shangai. Meu avô mandou meu pai para essa escola, para que aprendesse inglês e pudesse ajudá-lo em seu trabalho de construção. Ele construiu algumas escolas americanas na China, mas ele mesmo era analfabeto. Nem sequer sabia escrever seu nome, e mesmo assim, podia falar algo de inglês.
O avô queria que meu pai estudasse inglês. Mas, graças a Deus, nessa escola, meu pai foi salvo. Quando isso ocorreu, meu avô se sentiu envergonhado, porque ninguém então cria no cristianismo, exceto os chamados ‘cristãos de arroz’, aqueles que se aproximavam dos missionários apenas para obter comida.
Os cristãos eram desprezados na China; então meu avô quis manter o meu pai longe de todo contato estrangeiro. Mas a fé de meu pai era real. Então meu avô disse: «O que vou fazer?», e em vez de enviá-lo de volta para essa escola, mandou-o para aprender uma profissão em outro lugar. Mas, graças a Deus, finalmente meu pai voltou para essa escola e ele chamava a essa senhora americana de «avó».
Próximos de Deus
A missionária amava a China, e depois que se aposentou da escola, veio viver conosco. Nós a chamávamos simplesmente de avó. Mas entre os sete filhos que éramos, ela parecia querer ao irmão menor mais que aos outros. Então nós lhe reclamávamos: «Você é parcial, porque ama a ele mais do que a nós». E ela dizia: «Não, não, não. Eu amo a todos por igual». «Não é verdade, ama mais a ele do que a nós». Mas ela dizia: «Os amo a todos da mesma maneira, mas este pequeno é mais próximo de mim».
Irmãos e irmãs, Deus ama a todos nós por igual; mas, da mesma forma, qualquer que esteja mais próximo dele irá parecer que Deus o ama mais.
Como precisamos estar perto de Deus! Como precisamos ter comunhão com ele! Temos que voltar o nosso coração para ele de tempo em tempo, e realmente viver em sua presença. «Em sua presença há plenitude de gozo; delícias a sua mão direita para sempre» (Sal. 16:11). Então, queridos irmãos e irmãs, vamos exercitar o nosso espírito em nossa vida diária. Se estivermos próximos de Deus, ele estará próximo de nós, e então ele poderá nos transformar em sua própria imagem.
Oremos: Amado Senhor, te louvamos e te bendizemos, porque a tua boa vontade não é só para nos salvar, mas nos salvar completamente. Oh, Senhor, te agradecemos. Tu desejas que sejamos transformados e conformados a sua própria imagem, e já tens nos provido de tudo para que sejamos piedosos. Senhor, ensina-nos a exercitar o nosso espírito, para que cresçamos na piedade, para que a sua vontade seja feita em nós, assim como é feita nos céus. Damos-lhe toda a glória. Em seu precioso nome. Amém.
Resumo de uma mensagem oral ministrada em Temuco (Chile), em Setembro de 2012.