ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
Um desafio para os santos
Selando a nossa carreira com a coroa de vitória e de honra.
T. Austin-Sparks
A visão necessária para o tempo do fim
Assim como houve «visitações» do Espírito de tempo em tempo para propósitos específicos, não deveria ocorrer que, sendo a igreja –o Corpo– a meta que governa toda a obra do Espírito nesta dispensação, à medida que esta era se aproxima de seu fim, as questões que estão essencialmente relacionadas com a igreja deveriam ser apropriadamente reenfocadas e orientadas para o que eram quando –no começo– o Espírito Santo deixou tão claro que a igreja é o vaso e o veículo do «Testemunho de Jesus»?
Se isto for verdade, então a necessidade do momento é uma nova visão da igreja como o vaso de tal testemunho, eternamente escolhido e preordenado; e também, uma nova disposição da vontade de, a qualquer custo, tomar este terreno e abandonar tudo o que o contradiz (seja em método ou em princípio).
Não há dúvida de que esta hora atual demanda, acima de todo o resto, um ministério de visão e revelação. Isto implica a necessidade de homens que possuam tal ministério. Que visão e que revelação são exigidas? Respondemos, enfaticamente, que estas são as do eterno propósito de Deus! Com o que está ligado este eterno propósito? O Novo Testamento afirma que é com a igreja como Corpo de Cristo! Desta maneira, nós só encontraremos a unção e a plenitude na medida em que chegamos a aquilo que é mais amado para o coração do grande Noivo. Este pode não ser um assunto para obter certos tipos de coisas, mas sim de chegar a certo lugar.
Reivindicação postergada
Deus não nos prometeu algo que nesta terra, nesta dispensação, pudesse ser nossa vindicação diante dos homens; uma justificação literal e material porque abandonamos tudo por causa Dele. Quanto mais próximo do pensamento divino estivermos, mais distantes ficamos daquilo que poderia ser contado, apontado e proclamado como resultado do nosso próprio trabalho.
Tais coisas formam parte das práticas rudimentares da vida humana e Deus nunca as leva para diante. O seu trabalho mais permanente e sólido é realizado no oculto, onde quem procura sensações não pode alcançá-lo, e onde o «departamento de publicidade» não tem maneira de encontrá-lo. Se a fé for realmente fé, e se o tempo do fim deve testificar da fé mais que nenhum outro tempo (e a Escritura diz enfaticamente que assim será), então, mais do que nunca, no tempo do fim haverá menos coisas visíveis que possam sustentar a fé. Mas, este princípio se aplica a todas as épocas nas que Deus procura algo mais que o meramente superficial.
Os que vencem a Satanás no tempo do fim
Deus procura, hoje, ter um povo celestial que ainda viva sobre a terra para provocar uma ruptura nas linhas de defesa inimigas, através de uma fé corporativa, uma fé relacional, fortalecida pelo amor, com o fim de vencer aos principados e potestades, e a todos os governadores das trevas deste século.
Por isso, como nós sabemos, houve fracassos, uma e outra vez na história da era cristã, em que foram derrotadas pelas potestades. Tudo isto foi conhecido de antemão na presença de Deus, mas encontramos explicitamente revelação, em especial em Apocalipse 12, que no tempo do fim haverá uma companhia na terra que irá vencer ao próprio Satanás, em toda a magnitude de sua malícia, sutileza e manifestação como inimigo de Deus e dos santos. Contudo, deles se diz que: «Eles o venceram por meio da palavra do testemunho deles».
O aspecto subjetivo do retorno de Cristo
Você pensa que a vinda do Senhor será apenas um evento histórico, algo que ocorrerá de uma forma puramente objetiva? É verdade que existirá esse momento histórico, mas na medida em que essa dimensão não é suficiente para a igreja, tampouco é suficiente para nós.
Não, sua volta, realmente será um fato objetivo e histórico, mas será também uma experiência escrita na própria vida, o coração e a natureza daqueles que estão unidos a ele. Ele não virá apenas para ser manifestado em glória, mas vem para ser glorificado nos seus santos (2ª Tes. 1:10). Portanto, a vinda do Senhor não é só um evento objetivo, mas também um evento subjetivo.
As primícias
Você sabe bem que no campo de cultivo, onde o agricultor trabalhou com muita paciência, à medida que o tempo da colheita se aproxima, dia após dia ele anda de um lado para outro procurando avidamente os primeiros sinais de uma resposta para os seus trabalhos, a sua fadiga, seus desejos, sua espera e suas ânsias. E então chega o dia em que ele obtém o suficiente para assegurar que todo o seu trabalho não foi em vão; e ele o recolhe como um símbolo do que ainda está por vir. Mas, ele encontra a satisfação do seu coração, em primeiro lugar, naquela primeira coleta: As primícias.
A natureza da vanguarda da igreja
O curso normal de uma verdadeira vida cristã governada pelo Espírito é que, para que ela chegue ao seu destino, haja um aumento constante de Cristo, um crescente descobrimento de Cristo. Ao final, a vanguarda da igreja, a ponta de lança do Israel espiritual, por quem será aberto finalmente o caminho para que toda a igreja entre no domínio e no governo celestial junto com Cristo; será um povo em que Cristo terá que ser formado muito profundamente. Eles são uma necessidade para o Senhor.
A natureza da Noiva
Posso dizer sem duvidar quem será a Noiva. Não um certo número de pessoas chamadas para sê-lo, como se fossem diferentes das demais, mas aqueles que chegam espiritualmente a essa posição. Eles formarão a Noiva, e esta condição está aberta para todos. «Noiva» não é um termo técnico relativo a uma certa classe, ordem ou seção de cristãos. É um termo espiritual relativo a uma condição, a um estado espiritual.
O sofrimento vindouro da igreja
O que é verdadeiro com respeito ao início das operações de Deus, e sua continuação e expansão, é verdadeiro também para a sua consumação: Que no fim de todas as coisas haverá uma forte convulsão. Se você quiser mudar a expressão, pode dizer: um penoso esforço e sofrimento.
Não estou muito seguro de que a igreja não tenha entrado já nesse processo. Certamente virá e será, ao final, a explicação de tudo. Esta é a Palavra de Deus. Este acontecimento final e supremo, de intrínseca glória e beleza, será trazido por Deus por meio da ardente confrontação que terá que preceder ao final.
Sim, o doloroso esforço da igreja ao final desta era resultará na última manifestação da igreja em toda a glória da consumação do propósito divino. A Bíblia dá testemunho de que haverá um enorme e doloroso esforço da igreja e da criação, através do qual finalmente o Reino chegará na sua plenitude.
O eterno propósito: o critério final
Sempre que nos encontramos com algum curso novo e diferente, com alguma nova proposição ou posição, deveríamos nos fazer uma pergunta suprema, na qual deveríamos investir muito tempo, orando seriamente enquanto a ponderamos. Essa pergunta é: Isto que está diante de mim se encontra em harmonia com o pleno propósito de Deus, tal como ele foi revelado –não em forma fragmentária, mas em plenitude– em sua Palavra?
Deus não deixou dúvidas de que Ele tem em perspectiva um propósito claramente definido, que é o objetivo supremo de todas as suas atividades. Também está bastante claro qual é esse propósito.
Além disso, nos mostra nitidamente que os crentes são «chamados de acordo com o seu propósito», e que eles devem «confirmar a sua eleição». Certo cristão já maduro, um servo de Deus grandemente usado, disse, já no final de sua carreira, que sua grande preocupação sempre foi que ele «pudesse alcançar aquilo para o qual foi alcançado por Cristo Jesus».
É responsabilidade e dever de todo verdadeiro cristão estudar de tal forma que lhe esclareça muito bem no que consiste o «Eterno Propósito». Deve fazê-lo assim, porque tudo o que demande nosso compromisso deve ser trazido diante do tribunal judicial desse propósito, e então ser interrogado em sua luz.
Uma pergunta, e uma somente decidirá a tragédia ou a glória: Isto que está diante de mim se encontra em harmonia com o pleno propósito de Deus? Quando chegar o fim e a história completa for contada, quando a essência for considerada, quando tudo aquilo que não possui a verdadeira substância de Cristo for retirado; e quando, por esta causa, for reprovado e não for transportado para o que é eterno: O que é que o rio levará, e o que emergirá do outro lado?
Em todas as gerações desta dispensação, Deus esteve trabalhando e procurando assegurar um máximo que seja de valor eterno, que esteja de acordo com o seu eterno propósito para com os seus escolhidos. A sua disciplina tem a finalidade de sacudir a palha, sacudir o que é meramente perecível, e armazenar o que é imperecível.
Quando, de todas as gerações, Ele tiver obtido –no céu– uma medida adequada e proporcional daquilo que é seu Filho, virá o término desta era. O mundo será depurado pelo fogo e esse valor eterno acumulado será introduzido com os escolhidos para ser o caráter daquilo que governará tudo pelos séculos dos séculos. Por causa da importância deste assunto, o desenvolvimento do propósito divino é atacado por todos os lados, e se utilizam todos os meios e esforços para frustrá-lo.
O Novo Testamento apoia amplamente a possibilidade de uma grande perda, inclusive depois da justificação pela fé. O próprio Paulo estava profundamente interessado neste «prêmio do supremo chamamento», e em que ele pudesse conquistar aquilo para o qual tinha sido conquistado. Ele tinha medo de perder a salvação? Ou isto era o que ele chamava «o prêmio»?
Preparação para a vinda do Senhor
Muitos não foram além da ideia – uma ideia nunca considerada seriamente – de que a Segunda Vinda é simplesmente um acontecimento isolado, ou um evento que, como parte de um programa ou cronograma de movimentos providenciais, vai simplesmente acontecer.
Quando o relógio marcar as doze horas, o Senhor virá. Bem, «só dentro do seu poder», o Pai pode pôr os tempos e as estações; mas, quando nós tocamos neste assunto somos confrontados com um dos inescrutáveis caminhos de Deus. Há vários deles na Bíblia. Reconciliar o livre-arbítrio e a predestinação compete somente à sabedoria de Deus e nós não podemos fazê-lo.
Da mesma forma, está além do nosso entendimento o fato de que certo estado relacionado com a vontade dos cristãos deva sincronizar com um determinado ponto do tempo para a vinda do Senhor.
É, ao contrário, indubitável que em ambas as questões mencionadas acima, a Bíblia é bastante clara e enfática. O Senhor virá em um tempo definitivamente conhecido e fixado por Ele; mas, por outro lado, a vinda do Senhor será tanto uma questão espiritual como cronológica. E é neste lado espiritual de seu advento que a igreja e seus mestres têm sido muito fracos.
O fato é que nós devemos nos mover em direção a Ele exatamente tanto como Ele se move em nossa direção. Sinceramente, ao nos desprender de tudo aqui, deixaremos este mundo – espiritualmente – para nos ocupar com as coisas de Cristo, esperar pacientemente e crescer na fé. Estes são fatores indispensáveis em relação a sua vinda e a nosso caminhar com Ele.
Pode ocorrer que haja diferenças de opiniões com respeito a uma forçada transladação de cristãos, ou com respeito a toda a igreja ser ou não arrebatada em ocasião da vinda do Cristo. Não precisamos formular teorias ou ensinos sobre tais questões. A seletividade do arrebatamento pode ou não ser mantida, mas de uma coisa ninguém pode escapar, Deus não deixou espaço para teorias aqui: Um estado espiritual de separação, responsabilidade e expectativa estão invariavelmente ligado ao fato de que sejamos recebidos por Ele em sua aparição.
Então, para que raciocinar de outra maneira e sermos arrogantes quanto à graça de Deus? Para que arriscar uma falsa ideia sobre a graça, quando Deus não nos deu nada que não implique uma demanda positiva, e não nos diz nada sobre ter um lugar para aqueles que não estão avançando com Ele em cem por cento?
Nós gostaríamos de sublinhar a divina revelação de que a cruz nos separa deste mundo, da carne, da autoridade de Satanás e une a Cristo. Traz-nos para o terreno celestial e nos constitui um povo celestial, e que é por tal povo que o Senhor virá.
O Senhor não só voltará como é lógico, senão que ele virá por certa coisa específica. É um assunto de amor. Ele virá por sua noiva; mas, deve ser algo mútuo: «Aqueles que amam a sua vinda» Sendo assim, a cruz é tanto parte da consumação como do começo, pois, por meio da sua operação em vida e em poder, o Senhor virá por «um povo preparado». Esta preparação está relacionada com a condição do coração e não com a compreensão mental de uma verdade profética.
Conhecendo o próprio Senhor como nossa vida
Um dos objetivos principais do Espírito Santo para com os filhos de Deus é trazê-los espiritual e experimentalmente para dentro de Cristo ressuscitado e exaltado, e para dentro da vida de Cristo, ressuscitada e exaltada.
A fase atual está particularmente marcada por um rompimento com as coisas, com os homens e movimentos, cujo objetivo é um apego total e completo ao próprio Senhor Jesus. O anticristo será manifestado logo, e provavelmente virá na linha de um grande movimento mundial; uma mescla da suprema habilidade humana com a elevação moral e social sob o nome de «cristianismo»; um pleno desenvolvimento do pecado principal: A independência e a soberba com respeito ao Deus verdadeiro.
Multidões serão atraídas por ele e o seguirão, enquanto que a negativa a ser incluído em tal movimento trará o estigma e o ostracismo para aqueles que assim o fizerem. O Senhor vem preparando os seus para a aparição do anticristo, procurando fazer que sua vida seja o próprio Senhor Jesus, de uma forma mais completa da que foi sua experiência até agora. Pois, o trabalho, as empresas, as igrejas, as sociedades, os ensinos, as pessoas, etc., foram até aqui a vida de muitos. Eles necessitam do estímulo de um programa, um esquema ou um lugar que possam se ocupar.
O ensino – como tal – pode trazer confusão e não produzir nenhum progresso contínuo. O trabalho pode levar ao cansaço e a decepção. Os movimentos podem converter-se em entidades marcadas por características meramente humanas e chegarem a ser esferas de dissensão.
As coisas – todas elas – nos decepcionarão mais cedo ou mais tarde, mas o Senhor permanece e nunca falha. A medida do nosso apego ao Senhor pode ser inversamente proporcional à medida de nosso apego a algum interesse próprio, seja este uma pessoa ou um grupo dela, um lugar, um movimento, ou nossa parte de um trabalho; e quando estas coisas sofrem um colapso, a fé no Senhor é provada, enquanto atravessamos um negro período que eclipsa nossa fé.
Precisamos aprender, principalmente, a ligar todas as coisas com o próprio Senhor e chegar a uma plena apreciação Dele. O Senhor tem que ser a vida do espírito, para que este seja fortalecido; e não os interesses ou preocupações meramente objetivos.
O Senhor tem que ser a vida das nossas mentes, de tal forma que a verdade não consista para nós em abstrações, nem coisas meramente verdadeiras, mas em vida e poder.
O Senhor precisa ser a vida dos nossos corpos. A debilidade natural ou a força natural não é o critério neste ponto. A saúde como uma «verdade», ou como uma coisa em si mesma, pode tornar uma escravidão legal e parasitária. O próprio Senhor é a nossa vida; mesmo que esta permaneça estorvada pelas fraquezas ou livre delas, de qualquer forma pode servir para a sua glória. Não é tão importante a condição natural como as realidades transcendentes do Senhor. Nos dias de terrível pressão que agora gravitam sobre o povo do Senhor por todo lado; dias em que o inimigo tem menos «horas de repouso» que nunca; dias em que se tornam muito perigosos para os crentes ter «horas de repouso», existe apenas uma coisa adequada, e esta é que o Senhor deve ser conhecido absolutamente como nossa vida.
Vitória sobre a morte: O supremo pensamento de Deus
O pensamento de Deus é de vida e não de morte. Deus é contra a morte e a favor da vida. Demos uma olhada para trás e vemos a Enoque, que rompeu uma longa história de morte: «Caminhou, pois, Enoque com Deus, e desapareceu, porque Deus o levou» (Gên. 5:24). Isto é uma exceção no curso do homem cansado, que nos mostra qual é o pensamento de Deus quando um homem entra em uma comunhão real com Ele mesmo. Este é de vida e não de morte; pois este foi sempre o pensamento de Deus. E este continua sendo o pensamento de Deus, que Ele vai ter plena e gloriosamente expressa na companhia dos seus próprios filhos crentes, os quais serão transladados para a sua presença, como Enoque foi, e não verão a morte nem o sepulcro.
Coroas
Pedro, Paulo, Tiago e João, todos eles nos apontam para diante, para as coroas que Deus outorga aos seus servos. Em cada um dos casos, a ideia está vinculada a uma prova, seja ela uma luta, uma carreira ou uma confiança sustentada. Fala-se de três coroas: A coroa de justiça, a coroa da vida e a coroa de glória, e parece ser que o que nos propõe como coroação é o selo de uma carreira com a vitória e a honra, sendo a coroa um símbolo tanto da vitória como da honra.