O significado teológico da Segunda Vinda de Cristo

A segunda aparição do Messias culminará no tempo do fim.

Rubén Chacón

Os últimos dias

A profecia do Antigo Testamento anunciava a vinda do Messias em um tempo muito específico que é denominado nas Escrituras de diversas maneiras, tais como: «Aquele dia», «o tempo do fim», «no último tempo», «o fim», etc. Cada um destes nomes quer significar que a vinda do Messias marcaria o fim dos tempos. A referida vinda seria a intervenção escatológica de Deus na história. Intervenção última e definitiva de Deus para, como disse a profecia de Daniel, «terminar a prevaricação, e pôr fim ao pecado, e expiar a iniquidade, para trazer a justiça perdurável, e selar a visão e a profecia, e ungir ao Santo dos santos» (Dn. 9:24).

Bem, é claro ao olhar as Escrituras que este tempo chegou com o que nós chamamos a primeira vinda de Cristo. Com efeito, como uma das prerrogativas do Messias que viria seria a de batizar com o Espírito Santo, quando chegou o dia do Pentecostes e o Espírito Santo foi enviado por Cristo, então Pedro ficou de pé e explicou aos ouvintes que nesse momento se cumpria o que fora dito pelo profeta Joel: «Que nos últimos dias Deus derramaria de seu Espírito…» (Atos. 2:16).

Também em referência ao pecado, Hebreus 9:26 diz: «De outra maneira lhe houvesse sido necessário padecer muitas vezes desde o princípio do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, apresentou-se uma vez para sempre…». Notem que haviam transcorrido muitos séculos, mas Jesus se apresentou na finalização dos séculos.

Com respeito ao anticristo diz também 1ª João 2:18: «Filhinhos já é o último tempo; e segundo vós ouvistes que o anticristo vem, assim agora surgiram muitos anticristos; por isso conhecemos que é o último tempo».

No sentido estrito, os anticristos só podiam surgir à partir da aparição de Cristo. Sem ela não tem sentido falar de alguém que está «contra Cristo». Mas uma vez produzida sua vinda, ela motivou entre outras coisas que muitos se levantassem contra ele, constituindo-se assim em anticristos e em sinal inequívoco de que a humanidade entrou em sua hora final.

Por isso também Judas ao falar dos apóstatas que já estavam presentes em seus dias– diz que sua aparição no mundo cumpre as palavras dos apóstolos de Jesus Cristo, quando diziam que no último tempo haveria escarnecedores que andariam segundo os seus malvados desejos (Judas 18).

Quanto à revelação de Deus, Hebreus 1:1 declara que: «havendo Deus falado muitas vezes e de muitas maneiras em outro tempo pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho…». Por que aqueles dias eram últimos? Porque o Filho viria segundo a profecia no tempo do fim.

Paulo também acrescenta que as coisas que aconteceram ao povo de Israel, aconteceram-lhes como exemplo, e estão escritas para admoestar a nós, a quem tem alcançado os fins dos séculos (1ª Cor. 10:11). No texto grego a palavra «fins» não está no plural, mas no singular: «para quem o fim dos séculos chegou» (Novo Testamento Interlinear). Assim, se por volta de 2.000 anos atrás os irmãos já reconheciam estar nos fins dos séculos, quanto mais nós?

Por último, Pedro diz, quanto a morte de Cristo, que ele já estava destinado desde antes da fundação do mundo, mas foi «manifestado nos últimos tempos por amor de vós…» (1ª Ped. 1:20).

Seu aspecto absoluto

O testemunho do Novo Testamento é claro, então, ao afirmar que os últimos dias ou o tempo do fim começou com a primeira vinda de Cristo. Embora seja certo que a primeira vinda de Cristo inaugura um tempo cronológico que já alcança perto dos dois mil anos, o mais importante, no entanto, é que é um tempo novo. Segundo Paulo em sua carta aos Gálatas, Deus enviou a seu Filho «quando veio a plenitude (gr. pleroma) do tempo (gr. crónos)» (Gál. 4:4 Interlinear).

A primeira vinda de Cristo não inaugura um tempo cronológico a mais, porque Deus o enviou na culminação do tempo. Mas a chegada do Messias não inaugura apenas a plenitude do tempo cronológico, é também um tempo qualitativamente distinto. É também um tempo kairós. Mas tampouco é um tempo kairós a mais. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios, declara que Deus se propôs em si mesmo de reunir todas as coisas em Cristo na dispensação da plenitude (gr. pleroma) dos tempos (gr. kairós) (Ef. 1:10). Jesus Cristo veio na plenitude do tempo crónos e na plenitude dos tempos kairós. 

Assim, a era messiânica marca um tempo final; marca o tempo definitivo. Por quê? Porque o escatológico propriamente dito, isto é, o último e definitivo, chegou com a primeira vinda de Cristo. Por isso, Jesus, quando começava o seu ministério terrestre, disse: «O tempo se cumpriu e o reino de Deus há chegado» (Mr. 1:14). Esta última declaração marca toda uma novidade; nunca antes pessoa alguma tinha anunciado tão magna notícia. A partir da primeira vinda de Cristo o reino de Deus deixava de ser só uma promessa, para converter-se em uma bendita realidade; deixava de ser apenas uma profecia do Antigo Testamento: «Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João» (Mt. 11:13) «Desde então o reino de Deus é anunciado, e todos se esforçam por entrar nele» (Lc. 16:16).

Por isso Cristo é chamado «o último Adão»; quer dizer, «o Adão escatológico». Com ele o eterno entrou definitivamente no tempo e na história. O Messias não foi manifestado no meio da história, mas na consumação dela. Este é o testemunho do Novo Testamento. A história humana em sua totalidade esperava pela intervenção definitiva de Deus. Pois bem, isso já ocorreu com a manifestação do Messias de Deus. Depois desta manifestação não há outro tempo que esperar; ela constitui o último e definitivo. Por isso, com a manifestação do Messias chegou o tempo do fim. O ponto é que não é com a segunda vinda que chegaria o fim, mas com a primeira vinda de Cristo. Isto é o absoluto da primeira vinda de Cristo.

E assim, o resto do Novo Testamento sendo consequente com a colocação anterior, confirma uma e outra vez que a primeira vinda do Messias abriu definitivamente a dimensão eterna aos homens. Os verbos que o Novo Testamento usa para afirmá-lo estão todos no tempo passado:

«Quem (Deus) nos salvou e chamou com um chamamento santo… segundo o seu propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos, mas que agora foi manifestada pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho» (2ª Tim. 1: 9-10). Tudo isto como resultado da obra de Cristo em sua primeira vinda.

«De modo que se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que todas são feitas novas» (2ª Cor. 5:17). «Quem (Deus) reconciliou-nos consigo mesmo por Cristo» (2ª Cor. 5:18). «Dizendo: O tempo se cumpriu, e o reino de Deus há chegado…» (Mar. 1:15).

«E …lhes deu vida juntamente com ele, perdoando-vos todos os pecados, anulando a ata dos decretos que havia contra nós, que nos era contrária, tirando-a do meio de nós, cravando-a na cruz, e despojando aos principados e às potestades, exibiu-ospublicamente, triunfando sobre eles na cruz» (Col. 2:13-15). «Sabendo isto, que o nosso velho homem foi crucificado junto com ele…» (Rom. 6:6).

A vista disso, pensemos por um momento na possibilidade de que não houvesse uma segunda vinda de Cristo. Como interpretaríamos então a sua primeira vinda e o tempo do fim? Qual seria o significado teológico da primeira vinda de Cristo nessa eventualidade?

Estas perguntas, que ajudam a entender a importância da segunda vinda de Cristo, são também fundamentais para entender a missão da igreja e os verdadeiros alcances dela.

Com efeito, se não existisse uma segunda vinda de Cristo, gostaria de dizer que, como com a chegada do Adão escatológico –em sua primeira e suposta única vinda– entrou definitivamente na história a salvação, a vida eterna, a imortalidade, a ressurreição, a vitória, a redenção, etc..., agora é tarefa e responsabilidade da igreja alcançar e obter a plenitude de todas as coisas celestiais. Dado que com a vinda do Espírito Santo para morar na igreja, entrou nela o definitivo e o eterno, é ela a que por meio do Espírito deve realizar os bens vindouros até a sua plenitude.

Se não houvesse segunda vinda de Cristo, gostaria de dizer então que tudo está agora nas mãos da igreja, especialmente nas mãos da sua fé. A igreja vivificada pelo Espírito teria, nesse caso, toda a responsabilidade de encarnar e manifestar tudo aquilo que o Senhor Jesus Cristo nos trouxe com a sua vinda (gr. parousía). A igreja não precisaria esperar absolutamente nada, pois tudo já lhe foi dado. O escatológico chegou para ficar e tem que prevalecer custe o que custar e tome o tempo que tomar, sejam dois mil ou seis mil anos.

Mas não só isso, se não houvesse uma segunda vinda de Cristo, isso implicaria também que a missão da igreja consistiria em ganhar as nações para Cristo, redimir o mundo, alcançar a perfeição tanto no individual como no coletivo, alcançar a justiça social, erradicar a miséria do mundo, derrotar a fome, etc. A evangelização, desta perspectiva, não poderia consistir somente na salvação das almas, mas deveria incluir necessariamente uma redenção integral do homem; inclusive da enfermidade e da morte física.

Seu aspecto relativo

Mas o fato concreto, irrefutável e claramente estabelecido na revelação do Novo Testamento é que existe uma segunda vinda de Cristo. A vinda do Messias não aconteceria, como parecia pelo Antigo Testamento, em apenas uma vinda, mas em duas. Este significativo feito obriga necessariamente a repensar quais são então os verdadeiros alcances da primeira vinda de Cristo e qual é a missão da igreja.

A verdade da existência da segunda vinda de Cristo relativiza, pois, de algum jeito os alcances da missão da igreja. É verdade que tudo chegou com a primeira vinda de Cristo, mas só a sua segunda vinda completará tudo. Embora seja certo que com a primeira vinda de Cristo a era escatológica entrou na história da humanidade, o fato de que exista uma segunda vinda do Messias, indica que a manifestação da plenitude daquela era não descansa na igreja, mas no próprio Cristo. A igreja com certeza tem um lugar e uma responsabilidade, mas será o próprio Cristo, que iniciou a obra, e quem a completará. A primeira vinda de Cristo é o início da idade escatológica, mas não sua consumação. É o início, mas não sua culminação. A primeira vinda de Cristo é a inauguração da era escatológica, mas não sua plenitude.

Esta tensão entre o «já» e o «ainda não» se observa nos próprios evangelhos. O evangelho de João, por exemplo, enfatiza mais o aspecto presente que o aspecto futuro. Sem negar o aspecto futuro da escatologia, a sua ênfase está em que tudo se realiza já «a partir de agora». É certo, escreve João, que vem a hora quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus… No entanto, a ênfase de João é que aquela hora «agora é» (5:25). O mesmo com respeito ao juízo deste mundo e com respeito ao príncipe deste mundo. Jesus, no evangelho de João, declara que «Agora é o juízo deste mundo; agora o príncipe deste mundo será lançado fora» (12:31). Deste modo em relação com a adoração, Jesus diz que a hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e na verdade…» (4:23).

O evangelho de Lucas, ao contrário, enfatiza mais o aspecto futuro. Introduz, por exemplo, a parábola das dez minas, que é material próprio de Lucas, com a clara intenção de fazer notar como Jesus corrigiu o pensamento dos seus discípulos quanto a que «eles pensavam que o reino de Deus se manifestaria imediatamente» (19:11-27). 

Portanto, embora seja certo que com a primeira vinda de Cristo se iniciaram os últimos dias, não é menos certo que estes finalizarão com a segunda vinda de Cristo. Os últimos dias culminam com a segunda vinda de Cristo. A primeira aparição do Messias inicia o tempo do fim, mas a segunda aparição o culminará.

A esperança de salvação

No entanto, pode-se corroborar o anterior com as Escrituras? Ou poderia ser que a segunda vinda de Cristo fosse tão somente uma espécie de «cereja do bolo» que coroará o alcançado pela igreja? Vejamos: com respeito à salvação, por exemplo, o Novo Testamento é claro ao afirmar que embora a obra de salvação já tenha sido efetuada em Cristo e já é uma realidade nos crentes, no entanto, ainda mantém um aspecto ou uma dimensão futura.

Pedro, com efeito, em sua primeira carta (1:5) diz: «que sois guardados pelo poder de Deus mediante a fé, para alcançar a salvação que está preparada para ser manifestada no último tempo». Para quem Pedro está escrevendo? A crentes, isto é, a pessoas salvas. Não obstante, diz que Deus guarda as pessoas salvas com seu poder a fim de que alcancem a salvação guardada para o final. Embora eles sejam salvos, no entanto, esta salvação final ainda não foi alcançada. A qual salvação se refere?

Paulo, por sua vez, escrevendo aos tessalonicenses em sua primeira carta (5:8) expressa a mesma verdade, quando diz que nós cristãos nos vestimos, entre outras coisas, «com a esperança de salvação como capacete». E em sua epístola aos colossenses os fala da esperança que «vos está guardada nos céus» (1:5). Do mesmo modo, escrevendo aos romanos reafirma o anterior, dizendo: «Porque em esperança fomos salvos; mas a esperança que se vê, não é esperança; porque o que alguém vê, como o espera? Mas se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos» (8:24-25). O contexto é muito claro para nos fazer ver que assunto Paulo está se referindo. No versículo 23 Paulo revela que os crentes, apesar da nossa salvação passada e presente, gememos dentro de nós mesmos –da mesma forma que o resto da criação– esperando a adoção, a redenção do nosso corpo».

Se Deus tivesse nos salvo real e completamente, tinha que fazê-lo em todo o nosso ser: espírito, alma e corpo. Como resultado de sua primeira vinda nosso espírito já foi salvo e nossa alma está, neste momento, em permanente experiência de salvação. No entanto, sem a salvação do corpo não está completa a nossa salvação. Até que não ocorra a redenção do corpo não teremos entrado na plenitude da nossa salvação. Pois bem, somente a segunda vinda de Cristo originará este aspecto que falta.

Este aspecto futuro da nossa salvação não é menor, uma vez que, conforme afirma Paulo, «a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção». Quer dizer que é absolutamente necessário que o nosso corpo experimente também a salvação se é que temos que herdar eternamente o reino de Deus e desfrutar das coisas incorruptíveis e celestiais.

Mas a redenção do nosso corpo não é só importante em termos da eternidade, mas também da vida cristã presente. Nosso corpo atual é um grande limitante na hora de experimentar a vida poderosa e divina que habita em nosso espírito. Com efeito, Paulo escrevendo em sua segunda carta aos Coríntios (4:7-9), diz que «temos este tesouro» –a iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo– «em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós».

Em termos práticos, isto significa que por sermos vasos de barro em tudo somos atribulados; mas, graças ao tesouro que está em nós, não estamos angustiados. Porque somos barro, vivemos em apuros; mas pelo tesouro, não vivemos se desesperando. Por nossa qualidade de barro somos perseguidos, mas pelo tesouro, não estamos desamparados. Porque somos vasos de barro podemos inclusive chegar a estar abatidos, mas graças ao tesouro, nunca seremos destruídos. Aleluia!

Com a expressão vasos de barro, Paulo está se referindo ao corpo. Isto fica claro quando continua dizendo: «levando no corpo sempre por toda parte a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos» (V. 10).

Em definitivo, o fato de que a redenção do nosso corpo ainda não aconteceu, não só condiciona a nossa nova vida presente a uma permanente fragilidade, mas, além disso, mantém-nos impotentes, em nossa atual condição, de desejar e experimentar de uma maneira eterna a nossa herança definitiva.

Mas, de forma concreta, no que consistirá a redenção do nosso corpo? Paulo responde que à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, os mortos em Cristo «serão ressuscitados incorruptíveis, e nós», diz Paulo, «seremos transformados. Porque é necessário que isto que é corruptível se revista de incorrupção, e isto que é mortal se revista de imortalidade» (1ª Cor. 15:52-53).

Na segunda vinda de Cristo os nossos corpos serão transformados. Paulo, escrevendo aos filipenses (3:21), acrescenta que o Senhor Jesus Cristo «transformará o corpo da nossa humilhação, para que seja semelhante ao corpo da sua glória, pelo poder com o qual pode também sujeitar a si mesmo todas as coisas».

A ressurreição dos mortos, por outro lado, é descrita da seguinte maneira: «semeia-se em corrupção, ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscitará em glória; semeia-se em fraqueza, ressuscitará em poder. Semeia-se corpo animal, ressuscitará em corpo espiritual» (1ª Cor. 15:42-44).

O Espírito hoje não é toda a herança

Dizendo o mesmo, mas agora da perspectiva do Espírito, o apóstolo Paulo declara que embora Deus nos tenha feito para uma salvação plena, não obstante, no presente, foi-nos dado o Espírito como penhor. Segundo o dicionário, «penhor» é: «coisa que se dá como objeto ou sinal em algum contrato ou acordo». Outra definição diz: «Entrega de uma parte do preço ou depósito de uma quantidade com a que se garante o cumprimento de uma obrigação».

Isto significa, entre outras coisas, que hoje desfrutamos do Espírito como «a antecipação», mas não como a plenitude. Isto não significa que o Espírito Santo não esteja em plenitude. Ele não só é uma pessoa, mas é o próprio Deus. Então, é claro que ele é a plenitude; no entanto, o que indicam estes textos é que hoje, nesta dispensação, o Espírito nos foi dado como antecipação ou penhor. O Espírito Santo da promessa, diz Efésios (1:13-14), é o penhor da nossa herança até a redenção da possessão adquirida. Já que interpretamos o termo «penhor» como «antecipação» ou como «garantia», é claro que a plenitude da herança é ainda uma realidade futura para os crentes.

O mesmo afirma Paulo de maneira similar, quando, escrevendo aos romanos fala de que hoje temos as primícias do Espírito (8:23). Temos uma parte, mas não o todo; temos os primeiros frutos, mas não a colheita completa. Portanto, é claro que a obra da salvação tem um aspecto passado e um aspecto presente; não obstante, tem também um aspecto futuro.

A esperança de redenção

O mesmo pode ser dito do termo «redenção». Embora seja verdade de verdades que Jesus Cristo disse na cruz do Calvário: «Consumado és», referindo-se precisamente à obra da redenção, não é menos certo, no entanto, como já vimos nos versículos anteriores, que o dia da redenção em seu aspecto futuro ainda não chegou; ainda esperamos pela segunda vinda de Cristo. Por isso, Paulo disse aos Efésios (4:30): «E não entristeçais ao Espírito Santo de Deus, com o qual fostes selados para o dia da redenção».

A esperança de glória

Existe três grandes marcos na vida do crente com respeito à glória: O dia quando todos –por causa do pecado– ficamos destituídos da glória de Deus. O segundo marco, aquele quando, graças à obra de Deus em Cristo, Deus nos predestinou, chamou-nos, justificou-nos e nos glorificou. Quer dizer que em Cristo não só recuperamos o acesso à glória, mas –melhor ainda– alcançamos aquela glória. Por isso o verbo «glorificar» também está no passado, porque Cristo já está glorificado e nós estamos nele. No entanto, o cumprimento em nós desta glorificação é ainda futuro. Esperamos pela volta do Senhor em sua segunda vinda. Este será o terceiro marco na vida do crente.

Diante disso, pelo fato objetivo de estarmos glorificados em Cristo e graças ao seu cumprimento real e completo em nós para a segunda vinda de Cristo, os crentes vivem sustentados por uma esperança viva, que neste caso é uma esperança de glória. «Cristo em vós», disse Paulo aos colossenses (1:27), é «a esperança de glória». «Cristo em nós» é a garantia da nossa glorificação. Não obstante, em seu aspecto subjetivo, ela é a nossa esperança e não ainda a nossa realidade.

A esperança de justiça

Até a própria justificação contém uma dimensão futura, porque Paulo, depois de dizer que não somente com respeito a Abraão se escreveu que sua fé foi contada por justiça, acrescenta: «mas também com respeito a nós a quem há de ser imputada, isto é, aos que creem naquele que levantou dos mortos a Jesus, Senhor nosso…». Pareceria mais exato a nós se tivesse dito: «a quem havia de ser imputada», visto que somos pessoas que já cremos. Mas não, diz Paulo: «a quem há de ser imputada».

Em seguida, em 5:19 de romanos, Paulo reitera: «Porque assim como pela desobediência de um homem muitos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um, muitos serão constituídos justos». Por que não diz «muitos foram constituídos justos», já que as ações dos dois Adãos estão no passado?

Finalmente, quando Paulo escreve aos Gálatas (5:5), declara que «nós pelo Espírito aguardamos por fé a esperança da justiça».

A esperança de uma vida plena

Nesta vida não existe satisfação total na experiência humana. Nossa justiça para com Deus é só pela fé, e não pelo que é visível de uma experiência pessoal. Cristo é a nossa justiça. E sua pessoa não está na terra, mas no céu. Agora somos justos pela fé. Mas a esperança olha para a vinda de Cristo, quando seremos completamente justos por natureza... A fé pertence ao «agora», e a esperança, ao «ainda não» (1ª João 3:2). A fé olha para a cruz, ao que foi feito a nosso favor. A esperança olha para o glorioso futuro que terá que cristalizar-se quando Cristo vier. Neste intervalo de espera, entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, a esperança refresca a fé. A fé reprime a esperança quando trata de trazer o «ainda não» ao «agora». Pela fé, o cristão sabe que o pecado, a natureza pecaminosa, a morte e Satanás já foram vencidos; mas ainda sente o pecado interno e o demônio externo, e vê a morte a mão direita e sinistra. Se isto não fosse assim, não haveria necessidade de lutar a boa batalha da fé. Mas, mediante o Espírito, espera e geme desejando a chegada do dia quando o pecado, a morte e o demônio ficarem abolidos como inimigos e ameaças visíveis.

Este «já», mas «ainda não» da vida e experiência cristãs se explica pela singela razão de que, na experiência de salvação, a graça de Deus nos transforma, mas não troca a nossa natureza pecaminosa, mas nos outorga uma nova natureza. Por conseguinte, no cristão convivem duas naturezas. Uma, a velha natureza, a que A Escritura chama «carne», porque é nascida da carne; e a outra, a nova natureza, chamada «espírito», porque é nascida do Espírito. A transformação gradual e progressiva do crente, através da qual se espera que se vá convertendo em cada vez menos pecador e cada vez mais justo, não se apoia, em que Deus faça mudança algum em sua velha natureza, mas basicamente em que, no crente, vá prevalecendo, pelo Espírito, pouco a pouco a nova natureza.

Visto assim, o crente é santo e pecador ao mesmo tempo. Se sua velha natureza prevalecer nele, será, em sua experiência, um carnal; mas, se prevalecer sua nova natureza, será um crente espiritual. Não obstante, a experiência cristã não pode ser o fundamento de um cristão. Apenas a graça de Deus em Cristo é seu fundamento. A vida e a morte de Cristo –e não sua obra dentro de nós– é a única base de nossa aceitação diante de Deus. Se, pelo contrário, tentássemos apoiar nossa justificação diante de Deus na experiência subjetiva, nessa mesma hora a confiança em Deus e a segurança de salvação pereceriam. Por quê? Porque nesta vida não existe satisfação total na experiência humana.

O que nos justifica diante de Deus não é quanto conseguimos andar no Espírito, mas a própria presença do Espírito em nós. O que nos justifica não é o grau de experiência que fazemos da graça, mas a própria graça, porque mesmo que nossa experiência da graça for excelente, jamais será plena nesta vida. Portanto, sempre deveremos recordar que o homem mortal nunca pode alcançar um ponto em sua vida cheia do Espírito onde sua aceitação para com Deus não descanse unicamente sobre a justificação pelo sangue de Cristo.

Esta é a consequência teológica do fato da segunda vinda de Cristo. Apenas nele somos justos e só com ele, em sua segunda vinda, seremos plenos.

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