Vida passada convertida em cinzas

Um aspecto muito significativo da realidade espiritual que desfrutamos em Cristo.

Rubén Chacón

«… nos aproximemos com coração sincero, em plena certeza de fé, purificados os corações da má consciência, e lavados os corpos com água pura» (Heb. 10:22).

No capítulo 15 do livro de Números, aquele que pecava com altivez, desprezando o mandamento de Jeová, morria sem perdão. No capítulo 18 do mesmo livro, qualquer pessoa que se aproximasse das coisas sagradas, que não fosse sacerdote, também seria condenada a morte (18:7), tal como tinha ocorrido na rebelião de Coré.

Agora, no capítulo 19, a sentença é: «Todo aquele que tocar um cadáver de qualquer pessoa, e não se purificar, contaminou o tabernáculo de Jehová, e aquela pessoa será cortada de Israel; porquanto a água da purificação não foi espargida sobre ele, imundo será, e sua imundície será sobre ele» (Num. 19:13). Este mesmo assunto torna a reiterar no versículo 20. Mas a imundície por contaminação com um morto tinha solução. O escritor aos Hebreus diz assim: «… as cinzas da novilha aspergida sobre os imundos, santificavam para a purificação da carne…» (9:13).

A novilha vermelha: outro aspecto do sacrifício de Cristo

Mas como se obtinham as cinzas que, junto à água de purificação, serviam de expiação? Jeová disse a Moisés e a Arão: «Dize aos filhos de Israel que te tragam uma novilha vermelha, perfeita, na qual não haja falta, sobre a qual não se pôs jugo» (Num. 19:2). O Senhor Jesus Cristo é o único que pode constituir o antítipo desta figura. Apenas nele não se encontrou falta alguma e ele foi o único que jamais carregou o jugo do pecado. Ele nunca foi escravo do pecado. O único jugo que carregou sobre ele, foi o da vontade de seu Pai. De fato, graças a este jugo, ele foi libertado e guardado do jugo da escravidão do pecado.

As instruções continuam: «…e a darão a Eleazar o sacerdote, e ele a tirará fora do acampamento, e a fará degolar em sua presença. E Eleazar o sacerdote tirará do sangue com o seu dedo, e aspergirá para a parte dianteira do tabernáculo de reunião com o sangue dela sete vezes» (Num. 19:3-4).

Aspergir sete vezes com o sangue indica que a expiação é completa e perfeita; aquilo que é coberto pelo sangue sete vezes está definitivamente redimido. Em seguida Eleazar «fará queimar a novilha diante dos seus olhos; seu couro e sua carne e seu sangue, com seu esterco, fará queimar» (Num. 19:5). Isto não ocorria com nenhum outro sacrifício anteriormente visto. Todo o animal era queimado e convertido em cinzas.

Além disso, Eleazar tomará «madeira de cedro, e hissopo, e escarlate, e o jogará no meio do fogo em que arde a novilha» (Num. 19:6). A madeira de cedro e o hissopo representam o maior e o mais insignificante da criação, respectivamente. Por isso diz 1 Reis 4:33 que Salomão «dissertou sobre as árvores, do cedro do Líbano até o hissopo que nasce na parede». O escarlate (tintura carmesim), por outro lado, significa a «grandeza terrestre» como no caso da besta do Apocalipse que possui esta cor (Apoc. 17:31; 12:3). Portanto, o fogo não só converteu todo o animal em cinzas, mas junto com ele, toda a vangloria humana. Na cruz de Cristo o homem e toda a sua glória ficaram convertidos em cinzas.

«E um homem limpo recolherá as cinzas da novilha e as porá fora do acampamento em lugar limpo, e as guardará para a congregação dos filhos de Israel para a água da purificação; é uma expiação» (Num. 19:9). Este sacrifício, igual a todos os outros, representa um aspecto do único sacrifício de Cristo. E igual aos outros sacrifícios, o sangue é mencionado como o primeiro elemento que faz expiação ou propiciação pelos pecadores.

No entanto, o sacrifício da novilha avermelhada ou alazã tem um aspecto único e singular: Não só o sangue expia, mas também as suas cinzas. Por isso o escritor aos Hebreus, diz: «Porque se o sangue dos touros e dos bodes, e as cinzas da novilha aspergida sobre os imundos, santificam para a purificação da carne…» (9:13). Segundo o escritor, tanto o sangue como as cinzas santificavam para a purificação da carne.

Ao longo de todo o Pentateuco vimos como o sangue santifica ao ofertante; não obstante como que as cinzas da novilha purificam? O que representam? Que aspecto do sacrifício de Cristo destaca? Um muito interessante. Todos nós sabemos que os nossos pecados foram expiados com o precioso sangue de Cristo; mas o que aconteceu com eles, com as nossas obras, os nossos pensamentos, atitudes, sentimentos e motivações? Todos ficaram convertidos em cinzas na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.

As cinzas se levantam como uma testemunha em nossa consciência de que o nosso Senhor pôs fim ao pecado e terminou com a nossa vida passada. Aleluia! Se alguém tiver dúvidas de sua redenção ou do perdão dos seus pecados, olhe então para as cinzas e convença-se! Ali está a única coisa que fica de sua vida passada. A redenção pelo sangue é perfeito e o juízo foi completo. Nada do velho homem sobreviveu ao extermínio da cruz.

O procedimento

Mas as cinzas deviam ser aplicadas ao imundo para a sua limpeza. O procedimento era o seguinte: «aquele que tocar um cadáver de qualquer pessoa será imundo sete dias» (Num. 19:11). «Para purificar à pessoa que ficou impura, em uma vasilha ficará um pouco de cinza do sacrifício expiatório e lhe jogará água fresca. Depois disso, alguém ritualmente puro tomará hissopo, o molhará na água, e aspergirá a tenda e todos os seus utensílios, e a todos os que estejam ali. Também aspergirá aquele que haja tocado os ossos humanos, o sepulcro ou o cadáver de alguém que tenha sido assassinado ou que tenha morrido de morte natural. O homem ritualmente puro aspergirá a pessoa impura nos terceiro e sétimo dias. Ao sétimo dia, purificará à pessoa impura, a qual lavará as suas vestes e se banhará. Assim ficará purificada ao anoitecer» (Num. 19:17-19 NVI).

Por último, chama a atenção que tanto os que participam do processo do sacrifício da novilha como os que aplicam a água da purificação aos imundos, todos se tornam contaminados: «… e será imundo o sacerdote até a noite. Deste modo o que a queimou… será imundo até a noite» (19:7-8). O homem limpo que recolheu as cinzas, também «… será imundo até a noite» (19:10). E o homem limpo que efetuou a purificação «também lavará as suas vestes» (19:21).

Estes atos indicam com a máxima clareza que o pecado é altamente contagioso e que é virtualmente impossível tocar o pecado e não ser contaminado por ele. Até o que estava limpo para ajudar a purificar a outro que estava imundo, terminava também sendo manchado.

Por isso, o escritor aos Hebreus, uma vez que mostrou aos crentes a realidade espiritual que desfrutamos em Cristo, os exorta com estas palavras: «… nos aproximemos com coração sincero, em plena certeza de fé, purificados os corações da má consciência, e lavados os corpos com água pura» (10:22). Nossos corações foram purificados da má consciência por meio do sangue aspergido sete vezes para a entrada do tabernáculo de reunião, e os nossos corpos foram lavados com a água da purificação. Interiormente fomos purificados com o sangue e exteriormente lavados com água pura.

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