Ligados à Cabeça

Um chamado a viver a realidade de Cristo, e a tomar o encargo do Espírito em oração.

Álvaro Astete

“Ninguém vos prive do seu prêmio, afetando humildade e culto aos anjos, intrometendo-se no que não viu, inutilmente inchado por sua própria mente carnal, e não ligando-se à Cabeça, em virtude de quem todo o corpo, nutrindo-se e unindo-se pelas juntas e ligamentos, cresce com o crescimento que Deus dá” (Col. 2:18-19).

Temos compartilhado, em diferentes localidades, a carta aos Efésios. Quanta riqueza temos no Senhor! Efésios nos posicionou em um lugar tão elevado, assentados em lugares celestiais com Cristo Jesus, e dessa posição ninguém nos moverá, porque é o Senhor quem nos colocou ali. Mas também vimos que, começando nos céus, na glória, pouco a pouco a Palavra vai aterrizando em termos muito práticos e, à partir de Efésios 4, nos fala da nossa responsabilidade diante da graça que nos foi dada. Então temos esse «andar no Espírito», que implica em nossa responsabilidade.

Dentro dessa carta há um versículo que também revisamos, muito similar ao que acabamos de ler em Colossenses. Em Colossenses diz: «…e não ligando-se à Cabeça, em virtude de quem todo o corpo, nutrindo-se e unindo-se pelas juntas e ligamentos, cresce com o crescimento que Deus dá». Efésios diz: «…para que… cresçamos em tudo naquele que é a cabeça» (Ef. 4:15). E sabemos quem é a Cabeça: Cristo é a Cabeça da igreja.

Efésios e Colossenses são cartas gemeas. De fato, para entender as verdades de Efésios, temos que entender necessariamente também as verdades de Colossenses, porque são complementares. Dizem que foram escritas no mesmo tempo.

Dois tipos de irmãos

Em Colossenses, o apóstolo Paulo vai falar de algo bem particular. A primeira parte do versículo 19 diz: «…e não ligando-se à Cabeça», ou não agarrando-se à Cabeça. É muito interessante este versículo. Paulo contrapõe duas situações, dois tipos de irmãos – porque esta carta foi escrita a crentes. No versículo 18 fala que ninguém nos prive do nosso prêmio, mas em seguida diz que a condição de alguns é estar «inutilmente inchados por sua própria mente carnal».

Paulo aqui faz a diferença entre aqueles que estão inchados por sua própria mente carnal, em contraposição com o versículo 19, que são os que estão unidos à Cabeça. E, o que acontece com estes? Eles crescem. O versículo 19 nos dá a chave do crescimento: crescemos estando ligados ao Cabeça.

Então, aqueles que não permanecem ligados a Cristo não amadurecem, porque o crescimento só é possível quando o corpo está unido à Cabeça. Paulo menciona que estes irmãos estão inchados, mas não crescidos. É muito interessante a palavra que é usada aqui: «inutilmente inchado», porque a expressão «inchado» é usado também em 1ª Coríntios. Nessa carta, umas quatro ou cinco vezes é usada a palavra traduzida do grego. No entanto, na carta aos Coríntios foi traduzido como «vão».

Por exemplo, em 1ª Coríntios 8:1 diz: «O conhecimento envaidece (em espanhol), mas o amor edifica». No original é: «O conhecimento incha». É muito interessante essa expressão. Quando algo está inchado, em seu interior não há nada, pode haver ar, mas nada mais. Algo vão é algo vazio. No entanto, há um significado da palavra «vão» que é muito mais interessante. Tomada neste contexto, significa falta de realidade, falta de substância, falta de essência.

Quando diz: «...inutilmente inchado por sua própria mente carnal», quer dizer que estes irmãos não cresceram no Senhor, porque não estiveram ligados à Cabeça. No entanto, ao vê-los externamente, parecem robustos, parecem crescidos. Nosso Deus vê muito além do que os nossos olhos vêem. E ele vê, e diz: «Não, não estão crescidos; estão inchados». Irmãos, vocês podem observar a importância que tem este versículo para nós? Nós podemos estar hoje reunidos, podemos participar e testificar do Senhor. Que precioso é quando a igreja testifica! No entanto, que hoje o Senhor examine os nossos corações.

Quantas das nossas declarações são uma realidade, e quantas são produto de uma vã mente carnal? Aqui é falado a crentes, e a estes o Senhor espõe e diz que é somente «inchaço», é apenas ar, e não há realidade neles.

Vocês se lembram de quando o Senhor Jesus se dirigiu a uma figueira querendo achar fruto nela? Era uma figueira frondosa. Vê-la era algo precioso. Mas ele não encontrou fruto; só folhas. Podemos aplicar esse exemplo ao que estamos dizendo. Podemos dizer, então, que essa árvore representa também este tipo de crentes, que têm muitas folhas, que se vêem verdes e frondosos; a hora que o Senhor vai procurar um fruto, não o encontra.

Fruto = realidade

O que é esse fruto? Esse fruto, no fundo, é realidade. Sabe o que o Senhor procura de nós? Realidade. Não procura apenas proclamas com respeito que ele é o Senhor. Se na realidade o Senhor é o seu Senhor e é o meu Senhor, então essas proclamas recebe vida, e se faz real em nosso meio, e então ele reina sobre a sua casa. De outra forma, não. Portanto, quão importante é esta palavra – que vivamos nossa vida ligados à Cabeça. Não há outra forma de crescer.

Imagina quão estranho seria se um corpo andasse sem cabeça? É uma imagem horrenda para as nossas mentes. No entanto, em nossa realidade espiritual, muitas vezes andamos como um corpo sem cabeça, porque não reconhecemos a Ele como nossa autoridade! Irmão, o Senhor é o Senhor da igreja, e devemos desejar que isso seja uma realidade em nós. Essa é a glória da igreja, e temos provisão no Senhor para que isso seja uma realidade, porque morremos e nossa vida está escondida com Cristo em Deus.

Agora, isto do qual falamos, primeiro inicia de forma individual. É certo que o Senhor é Cabeça de sua igreja em forma corporativa. No entanto, para que isso seja real na igreja, primeiro deve ser realidade em sua vida. Em sua casa, em sua família, com seus filhos, em seu casamento, ele tem que ser a Cabeça! Se não o for, então, como vamos pretender que ele seja o Senhor na igreja?

Que o Senhor socorra a todos, e que o Espírito Santo vá clareando os nossos corações. Como temos vivido este tempo? Andamos ligados à Cabeça, sujeitos a Cristo? O Espírito Santo possa fazer em nossos corações um exame profundo, primeiro em forma individual, para que em seguida seja em forma corporativa.

Há uma tradução do versículo 18b que quero compartilhar. Em vez de dizer: «inutilmente inchado por sua própria mente carnal», diz que é uma pessoa «cheia de si mesma». E tem sentido, porque uma pessoa que ainda está cheia de si mesmo, jamais estará unida com a Cabeça. Se eu estiver cheio de mim mesmo, das minhas idéias, dos meus projetos, das minhas necessidades, tudo centrado em mim mesmo, como poderia estar sujeito à Cabeça? É impossível. Irmãos, que não seja esta a nossa condição. O Senhor misericordioso, através desta palavra, possa trazer profundo arrependimento aos nossos corações, para que, se este for o nosso estado, já não o seja mais.

Agora, quando falamos deste ‘nos unir à Cabeça’, ainda parece ser algo abstrato, que não entendemos muito bem o que significa. Eu posso dizer, para identificar com os irmãos: «Sim, irmãos, eu estou unido com a Cabeça!». Mas, em termos práticos, como posso notar de que eu ou meu irmão, ou nós como congregação, estamos realmente unidos à Cabeça?

Há muitas marcas, muitas evidências, se uma congregação anda desta forma. A carta aos Colossenses está cheia destas marcas. Apenas uma passagem. Aqui, em Colossenses, o apóstolo Paulo chama a atenção aos irmãos, dizendo: «…perdoando-vos uns aos outros… da mesma maneira que Cristo vos perdoou». Quem de nós poderia perdoar como Cristo perdoou, se não estivermos ligado à Cabeça? Não poderíamos.

Como o Senhor nos perdoou? Seu perdão foi unilateral. Ele nos perdoou! Eu não fui onde ele estava para lhe pedir perdão. Não; ele veio e ele nos perdoou! Glórias ao Senhor! Mas esse perdão que ele nos deu, é o perdão que ele também demanda à igreja que está unida a Cristo. Percebeu, irmão? Aqui podemos ver se o que proclamamos cada vez que nos reunimos é uma realidade em nós.

Cristo no centro

Poderíamos nos aprofundar muito mais nessa marca, mas quero pôr a ênfase em algo mais. Reconhece-se uma igreja que anda ligada à Cabeça, porque Cristo «é o tudo, e em todos» nela. Também está em Colossenses essa expressão. Para uma igreja local, que Cristo seja o tudo, significa que essa igreja não tem outro centro de atenção, outro foco, a não ser Cristo; não deseja outra coisa, a não ser a Cristo; não se distraia com nada, porque a sua atenção é Cristo. Se uma igreja está ligada à Cabeça, sempre em seu coração estará o seu Senhor.

Em nossos dias, muitos cristãos, infelizmente, perderam de alguma forma, a atenção ao Senhor. Distraíram-se de Cristo, e outras coisas devem ter maior relevância. E isso também pode ocorrer a todos nós, se, por exemplo, começarmos a enfatizar os dons, e a exaltar o dom acima do Doador do dom. Podemos nos distrair de Cristo, e ele não será mais o nosso foco, mas um certo pregador, e se este não prega, então parece que a Palavra não flui. O mesmo ocorre com o louvor. Se não usarmos estes acordes, ou não inovarmos nisto e naquilo… Cristo deixa de ser o centro, e a música passa a ser o centro. Entendem?

Qual é o chamado do Senhor hoje? É um chamado doce, mas ao mesmo tempo forte e firme: «Não se distraiam de mim!». Que as coisas do mundo não nos distraiam da pessoa mais bendita que conhecemos! Ele é o maior de todos, ele é o excelso, ele é o alto, a ele rendemos nossa vida! Senhor, que nada nos distraia de ti! Que nada nos separe do Senhor, irmãos!

Satanás não descansa; ele vai levantar uma e outra artimanha com a finalidade de que você se distraia, de que eu me distraia. E não quero falar de pecados grosseiros, porque sabemos isso, mas o inimigo é muito mais sutil, e seu dom, sua graça, pode fazer com que você se distraia de Cristo. Sabe a que nos leva isto, então? Leva-nos a estar sempre diante do nosso Deus.

Colossenses 1:9-10: «Pelo qual também nós, desde o dia que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento de sua vontade em toda sabedoria e inteligência espiritual, para que andeis como é digno do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus. Este era o desejo de Paulo para a igreja em Colossos, mas também é o desejo do coração do Senhor para todas as igrejas: Que sejamos cheios do conhecimento da sua vontade. Uma igreja ligada a sua Cabeça, que conhece qual é a vontade do seu Senhor. Assim como o nosso corpo conhece qual é a vontade da cabeça, e lhe obedece, assim também a igreja conhece a vontade de Deus.

O encargo do Senhor em Neemias

Conhecemos qual é a vontade de Deus neste tempo? Não estou falando da vontade eterna de Deus, porque a conhecemos, e podemos dizer, por exemplo, que a sua vontade é levar muitos filhos à glória. Essa é a sua vontade eterna; mas há também uma vontade presente, um encargo no coração do Senhor. O encargo de Deus hoje é a mesma de ontem; no entanto, às vezes nos esquecemos de qual é o encargo do seu coração. Com respeito a isto, quero dar um exemplo na Escritura, na história de Neemias.

Neemias era o copeiro do rei, que estava sempre diante dele lhe servindo. Neemias se encontrava na Babilônia, cativo, junto com outros. No entanto, a sua situação era distinta a do resto do povo, porque ele se tornou o copeiro do rei. Este não era um cargo pequeno, era um cargo de confiança absoluta, porque se acontecesse algo ao rei por causa da comida ou da bebida, o copeiro era o responsável. Neemias alcançou o favor do rei.

Neemias capítulo 1 é muito interessante. Quando ele está no exercício da sua função, vêm alguns de Israel, e ele lhes pergunta: «Como está Jerusalém?». E recebe a notícia de que Jerusalém estava destruída, totalmente em ruínas. Quando Neemias se inteirou disto, fez um lamento, jejuou e orou. Talvez ele nunca estivesse em Jerusalém antes; mas, por que houve então em seu coração esta reação? Às vezes reagimos desta forma quando nos informam sobre uma situação relacionada com uma pessoa que conhecemos. Parece que nos dói mais, porque conhecemos o afetado. Mas quando não é assim, lamentamos um pouco, mas não é tão significativo.

Queria particularizar isto, porque o choro de Neemias, seu jejum e suas orações, não são um encargo dele em particular, mas um encargo de Deus. Ou melhor, ele nunca teve uma experiência com Jerusalém, nem percorreu as suas ruas, nem tinha servido no Templo; no entanto, o seu coração se compungiu, e Deus viu nele um coração disposto a levar a Sua carga.

Neemias não era um pregador, não era um profeta. Por isso deduzimos por seu próprio livro, que ele era um homem de oração. Portanto, Deus escolhe, para restaurar o seu testemunho na terra, não aos pregadores, pelo menos não na primeira instância, porque Esdras vem depois; primeiro é Neemias. Hoje, Deus está procurando homens e mulheres que estejam dispostos a levar a Sua carga. E como levaremos a sua carga? Se estivermos unidos à Cabeça. Se não estivermos, então não vou me interessar ao que lhe interessa, não vou sofrer pelo que ele sofre, e, todavia vou sofrer apenas por mim.

Mas, qual é o convite do Senhor? «Levem a minha carga, levem o meu jugo. Meu jugo é suave. É o meu jugo, é a minha carga, que vocês têm que levar; não a sua carga». Percebe irmão? Não é a sua carga, não são os seus problemas; porque dessas situações, ele vai se encarregar. Isso é fé: ele vai se encarregar dos seus problemas. É como se o Senhor dissesse: «Olha, das suas cargas eu é que me preocupo. Mas vou te pedir um favor (porque o Senhor é tão terno conosco, que não nos impõe nada, mas quase nos rogando nos pede): Eu levo o que é seu, as suas cargas, os seus problemas, aquelas preocupações noturnas, aquelas insônias pelas dívidas, por sua família, por seus filhos. Mas quero apenas uma coisa de ti: que tu leves a minha carga».

Irmãos, como igreja, estamos dispostos a levar a carga do Senhor, a nos derramar, como Neemias, por Seu encargo? Neemias não orou por si mesmo, não chorou nem jejuou por si mesmo. Sua situação não podia ser melhor, ele ocupava um lugar de privilégio; no entanto, quando recebeu o encargo do coração de Deus, apresentou-se diante do rei e embora estivesse proibido de apresentar-se com o semblante mudado, ele se arriscou, apresentou-se, e em poucas palavras, disse ao rei: «Tenho que ir ».

Neemias deixou tudo, porque Deus tinha posto seu encargo nele e não podia fazer outra coisa, a não ser cumprir com o que Deus lhe tinha encomendado. Então, ele deixa o palácio e foi para as ruínas de Jerusalém, porque era um homem de oração, um homem que procurava a Deus sempre, e Deus vê nele um coração disposto, um coração que está com o Senhor e com o Seu encargo, em completa harmonia.

Irmãos, qual é o encargo do Senhor hoje? Qual é a vontade de Deus hoje? Conosco, com a igreja; há uma vontade específica, há uma vontade clara. Nos veio falando todo este tempo sobre uma linha de pensamento: Que já não sejamos mais meninos, mas cresçamos e maturemos, que sejamos crentes e filhos maduros. Essa é a vontade de Deus para nós hoje.

Deus quer que deixemos nossas criancices e sejamos crentes amadurecidos, que deixemos de ter disputas por ninharia e olhemos para ele e sigamos a ele, aquele que suportou muito mais que nós, aquele que suportou até o opróbio por nós. Tudo isto se cumpre apenas se estivermos ligados à Cabeça, que é Cristo. Em termos práticos, um homem que está ligado à Cabeça, vai ser um homem que terá a carga do Senhor em seu coração, e essa carga o levará a dobrar os seus joelhos, a orar por aquilo que o Senhor quer.

Em Neemias capítulo 4, vemos Neemias em plena tarefa de reconstrução. E, sempre que se inicia um processo de restauração, há oposição. Vemo-lo aqui com Sambalate e Tobias, unidos para tentar que o povo de Israel não continuasse com a obra de reedificação dos muros e do templo, usando muitas artimanhas para estorvar a obra de Deus. Uma delas foi dizer sutilmente: «Te ajudaremos; queremos colaborar contigo também», mas o seu propósito não era colaborar – Eles queriam distraí-los de Cristo.

Há muitos inimigos espirituais tentando te distrair de Cristo dia a dia. Agora, se for desta forma, se soubermos que eles estão ocupados em nos distrair do que é importante, como não dobraremos os nossos joelhos todos os dias diante do Senhor, para que ele nos guarde! Neemias se deu conta disto. Por isso, quando os inimigos estavam à espreita, para defender os muros, ele vai procurar –e isto é muito significativo– não aos soldados, mas às famílias.

«Então pelas partes baixas do lugar, atrás do muro, e nos campos abertos, pus ao povo por famílias, com suas espadas, com suas lanças e com seus arcos» (4:13). Pô-los por famílias, isso é muito interessante. Quais são os que, em primeira instância, vão defender o testemunho de Deus na terra?... Porque, nesse momento, Jerusalém era o testemunho de Deus que tinha que ser restaurado. Neemias pôs às famílias!

Neemias 4:14: «Depois olhei, e me levantei e disse aos nobres e aos oficiais, e ao resto do povo –Olhe o discurso de Neemias, no Espírito do Senhor–: Não temais diante deles; lembre-se do Senhor, grande e temível». Sim, temos inimigos. Eles vão fazer o impossível para te tirar de Cristo, não duvide. Mas não temamos; lembremos-nos do Senhor, grande e temível. Assim é o teu Senhor, irmão. Só quando me lembro de quem é o Senhor, é que em meu coração não há temor frente aos meus inimigos, porque sei que ele é o que me guarda, ele é o que me defende, ele é o que está por mim. Glórias ao Senhor!

É o mesmo em Colossenses. Quando Paulo ora pela igreja em Colossos, ele pede três coisas: Primeiro, «que sejais cheios do conhecimento da sua vontade»; segundo, «que andeis … agradando-lhe em tudo»; terceiro, «que sejais cheios do conhecimento da sua vontade». Entendem? Por último, «cheios do conhecimento da sua vontade». O que diz Neemias? «lembre-se do Senhor».

Conhecemos o Senhor? Talvez alguns de vocês poderiam perguntar: «Irmão, que pergunta está fazendo, se estamos aqui!». Mas a pergunta é válida, porque de acordo ao que vimos no princípio, podemos estar aqui, podemos vir todos os domingos para a reunião pontualmente; no entanto, ainda podemos não conhecer ao Senhor, podemos viver uma vida vã, podemos estar vivendo uma irrealidade. Por isso é importante esta palavra. Lembremo-nos do Senhor, conheçamos o Senhor!

Não vamos presumir que já o conhecemos. Recebemos muita Palavra, por muito tempo; mas que isso não nos faça pensar que já o conhecemos completamente, que já não necessitamos de mais nada. Não, irmão! Ele é eterno; falta-nos a eternidade para conhecê-Lo. Que o nosso coração se encha deste sentimento. Queremos te conhecer Senhor, queremos te conhecer mais e mais, porque este é o conhecimento que produz vida, que produz realidade em nós; se não, viveremos somente uma ilusão, viveremos um engano!

Depois diz: «…e lutem por vossos irmãos, por vossos filhos, por vossas filhas, por vossas mulheres e por vossas casas». Dois pontos aqui: primeiro, o verbo lutem. Prestem muita atenção, irmãos. O que está ocorrendo nesta cena, no contexto aqui? Vinham inimigos que queriam destruir os muros que estavam sendo reconstruídos. No entanto, a ordem de Neemias em seu discurso ao povo, não foi: «Lutemos para que não nos destruam os muros». Não disse: «Temos que lutar por Jerusalém, temos que lutar por estes muros». Não disse assim. O que disse? «Lutem por vossas famílias».

Então, o que estamos reconstruindo? No fundo, aquilo era somente uma cidade com muros? Não. Nesse momento, a cidade murada estava em perigo? Não. Neemias viu muito mais à frente pelo Espírito do Senhor. Viu que o que estava em perigo não eram os muros, não eram as pedras. Estava em perigo a família; porque caso contrário, ele não teria dito: «Lutem por seus irmãos, por seus filhos, por suas filhas, por suas mulheres e por suas casas».

Irmãos, é muito interessante que aqui se desmembre isto, porque às vezes custa-nos entender também. Mas aqui está claro. Se eu perguntasse dizendo: «por que você tem que lutar hoje, meu irmão?», poderíamos responder isto, que tem direta relação com Efésios 6:12: «Porque não temos que lutar contra sangue e carne, mas contra principados, contra potestades, contra hostes espirituais da maldade nas regiões celestes». Têmos que lutar. Às vezes não damos atenção a isto, às vezes parece que tudo caminha tão bem, e isso nos faz esquecer que há uma luta acontecendo nos céus.

Eu dizia isto aos irmãos em Chol-Chol, aos pais: Há alguém mais, além de vocês como pais, e do Senhor, que também quer os seus filhos. Há uma pessoa que não os quer para o bem. E, sabe mais, ele vai lutar por consegui-los. Em muitos casos parece que os pais se deram por vencidos, deixaram de lutar pelos seus filhos. Parece que o inimigo já ganhou essa batalha. Então, nossas orações cessam; já não oramos como antes.

Irmão amado, você tem um Senhor que nunca perdeu uma batalha; com seu filho tampouco a perderá. Mas, do que depende? De que estejamos ligados à Cabeça. Oh!, irmão, se estivermos unidos a Cristo, ele o fará; ele o trará e ele o sentará ao seu lado aqui na reunião, e louvarão juntos ao Senhor! Irmãos, lutem por seus irmãos, por seus filhos e por suas filhas!

Preocupação ou angústia?

Irmãos, há uma diferença fundamental entre a angústia e a preocupação. São dois conceitos que às vezes manipulamos e os fazemos sinônimos. E dizemos que estamos preocupados com algo quando há uma preocupação em nosso coração com respeito a algum assunto. No entanto, há uma diferença semântica entre estas duas palavras.

O que é a preocupação? A preocupação tem uma qualidade, e essa qualidade é que dura um breve tempo. Então, eu digo, por exemplo: «Estou preocupado pelo irmão que não vem há dois domingos a reunião». Estou preocupado. Mas, quando o vejo na terceira reunião, a preocupação se vai. «Ah, apareceu. Que bom!». Mas, o que é a angústia? É distinto. A angústia é uma dor intensa e profunda. A angústia, diferente da preocupação, não se vai tão rápido, permanece.

Agora, eu pergunto: O que vocês crêem que Neemias sentiu no capítulo 1, com respeito a Jerusalém? Preocupação ou angústia? Se Neemias tivesse sentido só preocupação, bem, teria orado, teria jejuado um ou dois dias, e depois passaria, porque se envolveria demais em seus afazeres, e iria se esquecer. Talvez, uns dois meses mais tarde poderia vir novamente a mesma preocupação. Mas o seu coração não se preocupou, mas se angustiou. Houve uma dor profunda em seu coração, do qual não podia escapar.

Irmãos, por que nós estamos nos angustiando hoje? Estamos angustiando pelo que Deus quer que nos angustiemos? Ou, pelas coisas de Deus, há apenas uma preocupação? Eu creio que o que Deus quer é que a sua igreja, neste tempo, angustie-se; porque só da angústia, o Senhor pode restaurar as coisas. Não de uma oração ‘preocupada’, mas sim de uma oração que nasce de um coração angustiado. Angustiemos-nos por nossos filhos, angustiemos-nos por nossas filhas, angustiemos-nos por nossas esposas, por nossos maridos! Haja uma angústia em nossa oração!

O que convém a minha esposa? Que eu morra, e então ela vai se angustiar por isso. Não, não é uma angústia que chame o desespero, mas uma angústia do Senhor, a angústia que nasce do seu coração, até que Cristo seja formado em nós. Paulo diz: «meus filhinhos, pelos quais torno a sofrer dores de parto até que Cristo seja formado em vós».

Vamos apenas nos preocupar com o irmão que não veio? Não, vamos nos angustiar. «Irmão, como assim, tão exagerado?». Irmão amado, eu creio, em meu coração, que este tempo que vivemos não dá para outra coisa. Se você ver as notícias e ver a realidade, irá ver como está o mundo, como Satanás exerceu tal influência na sociedade, nos jovens. Não é para angustiar-se? Sim, é para nos angustiar, para que vivamos de joelhos, para que vivamos pedindo ao Senhor.

Irmãos, que o Senhor ponha o seu encargo nos nossos corações. Não somente nos preocupemos – nos angustiemos. Essa angústia, asseguro-lhe isso, vai te levar ao quarto secreto, a orar para o Senhor. Então, tudo o que temos dito se cumprirá, se apenas cumprirmos este requisito – se estivermos ligados a Cristo. Se estivermos unidos a Cristo, isto será uma realidade em nós.

Que vivamos sempre unidos ao nossa Cabeça, que não seja só proclamas. Que não seja apenas andar espiritualmente inchados de conhecimentos, pelo que sabemos das Escrituras. Irmãos, só o conhecimento das coisas não nos serve de nada. Serve-nos a realidade das coisas, e o Senhor quer levar a todas as igrejas à realidade. Glórias ao Senhor!

Transcrição de uma mensagem ministrada em Temuco, em agosto de 2011.

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