Revelando a Sabedoria de Deus

A igreja como espetáculo e como porta-voz dos mistérios de Deus.

Roberto Sáez

«Para que a multiforme sabedoria de Deus seja agora dada a conhecer por meio da igreja aos principados e potestades nos lugares celestiais» (Ef. 3:10).

Uma das glórias da igreja, é que foi escolhida e designada por Deus para dar a conhecer a multiforme sabedoria de Deus. A igreja é guardadora e dispensadora das verdades que estiveram ocultas por séculos e gerações; mas Deus, em seus intuitos, quis revelá-las por meio de sua igreja aos principados e potestades nos lugares celestiais.

A igreja tem a glória de ser o vaso contenedor do mistério de Deus; ela é o meio pelo qual Deus demonstrará nos séculos vindouros a obra mestra que fez em Cristo Jesus; ela será a exibição da glória de Deus quanto às coisas criadas, pois a glória da criação de Deus é a obra que Deus fez em Cristo para com a igreja. Agora, esta igreja unida a Cristo, sendo um corpo com ele e participando da mesma vida de Cristo, é o meio pelo qual Deus anuncia e notifica às potestades superiores nos céus a sua multiforme sabedoria.

A igreja como espetáculo

«Com vitupérios e tribulações, foram feitos espetáculo» (Heb. 10:33). Isto é o que se diz da igreja, e o mesmo se diz dos apóstolos: «Deus colocou a nós, os apóstolos, como a últimos, como sentenciados a morte; pois temos sido espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens» (1a Cor. 4:9).

1. Espetáculo aos anjos

A igreja vive na presença dos observadores celestiais. De um lado, estão as hostes espirituais da maldade nas regiões celestes, e no outro, os anjos, arcanjos e serafins que configuram o reino de Deus nos céus. A igreja é observada em sua marcha, em seu testemunho, a cada instante. Os anjos malignos procuram atrapalhar a marcha da igreja para o encontro escatológico com Cristo, procurando impedir que a igreja chegue à glória definitiva.

A promessa de Cristo é: «…as portas do inferno não prevalecerão contra ela» (Mat. 16:18b). Os anjos de Deus, «enviados para serviço a favor dos que serão herdeiros da salvação» (Heb. 1:14b), trabalham favorecendo a igreja, guardando-a para Deus e salvando-a das intenções do maligno e suas hostes. Jesus anunciou o serviço dos anjos de Deus: «daqui por diante verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem» (Jo. 1:51b).

Desde que Cristo nos abriu as portas do céu, os redimidos por Cristo tem sido o alvo da vigilância dos anjos de Deus. As Escrituras nos dão testemunho das lutas entre anjos malignos e benignos. Tal é o caso da disputa de dois arcanjos pelo corpo morto de Moisés. Também nos dias de Daniel, o príncipe da Pérsia atrapalhava a resposta às orações de Daniel, mas um anjo de Deus veio com a resposta do céu, vencendo o impedimento.

Sem dúvida, os anjos que se separaram do reino de Deus nos céus, têm uma intenção muito definida contra a igreja, e esta é levar a igreja a seu terreno de morte e destituição. Eles obedecem ao «príncipe da potestade do ar» – como menciona o Espírito Santo através de Paulo. Este foi o primeiro desta espécie que se rebelou nos céus, arrastando atrás de si um terço dos anjos que serviam a Deus.

Nos parâmetros da justiça divina, Deus executou um juízo através de seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, que julgou e venceu ao maligno na cruz e no sepulcro. Deus entregou todo juízo nas mãos de seu Filho. A justiça de Deus já caiu sobre o maligno, e agora Deus entregou esta vitória de Cristo a sua igreja, para que ela, por meio de Cristo, exerça a autoridade de pisotear serpentes e escorpiões, colaborando com Deus na reivindicação do reino dos céus, pondo a seus inimigos por estrado dos seus pés.

Esta obra é a que Deus espera que a igreja leve a cabo, testificando a vitória de Cristo, exibindo às potestades superiores a multiforme sabedoria de Deus. Somente a igreja conhece a justiça e a misericórdia de Deus. Os anjos ignoravam estes extremos do caráter de Deus. Justiça é o que a Deus permite castigar o pecado. Amor é o que lhe permite salvar segundo os seus intuitos. Aos homens salvou, mas para os anjos não houve redenção. Certamente porque a rebelião de Satanás é tão grande que não quer nada de Deus, nem mesmo o seu amor. A igreja é essa parte da humanidade pecadora que quis o amor de Deus.

É maravilhoso ouvir as proclamações da igreja reunida; os céus se estremecem quando a igreja confessa a sua fé e declara a obra vitoriosa de Deus em Cristo. Que lugar mais alto é o que Deus deu à igreja no universo!

2. Espetáculo ao mundo

A igreja é chamada a ser o sal e a luz do mundo. O mundo não se refere ao planeta, mas ao sistema de vida política, econômica, social, cultural, educacional, que o homem caído inventou para subsistir. O mundo não conhece a Deus, e da mesma forma, não o inclui em seus projetos; o mundo é inimigo de Deus e por isso está vinculado com o mal. Desta forma é que o mundo tem infiltrado a igreja através da história, mas Deus sempre a salvou resgatando-a das impurezas, guardando-a da corrupção que há no mundo. Se não fosse pela presença da igreja no mundo, a maldade seria ainda muitíssimo maior. A igreja é que tem preservado à humanidade de cair em maiores desgraças.

A igreja aparece no princípio, no meio do mundo grego-latino – o Império Romano. Todos nós sabemos da glória desse império, o maior e o mais organizado de todos; no entanto, esse império sucumbiu pela corrupção interna. E a igreja, que foi objeto de espera e desprezo para esse mundo, terminou colocando-se na cabeça desse império. Claro que isso nunca foi a vontade de Deus, pois a igreja não é para dominar o mundo, mas para lhe servir mostrando a luz de Deus.

A igreja se separa do mundo e ao mesmo tempo volta para confrontar as suas trevas com a luz de Deus. João Bunyan escreveu na prisão o seu famoso livro «O Peregrino», e nesse livro, o protagonista, um tipo dos cristãos, foge da cidade cheia de mundanidade. Isso é o que fizeram os que se separaram das cidades vivendo em conventos e monastérios, como maneira de escapar do mundo. Mas, quando Jesus nos chama para fora do mundo, é fora da maldade do mundo. Mas, ao mesmo tempo nos chama a ser a luz do mundo. Este último não poderia ser cumprido sem estar presente no mundo, vivendo no meio deles, mas sem ser deles. Jesus comia com os «pecadores», mas ele não foi um pecador.

3. Espetáculo aos homens

A igreja é o farol que ilumina em lugar escuro. Incontáveis náufragos viram o resplendor de sua luz em meio das tormentas da vida: doentes, pobres, desamparados, pecadores cheios de culpabilidade, vieram a refugiar-se das tormentosas tempestades e acharam paz e consolo no lugar onde Deus habita aqui na terra.

Por outro lado, os homens importantes do mundo olharam à igreja com desprezo e usaram e abusaram dela; mas de tudo isso terão que dar conta a Deus. Muitos cristãos foram espetáculo ao mundo romano em seus circos, comida para leões e feras. Outros foram perseguidos, encarcerados, espancados, açoitados, acorrentados, atravessados por espada, afundados e afogados nas águas; pois o homem do mundo vê os cristãos com desprezo.

Poderíamos mencionar uma longa lista de cristãos que assombraram os homens com o seu exemplo de vida, entre os quais há missionários, cientistas, filósofos, teólogos, médicos, engenheiros, que deram a sua vida a favor da humanidade doente.

De muitas maneiras, a igreja é um espetáculo para a humanidade. Como o caso dos quatro missionários norte-americanos que, no ano de 1951, morreram no Equador pregando a Cristo entre os canibais. O chefe da tribo mandou matá-los. As suas mulheres, viúvas, com seus filhos, ficaram entre os indígenas para lhes mostrar o amor de Cristo. O caso foi espetáculo para o mundo inteiro.

A igreja como anunciadora dos mistérios de Deus

Entre as festas judaicas, tem a festa das trombetas. O shofar era o instrumento pelo qual o povo de Israel era convocado a reunir-se para ouvir as boas novas ou para receber alguma advertência sobre um perigo que se aproximava. Assim eram chamados à guerra ou convocados por alguma disposição do rei.

Os profetas foram verdadeiras trombetas anunciadoras de notícias boas e más; trombetas que confrontaram o mal da nação, denunciando-o.

João Batista foi uma trombeta que anunciou a boa nova (evangelho) de que Jesus é o Cristo. Deus mesmo, o dia em que Jesus foi batizado por João, fez ouvir a sua voz dos céus testificando que Jesus era seu Filho e que deveriam segui-lo. Depois, a igreja viveu uma permanente festa das trombetas, anunciando a salvação que Deus nos deu em Cristo e assim será até que chegue o dia quando se escutar a trombeta final, anunciando a segunda vinda de Cristo dos céus para encontrar-se com a sua amada igreja.

Enquanto isso, a igreja, cada vez que se reúne, anuncia a multiforme sabedoria de Deus às potestades superiores. A igreja está consciente de ser escutada, sabe que há uma consciência espiritual e universal que está atenta ao seu testemunho; por esta razão, muitas vezes vimos sair demônios gritando quando se proclama a sabedoria de Deus.

Deus se agrada da igreja quando esta exibe o depósito que Deus pôs nela. Essa luz não é para ser escondida: é para ser anunciada.

A igreja é guardiã da multiforme sabedoria de Deus. Esta sabedoria é Cristo em sua encarnação, em sua divindade, em sua obra, em seu ensino, em sua exaltação aos céus. Cristo é proclamado pela igreja. Jesus louva a fidelidade da igreja na carta à Filadélfia, que retém e não negou o seu nome. Hoje, a igreja segue proclamando que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Quando as trevas ouvem esta declaração da igreja, fogem, pois não podem resistir o poder desta confissão.

Exorto à igreja de hoje, a que em cada reunião façam uso do depósito de Deus e o exibam diante dos principados e potestades superiores, pois a igreja não só se reúne para ouvir a palavra de Deus, mas também para proclamá-la; não só diante dos presentes, mas também daqueles que não se vêem, mas que estão presentes.

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