Pode o homem viver a vida cristã?

Roberto Sáez

«Já não vivo eu, mas Cristo vive em mim» (Gál. 2:20).

Só em Cristo

A única vida cristã que existiu e que existe é a vida de Cristo. O Novo Testamento foi escrito para explicar aos cristãos como é que se vive a vida cristã, a vida de Cristo. Cada epístola registra o conselho de Deus através dos apóstolos referente a como é e como se tem que viver a vida cristã.

Em si mesmo ninguém pode viver a vida cristã. Só em Cristo é possível; a Vida cristã é o próprio Cristo e, portanto tão somente ele a pode viver em nós. Então, que participação nós temos na vida cristã? Como se concilia o fato de que apenas Cristo pode viver a vida cristã, com o fato de que manda aos cristãos para experimentar a vida de Cristo?

O crente tem uma participação em Cristo, pela união com Cristo, por ele e nele; portanto não tem participação separada de Cristo, pois em tal caso, o que fizer é nada, embora humanamente seja muito; é por isso que em João 15 nos pede que permaneçamos nele porque além dele não podemos fazer nada.

A vida cristã pode ser aprendida e, portanto ensinada? Paulo fala que ele aprendeu a «estar contente qualquer que fosse a sua situação». Isto nos diz que é possível aprender como se vive a vida cristã (Fil. 4:12).

A vida cristã é a vida de Cristo; e esta vida corresponde a uma ordem de vida imensamente superior à vida dos homens terrestres; tão somente por este fato, é impossível que os homens, com a sua vida criada e caída, possam viver a vida incriada e eterna.

Será que, por esta impossibilidade de viver em nossa força a vida do céu, convertemo-nos em pessoas passivas, sem atividade e participação na vida cristã?

Isto é muito possível, devido a uma compreensão inadequada da consistência da vida cristã. Não obstante, a vida cristã é a mais ativa, graciosa, desafiante, ditosa e cheia de propósito, de todas as formas de vida que existem, porque é a vida de Deus. Apresenta-se como uma carreira, como um combate, como uma luta, como uma potência dinâmica que atua nos que creem nela e a receberam. É agressiva e belicosa; está em permanente luta contra o inimigo, a carne, o pecado, o mundo e toda adversidade; ao mesmo tempo em que é «amor, gozo, paz, paciência, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança» (Gál. 5:22-23).

Uma utopia?

Será que a vida cristã é uma utopia, visto que é uma vida de outra ordem, de outro estilo e qualidade? Isto é o maravilhoso e o atrativo da vida cristã: que, sendo de uma ordem altamente superior a nossa, tenha vindo para condescender com a baixeza do homem e fazer deste sua habitação, para ser contido e em seguida expresso pelos que a recebem.

Como podemos entender quando Paulo convida aos cristãos a imitá-lo, como ele imita a Cristo (1ª Cor. 11:1), sendo que a vida cristã é o próprio Cristo; e o homem em si mesmo, ou em sua carne, não o pode imitar, pois o único que vive a vida cristã é o próprio Cristo? Ou, como podemos entender o que Pedro diz, quanto a que Cristo nos deixou exemplo para que sigamos as suas pisadas? Pode o homem seguir a Cristo e imitar a sua vida? Não! O homem em si mesmo não pode; o segredo está no que Paulo diz: «Já não vivo eu, mas Cristo vive em mim» (Gál. 2:20).

Sem dúvida, para podermos viver a vida cristã, precisamos compreender no que consiste esta equação: Menos eu, mais Cristo. Apresenta-nos uma subtração e uma soma; subtraímos a vida da nossa alma, para adicionar a vida de Cristo. É algo simples e por outro lado complexo, como todas as verdades que precisam de uma revelação espiritual. Trata-se da aplicação da cruz em nossa vida terrena, aquela mesma que Jesus nos convida a carregar dia após dia, e que constitui o caminho estreito para todo aquele que deseja fazer a vontade de Deus.

Aqui está o segredo da realização da vida cristã na natureza humana. Trata-se então de uma vida rendida e negada, para dar passagem a aquela outra vida, a que preferimos ao invés da nossa.

Esta explicação da vida cristã, sendo tão verdadeira, não traz consigo a ideia de uma aniquilação da pessoa? Sim, podemos pensar assim, e isto ocorre muito frequentemente quando interpretamos as verdades parcialmente, sem considerá-las em seu conjunto. O texto chamado nos diz: «Já não vivo eu». A qual eu se refere? Ao eu da alma. Nós, na vida cristã, temos um eu externo, e um eu interno, os quais correspondem ao homem exterior e ao homem interior.

A função da alma

O texto chamado tem um segundo meio verso: «…o que agora vivo (eu)…». Este é o eu do homem interior, o eu do espírito humano, que agora, amalgamado com o Espírito Santo, vive a vida cristã. O eu externo morre voluntariamente ao tomar a cruz cada dia, mas, experimenta vida de ressurreição, que também é parte da vida cristã. No processo de apreender a vida cristã, o eu externo vai morrendo e vivendo, morrendo para si mesmo e vivendo para Deus, para o espírito, subordinado ao espírito.

Não podemos viver a vida do espírito sem a alma; necessitamos da alma para expressar a vida cristã. Só que a alma tem que estar rendida. Uma alma sem cruz é um estorvo e impedimento para a expressão da vida cristã, mas uma alma rendida à cruz é absolutamente necessária para participar, viver e expressar aquela vida.

Entre o espírito e a alma, encontra-se o coração, o qual se inclina para um ou outro lado. Se for para a alma, tudo se torna carnal, e se for para o espírito, haverá uma perfeita harmonia, pois todo o nosso ser estará ordenado corretamente de dentro para fora. Sempre que o coração se inclina para os desejos da alma, vai dar lugar a uma vida poluída, enganosa e extraviada. Só quando o coração segue ao espírito vai para a direção correta; em seguida, tudo se torna bem coordenado naquele universo interior dando lugar ao fluir dos rios de águas vivas que possuem os que creem em Cristo.

Entendendo a epístola aos Romanos

Paulo tinha explicado a vida cristã na epístola aos Romanos. Até o capítulo 7, vinha expondo as verdades passo a passo. Cada verdade da obra de Cristo a favor dos redimidos assegurava mais e mais o coração dos crentes quanto à natureza da vida cristã, com todas as implicações do que Deus em Cristo teve que fazer para nos unir à vida cristã.

No entanto, ao chegar ao assunto da lei, descobre que ele é um miserável frente aos mandamentos da lei divina. Descobre algo tremendo: a vida cristã está refletida no caráter da lei, e ele se encontra impossibilitado de viver de acordo a esse caráter, que é também o caráter de Cristo, pois Cristo é o cumprimento da lei. «Mas eu sou carnal, não posso fazer o bem que quero, aprovo com a minha mente que a lei é boa, e me deleito nela, mas o pecado está em mim...». Gloriosa descoberta! Eu não posso viver a vida cristã.

Quem me livrará? Não tenho remédio. Em mim mesmo, não posso; a vida cristã é impossível para mim… Ah!, mas: «Graças dou a Deus por Jesus Cristo... porque a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da morte» (Rom. 7:25; 8:2). Paulo soube que a vida cristã não era uma mescla da sua vida com a de Cristo, mas na medida que ele morria para si mesmo, Cristo vivia nele.

Quantos de nós chegamos a esta conclusão? Temo que sejamos resistentes para receber e aplicar esta verdade à nossa existência na vida cotidiana. Talvez seja por esta razão que Deus permite que seus filhos caia em alguns pecados e outros caiam em outro tipo de faltas, tais como más reações, iras, irritações, invejas e pecados diversos, pecados que às vezes, são expostos em público para envergonhar a carne; porque se não falhássemos, o mais provável, é que pensaríamos de nós mesmos que somos as pessoas mais boas do mundo e estaríamos criticando, julgando e desprezando a outros, medindo-os por nossa justiça própria.

Vi esta atitude em minhas funções pastorais, com muito pesar, aqueles pais que têm filhos bons, aconselhar a aqueles pais cujos filhos falharam em algo. ‘Ah, irmão, se não corrigir a seu filho, ele se tornará em um delinquente’. ‘Não, comigo não! Eu dirijo a minha casa com disciplina e não lhes permito que me faltem o respeito. Saíram-me bons, porque soube corrigi-los’.

Isso pode ser bom, mas cada pessoa é diferente, e não é bom gloriar-se do bem que temos feito às coisas, porque então a sua vida cristã seria fenomenal, e talvez seja a única pessoa que pôde viver a vida cristã. Quanto a Paulo e a mim, e a todos os que como ele se consideram miseráveis, confessam que se não fosse ele quem vivesse em nós, que se não fosse ele a Vida da nossa vida, seríamos um completo fracasso, por melhor que fizéssemos as coisas.

Quem é a vida cristã?

A vida cristã tem muitas falsas interpretações, desde as heresias, até as verdades sobre enfatizadas. Visto que a vida cristã é Cristo, perguntamos por «Quem» e não «O que» é a vida cristã.

Precisamos estar muito claros com respeito a quem é o Senhor Jesus Cristo. O Senhor Jesus Cristo é uma pessoa com dupla natureza: é completamente Deus e completamente Homem. É divino e humano, é Deus feito homem. Aqui é onde surgem as mais variadas heresias em relação a sua pessoa. Uns rebaixam a divindade, exaltando a humanidade acima da divindade; outros, pelo contrário, rebaixam a humanidade levantando a divindade ao ponto de assinalar que Jesus não era humano; outros veem, nas duas naturezas, duas pessoas.

Assim, as heresias têm falhado provocando uma sequela de seguidores cujas vidas não refletem a vida cristã, nem podem refleti-la, porque o Cristo que professam não é o Cristo revelado pelo Pai nas Sagradas Escrituras, mas um cristo inventado por suas mentes caídas, um cristo teológico, elucubrado por sua própria imaginação e de acordo com as suas próprias filosofias da vida baixa e terrestre. Falam de um cristo conceptual e, portanto não conhecem ao Cristo revelado pelo Pai nas Escrituras.

As verdades sobre enfatizadas são tão daninhas quanto às heresias, pois também distorcem o testemunho de Cristo e, da mesma forma, da vida cristã. Historicamente, os cristãos têm descoberto alguma verdade que estava escondida, enfatizam tanto esta verdade, que tudo começa a girar em torno de uma verdade, mas não em torno da Verdade que é Cristo. Um aspecto da obra ou da pessoa ou dos ensinos de Cristo sempre será importante, mas sempre será uma parte e não o todo.

A modalidade da vida cristã

A vida cristã foi manifestada em Jesus Cristo; estava contida nele, ao mesmo tempo em que ele mesmo era a substância daquela vida. «Nele estava a vida, e a vida era…» (Jo. 1:4). «O que era no princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam referente ao Verbo da vida (porque a vida foi manifestada , e a vimos, e testificamos, e vos anunciamos a vida eterna, a qual estava com o Pai, e se nos manifestou)» (1ª Jo. 1:1.2).

A vida que Jesus Cristo encarnou é a vida de Deus, e Deus, é uma pluralidade de pessoas. Portanto, esta vida tem as características próprias de uma vida coletiva, de uma vida que se vive em comunidade, vida corporativa, vida compartilhada, em mutualidade, em reciprocidade, em diversidade e multiplicidade de relações. É a vida que o Pai viveu eternamente com o Filho, na unidade do Espírito Santo. É uma vida intra-trinitária, (vivida para dentro da Trindade) que tem sido vivida com exclusividade desde a eternidade, e que agora, em Jesus Cristo se manifestou aos seus santos, para que seja estendida para a igreja, de modo tal, que a igreja seja a prolongação da vida do céu na terra.

Quando os discípulos souberam desta vida, comprovando a sua realidade com todos os sentidos da natureza humana, deram testemunho de que aquela vida eterna que estava com o Pai (referindo-se a Jesus Cristo) manifestou-se e eles eram testemunhas desta maravilha que agora anunciavam a outros, para que esses outros também tivessem essa comunhão dispensada do céu, com eles.

A vida cristã toma o seu modelo (modalidade) da vida eterna que estava com o Pai e com o Filho na unidade do Espírito. Esta vida tem uma forma de ser, um estilo, uma imagem (sua modalidade, precisamente). A essa imagem fomos criados: à imagem de um Deus que vive em pluralidade de pessoas e que se manifesta, consequentemente, em forma corporativa; do qual Cristo é a incorporação. A sua vida nos dias da sua carne é um exemplo de vida compartilhada com o Pai e com o Espírito; sempre o vemos dar testemunho da sua comunhão e dependência do Pai pelo Espírito Santo. Nada faz por si mesmo; as obras que faz, diz que são as obras que o Pai faz através dele.

A assessoria dos apóstolos, quanto a viver a vida cristã no viver da igreja, precisamente, vai orientada para a prática da consideração de uns para com os outros, de suportar uns aos outros, de orar uns pelos outros, de amar uns aos outros. Encontramos esta expressão dezenas de vezes no Novo Testamento, o que implica que o viver da igreja é o resultado de que nela foi depositada a vida trinitária, possibilitando a prolongação e expressão desta vida na comunidade de crentes.

A vida do homem

A vida do homem sem Deus é uma vida individualista, centrada no ego. Desde o começo, quando Adão caiu, nele caiu toda a sua descendência; e a queda consistiu em separar-se da vida dependente de Deus, ficando com uma vida cuja identidade se expressa em forma independente.

O chamado de Deus aos homens é um chamado para sair fora dessa condição, para retornar ao modelo original, que consiste em uma vida em comunhão com Deus, portanto, a uma vida apegada a ele e que depende dele. A árvore da vida trazia em sua natureza a genética dessa vida; não o da ciência do bem e do mal, que causou a separação do homem de Deus e consequentemente a morte.

Porque a vida não está em nenhum outro lugar além da fonte da vida, a qual é Deus. Eklesía é uma palavra grega que significa: «chamados para fora». Assim, Deus chama os homens para sair fora dessa vida egocêntrica, para retornar à vida que está voltada para ele. É por isso, que nos trouxe de volta a árvore da vida em Jesus Cristo, para que, comendo de Cristo, possamos receber o poder da vida trinitária. Sendo participantes desta vida, é possível viver a vida cristã.

Jesus se antecipou para nos dizer: «Aquele que me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada» (Jo. 14:23). Nisto, Jesus mostra uma modalidade de vida coletiva; anuncia que seremos introduzidos na participação de uma vida intra-trinitária, vida em comunhão, em pluralidade de pessoas. Só assim sairemos do egocentrismo, ao viver uma vida compartilhada, onde minhas ações estão reguladas pelos interesses e a vontade de outros, onde voluntariamente, entrego-me à direção daquele que me deu a vida para amá-lo, adorá-lo e servi-lo. Ali, no seio dessa vida, aprenderei a dar e a receber, aprenderei a ser amado e amar como Deus é amor. Imerso nesta vida, será possível viver a vida cristã, para o qual a vida de igreja aqui na terra me é indispensável.

É absolutamente necessário viver a vida cristã inseridos no corpo de Cristo, que é a igreja. Particularmente, sou apenas um membro do corpo, e da mesma maneira como um membro não pode viver sem a conexão com os outros membros do corpo, mesmo estando na vida cristã, não podemos nos desenvolver em Cristo vivendo como ermitões.

Há quem declare que aprenderam mais de Cristo estando sozinhos que participando da vida de igreja. Isto é uma tremenda irrealidade; os tais não sabem o que dizem. Deus dispôs o corpo de Cristo na terra como um campo de treinamento para a aprendizagem da vida celestial. É aqui onde somos treinados, avaliados e configurados à imagem de Cristo para as glórias que nos esperam no reino dos céus.

Muitos cristãos não sabem experimentalmente o que é a regulação do corpo, não sabem o que é considerar a outros, respeitar, escutar o conselho, obedecer, sujeitar-se, servir sem alterar a outros, sem se fazer notar, sem interesses de reconhecimento, deixando espaço para os que vêm crescendo, preferindo a outros antes que a si mesmo, sofrendo com o que sofre, chorando com o que chora e alegrando-se com os que se alegram.

Enfim, é muita a multiplicidade de relações que implica a modalidade da vida cristã, temos muito que aprender, pois vivemos uma vida privada e particular com a nossa família consanguínea, mas agora, fomos chamados a compartilhar uma vida com outras pessoas, que têm diferente formação, e nessa diversidade, vai formando o caráter de Cristo, no atrito das pedras vivas, como as pedras que vão pela correnteza do rio e vão se polindo umas a outras pelo atrito, a erosão que produz a sua viagem pela correnteza até o mar, vão juntas, chocando-se umas com as outras, desta forma, nos atritamos com os irmãos nas congregações, ao assumir o desafio de viver a vida cristã que nos conduz ao oceano do amor de Deus.

Nós em Cristo

«…mas por ele vós estais em Cristo Jesus…» (1ª Cor. 1:30). A expressão «em Cristo», encontra-se numerosas vezes no Novo Testamento. Contém um significado superlativo para o entendimento de como foi a eleição de Deus, o chamado, a justificação e glorificação daqueles que ele considerou em Cristo desde a eternidade passada.

Deus nos pôs em Cristo, em sua obra e em sua pessoa. Somos participantes de Cristo, estamos nele; Deus nos vê em Cristo, escondidos em Cristo e através de Cristo. Estar em Cristo é muito mais que uma posição, muito mais que uma vida convertida, mais que uma vida consagrada. Estar em Cristo é a mais bendita realidade experimentada por aqueles que têm experimentado o toque do amor divino de Deus ao fazê-los participantes da vida cristã que é em Cristo.

«…por ele (por Deus) vós estais em Cristo». Por uma eleição divina, por um ato da vontade e do amor de Deus, por sua intervenção histórica através da obra redentora de Cristo, em quem viu aos que de antemão conheceu em sua presciência. Por ser Cristo em quem se termina a antiga criação e começa a nova, por ser Cristo crucificado em quem Deus resumiu toda a condenação da raça de Adão, pela ressurreição de Jesus Cristo, em quem Deus levantou a cabeça de uma nova raça. «De modo que se alguém está em Cristo nova criação é; as coisas velhas já passaram; eis que todas são feitas novas» (1ª Cor. 5:17). Substancialmente, estar em Cristo é ter sido unido por Deus, organicamente, à vida cristã que é em Cristo.

Toda a obra de Deus tem a Cristo como ponto convergente; tudo é dele, por ele e para ele, e nele. «Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo» (1ª Cor. 5:19). Tudo o que Deus se propôs a fazer, e ainda o que fará nas eras vindouras, tem a Cristo como ponto central.

Cristo em nós

Deus tem feito que Cristo seja para nós, «sabedoria, justificação, santificação e redenção» (1ª Cor. 1:30). No contexto deste capítulo, Deus está tratando com os néscios (V. 27), com os vis (V. 28), com os fracos (V. 27) e com os desprezados (V. 28) do mundo. Para os néscios, Deus fez que Cristo fosse a sua sabedoria; para os vis, Deus fez que Cristo fosse a sua justiça; para os fracos, Deus fez que Cristo fosse a sua santidade, e para os desprezados, Deus fez que Cristo fosse a sua redenção. Deste modo, Deus as solucionou para nos unir a ele mediante Jesus Cristo.

Deus fez que Cristo fosse algo para nós, e fez que nós fôssemos algo para ele em Cristo. Só assim, é possível viver a vida cristã, unidos a Deus em Cristo, jamais separados dele. A fé consiste em apropriar-se desta realidade de vida em Cristo; é impossível entrar nela e desfrutá-la se não for por meio da fé.

«Porque somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras» (Ef. 2:10). Deus tem feito algo de Cristo para nós, aqueles que estão nele; e tem feito de nós algo para Cristo: criou-nos de novo para que andássemos nas obras que ele tinha preparado de antemão. Somos feitura de Deus em Cristo. Deus fez que nós fôssemos algo em Cristo para um propósito: andar em suas obras.

Deus é o Supremo Fazedor. Não entenderemos por que nem para que existimos, a menos que vejamos o que Deus fez de nós em Cristo. Cristo em nós e nós nele é a obra de Deus. Para obter esta fusão, teve que fazer a obra mais extraordinária que jamais foi feito: manifestar a natureza divina na carne humana de Jesus. O milagre mais contundente: Deus manifestado em carne. Deus unido à humanidade do homem e o homem unido à divindade de Deus.

Suposições da vida cristã

Alguns supõem que a vida cristã consiste em que Cristo está produzindo mudanças em nós, que está interessado em transformar o velho em algo novo, em reparar algo que se estragou.

Deixa-me dizer-lhe, que Cristo não está interessado em fazer nenhuma mudança em sua vida. Não, ele não está transformando a sua vida; ele está fazendo algo muito melhor que isso: ele veio com toda a riqueza da vida de Deus para implantá-la dentro de você. Ele está esperando que você compreenda que deve lhe deixar viver a sua vida em você, para o qual você tem que morrer para todas as suas habilidades, por melhores que sejam.

Talvez, tenha chegado a pensar que o Senhor lhe ajudará a mudar certas coisas do seu caráter. Você tem pensado que seria a pessoa mais perfeita do mundo se apenas não fosse tão pronto em irar-se. Outro irmão pode pensar que seria tão ditoso se tão somente deixasse esse vício ou essa mania do seu modo de ser. Se for assim, você precisa compreender que a vida cristã não é «eu mais Cristo», mas «Cristo em mim». Se não mudar o seu modo de pensar, e assumir o pensamento da mente de Cristo, seguirá fracassando na tentativa de ser cristão.

Seu maior problema é que você tem uma muito boa opinião de si mesmo; você reconhece que tem algumas falhas, mas você equivocadamente está pedindo a Deus que lhe tire essas falhas. Deixe-me lhe dizer que isso não funciona! Está perdendo o seu tempo, porque isso não é a vida cristã. Paulo nos dá um exemplo prático; em todos os seus escritos, insistiu de diversas maneiras, com diferentes metáforas e ilustrações, no poder da vida permutada; não uma vida mudada nem transformada, mas a vida de Cristo substituindo a nossa.

O maior ensino é que o sobrelevado poder que levantou a Cristo dentre os mortos, está operando poderosamente naqueles que creem, que o Espírito vivifica e capacita com poder aos que creram e conduz a Cristo para revelá-lo, glorificá-lo e fazê-lo vida em cada coração dos que lhe obedecem.

Outros têm suposto, equivocadamente, que a vida cristã consiste em imitar a Cristo, tratar de ser como ele é, seguindo as suas pisadas. Se assim fosse, a vida cristã seria um ideal e todos os cristãos deveriam se esforçar para seguir aquele modelo que se encontra lá, distante de nós. Deixe-me lhe dizer que a vida cristã não é um ideal, mas, uma bendita realidade.

Os cristãos são chamados a participar de Cristo e não a imitar a Cristo. A nossa participação em Cristo é, primeiro, graças à obra de Deus efetuada na cruz do Calvário, e em seguida a obra presente de Deus, mediante a sua graça operada pelo Espírito Santo, nos comunicando a vida do céu em nossa natureza humana. A partir do nosso encontro com Cristo, começamos a participar de Cristo, não como quem se esforça por ser como Cristo, mas sim como quem vê o que Deus teve que fazer para nos unir a Cristo, ao mesmo tempo em que contamos com uma realidade interior, que consiste em ter a mesmíssima vida que Deus nos deu em Cristo através do seu Espírito.

É verdade que Paulo nos chama a imitar-lhe da mesma maneira como ele imita a Cristo (Fil. 3:17). Não obstante, temos que observar o que é que Paulo está imitando: ele está seguindo o exemplo, a forma como Cristo se conduziu, o sentimento que houve em Cristo, e isso tem haver com o que Cristo se negou a si mesmo para preferir fazer a vontade do Pai. Paulo está seguindo o exemplo de Cristo nessa modalidade, e nisso ele é exemplo de como seguir a Cristo, aceitando viver uma vida rendida à cruz; diante do qual há alguns que são contrários e, portanto, inimigos da cruz.

A imitação de Paulo consiste na atitude que se tem que ter quanto à cruz de Cristo, mas quanto ao poder para experimentá-la se encontra unicamente em nossa participação em e com Cristo, considerando a nossa união com ele e nele, pela graça de Deus.

O trabalho de Paulo na vida cristã

«…apresentar todo homem perfeito em Cristo... segundo o seu poder, a qual atua poderosamente em mim... para que os vossos corações sejam consolados, unidos em amor, até alcançar todas as riquezas do pleno entendimento, a fim de conhecer o mistério de Deus o Pai e de Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento» (Col. 1:28-29; 2:1-3).

Paulo lutava segundo o poder de Deus, não em si mesmo. Esforçava-se na graça, a fim de ensinar aos homens crentes como é que se vive a vida cristã e isto é que, para poder viver a vida cristã temos que reconhecer a nossa total impotência, fraqueza e insolvência moral e espiritual, e o impossível que é para a carne imitar a Cristo.

Alguns dos grandes enganos do enfoque que se dá ao viver cristão é que você será um excelente cristão se orar, se ler a sua Bíblia, se der o dízimo, se assistir a todas as reuniões da igreja, se jejuar, se cantar no coral, se fizer obras, se se esforçar por pregar o evangelho, visitar os hospitais e as prisões. Tudo isto é muito bom, mas isto não é a vida cristã.

É verdade que a Bíblia, a oração e as reuniões da igreja são um meio para crescer na vida cristã, mas estes meios em si mesmo não são a vida cristã. Se enfatizarmos os meios de graça, podemos cair em um ativismo religioso e isso pode ser nocivo. Na realidade fazemos tudo isto no corpo de Cristo, mas não para sermos bons cristãos, mas porque a vida cristã, que é Cristo, está dentro de nós, e estamos aprendendo como funciona e sabemos que é morrendo para nós mesmos que ele vive e se expressa através de nós.

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