Oração em tempo de guerra

Cristian Cerda

Efésios 6:18-20.

Paulo está dizendo aos crentes em Éfeso: «Orem em todo tempo com toda oração e súplica; orem pelos santos e orem por mim, para que me seja dada palavra para dar a conhecer com intrepidez o mistério do evangelho».

Paulo é um embaixador em cadeias deste mistério que em outras gerações não se deu a conhecer aos filhos dos homens; mistério que, quando é dado a conhecer, aproxima-nos de Cristo.

Porque Paulo sabe que o mistério de Deus dado a conhecer traz proximidade com Cristo. Efésios 2:12: «Naquele tempo estavam sem Cristo», mas, quando se dá a conhecer o mistério de Deus, aqueles que estavam afastados de Cristo, são feitos próximos a ele; aqueles que estavam afastados da cidadania de Israel, agora são cidadãos do povo de Deus; aqueles que estavam alheios aos pactos da promessa, agora são herdeiros; aqueles que estavam sem esperança, têm esperança, e aqueles que estavam sem Deus no mundo, já não estão sozinhos. Bendito seja o Senhor!

Que extraordinária é esta notícia do mistério do evangelho. Por isso Paulo diz: ‘Aqui há uma situação que supera toda a capacidade humana’. E ele se apresenta em total fraqueza, dizendo: «Orem por mim, para que eu fale como devo falar».

A natureza da batalha

Agora, o contexto de Efésios 6:19 está destacado desde o versículo 10. Ali, Paulo está mostrando o que ocorre nos ambientes celestiais: «Finalmente, meus irmãos, fortalecei-vos no Senhor, e no poder da sua força. Vesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as armadilhas do diabo. Porque não temos luta contra sangue e carne, mas contra principados, contra potestades, contra os governadores das trevas deste século, contra hostes espirituais da maldade nas regiões celestes» (vv. 10-12).

Quando Paulo pede que a igreja ore, está dizendo no contexto desta luta espiritual; porque para o maligno o anúncio do mistério de Deus não lhe é conveniente. Ele quer seguir matando, roubando e destruindo; mas, quando o mistério de Deus começa a ser anunciado, e se faz com toda a intrepidez, traz consolação, traz restauração, traz paz, traz perdão, traz proximidade, traz promessas, traz herança.

Paulo diz: «Não temos luta contra este ou aquele; é uma luta contra hostes espirituais da maldade». Eles estão por trás destas pessoas. Como diz em Efésios 2:2: «...o espírito que agora opera nos filhos da desobediência». E isto me chama a atenção: Logo depois de ter falado do mistério de Deus; logo depois de ter nos posto nesta verdade de estarmos assentados com Cristo nos lugares celestiais; logo depois deste novo homem se levantar na cruz, e mostrar em Efésios que começou a andar; este novo homem tem que enfrentar esta luta, uma luta que tem haver com o mistério de Deus.

Quem são os chamados para a batalha

Quando o povo de Israel foi chamado por Deus para possuir a terra prometida, em tudo aquilo que seus pés pisassem, sabe quem eram contados para isso? Números 1:2: «Tomem o censo de toda a congregação dos filhos de Israel por suas famílias, pelas casas de seus pais, com a conta dos nomes, todos os varões por suas cabeças».

Mas, quem ia ser contado? Notem no verso 3, que é muito interessante, e eu queria relacioná-lo com a parte de Efésios capítulo 6: «Desde vinte anos para cima, todos os que podem sair à guerra em Israel, contareis tu e Arão por seus exércitos». ‘Não contem os meninos; conta os que têm de vinte anos para cima’. Quem deveria ser contado? Os que podiam sair à guerra, aqueles que estavam um pouco mais crescidos, mais fortalecidos; aqueles que tinham aprendido a andar.

Você exporia um pequeninho a uma situação conflitante, a uma guerra? O que nós faríamos com um pequeninho é cuidar dele. As mães sabem isto; quando os seus filhos são pequenos, elas são umas leoas, cuidam muitíssimo deles. Mas quando eles vão crescendo, vai mudando a voz vai aparecendo um pouquinho de barba e vão tendo uma expressão pessoal, então a mãe diz: ‘Estão crescendo, estão mais grandinhos’.

Quando Paulo diz: «Fortalecei-vos no Senhor e no poder da sua força» (Ef. 6:10), está falando com aqueles que não só sabem do mistério de Deus e que, nesse mistério, eles estão incluídos em Cristo. Está escrevendo não só para aqueles que, sabendo-o, aprenderam a andar em toda humildade, a andar em amor e na verdade, a andar na luz, remindo o tempo. Escreve a aqueles que se sentaram com Cristo, que souberam que essa é a sua posição, e que também caminharam, e podem discernir que nossa luta não é contra carne nem sangue.

Uma criança se desanima se um dia não o cumprimentam; uma criança, se um dia não se sente apreciado, não segue. Uma criança, se em um momento se sente um pouco desprezado, pensa: ‘Aqui, não me consideram. Eu tenho tanto que dar, mas não me consideram’, e se vai.

Mas, quando Paulo está escrevendo: «Fortalecei-vos no Senhor e no poder da sua força», eu creio que não está escrevendo aos pequeninhos; mas a irmãos que aprenderam a andar com Cristo, que seguiram a Cristo por anos e anos; que conhecem o desprezo, que sofreram a disciplina, que aceitam a correção e vivem em santidade.

É para estes creio que Paulo está escrevendo. É como o censo de Israel. Conta aos que têm de vinte anos para cima; eles são os que têm que ir para a guerra; estes são os que, no contexto de Efésios capítulo 6, têm que tomar toda a armadura de Deus. Quem provê esta armadura? Deus. E quem são os que têm que tomá-la? Nós. A Escritura diz assim: «Vesti-vos de toda a armadura de Deus» (Ef. 6:11).

Discernindo o inimigo

E aqui aparece mostrada como é a armadura de Deus. Nós queremos vesti-la nestes dias? Porque, quando falamos de «Vinde após mim, e vos farei pescadores de homens» (Mat. 4:19), há um conflito espiritual, há uma luta que não é contra sangue nem carne. Há hostes espirituais da maldade. E diante disso, o apóstolo Paulo diz: «Vesti-vos...».

Paulo era consciente desta oposição. «...pelo qual quisemos ir a vós, eu Paulo certamente uma e outra vez; mas Satanás nos estorvou» (1ª Tess. 2:18). Se você olha a referência dessa expressão, que é o livro de Atos, poderá ver que se refere à oposição que Paulo tinha da parte dos judeus, e da parte de alguns que não eram judeus, mas, que instigados por eles, levantavam-se contra ele.

E Paulo, quando vê isso, entende que não é luta contra carne e sangue, mas é o próprio Satanás, que quer impedir que a obra de Deus siga crescendo. É o próprio Satanás que quer dizer novamente, como disse a Jesus: «Em nenhuma maneira isto te aconteça» (Mat. 16:22). O Senhor discerne que, depois das palavras de Pedro, estava o estorvo de Satanás. «Retira-te de diante de mim, Satanás!; que me serves de tropeço, porque não põe os olhos nas coisas de Deus, mas nas dos homens» (Mat. 16:23).

Em outras palavras, Jesus está lhe dizendo: ‘Fazes que os homens olhem, e aquilo que olham seja agradável à vista, seja cobiçável; faz que os homens se concentrem em si mesmos e pensem em seu próprio prazer. Mas eu não estou pensando em meu próprio prazer; mas na vontade eterna de Deus’. E isso não é para os pequeninhos.

Outra passagem. 2ª Coríntios 2:11: «...para que Satanás não ganhe vantagem alguma sobre nós; pois não ignoramos as suas maquinações». Aqui há outra situação na qual o apóstolo discerne com clareza. Efetivamente Paulo discernia que em seu serviço havia uma oposição, e essa oposição era do maligno. Havia uma situação muito delicada na igreja em Corinto, que tinha sido julgada, que tinha sido exposta, e Paulo diz no verso 10: «E ao que vós perdoais, eu também; porque também eu o tenho perdoado, se algo perdoei, por vós o fiz na presença de Cristo, para que Satanás não alcance vantagem alguma sobre nós...».

É possível que este irmão, que devia ser perdoado, estivesse percebendo que não tinha sido perdoado, que os irmãos não lhe tinham outorgado o perdão. E é possível que, por essa causa, a igreja estivesse vivendo alguma complicação. E Paulo lhes diz: «Eu o perdoei», e o faz publicamente.

Há alguém a quem devamos perdoar em nosso coração, que foi corrigido, que foi disciplinado, mas nosso coração é um tanto esquivo ainda? Creio que esse irmão o percebe, e Paulo via, depois destas atitudes, uma maquinação do diabo. O apóstolo nos mostra a importância de discernir. Se ainda não perdoamos alguém, recebamos esta palavra do Senhor. Se tiver havido disciplina, houve correção, há perdão de Deus. Que Satanás não ganhe vantagem alguma sobre nós.

Então, quem são os que têm que vestir-se? Aqueles que foram ensinados, corrigidos, disciplinados, aqueles que souberam andar com Cristo. Vestir-se de toda a armadura de Deus. É muito interessante como se descreve esta armadura em Efésios 6. E, para entendê-la como Paulo a explica, vejamos algumas passagens do evangelho.

«E estava ele expulsando um demônio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou; e maravilhou-se a multidão. Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios. E outros, tentando-o, pediam-lhe um sinal do céu. Mas, conhecendo ele os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá. E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu. E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles, pois, serão os vossos juízes. Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos. Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha» (Lucas 11:14-23).

Quem era este valente, na explicação do Senhor? Era o príncipe deste mundo; mas o que é mais forte do que ele, e que tinha vindo, era Jesus. E as pessoas têm que olhar da vinda do Senhor até a cruz, que também houve um conflito espiritual nos lugares celestiais. Houve alegria e gozo nos pastores e nos anjos. Mas, quando vieram os magos do oriente e disseram a Herodes: «Onde está o rei dos judeus?» (Mat. 2:2), o que Herodes disse? «Assim nasceu o rei dos judeus? Digam-me onde está, porque quero ir conhecê-lo». E quando nota que é enganado, ordena algo terrível.

Ele acreditava ser o homem forte; ele acreditava ser o rei. Mas não era; porque o verdadeiro Rei era aquele que tinha nascido em Belém. Alguém pequeno, tão frágil, mas era o Rei dos reis! E quando se vê enganado, Herodes ordena matar a todos os meninos menores de dois anos. E esta foi uma obra do maligno, como quando nasceu Moisés.

E em seguida, passado o tempo, quando o Senhor fala no evangelho de João, diz: «Agora é o juízo deste mundo; agora o príncipe deste mundo será lançado fora» (João 12:31). A cruz não só é o lugar de misericórdia para a raça humana, é também o lugar da vitória de nosso Senhor sobre toda hoste espiritual da maldade. Como diz Paulo aos Colossenses: «...anulando o escrito de dívidas que havia contra nós, que nos era contrária, tirando-a do no meio e cravando-a na cruz, e despojando aos principados e às potestades, exibiu-os publicamente, triunfando sobre eles na cruz» (Col. 2:14-15).

Bendito seja Jesus! Ele venceu a morte na cruz e ao que tinha o império da morte. Não te dá alegria saber que o nosso Senhor é o Vencedor? Irmãos, na cruz, ele venceu. Venceu a Satanás. Resgatou para Deus, restaurou para Deus. Para nós, a cruz é a visão da eterna misericórdia e o amor de Deus. Mas também, na cruz, está a vitória de Cristo sobre toda hoste espiritual da maldade. Ele é o que venceu! E quando a igreja proclama o mistério de Deus, declara que na cruz, de ambos os povos, judeus e gentios, fez um só, e levantou um só e novo homem.

Armados para a batalha

A igreja tem que anunciar a multiforme sabedoria de Deus. Por isso, em Efésios capítulo 6, do verso 13 em adiante, se alguém olhar para a armadura verá que é virtualmente defensiva. Não é de ataque. A armadura que aqui aparece, e que temos que colocar, é para nos defender. Salvo a espada, que aparece no verso 17, o resto é para defender-se.

O que defendemos, com a armadura de Deus, irmãos? Defendemos a vitória de Cristo, porque a igreja é coluna e baluarte da verdade. Por isso, em Efésios capítulo 6 a nossa posição não é a de ir ganhar algo; é a posição de defender o que Outro ganhou. E por isso, estas expressões. Notem no verso 11: «...para que possais estar firmes». Verso 13: «...para que possais resistir». Verso 14: «Estejais, pois, firmes...». A vitória de Cristo, o que ele ganhou, a quem ele derrotou. É a posição firme da igreja do Senhor.

O assunto que falaremos durante estes dias, «Vinde após mim, e vos farei pescadores de homens» (Mat. 4:19), necessita da nossa oração. Porque, imaginem-se, cingindo-se, como está escrito, os lombos com a verdade; pomos a couraça de justiça; calçamos os pés com a preparação do evangelho da paz; tomamos o escudo da fé; pomos o capacete da salvação; tomamos a espada do Espírito, e o que fazemos em seguida?

Alguém se imagina assim vestido, para entreter-se ou para dizer: ‘Oh, que reunião mais animada’? Não! Alguém que está vestido assim sabe para o que está indo, sabe a posição que deve ter, sabe que tem que ir à oração, sabe que tem que começar a rogar e a suplicar, porque há um mundo perdido, há um mundo que está cegado por Satanás, que precisa ouvir o mistério do evangelho de Deus. Não para nos sentir mal porque nos olham ou não nos olham, saúdam-nos ou não nos saúdam. É para estar no campo de batalha. Firmes, resistindo, olhando para frente a vitória de Jesus e proclamando que ele é o vencedor, que ele derrotou a toda hoste espiritual da maldade. E isto tomando a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, e confessando que Jesus está exaltado até o último.

«...nos quais o Deus deste século cegou o entendimento...» (2ª Cor. 4:4). Nossos jovens, nossos meninos, não só necessitam de uma boa educação, boa saúde, bom alimento; necessitam de homens e mulheres vestidos da armadura de Deus, que se ponham a orar por eles, para que o mistério de Deus lhes seja esclarecido.

Possivelmente você pode controlar o seu filho até os onze ou doze anos. Mas, aos quatorze ou quinze anos, o que começa a acontecer? Sabe o que tem que fazer? Vestir-se de toda a armadura de Deus. Porque o mistério de Deus, dado a conhecer com intrepidez, traz-lhes consolo, traz-lhes proximidade com Cristo.

Vocês conhecem um cantor chamado Daniel Calveti? Nós fomos ouvi-lo em um concerto. E vimos sair um moreno como de um metro e oitenta, com óculos escuros, camisa vermelha, calças com brilhos e sandálias... Eu queria escutar «Eu sou a menina dos seus olhos», e quando o irmão começou a cantar, reconheço que a sua aparência me incomodou um pouco. No entanto, de repente começou a contar o seu testemunho, e disse algo que impactou.

Ele contou que, quando tinha perto de quinze anos, começou a ser seduzido pelo mundo e a afastar-se do caminho que seus pais lhe tinham ensinado. E uma das coisas que lhe chamava a atenção nessa época é que, não importando a hora que chegava em sua casa, sempre sua mãe estava orando. Imaginem o que acontece se alguém vai a uma festa, a um lugar de diversão mundana, chega em casa e vê a sua mãe orando.

Então, um dia, muito incomodado, o jovem lhe disse: ‘Mãe, não quero que ore mais por mim; porque eu quero desfrutar do que tenho feito’. E a mãe o olhou e disse-lhe: ‘Mas, Daniel, eu não tive filhos para o diabo; eu tive para Cristo. E vou seguir orando até que você seja de Cristo’. Essa mulher se vestiu com a armadura de Deus e resistiu! Porque os nossos filhos são para o Senhor. Menos mal que aquela mãe não tenha dito: ‘Bom, é que nesta idade todos ficam assim’.

A batalha presente

Irmãos, vistamo-nos, neste tempo, de toda a armadura de Deus. Percebo que para o nosso país estão vindos tempos onde o chamado progressismo vai limitar as liberdades da igreja. Porque, quando a igreja levanta a voz, o homem sabe que está em pecado, e o progressismo quer lhe dizer que não pecou; quer lhe dizer: ‘Tenha relações sexuais. Quem lhe proíbe, se nós fixamos as regras? Não há um Deus que fixe regras aqui; não há um Deus que diga o que é bom e o que é mau. Nós é que dizemos, nós é que lembramos. Tire da cabeça que a homossexualidade é pecado’.

Porque, quando a igreja levanta a voz: «Arrependei-vos, porque o reino dos céus é chegado», deve elevar orações, como diz o apóstolo, «...orando em todo tempo, com toda oração e súplica no Espírito», para que aquela vitória, aquele mistério que foi escondido em Cristo e que se deu a conhecer, possa se manifestar neste tempo.

«Porque não temos luta contra sangue e carne...», não nos enredemos em disputas. Vistamo-nos da armadura de Deus; dobremos os nossos joelhos, estejamos em oração todo o tempo. Que precioso é poder lhe dizer hoje: Aqui estamos, Senhor, para ter esta atitude que tu nos pede. Queremos estar firmes. Queremos resistir. Queremos nos vestir da armadura de Deus, para estar em atenta oração, rogo e súplica, no nome de Jesus. Amém.

Síntese de uma mensagem compartilhada em Callejones 2010.

Design downloaded from free website templates.