Cristo, imagem de Deus e do homem

Em Cristo se encontra a revelação de Deus e do homem, já que a sua natureza é divina e humana.

Roberto Sáez

Leituras: Gênesis 1:26-27; Romanos 5:14; Efésios 3:11; Hebreus 1:3; Atos 2:22.

Quem conhece a Cristo, inevitavelmente conhecerá a Deus, pois Cristo é a doação que Deus nos faz de si mesmo, e nele «...estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento» (Col. 2:3). Por outro lado, Cristo assume o homem completamente em todas as contingências da vida humana (com exceção o pecado) mostrando o tipo de homem que Deus se propôs ter desde a eternidade.

I. Cristo, revelação do homem

Pode-se ter um conhecimento espiritual do homem à luz da revelação de Jesus Cristo. Obviamente, aqui referimos a um conhecimento por revelação mediante a fé em Jesus Cristo, o qual é uma graça de Deus e, portanto, não uma apreensão intelectual do homem.

A Escritura registra o testemunho externo da intenção que houve em Deus desde a eternidade em relação à criação do homem. A criação do homem à imagem e semelhança de Deus seria a obra mestra de Deus. O homem seria o reflexo da imagem, a vida, a autoridade e a glória de Deus.

Em Romanos nos diz que «o primeiro Adão é figura daquele que havia de vir». Aquele que havia de vir, é Cristo; de modo que a criação do primeiro homem obedece a um modelo eterno que Deus tinha concebido em seu coração. Estava contemplado que o Filho de Deus assumiria a nossa humanidade por toda a eternidade. Hoje há um homem exaltado à mão direita de Deus que terá uma imagem de homem por toda a eternidade, de modo que o primeiro Adão tinha que ser pensando no que seria a humanidade de Cristo em todos os seus aspectos. Quer dizer, Adão foi feito por causa de Cristo.

O desenvolvimento do plano eterno de Deus para com o homem passa por quatro etapas: Primeiro, a criação; segundo, a queda; terceiro, a restauração, e quarto, a glorificação ou consumação.

A criação do homem:

O homem criado para ser «em Cristo» a imagem de Deus

Antes da criação do homem, Jesus era o Unigênito Filho de Deus; era o Filho do seu amor, com o qual se recreava e deleitava desfrutando da excelência da sua pessoa. Deus quis satisfazer a seu Filho dando-lhe uma família de irmãos semelhantes a ele onde Cristo seria «o primogênito entre muitos irmãos». Para obter isto, Deus se propôs criar a sua imagem, sua vida, seu reino e glória no homem; devia criar um homem bonito, um ser que fosse mais excelente que todos os outros seres criado em todo o universo.

A imagem de Deus não é a imagem de uma só pessoa, mas a imagem de um Deus trino que essencialmente é família, que tem uma forma ou estilo de viver em uma mutualidade de amor, em unidade de Espírito e de essência, imagem que foi revelada perfeitamente em Cristo. A criação do homem parte com um indivíduo, mas imediatamente acrescenta: «...homem e mulher os criou». É por isso que, quando o Senhor Jesus Cristo nos traz a imagem de Deus, a primeira coisa que faz é rodear-se de doze homens nos quais criará a imagem de Deus, com a sua vida, reino e glória.

A queda do homem

Na queda tudo se perdeu. O pecado arruinou a humanidade. A perdição a que o homem ficou exposto, não é tanto a degradação de uma vida de vícios e pecados, mas a desgraça de não configurar-se nele o propósito eterno de Deus. A queda trouxe consigo a morte. O homem morreu em seu espírito e seguiu vivendo com a sua alma e corpo. Quando os gregos refletiram acerca do homem acharam que tinha duas partes: espírito e matéria. Tiveram razão, só que o que eles chamaram ‘espírito’ é somente alma.

A partir da queda, o homem se tornou um ser incompleto; dali a sua busca se tornou incessante, consumido em uma crise existencial, em que se acha a si mesmo incompleto, com um vazio insondável. Percebe que perdeu algo, e sua desgraça é não poder achá-lo, porque o busca fora da fonte pela qual fora criado.

Restauração

Na restauração de Jesus Cristo se recupera tudo o que foi perdido. Jesus nos traz de volta à imagem de Deus. Ele é a árvore da vida que foi rejeitada no princípio; o pecado do primeiro Adão foi não comer desta árvore; mas agora a bondade de Deus nos traz novamente a possibilidade de incorporar a imagem, a vida, o reino e a glória de Deus.

O nosso Senhor é o primeiro homem completo, pois tem espírito, alma e corpo; por isso o seu aprumo. Ninguém mais equilibrado do que ele, varão justo e aprovado por Deus. Isto é suficiente para afirmar que ele é a revelação do homem. Todos os que vieram antes dele foram homens incompletos, pois traziam o estigma do pecado herdado; mas Cristo não nasceu da carne e do sangue, mas por vontade de Deus, pelo qual não trazia em si mesmo o estigma do pecado e da morte. Por isso a sua vida é estimada preciosa; ele é o homem que Deus sempre quis ter.

Desde Adão até Cristo, os homens não conheceram a vida de Deus; só souberam dos favores de Deus; mas agora, não só está conosco, mas também está «em nós». João nos diz: «quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida» (1ª Jo. 5:12) A vida da que aqui se fala é a vida ‘zoé’ 1. Esta vida se encontra em Jesus Cristo; por isso, aquele que recebe o Filho, tem conseqüentemente a vida de Deus.

Todo homem e mulher precisam vir a Cristo para ter vida eterna. A partir desta experiência que se obtém mediante a fé em Jesus Cristo, é que a imagem de Deus começa a ser restaurada nele.

O homem, que no princípio foi criado para reinar sobre tudo o que foi criado e sobre todo animal que se arrasta (isto implica exercer autoridade sobre Satanás), se tornou escravo do pecado; mas agora em Cristo Jesus, liberto do pecado, é feito servo da justiça para reinar junto à igreja do Deus vivo, sobre o mundo, a carne, Satanás, o pecado e a morte. Não como quem faz guerra contra o inimigo por si mesmo, mas sobre a base de que Cristo já venceu e cedeu a sua vitória aos vencedores da fé.

A glorificação

Quem tem chegado a este ponto de sua experiência cristã têm a vida recuperada, a imagem e o reino de Deus. Aos tais esperam a glória (consumação), a qual lhes será dada na ressurreição dos mortos quando Cristo vier pelos seus em sua segunda vinda e seja assim consumado o eterno propósito de Deus.

II. Cristo, a revelação de Deus

Jesus, o Eu Sou

Nosso Senhor Jesus Cristo é a revelação que Deus nos faz de si mesmo. Se quisermos conhecer a Deus de verdade, não podemos depender dos nossos raciocínios ou elucubrações. Quantas pessoas opinam com obscenidade: ‘Eu penso que... eu acho que...’! Existem declarações indubitáveis, registradas nas Escrituras, que são indispensáveis como reitoras da fé, e fazemos bem em nos sujeitar a elas para sustentar a fé que professamos, junto com a revelação que Deus nos faz de si mesmo quando experimentamos a direção e ensino do seu Espírito em nós. Algumas destas declarações estão registradas nos Evangelhos, dos quais o mais completo e contundente é o evangelho de João, sem menosprezar os outros.

João apresenta a Jesus como o «Eu Sou». Sete vezes o apresenta desta forma. Isto o associa com Deus, pois assim é que Deus foi revelado a Moisés no Antigo Pacto, como o «Eu Sou». Cada «Eu Sou» é absoluto e vai acompanhado de um qualificativo definido: Eu Sou o pão vivo, Eu Sou a luz do mundo, Eu Sou a porta, Eu Sou o bom pastor, Eu Sou o caminho e a verdade e a vida, Eu Sou a ressurreição e a vida e Eu Sou a videira verdadeira. Em cada uma destas afirmações Deus está revelado. Se Jesus não for o que diz ser, então tudo é uma loucura. Mas nós os que cremos, professamos que Jesus é o que ele diz ser. Em cada declaração do que ele é, encontra-se um aspecto de Deus, ao mesmo tempo em que cada Eu Sou é uma expressão do que a igreja é; pois como Jesus declara ser a Luz, não uma luz, declara ao mesmo tempo que os seus redimidos são «a luz do mundo». Eles são o que ele é, pois receberam a sua vida, a sua imagem, reino e glória.

A revelação que Deus nos faz do homem «em Cristo» é a de indivíduos participando de um corpo. No plano de Deus não cabe a existência de uma pessoa individualista.

Jesus nos revela a Trindade

Jesus não nos deu detalhes da realidade das benditas pessoas da Trindade; mas nos mostrou de uma maneira muito didática e simples a relação constante e familiar que tinha com o Pai e com o Espírito Santo.

Tanto é assim, que o apóstolo João, em 18 dos 21 capítulos do seu evangelho, apresenta-nos a relação intra-trinitária que Jesus mantém com a Deidade. Aprendemos que Deus não é apenas um ser ainda que seja único em essência. Aprendemos que o Espírito Santo esteve eternamente com o Pai e com o Filho e que é nele que o Pai e o Filho se encontram e se relacionam em uma mutualidade de dependência.

Mostra-nos um estilo de vida de perfeita sujeição à autoridade. Nenhum dos três faz nada separado dos outros; cada um se sujeita ao outro, estimando ao outro como superior. O Filho diz que o Pai que lhe enviou é maior do que ele, em seguida dá testemunho que o Pai exaltou o Filho soberanamente, e que lhe deu toda autoridade no céu e na terra. Vemos o Espírito Santo não fazendo nada por si mesmo e dando toda a glória a Cristo.

Jesus, nos dias da sua carne, testificou que não dizia nada que não escutasse de seu Pai, e não fazia nada que não visse em seu Pai. Vemos a Cristo falando com seu Pai e compartilhando a reciprocidade de sua qualidade de vida, da qual emana o amor que faz possível a unidade. A unidade de Deus jamais foi nem será quebrantada porque é perfeita.

Assim, Cristo é a imagem de Deus e também do homem, um homem não individualista, que tem hoje na igreja, o corpo de Cristo, a sua mais certeira expressão.

1 No grego a palavra vida tem três acepções: Bíos, referente à vida biológica, corporal, Psyque, referente à vida da alma e Zoé, referente a vida não criada ou eterna de Deus.

Design downloaded from free website templates.