Entristecidos por Deus

A luz de Deus produz tristeza para arrependimento.

Hernando Chamorro

“Porque a tristeza que é segundo Deus produz arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo produz a morte. Porque eis aqui, isto mesmo de que tenham sido entristecidos segundo Deus, que solicitude produziu em vós, que defesa, que indignação, que temor, que ardente afeto, que zelo, e que vingança! Em tudo vos mostrastes puros no assunto” (2 Cor. 7:10).

Há dias, estivemos compartilhando em várias localidades sobre o arrependimento. Todos podemos nos perguntar: ‘Bom, mas, por que esta mensagem, se em Hebreus diz que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos adiante, e não lancemos o fundamento de arrependimento de obras mortas, etc.?’. Mas o meu entendimento é que todos nós precisamos nos arrepender todos os dias. De alguma coisa temos que nos tornar para o Senhor.

Seria presunçoso de nossa parte dizer que não precisamos ter uma mudança de mentalidade, um arrependimento genuíno. Sou o primeiro afetado por esta palavra; não me escapo dela. Precisamos nos arrepender, pois todos estamos sentenciados debaixo da mesma palavra.

Muitas vezes nos separamos do Senhor. As coisas deste mundo separam muitos irmãos. O caminhar, o recolher o pó diário em nossos pés pelos afazeres deste mundo, faz que necessitemos que os nossos pés sejam lavados pela Palavra.

O Senhor diz em sua palavra que há uma tristeza que é segundo Deus, assim como na parábola do filho pródigo. Este homem se afastou da presença de seu pai e esbanjou os seus bens. E tornando em si, disse: «Voltarei para a casa de meu pai». Ou seja, há um iluminar do Espírito Santo nele; há um operar de Deus. Há uma tristeza que provém de Deus; uma tristeza segundo Deus, não uma tristeza segundo o mundo.

Damos graças a Deus por essa provisão de tristeza que produz em nós. Miseráveis de nós se o Senhor não produzir esta tristeza; se estivermos muito acomodados em nossa situação, seguros em nós mesmos, em nossas próprias obras, muito contentes, e não fossemos beliscados, e o Senhor não nos iluminasse e expusesse a nossa condição interior.

Como diz o salmista: «Examina-me, Oh Deus, e conhece o meu coração ... e vê se há em mim algum caminho de perversidade, e guia-me no caminho eterno» (Salmos 139:23-24). O salmista não está dizendo: ‘Examina-me, para que tu vejas que não há nada mau em mim’. Melhor, está dizendo o contrário. ‘Senhor, renuncio a minha própria introspecção, a me examinar com o meu próprio julgamento, com meus próprios parâmetros’.

«Examina-me, Oh Deus». Que bom é que o Senhor nos examine e nos mostre qual é a nossa condição, qual é realmente a nossa situação, para que não vivamos enganados, e quando o Senhor vier em sua segunda vinda, não fujamos envergonhados.

Mas aqui diz: «a tristeza que é segundo Deus». Que bom é que o Senhor nos fez uma provisão de tristeza, para nos examinar, para nos tornar para ele cada dia. Diz que esta produz arrependimento. Já vimos em muitas partes a palavra arrependimento. Vem da palavra metanoia, e significa uma mudança de mentalidade.

Necessitamos realmente mais do que remorso, uma mudança de mentalidade em nossas vidas. Mas, o que pode mudar a nossa mentalidade? Nós mesmos? Não. O Senhor é obvio. E, quando o Senhor nos expõe, ilumina-nos com a sua luz, aqui diz que produz solicitude. Ser solícitos em servir a Deus, em amar a Deus. Produz defesa, produz indignação. Até, inclusive, quando o Senhor nos ilumina, sentimo-nos indignados conosco mesmos, sentimo-nos inconformados conosco mesmos.

Seria coisa grave que nos sentíssemos de acordo conosco mesmos, com o que somos em nossa naturalidade. Mas isto produz indignação. Aqui se refere a um corinto incestuoso, mas primeiro do que tudo temos que olhar a trave que está em nosso olho, do que o cisco do irmão que está fora. Esta indignação é conosco mesmos. Estamos cansados dos nossos enganos.

Tem que haver essa indignação produzida pela luz de Deus. O Senhor está disposto a nos dar essa luz, e nós temos que estar dispostos a recebê-la. O Senhor não vai nos iluminar se não abrirmos o nosso coração, se não abrir a janela para que entre o Sol de justiça.

Então diz que produz temor, também. Temor de Deus, temor reverente. Ardente afeto, paixão pelas coisas de Deus. Que zelo produziu nos Coríntios! Sim, temos muita conhecimento e pouco zelo. Outros têm muito zelo e pouco conhecimento. O ideal é ter conhecimento com zelo. Mas, irmãos, isto é produzido pela tristeza que provém de Deus.

O exemplo de Josias

Há uma passagem muita maravilhoso em 2 Reis 22, sobre o rei Josias, de Judá, que amou a Deus com toda a alma, com todo o seu coração, com toda a sua mente, que se converteu ao Senhor. Houve arrependimento neste varão, e no povo do Senhor.

«Quando Josias começou a reinar tinha oito anos, e reinou em Jerusalém trinta e um anos» (V. 1). Ou seja, este homem morreu aos trinta e nove. O faraó Neco o matou. «E fez o que era reto diante dos olhos de Jehová, e andou em todo o caminho de Davi seu pai, sem apartar-se para a direita nem para a esquerda». O avô deste homem era nada menos que Manassés. Manassés era perverso; foi quem introduziu a idolatria, o culto a Maloque; passou alguns dos seus filhos e filhas pelo fogo; estabeleceu os signos do zodíaco, e toda a idolatria e prostituição idolátrica que havia em Israel.

Bem, se os pais e os avós comem as uvas verdes, os dentes dos filhos não necessariamente terão que ficar embotados. Aqui diz que Josias «fez o que era reto diante dos olhos de Jehová». Versos 3-5: «Aos dezoito anos do rei Josias, enviou o rei a Safã ... à casa de Jehová, dizendo: Vai ao sumo sacerdote Hilquias, e diga-lhe que recolha o dinheiro que trouxeram para a casa de Jehová, que os guardiães da porta tem recolhido do povo, e o ponham nas mãos dos que fazem a obra, que têm a seu encargo do acerto da casa de Jehová, e que o entreguem aos que fazem a obra da casa de Jehová, para reparar as brechas da casa...».

Este homem tinha encargo pela obra do Senhor. Quantos de nós temos encargos pelas brechas da casa do Senhor? Dizemos que vimos a igreja. É verdade. Mas há muitas anormalidades, muitas brechas em nossas localidades. Mas este era um jovenzinho de vinte e seis anos; nem sequer era um ancião ou uma pessoa madura nas coisas do Senhor. Um jovem, como muitos de vocês, que tinha um encargo pela obra do Senhor, por reparar as brechas da casa do Senhor. É maravilhoso quando alguém realmente tem um encargo pelas coisas de Deus, pela casa de Deus. Deus usa essa pessoa. Se nos ocuparmos com a casa de Deus, o Senhor se ocupa com a nossa casa.

«...para reparar as brechas da casa; os carpinteiros, mestres e pedreiros...». Haviam várias pessoas que reparavam de certa maneira certas coisas, como na igreja há ministérios: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. «...e pedreiros, para comprar madeira e pedra lavrada para reparar a casa; e que não lhes peça conta do dinheiro cujo manejo lhes confiar, porque eles procedem com honradez».

«Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escriba Safã: achei o livro da lei na casa de Jehová» (V. 8). Que apontamento tão bom esse! Quando Martin Lutero começou a reparar as brechas da casa do Senhor, quando começou a Reforma da igreja, o livro foi aberto também, a Bíblia foi resgatada. Isto é como uma pequena questão para a escala do que aconteceu depois. Da mesma forma é também em nossa vida pessoal: quando nós começamos e nos dedicamos à casa de Deus, o Senhor abre o nosso entendimento para a palavra do Senhor. O Senhor produz luz.

A casa e a Palavra estão relacionadas; não podem estar separadas. É necessário haver luz para reparar. Então, que bom que começaram a reparar as brechas da casa e apareceu o livro da lei, ou seja, a Torá, que estava escondido, assim como nos dias passados a Bíblia esteve escondida pelo obscurantismo. O Senhor permitiu a Lutero abrir uma parte da Palavra: a justificação pela fé, sem obras. O Senhor foi abrindo esse livro.

Foi achado o livro da lei na casa de Jehová. «Deste modo o escriba Safã declarou ao rei, dizendo: O sacerdote Hilquias me deu um livro. E o leu Safã diante do rei. E quando o rei ouviu as palavras do livro da lei, rasgou as suas vestes. Em seguida o rei deu ordem ao sacerdote Hilquias, a Aicão ...  ao Acbor ...  ao escriba Safã e a Asaías servo do rei, dizendo: Vão e perguntem a Jehová por mim, e pelo povo, e por todo Judá, a respeito das palavras deste livro que se achou; porque grande é a ira de Jehová que se acendeu contra nós, porquanto nossos pais não escutaram as palavras deste livro, para fazer conforme a tudo o que foi escrito».

«Então foram ... à profetisa Hulda ... E ela lhes disse: Assim tem dito Jehová o Deus de Israel: ... Eis aqui eu trago sobre este lugar, e sobre os que nele moram, todo o mal de que fala este livro que tem lido o rei de Judá; porquanto me deixaram, e queimaram incenso a deuses alheios, provocando-me a ira com toda a obra das suas mãos; a minha ira se acendeu contra este lugar, e não se apagará. Mas ao rei de Judá ... dirão assim: Assim tem dito Jehová o Deus de Israel: Porquanto ouviu as palavras do livro, e o seu coração se enterneceu, e te humilhou diante de Jehová, quando ouviu o que eu pronunciei contra este lugar e contra os seus moradores, que deverão ser assolados e malditos, e rasgou as suas vestes, e chorou na minha presença, também eu te ouvi, diz Jehová. Portanto, eis aqui eu te recolherei com seus pais, e será levado ao seu sepulcro em paz, e os seus olhos não verão todo o mal que eu trago sobre este lugar. E eles deram ao rei a resposta» (vv. 9-20).

Quando o melhor de nós é exposto à luz de Deus, e vemos que todo o melhor de nós é lixo religioso, caímos em depressão. Sentimo-nos mal, sentimo-nos humilhados, nos damos conta que até o melhor de nós, quando é exposto pela luz, é lixo.

«A exposição das tuas palavra ilumina», diz a Bíblia. E que bom é lê-la, não a nossa própria luz; à luz do Senhor. E quão bom é que a luz penetre em nossos corações, e sejamos expostos. Essa luz, essa palavra, provoca tristeza, e não sentimos contentamento em nós mesmos.

O que acontece quando a luz nos expõe? Já não somos ensimesmados, já não estamos girando em torno de nós, da nossa própria bondade, das nossas habilidades; porque a força humana, as habilidades naturais, a confiança em si mesmo, é o que mais se opõe à obra de Deus e ao propósito de Deus.

«Então o rei mandou reunir com ele a todos os anciões de Judá e de Jerusalém. E subiu o rei à casa de Jehová com todos os varões de Judá...» (2 Reis. 23:1-2). Que atitude, não é verdade? Este homem tinha consciência de que era um com o povo. Porque outra pessoa diria: ‘Bom, a profetisa Hulda disse que me tiravam isso de mim. Eu já estou fora, vou dormir com meus pais, vou ter paz em meus dias. E o povo que venha, que sofra, porque o Senhor já disse’.

Mas este homem não se conformou em o Senhor tê-lo separado do juízo que ia fazer contra o povo, mas se envolveu com eles. Assim como Daniel que se fez um pecador com o povo, por assim dizer, e orou. Da mesma forma foi com o nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo sem pecado, tomou toda a nossa culpa e foi para a cruz. De igual maneira, este homem mandou reunir a todos os anciões e a todo o povo. Ele se envolveu com eles; não queria que o povo fosse castigado, apesar dele já no ser mais castigado pelo Senhor.

«E subiu o rei à casa de Jehová com todos os varões de Judá, e com todos os moradores de Jerusalém, com os sacerdotes e profetas e com todo o povo, do menor até o maior; e leu, ouvindo-o eles, todas as palavras do livro do pacto que tinha sido achado na casa de Jehová» (V. 2). Isto me faz lembrar que, quando foi aberta a Bíblia, não foi aberta só para Lutero, mas foi traduzida ao idioma do povo, para que todos a conhecessem. E da mesma forma acontece aqui. Todos a leram, «do menor até o maior».

Hoje em dia não há desculpa para não ler a Palavra. Todo mundo sabe ler. Antes era difícil. Paulo encarregava a Timóteo: «Traz os pergaminhos que deixei em Troás». A Torá era um tremendo vulto de pergaminhos, e nem todo mundo sabia ler nesse tempo. Hoje em dia, a Palavra está a sua disposição. «Perto de ti está a palavra, em tua boca e em teu coração».

Então, a Palavra expõe. Se nós quisermos ser entristecidos por Deus, para que se produza uma mudança de mentalidade, é necessário ler com um coração apropriado. Não um coração parcialista, com nossos próprios paradigmas, mas com um coração que o Senhor mesmo pode acondicionar, para que leiamos, e para que a Palavra penetre e nos redargua, e haja uma mudança de mentalidade em nossa vida. Quanto necessitamos de mais reuniões de leitura da Palavra nas localidades! A mera palavra do Senhor. Ela mesma se interpreta, ela própria fala.

«E ficando o rei em pé junto à coluna, fez um pacto diante de Jehová, de que iriam após Jehová, e guardariam os seus mandamentos, os seus testemunhos e os seus estatutos, com todo o coração e com toda a alma, e que cumpririam as palavras do pacto que estavam escritas naquele livro. E todo o povo confirmou o pacto» (V. 3).

Até aí, a coisa está boa. Há uma tristeza que provém do Senhor, através do livro que foi aberto e que foi lido, e há um desejo de mudar. Mas o grande falha é que eles se propuseram em seu coração que cumpririam. Que engano tão grande! Já tinha acontecido nos tempos de Josué, quando disseram o mesmo: «Cumpriremos tudo o que Moisés disse», e virando a esquina, já estavam pecando.

Aqui aconteceu da mesma forma. Passaram-se vários anos, e o povo outra vez tornou a pecar. Por quê? Porque fizeram um pacto conforme as forças deles; estavam confiados em si mesmos de que podiam cumprir-los para Deus.

Quem pode cumprir as coisas de Deus? Os padrões de Deus são muito altos. É impossível para a nossa força natural poder transbordar os padrões de Deus e satisfazer ao Senhor em suas exigências. É necessário não só a luz do Senhor, mas também reconhecer que em nós, em nossa naturalidade, não há nada bom. Precisamos reconhecer a nossa incapacidade. Só quando pudermos reconhecer a nossa incapacidade para satisfazer a Deus, poderemos ver a fortaleza de Deus em nossa vida.

Gravemos isto em nosso coração – Somos incapazes de satisfazer a Deus. Somos inclusive incapazes de nos arrepender por nós mesmos. Necessitamos do Senhor, precisamos nos voltar para ele, e dizer: ‘Senhor, eu quero, mas não posso’. Porque de outra maneira, tratar de cumprir as exigências de Deus –que há no Novo Testamento–, por nossa própria força, é cair debaixo da lei. E a lei produz ira, a lei revela nossa incapacidade de satisfazer a Deus.

Então, o que temos que fazer? Reconhecer que não podemos. ‘Senhor, eu quero, mas não posso. Necessito que tu me substitua, que tu vivas as exigências de Deus através de mim’. Essa deve ser a nossa oração.

«Então o rei mandou ... que tirassem do templo de Jehová todos os utensílios que tinham sido feitos para Baal, para Assera e para todo o exército dos céus; e os queimou fora de Jerusalém no campo de Cedrom, e fez levar as cinzas deles a Betel. E tirou os sacerdotes idólatras ... e como também os que queimavam incenso ... Fez também tirar a imagem de Assera fora da casa de Jehová, fora de Jerusalém, no vale do Cedrom, e a queimou no vale de Cedrom, e a converteu em pó, e jogou o pó sobre os sepulcros dos filhos do povo. Além disso derrubou os lugares dos sodomitas que estavam na casa de Jehová ... E fez vir todos os sacerdotes das cidades de Judá, e profanou os lugares altos onde os sacerdotes queimavam incenso, ...  e derrubou os altares das portas que estavam à entrada da porta de Josué...» (4-8).

Josias fez uma quantidade de coisas... Naquele tempo, houve uma mudança externa. Hoje em dia, já não temos ídolos expostos; mas há coisas dentro de nós que cada um sabe que há. Há lugares altos para derrubar, e só com a ajuda do Espírito Santo, com o poder de Deus, podemos fazê-lo.

A centralidade de Cristo

Vamos mais adiante. Depois que aconteceu todas estas coisas, diz: «Então mandou o rei a todo o povo, dizendo: Fazei a páscoa a Jehová seu Deus, conforme ao que está escrito neste livro do pacto. Não tinha sido feita a páscoa desde os tempos em que os juízes governavam a Israel, nem em todos os tempos dos reis de Israel e dos reis de Judá. Aos dezoito anos do rei Josias foi feita aquela páscoa a Jehová em Jerusalém» (21-23).

Isto me faz lembrar que nos tempos da Reforma não só começaram a tapar as brechas que o sistema de Tiatira tinha deixado, mas também foi aberto o livro. A Bíblia foi aberta. Mas também aqui fala da páscoa. Foram ao centro, que é Cristo... «e a este crucificado». Então, o próximo passo, depois que a Bíblia foi resgatada e foi aberta, foi o cristocentrismo, que aconteceu um pouco mais tarde.

Começaram a girar em torno de Cristo, em torno da sua pessoa e da sua obra. E é algo que nós temos que ver também como indivíduos. Não só a Bíblia é aberta e a lemos, mas também uma comunhão íntima com o Cordeiro pascal, com o Senhor, primeiro como crucificado, e em seguida como ressuscitado, e depois ascendido e entronizado. E isto deve ser vida em nós.

O versículo 25 diz: «Não houve outro rei antes dele, que se convertesse a Jehová de todo seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças, conforme toda a lei de Moisés; nem depois dele nasceu outro igual». Isto foi conforme a lei de Moisés.

O Senhor nos chama hoje a nos converter também de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de toda a nossa força, mas não conforme a lei de Moisés, mas conforme a Mateus 5, 6 e 7, a Constituição do reino dos céus, as bem-aventuranças e as parábolas que aparecem ali. Ou seja, chama-nos a nos converter conforme a lei de Cristo.

Será que podemos por nossa própria força cumprir as bem-aventuranças? Nem se atrevam, irmãos! Com o Senhor, podemos sim! (Ele pode; nós não podemos fazer nada). Então, que bonito é que o Senhor nos chama a nos tornarmos para ele, a não nos estancarmos, a não estar acomodados na condição em que estamos. Cremos que já chegamos a cobrir tudo. Mas isto é apenas o princípio. O Senhor chama para vivermos uma vida prática, uma vida santa, que Cristo seja experimentado em nossa vida.

O Senhor nos insiste a nos tornar para ele

Vamos agora para Jeremias 15:19. «portanto, assim disse Jehová: Se te converteres, eu te restaurarei, e diante de mim estarás; e se separardes o precioso do vil, serás como a minha boca. Convertam-se eles para ti, e tu não convertas para eles». Jeremias era crente. Aqui, a palavra converter-se, também se traduz arrepender-se. É tornar-se para o Senhor, converter-se, arrepender-se. O Senhor não fala de se converter para uma pessoa que não nasceu de novo. Está falando com Jeremias, e está falando com cada um de nós.

«Se te converteres...». Converter-se significa voltar a face para o Senhor; ou seja, voltar as costas para as coisas que não são de Deus, e dar a face para o Senhor. Tornar-se para Senhor. «Se te converteres, eu te restaurarei...». Que precioso! O nosso Deus é Deus de restauração, é Deus de restituição, de renovação. «...e diante de mim estarás». Não te causa impacto que o Senhor te diga isto? Como diz o salmista: «Em tua presença há plenitude de gozo; delícias a sua mão direita para sempre» (Salmos 16:11). Que bom é estar na presença de Deus!

«...e se separardes o precioso do vil...». É verdade, irmãos, que nós não podemos satisfazer a Deus, é verdade que não podemos nos arrepender por nós mesmos. Necessitamos do Senhor. Mas também o Senhor necessita de nós, necessita da nossa colaboração. Há a nossa parte: «...se escolher o precioso do vil, serás como a minha boca». Outra promessa. Primeiro, a restauração; segundo, estar em sua presença; terceiro, «será como a minha boca».

Parece-nos pouca coisa ser a boca do Senhor? A boca do Senhor disse: «Haja...», e houve. O que a boca do Senhor fala, é realizado. «Serás como a minha boca».

Quando verdadeiramente nos tornarmos para o Senhor com todo o nosso ser, ele se atreverá a nos emprestar a sua boca. É até um risco, não é verdade?; mas ele confia, no sentido em que confia na obra que ele está fazendo em nós, em que houve um arrependimento. Porque ele conhece os corações, e se atreve a se fazer um conosco, para que proclamemos a sua grandeza, o seu poder, a sua autoridade, o seu amor, tudo o que ele é. Que bom é ser a boca de Deus!

«Convertam-se eles para ti, e tu não te convertas para eles. E te porei neste povo por muro fortificado de bronze». Outra promessa: «...muro fortificado de bronze». Quem se pode lançar contra o povo de Deus? «...e lutarão contra ti, mas não te vencerão; porque eu estou contigo para te guardar e para te defender, diz Jehová». Outra promessa a mais; o Senhor está conosco. «Se Deus é por nós, quem será contra nós?».

Quando o Senhor nos guarda na palma da sua mão, quem abrirá a mão do Senhor? Aí não há diabo que se faça valer. O Senhor está conosco para nos guardar. O mundo e todas as coisas criadas nada nos poderão separar do amor de Deus. Então, olhem todos os benefícios que produz quando nos tornamos para Deus!

«E te libertarei da mão dos maus, e te redimirei da mão dos fortes» (V. 21). Isto pode aplicar-se a qualquer dos estados, a qualquer das áreas de nossa vida econômica, social, espiritual, psicológica, etc. O Senhor nos liberta da mão dos maus e da mão dos fortes. Que bom é o nosso Deus! O Salmo 63 diz: «Bom é Jehová para com os limpos de coração».

Então, o Senhor diz em sua palavra: «tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós. Ele diz isto várias vezes nos profetas menores. Por exemplo, Zacarias 1:3: «Assim tem dito Jehová dos exércitos: tornem-se para mim, diz Jehová dos exércitos, e eu me tornarei para vós, tem dito Jehová dos exércitos. Esse é o clamor de Deus. Como se o Senhor nos rogasse: «Torne-se para mim». «Torne-se para mim, e eu me tornarei para vós».

Mais adiante, em Malaquias 3:7: «Dos dias de vossos pais vos haveis apartado das minhas leis, e não as guardastes. Tornem-se para mim, e eu me tornarei para vós, tem dito Jehová dos exércitos. Mas disseram: No que temos que nos tornar?». A confiança em si mesmos, a confiança em sua própria justiça, impediu que o Senhor os restaurasse, que eles fossem a boca do Senhor, impediu tantas coisas a este povo.

E estas coisas foram escritas para que não repitamos a história; porque aquele que não conhece a história, será obrigado a repeti-la. Isso é certo. Então, o Senhor nos dá estas coisas escritas para nosso proveito, como exemplo para nós, para que não caiamos nos mesmos enganos. O Senhor tem dito: «Tornem-se para mim, e eu me tornarei para vós». Mas, quando o Senhor nos diz estas coisas, enfrentamos à situação que não podemos nos tornar para ele. Nós não poderemos nos tornar para o Senhor se ele não nos ajudar.

Se o Senhor não nos ajudar, nos metemos em Romanos 7:19: «Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, isso faço». Então estamos debaixo da lei, porque não podemos senão crer no Senhor, de que Cristo nos crucificou. Ou seja, nós fomos crucificados juntamente com Cristo. É um assunto de saber. Diz: «Sabendo isto...». E depois que sabemos isto, diz que consideremos isto. «Considerai-vos, pois, mortos para o pecado». Considerar significa dar como um fato já consumado há dois mil anos. O Senhor já te matou; Deus já matou o homem velho na cruz; já foi crucificado. E com ele, também fomos juntamente ressuscitados. Se não temos visto isto, irmãos, se ainda não nos vimos crucificados com Cristo na cruz, dificilmente poderá entrar a luz para que nos arrependamos.

 Em Lamentações 5:21, Jeremias diz: «Nos torne...». O Senhor diz: «Torne-se para mim». E a resposta de Jeremias é: «nos torne». Senhor, não podemos nos tornar para ti, se tu não nos tornar. «Nos torne, Oh Jehová, para ti, e nos tornaremos; renova os nossos dias como no princípio». Deus é Deus de restauração, Deus de renovação, Deus de restituição. O Senhor nos insiste hoje a nos tornarmos para ele. Sim, e nós também lhe dizemos o mesmo: faça-nos tornar para ti; ajude-nos, Senhor. Amém.

Síntese de uma mensagem ministrada em Sasaima (Colômbia), em Junho de 2009.

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