ÁGUAS VIVAS
Para a proclamação do Evangelho e a edificação do Corpo de Cristo
Mostra-me o teu caminho (4)
As obras, os caminhos e o propósito de Deus.
Dana Congdon
Leituras: Êxodo 33:12-14; João 13:33, 36; 14:1-6, 10, 18-23; 15:4-5.
Vemos nestas duas passagens a Moisés no Antigo Testamento e aos discípulos no Novo, que estavam de certa maneira em posições muito similares. É algo que podemos chamar de pós-visão e pré-sabedoria.
Revelação e visão
Quando Moisés estava sobre aquele monte orando, já tinha sido cativado pela visão do Senhor na sarça ardente. Mas vocês sabem que há diferença entre visão e revelação. Damos graças ao Senhor pelo Espírito Santo que nos dá espírito de sabedoria e revelação. Por essa revelação, podemos ver o Senhor Jesus e a sua obra preciosa. Nós podemos receber revelação, mas a visão é algo que nos cativa.
Nós podemos nos agarrar a uma revelação, mas a visão é algo que te segura. Muitos no povo de Deus têm revelação de Jesus, mas quando tem uma visão de Jesus, assim como Paulo no caminho de Damasco, desse momento em diante, a sua vida fica cativada. Você já não vive mais para ti mesmo. Foi aprisionado por essa magnífica visão. Esta assombrosa visão de Jesus reinterpreta cada parte de sua vida e ministério.
De fato, nestes últimos dias, pedimos ao Senhor que nos dê visão de si mesmo. Não apenas revelação. Ainda que uma visão seja revelação, mas é uma revelação que causa um impacto em nossas vidas para sempre.
Vou te fazer uma pergunta: Você já foi cativado por uma visão? Quando é cativado por uma visão, você cai sobre o seu rosto, assim como Moisés no cume da montanha. E diz: ‘Senhor, vejo que é o único caminho; mas necessito sabedoria para o seu povo’. E quando ele ora: «Senhor, mostra-me os teus caminhos», ele está sobre o seu rosto, intercedendo por todos os filhos de Israel.
Se você pela graça de Deus tem uma visão que te cativa, ao mesmo tempo te será dada uma carga por todos os filhos de Deus, para que também sejam cativados por essa visão. Moisés agora está orando por sabedoria. «Mostra-me os teus caminhos». Moisés podia olhar para baixo da montanha, porque a terra prometida é muito pequena, em um dia de céu limpo, do alto dessa montanha onde ele se encontrava podia ver Cades-Barnéia, e ele sabia que o Senhor lhes havia dito que fossem e entrassem na terra prometida. Ele conhecia o lugar físico aonde deveriam ir. ‘Mas, como vou introduzir ali os filhos de Israel? Eles não vêem; não foram cativados’.
Conhecemos a história de Moisés passando por esse deserto. Ele teve que levar uma cruz enorme. Freqüentemente, o povo se rebelava contra ele, e até seu irmão e sua irmã murmuraram contra ele. A maior parte do tempo, quando olhamos para Moisés nesse deserto, o vemos sobre o seu rosto, intercedendo pelos filhos de Israel.
Quando recebemos uma revelação do Senhor Jesus, somos emancipados, porque vemos que a nossa vida é para ele. E ao mesmo tempo em que temos esta visão, uma carga vem ao nosso coração: Que o caminho que caminhamos possa reunir a todos os seus filhos que estão em cativeiro para ele mesmo.
Vocês lembram quando Paulo fala de não estar lutando contra carne e sangue, mas usar o poder divino para destruir as fortalezas do inimigo? Ele falava da necessidade dos Coríntios de serem cativados em sua mente. Oh, que isso ocorra, e que todos nós sejamos cativados por esta visão!
Mas aí chegamos a esse lugar em que nos perguntamos: ‘Senhor, como podemos prosseguir? Mostra-me os teus caminhos’. E o caminho da cruz está diante de nós. E quando transitamos por esse caminho da cruz, as demais pessoas ao redor vêem a glória resplandecendo em seu rosto.
Há pessoas que têm fome. Em toda igreja nesta nação, Deus tem seus vencedores, que estão famintos pelo Senhor. Sempre que vêem um rosto que resplandece, eles correm para beijá-lo. Não te perguntam qual é a sua denominação? Eles vêem a Jesus. E há irmãos preciosos em cada denominação. Eles nadam contra a corrente, têm fome para saber mais do Senhor. «Senhor, mostra-me os teus caminhos». E de alguma forma o Senhor nos reúne em uma comunhão que transcendem todos os limites.
No Evangelho de João, os discípulos também estavam em uma posição parecida. Ali vemos que Pedro teve a revelação, os seus olhos foram abertos para ver que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Isso foi visão, e eles foram cativados. Quando as pessoas abandonaram a Jesus, ele lhes perguntou se eles também queriam ir. Como sabe que foi cativado? Os discípulos dizem: ‘Aonde mais iremos? Só tu tens as palavras que necessitamos’.
Você tem sido cativado por Jesus? Se Jesus te disser: ‘Vai-te’, você vai lhe dizer: ‘Não. Aonde mais posso ir?’. Às vezes, o Senhor te dá uma liberdade. ‘Bem, faz o que você quer’. Eu espero que você se volte para o Senhor e diga. ‘Oh, não, Senhor; ainda que eu esteja lutando contra a sua vontade, ainda que eu não esteja disposto, mas estou disposto a que me faça disposto’. Ah, o Senhor vai lutar contigo se lhe disser isso. Ele sabe que foste cativado.
Então, os discípulos se encontravam nessa posição. Não tinham outro lugar para onde ir. Tinham sido cativados pela visão. E um dia o Senhor lhes diz: ‘Eu vou, e vocês não me verão mais’. E os discípulos se encontraram no final de si mesmos. O que vamos fazer agora? Tudo o que conheciam até então era o Jesus exterior, o Jesus físico. O que faremos agora?
A habitação de Deus
Jesus lhes havia dito: «Edificarei a minha igreja», mas ele não lhes disse como seria edificada a igreja. É interessante, quando você lê os evangelhos, vai notar que Jesus não lhes deu nenhuma instrução. Ele não lhes disse: ‘Vocês vão alugar uma casa, e uns ônibus; vão armar uma tenda para pregar o evangelho, escolhem uns irmãos e os façam anciões’. Nunca lhes deu instrução alguma. E eles se perguntavam: ‘O que vamos fazer?’.
O líder se vai, e o que eles fazem agora? Voltam a pescar? Aonde mais irão? Ah, Jesus lhes diz que vai embora, e vemos que eles estão em uma crise semelhante à de Moisés. Eles conhecem o Senhor, mas não sabem o que fazer. O que é a igreja? E Jesus começa a lhes dizer. ‘Tenho que ir para a casa de meu Pai’. O que os discípulos pensaram? Provavelmente pensaram no templo de Jerusalém. Mas ele não queria dizer isso.
A Bíblia nos diz em Hebreus que Jesus é o edificador da casa de Deus, cuja casa somos nós. Esta é a casa que Jesus quer construir. É por isso que Jesus morreu na cruz. Mas os discípulos têm uma mentalidade tão terrena! Exatamente como nós. É como se quisesse lhe dizer: ‘Jesus, nos dê uma lista do que quer que façamos, antes que vá’.
Então, nestes versículos em que fala com os discípulos, ele lhes dá uma lista. É assim como se edifica a igreja. A lista tem duas coisas, é uma lista muito curta. Número um, o Espírito Santo. Quando ele vier, vos dirá o que têm que fazer. Muito simples. E a segunda coisa, «Permanecei em mim».
Os discípulos não compreenderam o que ele queria dizer. ‘Como podemos permanecer em ti, se está indo?’. É como se Jesus lhes dissesse: ‘Eu quero despertá-los para um entendimento do que a igreja é. É nascida do Espírito, e segue ao Espírito e permanece em mim’.
Se olharmos no idioma original todo este texto –como sabem, o original não está dividido em capítulos– há uma progressão de pensamento nesta passagem que muitos cristãos ainda não vêem. No capítulo 14 versículo 2, Jesus diz: «Na casa de meu Pai há muitas moradas». Em nossas versões em inglês diz: ‘muitas mansões’. E algumas pessoas pensam: ‘Eu tenho minha mansão quando chegar aos céus’. Mas, sabem realmente o que quer dizer? Habitações. Há muitas habitações.
E então, no versículo 10, se ainda não entendem o que é «permanecer em mim», escutem: ‘Você me viu, você viu o Pai, porque o Pai permanece em mim e eu permaneço no Pai, e as obras que vocês vêem, vem do Pai que permanece em mim. Eu os estou deixando, mas não os estou deixando. Estou voltando para vocês. E se vocês me amam, eu virei a vocês, o Pai virá a vocês, e o Espírito virá a vocês. O Pai estará em vocês, e vocês em mim, e eu em vocês’. E os discípulos dizem: ‘O que? É impossível entendê-lo’.
Notem o que diz o versículo 23: «aquele que me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada». O pensamento prossegue no capítulo 15: «Permanecei em mim, e eu em vós». Isto é o que freqüentemente não compreendemos. Entendemos a preciosidade da vida habitando em Cristo, mas a compreendemos de uma forma pessoal. Mas, sabem, ele está falando na realidade da vida corporativa.
Sempre ele usa o pronome ‘vós’, ou ‘vocês’. Em inglês pode ser singular ou plural. «Eu vou permanecer em vós, e vós permanecereis em mim».
Irmãos e irmãs, esta é a casa, o lugar de habitação. Enquanto você estiver aqui na terra, a terra não será o seu lar; mas tens uma habitação. Quando você se reúne com os seus irmãos e irmãs, está permanecendo em Cristo. E quando ele diz: «Eu sou a videira e vós os ramos», está falando desta unidade de permanecer.
Provavelmente vocês ouviram sobre Hudson Taylor, o missionário na China. Ele serviu na Missão no Interior da China, e serviu de forma muito dura ao redor do altar de bronze. Ele se sentia muito cansado e debilitado, até que um dia o Senhor lhe mostrou: «Eu sou a videira e vós os ramos», e isto lhe abriu o entendimento. Quando Jesus diz: «Eu sou a videira», ele não se refere só ao tronco da videira. Ele diz: «Eu sou o tronco, os ramos, as folhas e o fruto. E você é parte disso. E você tem que ser uma vara, que simplesmente permite que minha vida flua através de ti».
Então, irmãos e irmãs, nós compreendemos. O Senhor nos diz: «Permanecei em mim e eu permanecerei em vós», e o que é o que descobrimos? É impossível para mim permanecer em Jesus. Eu facilmente não permeneço. Eu venho a ele para permanecer nele, mas muito rapidamente me vou. Até que um dia compreendo algo: Eu não posso permanecer nele até que compreenda que ele permanece em mim. A única maneira na qual eu posso permanecer nele é por sua vida que permanece em mim. Já descobriu isso?
E esta palavra nos leva à cruz. Por quê? Porque você não pode se negar a si próprio. Todos nós somos egoístas, e isso nunca vai mudar. Mas o Cristo crucificado em ti pode fazer você se negar a si mesmo. Ele te capacita por sua graça para que negue-se a si mesmo. Ah, mas não te glorie, pois não foi você quem se negou a si mesmo. Foi a graça de Deus em ti que te capacitou para que se negasse a si mesmo.
A lição do permanecer
Nós sabemos que não podemos viver a vida cristã. Cristo é a nossa vida. E é assim que aprendemos esta lição do permanecer.
Os discípulos viram algo no dia de Pentecostes. Eles não entendiam todo esse mistério de permanecer, mas no dia de Pentecostes viram. Como viram? Pedro se levantou. E Ruben se levantou, e Rodrigo se levantou. E todos se levantaram, e Pedro começou a falar. E todos o olharam e estavam atônitos. E diziam: ‘Esse não é Pedro?’. É o Senhor quem está falando através de Pedro! E todos disseram: ‘É o Senhor, é o Senhor!’. Três mil pessoas disseram: ‘É o Senhor, é o Senhor!’.
Que dia foi aquele! E descobriram outro segredo. Sabemos pelo relato em Atos 2 o que aconteceu depois do dia de Pentecostes. Vejamos a passagem em Atos capítulo 2. Sei que é um versículo muito conhecido. Vers. 42: «E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão uns com os outros, no partir do pão e nas orações».
No dia de Pentecostes, eles viram o que o Senhor quis dizer quando disse: «Edificarei a minha igreja». Um discípulo fala, o Espírito Santo convence e as pessoas vêm a Jesus. Três mil cento e vinte pessoas permanecendo em Cristo, e Cristo nelas; que se pertenciam umas às outras.
Cristo pode edificar a sua igreja? Sim, ele pode fazê-lo. Então começaram a se reunir todos os dias. Às vezes os cristãos se cansam de reuniões. ‘Oh, outra reunião. Oh, Deus, me dê graça!’. Especialmente nas reuniões em que temos que fazer algo, como orar. Já notou que no dia da reunião começa a sentir um pouco de mal estar e dor de cabeça, e diz: ‘Acho que vou ficar em casa’. Mas escutem, é porque nos esquecemos o que é a igreja.
Escutem, esses discípulos no princípio não tinham nenhum edifício; não pensavam em um edifício. Tudo o que sabiam era isto: ‘Temos que nos reunir’. Por quê? Porque sempre que estamos juntos, Jesus se manifesta. E agora estou intrigado por saber quem será o próximo que vai falar, e quem vai ser o que vai curar. E ficamos maravilhados de ver como o Senhor usa a este irmão ou a aquela irmã. Isto é um milagre.
Nós conhecíamos a mulher de Pedro antes do Pentecostes. Ela sempre falava e falava e falava. Mas escutem agora o seu testemunho da grandeza de Jesus. Escutamos a Jesus. E o maior milagre é descobrir que o Cristo que habita em nós fala através de nós, e estamos muito entusiasmados.
Nas tardes, ninguém dormia a sesta; todos corriam para escutar a Pedro. E Pedro ensinava a doutrina dos apóstolos. Qual é o ensino do apóstolo? Você crê que a doutrina dos apóstolos era: Bom, vou te dizer as quatorze coisas que têm que acontecer antes que o anticristo venha nos fins dos tempos? Não, não era isso. Pedro se levantava, e cinco mil pessoas o escutavam. E ele lhes dizia: ‘Agora vou lhes contar o que aconteceu quando íamos com Jesus caminhando pelos campos’.
Qual era a doutrina dos apóstolos? ‘Isto é o que Jesus disse e fez’. Isso é o que ele falava. Sempre que ele lhes contava uma história de Jesus, mais pessoas eram salvas. E as pessoas diziam: ‘Vimos a Jesus; ele está vivo!’. E Jesus crescia, e agora eram três mil e duzentas pessoas, e mais cinco mil.
E quando tinham comunhão, o tema não era: ‘E como foi a sua viagem de pescaria, irmão?’. Era: ‘Sabe o que o Senhor fez hoje em minha vida?’. E a comunhão era: ‘Eu ia dirigindo por um caminho no campo e meu pneu murchou, e um anjo veio e me ajudou a trocá-lo’. E a irmã dizia: ‘Ah, e esse mesmo anjo veio em minha casa, também, porque o meu forno não fechava’. Havia tantos testemunhos, todos com respeito a Jesus! E não podiam agüentar até estarem juntos novamente.
Então, descobrimos Jesus em ti. O descobrimos em plenitude uns nos outros. Oh, quão precioso é o corpo de Cristo! Perdoe-nos, Senhor, por pensar tão pouco em nossos irmãos e irmãs. Cada um tem muito que contribuir. E sempre, cada dia, nesses dias de Atos, eles sentiam o Senhor quando alguém se levantava para compartilhar.
Eles recordavam como o Senhor ensinava. Era diferente dos rabinos. Os rabinos falavam, falavam e falavam. Mas quando Jesus falava algo, isso ficava gravado em seu coração de forma indelével. Aqueles que escutaram a Jesus falar, nunca o esqueceram. Isso é vida.
Uma vez perguntei a uma irmã na China, já de idade. Ela ia a essas reuniões na década de 30, com Watchman Nee. Perguntei-lhe: ‘Irmã, qual a recordação que tens daquelas reuniões?’. E ela me disse: ‘Bom, nossas reuniões eram nas terças-feiras à noite, e nós terminávamos o nosso trabalho e tínhamos que caminhar às vezes por três horas para chegar ao lugar de reunião. Chegávamos ali, e estávamos muito cansados. Mas quando nosso irmão começava a ensinar, sempre sentíamos o refrigério do Senhor’.
Isto quase me condena como pregador, quando vejo as pessoas dormir quando eu falo. Necessito mais de Jesus para compartilhar algo que fique escrito em seu coração. O Senhor não ministra simplesmente à mente, mas aos corações. Os judeus memorizavam os Dez Mandamentos e todas as leis; mas isso não mudava o seu coração. Nós vamos a Jesus, e o Espírito começa a escrever algo em nossos corações. E descobrimos que pela vida de Deus que está em nós, podemos obedecer ao Senhor.
Que vida maravilhosa eles tinham juntos em Jerusalém! Havia essas reuniões nas casas. Por quê? Porque Jesus se mostraria ali. Não interessava se Pedro estava ali ou não. Os santos abriam as suas casas; eles queriam fazê-lo, porque Jesus se manifestaria. Essa é a vida de permanência de Cristo. Mas eles descobriram também em sua vida corporativa que o Senhor tinha que podá-los, porque só quando se poda, o corpo de Cristo pode permanecer em vida.
A presença do Senhor na igreja
Vocês sabem que a presença do Senhor é tão preciosa. Mas às vezes compreendemos mal o que é a presença do Senhor.
Há muitas assembléias cristãs que realmente adoram ao Senhor, e há uma grande bênção do Senhor quando entramos na adoração. Mas eu posso fazer uma diferença. Às vezes, nesse tempo de adoração, dizemos: ‘Obrigado, Senhor, por sua presença!’. Mas tudo o que há, de fato, é a sua bênção, porque Deus abençoa os seus filhos. Mas, onde está a sua presença com os seus filhos? Porque onde está de fato a sua presença, tem que estar o seu trono entre os seus filhos. E isso quer dizer que na prática ele tem que ser Senhor sobre a assembléia. Quando ele está entronizado, a sua presença está ali. Essa é a posse mais importante para a igreja.
Recordem que no livro de Atos o Senhor teve que podar algumas coisas que entraram, que não eram dele. Lembram do nosso amigo Barnabé? Ele viu o Senhor. Então ele tomou a sua propriedade, vendeu-a e deu o dinheiro aos apóstolos para que pudessem alimentar a todas essas pessoas. E nessa época, muitos daqueles que visitaram Jerusalém no dia de Pentecostes ainda estavam vivendo em Jerusalém depois de seis meses. Se você tivesse uma casa em Jerusalém, felicitações! Você teria seis pessoas vivendo em sua casa, outras seis mais, além das seis da sua família. Alguns dormiam na cozinha. Nós gostamos disso por dois dias..., mas por dois anos! Ai! Especialmente a pessoa que dorme na cozinha. Você, para fazer o seu café, tem que pular por cima dela. Mas todos queriam dar.
Mas então vieram Ananias e Safira, e deram um dinheiro, mas tinham ambição. E o Senhor os cortou. Porque necessitamos de vida. Necessitamos que tudo o que se faça seja proveniente da vida do Senhor. Mesmo que se dê algo, tem que ser pela vida do Senhor.
Às vezes vejo pessoas que depositam dinheiro na caixa de oferendas; mas é quase como se o fizessem com a vara de pescar. Não, não, não! Se você der, está dado. Não há uma corda para que possa recolher. Mas Ananias e Safira tiveram que ser podados, porque essa vida que permanece é algo precioso.
Em certo momento, as viúvas de origem grega não estavam recebendo a sua porção na distribuição. Essa foi uma crise, mas a crise foi enfrentada com o coração compassivo dos irmãos. E Deus levantou aqueles irmãos para garantir que todos recebessem a sua porção. Você diria: ‘Isso não é muito importante’. Mas é muito importante. Porque aqueles judeus de origem grega se sentiam como cidadãos de segunda classe. Mas o Senhor disse: ‘Façam-nos cidadãos de primeira classe. Isso é muito importante’.
E você sabe como continua o livro de Atos. Há um crescimento desse permanecer que transborda para outras cidades. É uma vida que transborda de Jerusalém para a Judéia, a Samaria e até os confins da terra. Mas há uma cruz envolvida. Será que os judeus vão aceitar os gentios? Será que os de Jerusalém vão aceitar os samaritanos? Em cada progresso que houve, foi necessária a morte dos nossos prejuízos. E sempre que um novo grupo era abraçado pelo amor de Jesus, a igreja crescia.
Imaginem o que custou aos irmãos receberem a Paulo, que os tinha perseguido? Mas Paulo nos diz que os irmãos o receberam de tal maneira que lhe deram a mão direita em sinal de companheirismo. Essa vida que permanece é uma vida de graça, é uma vida cheia de misericórdia.
Hoje temos que orar: ‘Oh, Senhor, mostra-nos o teu caminho na assembléia’. O Senhor está reunindo milhões de pessoas em seu reino. Muitas pessoas já foram salvas e trazidas ao seu reino. Mas ainda não têm um lar. Eles não sabem o que é esse lugar de habitação. Eles vivem e se regozijam no reino, mas o Senhor quer essa morada que é uma noiva.
Muitos cristãos estão procurando o seu lar. Muitos cristãos vão para grandes assembléias, mas sentem que não estão dentro, e desejam intensamente um lar. Quando eles estão no lar e o Senhor está no lar, essa é a vida preciosa de permanência.
Vivendo a vida corporativa
À medida que vivemos a vida corporativa, o Senhor sempre tem que nos tratar pela cruz, porque a vida da igreja é uma vida muito espiritual. Não há um edifício; a casa somos nós. Podemos nos reunir em uma casa, podemos nos reunir em um grande edifício, mas isso não é a igreja.
Temos que entender a natureza espiritual do Espírito Santo em nossa permanência em Cristo. O corpo de Cristo não pode funcionar senão pelo primeiro amor. Não é verdade? Você pode fazer algo mecanicamente, mas sem o primeiro amor, não há corpo. Mas, como é verdade com todas as coisas do Senhor, o primeiro amor não é somente o primeiro amor para ele, mas também o primeiro amor pelos irmãos e irmãs.
Então quero fazer uma declaração. Se você realmente vir, se realmente compreender essa morada, isto é o que sei que fará: Você não pode se agüentar para estar junto aos seus irmãos e irmãs. Tem esse desejo intenso? Às vezes, as circunstâncias lhe impedirão de estar com eles; mas tem que haver um desejo em seu coração.
Amas realmente de estar com seus irmãos e irmãs? Você vê o Senhor Jesus quando se reúne? Quer conhecer mais ao Senhor? Se reúna. Não tem que ser necessariamente a reunião da igreja. Uma vez visitei uma assembléia, e fui ao estudo bíblico que tinham numa sexta-feira de noite. Trinta e cinco pessoas se reuniam em uma casa, e mais de vinte deles eram jovens. Era uma reunião muito viva! Cantavam. Um irmão lhes ensinava e eles faziam muitas perguntas. E eles contribuíam durante o ensino perguntando, ou com alguma verdade.
Sempre me encantava em ir a esse estudo bíblico as sextas-feiras. Mas então, depois se reúnem os domingos. Aiaiai! Uma reunião terrível, muito pesada. Tudo ocorre como por tradição. Sentem-se como se dissessem: ‘Ufa, temos que vir a isto!’. Todos estão olhando o relógio. ‘Oh, ainda temos que escutar outras orações’. E o irmão ministra a palavra, e está seco.
Bom, é uma assembléia, e se reúnem nas casas também. Mas não sei por que quando se reúnem os domingos, é diferente. Não é a vida de Cristo permanecendo. Têm que permitir que o Espírito Santo sopre nos domingos de manhã, porque falta vida. O Senhor quer nos podar quando não estamos vivos. Se não permitirmos ao Senhor que nos pode, sempre a tendência será fazer as coisas de maneira exterior.
Esta é a realidade espiritual da vida da igreja. Eles permaneceram na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. Mas quando perdemos de vista essas coisas, começamos a desenvolver uma mentalidade de nos reunir.
Algumas pessoas crêem que a vida de igreja é simplesmente reuniões. Nos Estados Unidos há um ditado terrível, que representa essa mentalidade de reuniões: ‘Vou à igreja’. Mas eles são a igreja! Como vais ser a igreja se está ‘indo à igreja’? Eles deveriam preparar o seu coração para ser a igreja. Mas têm a mentalidade de reuniões. E se perguntam: ‘Oh, quem vai falar este domingo? O irmão fulano? Oh, louvado seja Deus! O irmão tal? Oh, então não vou!’.
Certa vez, eu estava em uma assembléia, e as pessoas se reuniam para ouvir a pregação, mas não se interessavam por ir ao partir do pão. Cada vez iam menos pessoas ao partir do pão. Todos iam só para a pregação. Sabem o que fizemos? Paramos a pregação. Porque o tempo que temos ao redor da mesa do Senhor é o tempo mais importante para nós. Se não tomarmos cuidado, a pregação ocupará mais e mais espaço e a mesa do Senhor se fará mais e mais curta.
Uma vez falei em uma igreja no Extremo Oriente, e meu coração estava quebrantado. Era uma igreja que tinha sido iniciada por um dos colaboradores de Watchman Nee. Reunimo-nos em umas cem pessoas para o partir do pão no domingo de manhã. Depois de partir o pão, houve um pequeno recesso, e na ministração da palavra havia umas quinhentas pessoas. Naquela assembléia o sentido da ceia do Senhor foi perdida. Mas isto nunca pode ocorrer na vida de permanência no Senhor.
Se a cruz não operar em nossa vida, as reuniões têm a tendência de serem exteriores. Temos uma grande riqueza quando temos comunhão no corpo de Cristo; mas se não formos cuidadosos, umas poucas pessoas são as únicas que compartilham. Talvez você goste de me escutar agora, porque só me ouviu umas poucas vezes. Mas, imagine se falar todos os domingos, todos os domingos, vais dizer: ‘Não, ele de novo!’. Então, nesta nossa vida, em que permanecemos no Senhor, tem que haver vários irmãos que compartilham. Isto quer dizer que outros irmãos devem ser levantados.
Nós sabemos que o Senhor levanta obreiros para o ministério especial de ajudar a aperfeiçoar a igreja; mas não podemos ser dependentes deles. Nosso irmão Christian Chen é um homem muito manso, e muito sábio. Em uma ocasião, na assembléia onde nos reunimos com o irmão Christian, houve um problema. Havia muitas pessoas que estavam vindo às reuniões, e algumas delas diziam aos líderes: ‘Não, não, não. Nós queremos que só o irmão Christian e o irmão Dana compartilhem. Nós não gostamos quando se levantam outros irmãos. O irmão Lucio, um engenheiro? Não, não, não. O irmão Christian tem alimento sólido’.
Os irmãos começaram a discutir o assunto. O que devemos fazer? E o irmão Christian só escutava. E finalmente ele disse: ‘Por que estamos aqui? Porque queremos que o Senhor levante irmãos e irmãs. Este é o nosso propósito. Nós não queremos atrair visitantes; queremos permanecer na casa de Deus. Então, não se preocupem com o que as visitas irão dizer. Se estiverem vindo simplesmente por causa do ministério da palavra, talvez tenham que encontrar outro lugar. Mas nós viemos em primeiro lugar para adorar ao Senhor, e confiamos que o Senhor falará através de qualquer irmão que se levante’.
Sem a cruz, nós abandonamos estes princípios tão singelos, e sem a cruz também descobrimos que há conflitos na assembléia. É inevitável. Você viu a minha esposa. Nós somos como o dia e a noite. Duas personalidades diferentes. E o Senhor nos tem posto juntos. E nos céus, ele deve rir quando nós estamos discutindo. E, finalmente, nós morremos, e então nos amamos um ao outro, apesar de nossas imperfeições. Depois de quarenta e três anos casados, finalmente estou descobrindo que sou mais imperfeito que a minha esposa, e estou feliz de que ela me ame.
Mas o matrimônio é como um microcosmo da vida do corpo. O corpo de Cristo é tão diverso. Há pessoas como eu, que têm este sorriso elétrico, que estão todo o tempo sorrindo. Há pessoas que nunca riem. A alguns irmãos em minha assembléia, que são chineses, que nunca vi os seus dentes. Mas Deus ama a todos!
Em todas as assembléias há pessoas que são muito espontâneas, e outras que são muito metódicas e organizadas. Lembro de uma assembléia na Suíça, que estava a cargo de dois anciões. Um era alemão, e o outro, italiano. O alemão sempre chegava bem cedo, e o irmão italiano entrava na reunião dez minutos atrasado: ‘Escusi, escusi, escusi!’ (Perdão, perdão, perdão!). Tinham conflitos. Mas o Senhor tinha aí uma combinação perfeita.
Nós gostamos de um grupo homogêneo, em que todos sejam como nós. Mas o Senhor nos traz pessoas que são pontuais, ou como os brasileiros, que vivem como se estivessem nas nuvens. Algumas pessoas têm uma fé intrépida, mas outras são muito cuidadosas, que sempre estão se freando. Mas esta é uma combinação perfeita.
Algumas pessoas têm um coração enormemente compassivo, e amam a todos. Mas há aqueles que são disciplinadores. Cuidado! Mas necessitamos de ambos. O corpo de Cristo é tão amplo. Às vezes o Senhor vem a nós e nos dá um abraço; mas às vezes ele nos repreende. Necessitamos da plenitude de sua assembléia.
Nunca despreze aqueles que são diferentes de ti. Às vezes, nós pensamos que há um conflito espiritual entre duas pessoas, e tudo o que há é diferença de temperamento. Qual é o remédio para isto? Temos que tomar a cruz. Como Paulo empregou essa frase: Tomar a cruz? «Haja, pois em vós este mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus».
Lembram como ele disse isso aos Filipenses? «Tenham este mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus». E recordam o que disse no capítulo 4 aos Filipenses? «Rogo a Evódia e Síntique, que sejam de um mesmo sentimento no Senhor». Talvez uma dessas irmãs fosse alemã e a outra italiana. Trabalhavam juntas no evangelho. Síntique sempre se esquecia de trazer os folhetos evangelísticos. Tinham conflitos. E Paulo lhes diz: ‘Lembrem que trabalharam juntas no Senhor comigo’. Quer dizer: ‘Eu não vou fazer nenhuma distinção. Amo a minha querida irmã Evódia e amo a minha querida irmã Síntique. Trabalharam juntas comigo. Tenham o mesmo sentimento entre vocês’.
Como temos que ver essas coisas na vida do corpo! O Senhor está preparando uma noiva agora, e esta noiva é muito ampla. E em Apocalipse vemos que a noiva é grande como uma cidade. Quando você se casa, nunca irá chamar a sua noiva de uma cidade. Não será de bom tom. Você não quer chamar a sua noiva de grande! Mas a noiva do Senhor Jesus Cristo é uma cidade grande.
Notem nessa figura que temos no livro de Apocalipse. O fundamento é ouro puro, e a cidade está edificada com pedras preciosas: você e eu. Você é um formoso lápis-lazúli, ou talvez um diamante. Temos uma variedade tão grande; toda essa variedade se encontra nessa cidade. Nessa cidade não há nada de aborrecível. Não há nada de aborrecível na noiva de Deus, e não há nada de aborrecível na casa de Deus hoje.
Oh, irmãos, orem pela igreja de Jesus Cristo! Há tantas pessoas que pertencem ao Senhor e não conhecem essa vida. É uma vida de permanência íntima pelo Espírito Santo. Se você entrou nessa vida bendita, você não pode ter toda essa bênção só para ti; tem que dá-la.
A Bíblia nos diz que o Espírito Santo derrama o amor de Deus através de nós. Você é esse tipo de pessoa? Você dá o que tem você sido tão abençoado? Se isso for realidade contigo, você viu a realidade do corpo de Cristo.
Bom, eu gostei muitíssimo de estar com vocês, e de me sentir em casa, nesta morada, de ver Cristo em vocês. Há muita diversidade. Vou levar notícias de vocês aos irmãos chineses em casa, e eles vão se regozijar. Juntos, somos um, sendo atraídos ao trono do Cordeiro.
Que o Senhor nos mantenha em seu caminho, o caminho da cruz, o caminho para a glória. Bendito seja o seu nome!
Mensagem na 3ª Conferência Internacional «Águas Vivas», em Santiago do Chile (Set. 2005).